Os 100 Melhores Filmes da Década | 2010-2019

O fim de uma década é geralmente marcante na arte por podermos pegar o período e analisar quais as principais tendencias estéticas e temáticas que dominaram a maioria das obras. Embora muitos discutam sobre o real “funcionamento” de uma década, sugerindo que esta teria se iniciado em 2011 e não 2010, por exemplo, na arte - e sempre foi assim -, contamos do ano zero (2010) até o ano nove (2019), portanto, caso estranhe, basta uma rápida olhada e verá que o que estamos fazendo não é exceção, e sim a regra para listas do tipo.

Dito isso, foi uma década de mudanças consideráveis na sétima arte. Vimos um numero consideravelmente maior de obras envolvendo minorias, trazendo assuntos que refletem o período turbulento nos principais polos do cinema mundial. Nos Estados Unidos, fomos de filmes que retratavam o racismo histórico com Obama, para aqueles que voltaram ao presente com Trump. Na Asia, filmes que refletem o estado precário de diversas famílias, sempre com um que de esperteza. Na Europa, voltamos frequentemente ao passado para lembrar de historias e amores que merecem ser contados. No Brasil, a onda de protestos, golpes e repressão cultural teve efeito considerável na temática de suas obras, que começou falando sobre corrupção politica e terminou falando de resistencia.

Ao longo de todo o ano de 2019 decidimos revisitar cada um dos anos desta década e avaliar seus melhores filmes, álbuns e singles, quase como um guia para que pudéssemos, em seu fechamento, estipular os 100 melhores do período, o que não tornou esta tarefa mais fácil. Os critérios são básicos, basta o filme ter sido lançado entre 2010 e 2019 (e por isso demoramos a postar, por conta de filmes que só chegam em solo brasileiro em 2020, mas são de 2019 e, ainda assim, alguns ficaram de fora) que está elegível, além de que nem suas posições nas listas anuais, nem suas críticas próprias, são lei para decidir se um filme fica a frente de outro ou não.

Mas se quiserem conferir nossas listas anuais, elas estão aqui:

2012011 | 201| 2013 | 2014 | 2015 | 2016 |2017 | 2018 | 2019

Nesta lista, em especial, decidimos estipular algumas outras regras, são elas:

  • Apenas um filme por diretor(a) no Top 10

  • No máximo três filmes por diretor(a) no Top 100

  • Sem a presença de documentários (que terão sua própria postagem)

E então, abaixo, aqueles os quais consideramos os 100 Melhores Filmes da década (a grande maioria dos filmes tem crítica linkada diretamente em seu título):


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100 | As aventuras de pi

Uma das mais belas cinematografias da história do cinema, o filme que deu o Oscar de Melhor Diretor para Ang Lee traz como principal virtude uma bela mensagem sobre como a fé não deveria, jamais, reprimir tanto os que a possuem, como os que a procuram.

99 | Looper

Uma ficção-científica consideravelmente subestimada, este filme de Rian Johnson apresenta um mundo contagioso ao passo que levanta questões complexas acerca da moralidade do ser humano, além de conter influências deliciosas da cultura japonesa.

98 | La La Land

Uma carta de amor aos musicais clássicos, La La Land sofreu muito por conta da polêmica do Oscar de 2017, mas não podemos esquecer que continua sendo um dos melhores exemplares do seu gênero em anos.

97 | Logan Lucky

Com uma dinâmica surpreendente entre atores de alto calibre, esse "heist movie" de comédia dirigido por Steven Soderbergh traz de volta a sensação de urgência cômica e energizante que ele já tinha apresentado em "Onze Homens e Um Segredo" e a leva para um novo cenário: dessa vez o roubo ocorre durante uma corrida.

96 | Medianeras

“Buenos Aires na Era do amor virtual”. Esse subtítulo sem dúvida captura a essência desse romance argentino, que explora os vazios urbanos no Século 21 através de uma bela história de amor.

95 | Em Chamas

Um suspense arrepiante disfarçado de estudo de personagem, que no fundo é uma profunda critica social, compreendendo também comentários sobre a natureza do ser humano… “Em Chamas” fica melhor sempre que penso nele e é um filme que deve ser visto.

94 | O Lado Bom da Vida

Briguei (eu, Marco) para ter este filme mais alto na lista. Leve, divertido e genuinamente humano, “O Lado Bom da Vida” é uma daquelas comédias românticas que parece ter um efeito infindável, sendo que sempre que a assisto sinto como se fosse a primeira vez.

93 | Zootopia

Filmes de animações possuem uma influência maior do que algumas pessoas imaginam. Zootopia possui uma quantidade enorme de camadas. Visualmente lindo e verdadeiramente engraçado, esses dois pontos são o suficiente para fazer do filme unanimidade entre crianças, porém seus sub-textos, nutridos por comentários sociais profundos e reais, representados de uma maneira mais “ingênua”, porém ainda clara, a fim de alcançar tanto adultos quanto o público jovem é onde Zootopia triunfa como um dos melhores longas da década.

92 | A Grande Aposta

Em 2008 a bolsa de valores dos Estados Unidos entrou em uma severa crise econômica por consequência da venda de ações hipotecarias baseadas em especulação. Parece difícil? É isso que Adam McKay tentou explicar nesse filme que mistura ficção, documentário e uma excelente direção em que os protagonistas estão apostando contra a maior economia do mundo.

91 | Silêncio

Mais uma obra prima de Scorsese (muito mais alto na minha lista cof cof), Silencio é um dos filmes mais difíceis de sua carreira. Tecnicamente irrepreensível e com atuações viscerais de seu diversificado elenco, é uma profunda e dolorosa meditação sobre a fé.

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90 | 12 Anos de Escravidão

Difícil, doloroso, devastador. O longa que levou o Oscar de Melhor Filme em 2014 conta a história real de Solomon Northup, um homem que passa pelo inferno pra recuperar algo que ninguém jamais deveria nascer sem: a sua liberdade.

89 | As Boas Maneiras

Essa mistura deliciosa de terror com drama social que retrata a estranha conexão entre uma empregada doméstica e uma mulher grávida é mais um motivo de orgulho para o cinema nacional nesta década.

88 | First Reformed

Ethan Hawke interpreta um padre que, após um encontro com um casal de ativistas ambientais, passa a questionar todas as instituições à sua volta, inclusive aquela que era capaz de mantê-lo são mesmo com seus traumas: a sua fé.

87 | Guerra Fria

Paweł Pawlikowski foi um destaque dessa década depois da sua fracassada aventura em Hollywood (Estranha Obsessão) o diretor trouxe dois brilhantes filmes “Ida” que fala sobre a memória do holocausto e “Guerra Fria”, nos dois abordou traumas recentes da Polônia. O último é um dos melhores filmes já realizados sobre a divisão do mundo no Século 20 criando um fio narrativa complexo e interessante pra sua personagem que se divide entre Varsóvia e Paris.

86 | Os Oito Odiados

Tarantino brincando de Agatha Christie e emulando Hitchcock, o que mais um cinéfilo poderia pedir?

85 | Entre Nós

Melancólico e pesaroso, “Entre Nós” nos lembra de verdades que preferimos não acreditar. Muito dificilmente manteremos justo o que mais valorizamos quando jovens, pois nem mesmo as mais fortes das amizades resistem à tragédia. Ou ao próprio tempo.

84 | O Lagosta

Yorgos Lanthimos é, de longe, o cineasta mais criativo - e estranho - em atividade e nenhum de seus filmes representa tão bem sua visão única do mundo como a história de amor mais peculiar e excêntrica desta década. Viram quantos adjetivos foram usados nessa descrição?

83 | Carol

Um amor proibido em uma época onde o amor verdadeiro era algo tão raro como um diamante em meio a uma montanha, “Carol” já tomou contornos de clássico cult por conta de sua temática, o fato de ser estrelado por duas atrizes maravilhosas e ser visualmente impecável o consolidam como um dos grandes filmes de seu tempo.

82 | Frozen

Nenhum de nós aguenta mais ouvir “Let It Go”, é verdade, mas isso apenas porque fomos todos enfeitiçados de tal forma que se tornou impossível não manter a música, e o filme, em repetição por um bom tempo.

81 | Foxcatcher

Um milionário resolve investir em uma equipe de Luta Olímpica. Eu não me interessaria pela premissa de cara e talvez seja a prova de que qualquer história nas mãos certas se torna um excelente filme. Tenso e dramático conta com brilhante atuação de Steve Carell.

Essa dupla tive que me (marco, oi) esforçar para encaixar na lista. Somos um site Scorseseano, mas nem por isso podemos subestimar o minucioso trabalho de 10 anos da Marvel que culminou com este épico de quase seis horas, dividido em dois filmes. Capaz de provocar emoções que muitos de nós achavam que seria impossíveis sem ser com um quadrinho em mãos, ambos os filmes entregarem momentos inesquecíveis para fãs de todas as idades.

79 | Bingo

Gosto de brincar que este é o Coringa (2019) antes do Coringa. Vladimir Brichta oferece uma das grandes interpretações da década na pele de um personagem tão evocativo como problemático para, e sobre, a população e cultura brasileira.

78 | Um limite entre nós

Denzel Washington como diretor traz uma ótima adaptação de um homônimo texto de teatro. Centrado nas atuações dele e de Viola Davis, o filme é potente e sensível.

77 | Straight Outta Compton

A origem e trajetória do N.W.A. era difícil de ser contada. Mas o fato é que "Straight Outta Compton" cumpriu a missão de pintar uma realidade com muita coragem e atitude. Em uma das melhores cenas do longa biográfico, Eazy-E percebe que só seria capaz de cantar corretamente ao incorporar a raiva acumulada e é nesse momento que captamos a capacidade que essa história carrega: exaltar a arte como forma de afronte e sobrevivência (coisas que, para um homem negro e marginalizado, costumam ser a mesma coisa).

76 | As Vantagens de ser Invisível

Esse filme foi muito emblemático por tratar de temas tocantes a juventude como drogas, sexualidade e depressão. Sua condução é bem instigante e sútil ao tratar uma história pesada.

75 | Aniquilação

A experiência de assistir a “Aniquilação” é curiosa. Tão tenso como convidativo, é uma ficção que funciona por causa de seu mistério que, por sua vez, precisa das hipóteses criadas pela natureza misteriosa de sua premissa.

74 | Carnificina

Para um bom apreciador de diálogos e roteiro, não há nada mais charmoso que um filme que se passe apenas em uma locação. Aqui, dois casais (Winslet, Foster, Waltz e C. Reily) se encontram para discutir sobre a briga que ocorreu entre seus respectivos filhos no colégio e, logo, a conversa toma níveis cada vez mais filosóficos e catastróficos.

73 | A Qualquer Custo

Ganhando o prêmios de melhor filme dos Irmãos Coen não dirigido pelos irmãos Coen, “A Qualquer Custo” é um faroeste contemporâneo que trabalha temas atemporais, ao passo que nos leva a uma viagem intimista na mente de seus protagonistas.

72 | Harry Potter e As Relíquias da Morte: Parte 2

O mesmo argumento utilizado para Vingadores pode ser repetido aqui, porém com uma dose a mais de magia. Se beneficiando do capítulo anterior, que fez o trabalho de desenvolver ainda mais aqueles personagens que aprendemos a amar anos atrás, esta segunda parte finaliza a saga de forma com uma pitada essencial da melancolia que tomou conta da vida de Harry desde que ganhou sua famosa cicatriz. Não é o melhor da saga, mas passa muito, muito perto.

71 | Precisamos Falar Sobre o Kevin

Em 1990, era lançado um dos maiores clássicos de natal de todos os tempos, que tinha em sua narrativa a complicada e bonita relação entre um Kevin e sua mãe - que acabava esquecendo o garoto sozinho em casa antes de uma viagem. Aqui, a história já é outra. O abuso psicológico sofrido por essa outra “mãe de Kevin” nesse drama violento e angustiante traz para jogo uma das melhores atuações da carreira de Tilda Swinton e um tema delicado, arrebatador e infelizmente muito atual.

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70 | sob a pele

Nesta obra magistral, a imagem de um dos maiores símbolos sexuais nu se torna um pesadelo tanto para seus equivalentes em tela quanto para sua personagem que, por mais inumana que seja, divide as mesmas inseguranças das criaturas na qual sua imagem se espelha. é um filme difícil e desafiador, bizarramente lindo e completamente inesquecível.

69 | Spring Breakers

Ousado, profundo e inesperadamente inteligente, este filme de Harmony Korine tem muito mais a oferecer do que as festas nas quais suas protagonistas tão frequentemente se encontram. E sim, o colocamos em 69 de propósito.

68 | A Criada

Um dos filmes mais enganadores da lista, “A Criada” pula de gênero em gênero de forma amórfica, enquanto a estranheza de seus personagens e história nos cativam sem bem sabermos o porquê. É uma experiencia esquisita, mas intensa e enriquecedora.

67 | O Menino e o Mundo

Além de ser o único brasileiro indicado ao Oscar na década, “O menino e o mundo” é uma das mais criativas animações dos últimos tempos, contando uma narrativa sensível que se mistura a própria história do Brasil com uma técnica de desenho animado bem estilística.

66 | Trama Fantasma

Supostamente a última atuação da brilhante carreira de Daniel Day Lewis, “Trama Fantasma” é sua segunda colaboração com Paul Thomas Anderson e a marca de ambos está impressa de tal forma que é como se ambos tivessem costurado todos os vestidos do filme juntos, trancados em uma cabana, sem ajuda de ninguém. Por fora um estudo de um personagem insosso e desagradável, por dentro, uma história de amor e obsessão, seja pela arte, seja por outra pessoa.

65 | Antes da Meia Noite

A conclusão da trilogia de Linklater traz a mesma estrutura de seus antecessores, mas desconfio que se tivéssemos dez filmes destes, acompanhar Jesse e Céline sempre seria uma tarefa agradável, aventureira e esclarecedora, por mais que a cada novo capítulo em sua história a vida pareça estar cada vez mais tortuosa e desafiadora.

64 | Baby Driver

Unindo o dinamismo lúdico já conhecido na montagem dos filmes de Edgar Wright à ideia de criar um personagem e um filme conectados pela sua incapacidade de funcionar sem música, "Baby Driver" é um espetáculo animado e repleto de adrenalina.

63 | Ilha do Medo

Como dito lá em cima, somos um site Scorseseano e ver o diretor brincando de Hitchcock é algo que não pode ser ignorado, sob nenhuma circunstância.

62 | Ex-Machina

O melhor que pode acontecer quando você assistir a Ex-Machina é experienciar uma das ficções científicas mais inteligentes da década, o pior é você começar a questionar o quão real é a sua vida, o quão humano realmente somos, e se tudo isso realmente importa. Ou será que esta seria a melhor parte?

61 | Me Chame Pelo Seu Nome

No dia que debatemos sobre quais filmes em qual ordem estariam na lista dos melhores da década, utilizei um adjetivo peculiar para descrever este lindo filme de Luca Guadagnino. Não sei porque fui tão repreendido por meus colegas. Ah, o adjetivo? Furioso.

Johnson merecia mais um lugar aqui só por ter provado o quão tóxico é o fandom de Star Wars. O fato de este ser o terceiro melhor filme da saga consolida sua posição.

59 | Creed (com menção para Creed II)

Quem diria que o melhor trabalho de Stallone como ator seria justamente naquele que seu icônico personagem assume um papel coadjuvante na própria franquia. Mas o filme que transformou Michael B. Jordan em uma estrela de calibre mundial é, além disso, um dos melhores filmes esportivos desde Touro Indomável e vai fazer você sentir vontade de ir para a academia (e se não fizer, nada mais fará).

58 | Que Horas Ela Volta

Ao molhar os pés na piscina em uma catártica cena de encerramento, e questionar sua filha entre risos no telefone "Adivinha onde é que eu tô...", Regina Casé e Anna Muylaert resgatam um sentimento de esperança típico do brasileiro. É muito díficil (talvez hoje ainda mais), mas há jeito - as coisas podem mudar para o melhor.

57 | Moonrise Kingdom

Um dos filmes mais adoráveis da exótica carreira de Wes Anderson, “Moonrise Kingdom” pode ser um pouco ousado demais para assistir com a família, mas apenas porque representa seus temas de juventude e amadurecimento com imenso realismo. E surrealismo, também.

56 | Spotlight

Transformando o escândalo que tomou conta da igreja católica no início dos anos 2000 em um dos filmes de terror mais sufocantes da década é o maior feito de Spotlight, justamente por este não ser um filme de terror.

55 | Dunkirk

Com primor técnico, Christopher Nolan conseguiu transportar de forma imersiva o espectador para o meio da Operação Dínamo da Segunda Guerra Mundial, nesse longa que é dividido em três perspectivas: terra, mar e ar.

54 | O Mestre

Um dos últimos trabalhos de Philip Seymour Hoffman e uma das atuações mais impressionantes de Joaquim Phoenix, este filme de Paul Thomas Anderson vai desde nossa complicada relação com a fé à nossa necessidade de encontrar apoio, não importa aonde.

53 | Meia Noite em Paris

Jamais se imaginaria que o polêmico Woody Allen seria capaz depois de mais de 30 anos de carreira de dirigir um dos seus melhores filmes. Exatamente isso que é “Meia noite em Paris”, se valendo de todas suas marcas autorais, o diretor conta uma história criativa e divertida enquanto reflete sobre a nossa relação com o tempo.

52 | Melancolia

Falando em diretor polêmico, o filme de Lara Von Trier que entra nessa lista é uma das suas obras de maior destaque, tensionado a audiência a assistir um fim do mundo que demora e incomoda.

51 | Pantera Negra

Seja você o Scorsese ou não, é impossível negar: a década nas bilheterias foi dos super-heróis. Fugindo de clichês e se destacando entre diversos do seu gênero por se preocupar em trazer identidade em seus personagens e em sua mitologia, "Pantera Negra" originou um movimento gigante devido a sua busca por representatividade com respeito (algo que falta em diversos filmes que tratam representatividade apenas como uma cota). Mas o que particularmente mais me marcou foi ver crianças negras sorridentes, orgulhosas e até dançando de alegria por ter um herói só pra elas. Wakanda forever!

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50 | Drive

Visualmente esplêndido, “Drive” oferece prazeres ainda maiores em suas compulsivas revisitas, que devem se tornar normais após você não entender bem o que tem de tão magnético no filme a primeira vista.

49 | Amor

Não há dúvida da capacidade de Michael Haneke de fazer filmes profundos com temas sensíveis. O diretor explora ao máximo a subjetividade da situação ao trabalhar os temas e os aspectos técnicos deste filme que venceu a Palma de Ouro de 2012.

48 | O Quarto de Jack

Há filmes que são tão provocativos e delicados que não há como revisitá-los. Seria martírio rever algo tão emocionalmente carregado como este filme. Porém, ele se torna impossível de ser esquecido ao criar uma experiência sensorial claustrofóbica indescritível e representar tão brutal e genuinamente o amor entre mãe e filho, contando com atuações excepcionais no caminho.

47 | O Som Ao Redor

Amórfico como a água que costumava preencher a piscina ao lado, se você examinar bem, pode ver o Brasil inteiro em um microcosmos nesta experimental obra prima de Kleber Mendonça.

46 | Corrente do Mal

Acompanhando uma "final girl" mais ingênua e, mesmo assim, muito forte e decidida, "It Follows" é um terror com muita identidade. Ele cria o medo com paciência a partir da antecipação e conta com uma fotografia que só torna a história dessa maldição ainda mais angustiante.

45 | O Abutre

A linda conquista de "O Abutre" é trazer diversos temas através de um inteligente estudo de personagem. "Se sangrar, dá audiência." diz um repórter no começo do suspense. Sinta-se culpado ou não, a escolha é sua. O fato é que você não vai conseguir desgrudar os olhos deste excêntrico - porém verossímil - personagem de Jake Gylenhall.

44 | Animais Noturnos

Com histórias paralelas que se entrelaçam através de dor e vingança, "Animais Noturnos" é um prato cheio para fãs do suspense e apresenta uma das melhores atuações da carreira de Jake Gyllenhall (o que não é dizer pouco). A direção de arte e a montagem trabalham juntos neste longa de Tom Ford que retrata a angústia desesperadora de um amor perdido.

43 | Coco

Esse é um dos mais bonitos filmes já feitos. A Pixar nos traz um espetáculo visual baseado na cultura mexicana através dos olhos de uma criança que sonha em ser músico. Uma jornada pelas nossas perdas, recordações e afetividades, “Coco” emociona qualquer um que já tenha perdido alguém querido e nos leva instantaneamente às lágrimas.

42 | Inside Llewyn Davis

Em minha postagem sobre as melhores interpretações da década, comentei sobre o quanto odeio o Llewyn Davis de Oscar Isaac. Um verdadeiro fracassado, mas teimoso demais para desistir de algo que nunca foi dele, é um daqueles personagens fadados à imortalidade, o que me deixa ainda mais incomodado. A propósito, estou elogiando o filme.

41 | Scott Pilgrim contra o Mundo

Apesar de ser o personagem mais gado da década (e cravado entre todos os tempos), Scott Pilgrim é um alívio ao constatar que em Hollywood existe gente brincando e explorando com estruturas narrativas.

Vencedor do Oscar de 2018, “Três Anúncios…” é ácido e utiliza de seu humor negro como antítese para toda a dor com que a personagem de Frances McDormand convive. Ela que, por sinal, só precisa de um olhar para cortar sua alma.

39 | A Favorita

Como dito anteriormente, Yorgos Lanthimos é um dos diretores mais estranhos atuais e por mais que O Lagosta seja mais autoral nesse sentido, A Favorita chega na frente por misturar a ousadia do diretor com excelentes atrizes em uma história eletrizante e bizarra. Cheio de camadas, te conduz entre conflitos bélicos e amorosos que se retroalimentam e faz isso através das qualidades técnicas.

38 | Tangerine

Repleto de estilo, boa escrita e personagens profundos, "Tangerine" carrega muitos outros méritos além de seu baixo orçamento - o filme fora inteiramente gravado pelo iPhone. Esse fator, além de deixar as atrizes (amadoras, como é de costume nos filmes de Sean Baker) mais à vontade, tornou o filme bem realista e provou que todas as histórias podem (e devem) ser contadas.

37 | Cisne Negro

Um dos filmes mais interessantes da década. Darren Aronofsky apresenta um dos seus trabalhos mais consistentes, com usuais experiências simbólicas encaixada em uma narrativa interesse. A atuação de Natalie Portman é tão perfeita quanto a história da sua personagem que se mistura com o clássico “Lago dos Cisnes”.

36 | Whiplash

Infelizmente não foi tão visto como merecia, essa história é necessária em tempos de cosches e romantização do sofrimento. A partir da história de um jovem baterista em uma orquestra de jazz chamou atenção por sua objetividade e as fortes cenas com JK Simmons.

35 | Garota Exemplar

O mais encantador deste filme de David Fincher é como, em sua essência, ele serve tanto como uma história de amor, como um retrato do casamento no século 21. O fato de ter em um dos componentes deste casal uma psicopata fria e calculista, só torna tudo ainda mais atraente.

34 | A Origem

Gostem ou não, Nolan é um dos diretores mais criativos com grande alcance de público e de certa forma “A Origem” consolidou a posição dele no mercado. Sua perfeição técnica, uso apurado de trilha, edição e efeitos práticos unidos a uma história dinâmica e muito, mas muito criativa fazem esse filme ser aclamado até hoje.

33 | Toy Story 3

Superar o primeiro Toy Story era uma tarefa difícil, mas a Pixar conseguiu. Superar o segundo era praticamente impossível, mas a Pixar conseguiu. Agora, fazer uma continuação melhor que este tocante estudo do fim da melhor época das vidas de tantas pessoas é algo - comprovado pelo quarto filme - que jamais irá ser atingido.

32 | The Wolf Of Wall Street

Imagine se seu avô de 70 e poucos anos andasse por aí fazendo orgias com ricaços de Wall Street. É assim que os netos de Martin Scorsese devem ter se sentido.

31 | Logan

Aquela que deveria ter sido a despedida oficial não apenas de Hugh Jackman como Wolverine, mas dos próprios X-Men, “Logan” é a obra prima da Sony, um filme que transcende seu gênero e que oferece um insight melancólico e decadente para um herói, até então, indestrutível. Sentiremos saudade.

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30 | frances ha

Um dos melhores Coming of Age da década, “Frances Ha” é como um universo dentro de um fragmento de vida, onde vemos todo o mundo a frente de uma jovem que já viu boa parte dele passar. Entre todos os embaraços, erros e tropeços, Frances é encantadora por ser sempre ela, Mesmo que demore o filme inteiro para descobrir isso.

29 | O Lobo Atrás da Porta

Talvez o filme brasileiro mais arrepiante de todo o século, essa estreia de Fernando Coimbra constrói seus personagens pacientemente para lhe revelar sua verdadeira identidade apenas no final, o que torna seu efeito ainda mais duradouro.

28 | Era Uma Vez Em Hollywood

Chamada de “a carta de amor” de Tarantino para sua amada Hollywood, acho que a melhor forma de encarar esta obra é como um conto de fadas em um dos momentos mais chocantes dos anos 60, com toda a pompa, toda a violência, todos os diálogos aparentemente frívolos que tornaram a carreira de Tarantino uma das mais singulares de todos os tempos.

27 | A Chegada

Menos sobre seus alienígenas e mais sobre a vida em si, “A Chegada” conta com a melhor performance da carreira de Amy Adams e com uma direção ao mesmo tempo delicada e grandiosa de Dennis Villeneuve. Se você não se sentir confuso ao acabar a projeção não se assuste, isso é um bom sinal.

26 | Millenium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres

Adaptando com fidelidade o livro de Stieg Larsson e melhorando em cima do bom filme Sueco de mesmo nome, este épico de David Fincher é um mergulho na obscuridade de um lugar que, historicamente, sufocou milhares de mulheres e as privou de, sequer, lutarem. Isso e Lisbeth Salander, pois após assistir ao filme, jamais esquecerá esse nome,

25 | O Grande Hotel Budapeste

O estilo de Wes Anderson encontra aqui sua mais precisa harmonia, o caos narrativo, os diálogos objetivos, os movimentos de câmera e claro, as cores. Ao final da projeção algumas certezas surgem: este é um dos melhores de sua carreira e o Hotel que dá nome ao filme é a casa dos sonhos de seu idealizador.

24 | O Irlandês

Os Vingadores de Martin Scorsese não usam capa, roupa colorida ou desfilam seus super poderes em plena luz do dia. Não, seus Vingadores já estão velhos, cansados e pagando o preço pela vida que escolheram. “O Irlandês” é mais uma obra prima do melhor diretor vivo, uma visão madura e essencialmente melancólica de seres que, quando criança, eram os seus super-heróis.

23 | Relatos Selvagens

Essa antologia sobre a violência é um dos grandes roteiros escritos nos últimos anos. Por mais que cada uma de suas histórias seja diferente elas são inevitavelmente semelhantes e cada uma delas contribui um pouco pra composição geral de um filme brilhante.

22 | Assunto de Família

Um dos mais belos filmes da lista, esta obra prima do cinema japonês mistura uma relevante critica social com uma linda mensagem sobre familia, amor e paternidade. É um filme que conquista por seus pequenos momentos, mas que tem um impacto gigantesco em todo aquele que se entregar por completo a tudo que tem a oferecer.

21 | Infiltrado Na Klan

Esse 'Spike Lee's Joint' apresenta um discurso claro e certeiro. Com sequências inventivas e o toque icônico que já virou marca registrada do diretor, "Infiltrados na Klan" usa a comédia e o absurdo para expor (através de uma história real) a realidade da KKK, cuja filosofia ignorante e racista está presente ainda hoje, mesmo que nem todos usem gorros brancos pontudos. Ele já está cansado de dizer, mas não custa repetir: "Wake up!"

Precisamos de menos de dois meses para decidir que o melhor filme da carreira de Baumbach, Scarlett Johansson e Adam Driver estaria entre nossos 20 preferidos da década. Realista a ponto de ser dolorido, mas lindo a ponto de ser reconfortante, história de um casamento é um estudo não apenas do amor ou de seu fim, mas da vida e como ela sempre acha um jeito de te surpreender.

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19 | Divertida mente

A mais engenhosa animação da década é um um trabalho refinado do principal estúdio de animação dos últimos 20 anos. Criar paralelos aos nossos sentimentos e os seus próprios sentimentos e como isso reflete em uma fase de profundas na vida. “Divertida Mente” é um filme capaz de abordar a mente humana como poucos outros já foram.

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18 | Roma

É um filme necessariamente latino-americano, aliás, necessariamente da classe média latino-americana, o que não é um demérito, mas uma constatação do ponto de vista sob o qual Alfonso Cuaron constrói a história de Cleo (Yalitza Aparicio). É um espetáculo de maestria técnica no cinema e de enorme beleza, sobre ele, assim como sua protagonista, há pouco a se falar e muito a se ver.

Memórias nubladas de uma época da vida que não mais volta. A origem do universo e da vida. Entre estas duas coisas está este filme de Terrance Malick, e se ver ambas pela sua visão singular já não fosse fascinante o bastante, descobrir o quanto se relacionam é algo que todos deveriam tentar.

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De acordo com o maior crítico de cinema da história, filmes em preto e branco são mais propícios à imortalidade do que os de cor. “O Artista” talvez seja a representação moderna disso. Um filme que seus avós sorririam por levar-los de volta à sua juventude, e você tem tudo para amar se procurar ver o mundo como eles viam antigamente. É uma experiência rica e, hoje em dia, praticamente única.

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15 | Ela

Que coisa linda é o amor.

14 | os suspeitos

Angustiante (por ser paciente) e nunca cansativo (por ser angustiante), “Os Suspeitos” respeita seu espectador. Com simbologias inteligentes a rodo, que se utilizam de todos os aspectos da linguagem cinematográfica - desde o diálogo mais simples até o enquadramento mais elaborado - Denis Villeneuve construiu um mistério que te deixa sem ar do começo ao fim.

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O filme de super herói que nos lembrou o que um filme de super herói deveria ser e a animação que mais inovou visualmente desde que a Pixar surgiu no mercado, “Aranhaverso” já cravou um lugar na cultura popular e suspeito que seu impacto não apenas na arte, mas nas vidas de tantas crianças que puderam se enxergar em Miles, está apenas começando a ser compreendido.

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Quase uma sequência para Bastardos Inglórios, Django é um dos melhores filmes do tarantinoverso. Uma meta narrativa sobre a história do negro no cinema, enquanto revisa os papéis e estruturas dos filmes de faroeste. Suas três horas de duração passam rápido enquanto vemos Jamie Foxx e Cristoph Waltz formarem uma dupla em tela, as cenas impressionam pela qualidade do texto, tanto a história como seu andamento são empolgantes.

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Se qualquer diretor seria hábil a dar continuidade a um dos maiores clássicos dos anos 80, e do gênero sci-fi, este só poderia ser Dennis Villeneuve. “Blade Runner 2049” é uma obra prima do caos inevitável que nossa sociedade - e espécie - parece estar rumando em direção. Mais do que isso, é um retrato - hiper estilizado, é claro - do mundo moderno, onde julgar o diferente é lei, e subjugar as minorias é ordem.


Destinado a se tornar filme de bolso para aventureiros descontentes com a vida na civilização e na sociedade moderna, “Capitão Fantástico” não divide o mesmo apuro técnico que muitos dos filmes desta já extensa lista, mas possui algo que muitos deles, com todas as suas qualidades e grandezas, tem dificuldade de provar que também possuem.

O que seria isso?

Uma capacidade que gostaria de resumir em uma chave, capaz de abrir o coração de milhares de pessoas e se aconchegar ali dentro para todo sempre.

É um filme que pode fazer você repensar a própria vida, repensar os próprios conceitos, repensar as próprias ideologias que até então tomava como certo. Porém sua maior virtude é aquela que somos capazes de compreender apenas naquela maravilhosa cena que encerra o longa: a vida é para ser vivida e, com todas as suas dores, tristezas e traumas, deve ser celebrada. Temos apenas uma chance de viver-la, e não experienciar todas as emoções que este mundo pode nos proporcionar é um desperdício imensurável.

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9 | projeto flórida

É sabido que uma das tarefas mais complicadas do cinema é evocar o realismo. E se não fossem os enquadramentos precisos (astuciosamente nivelados ao olhar de uma criança) e o reconhecível rosto de Willem Dafoe (que, com muita parcimônia, cria aqui um dos melhores personagens de sua carreira), seria fácil confundir “Projeto Flórida” com um documentário.

A história de Moonee, seus amigos e sua mãe ao redor do “Castelo Mágico” menos prestigiado da Flórida nos faz questionar o que é fantasia e o que é realidade sem utilizar sequer um efeito especial e é contada através de uma perspectiva ingênua que, ao invés de suavizar o tom dramático da narrativa, o potencializa: quando percebemos o que está acontecendo durante as brincadeiras de banheira de Moonee, por exemplo, tudo se torna ainda mais trágico. Mas “Projeto Flórida” não é devastador (com exceção talvez de uma cena final, gravada em iPhone).

A coletânea de correrias e folia nesse grande recreio de duas horas é a consagração da pureza que se torna cada vez mais difícil de encontrar se não procurarmos diretamente no olhar de uma criança.

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"Parasita" é o cinema elevado à máxima potência.

Todas as técnicas disponíveis para contar uma história com perfeccionismo foram utilizadas aqui com genialidade e funcionam para trazer uma das narrativas mais emblemáticas e originais da década. Quando uma família pobre decide aplicar um golpe em uma família rica, ocupando-se em diferentes empregos na mansão dos abastados, não demora muito para segredos serem revelados e o caos se instaurar.

O filme pede para você sentar, abre as cortinas de um belíssimo teatrinho de fantoches e te convence que vai contar a história de um engenhoso golpe aplicado por uma família malandra. E faz isso mesmo. Com maestria. Mas o cinema nasceu como - e, até hoje, todo bom cinema é - um truque de mágica, e enquanto Bong Joon-ho te entretém com os fantoches das duas famílias em sua mão direita, ele usa a esquerda para espalhar subtextos e nuances, arquitetando a principal mensagem do filme: quem, de fato, é o parasita?

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7 | boyhood

O que Richard Linklater - e seu elenco - conseguiu em “Boyhood” pode parecer um truque.

Uma filme gravado pacientemente ao longo de 12 anos, com um roteiro que praticamente se escrevia cada vez que o diretor e os atores se juntavam, acabou por ser uma das obras mais aclamadas dos últimos tantos anos do cinema, pois, algo é certo, pouco, se qualquer filme, chegou perto de emular tão bem a sensação de estarmos assistindo à vida.

Vemos Mason, e sua irmã, passar por tantas experiencias que nós mesmos passamos, mas sequer nos demos o luxo de guardar na memória como momentos importantes, pois a verdade é que a vida não é feita de cenas inesquecíveis, mas sim de pequenas repetições do nosso dia a dia que, se não aproveitarmos da forma certa, a veremos passar tão rápido quanto estes 12 anos.

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É inacreditável como “Bacurau” acertou em cheio um momento que estamos vivendo não só no Brasil, mas no mundo.

Aqui, Kleber Mendonça Filho nos presenteia com personagens humanos e caricatos, repletos de personalidade e com um incêndio queimando em suas veias. Um filme sobre união, sobre corrupção, sobre injustiça e sobre um povo cansado de ficar quieto frente a barbárie. O povo desta isolada cidade mostra o que acontece quando se mexe no ninho de vespas e que não está afim de ser pacíficos, como vemos a mídia diariamente frisando que é o caminho correto a se tomar.

“Bacurau” é o grito de socorro que todos nós estamos reprimindo há muito tempo, um retrato da parte esquecida de um país sem memória, um grito de guerra para um povo que não deveria fugir da luta. O gigante já está morto, chegou a hora dos que ainda vivem.

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A inesperada virtude da violência.

Assim como alguns dos filmes dessa lista, “Birdman” é uma meta-narrativa e, nesse caso, isso significa que o filme é uma discussão sobre o próprio fazer cinematográfico. Partindo da história de um ator famoso por interpretar um super herói que tenta emplacar uma peça na Broadway (interpretado por Michael Keaton, o que só pode ser o melhor casting da década) vemos toda sua trajetória de pré produção até sua estreia em um único take (ou, no caso, em vários takes mascarados para parecer como um), vendo, no processo, as barreiras da realidade e do cinema simplesmente desaparecerem.

Intenso, ácido e tecnicamente impecável, é um filme que, no fundo, fala sobre o amor ou, melhor, como a falta dele afeta aqueles que tanto necessitam. Quando vemos Riggan Thomson tão obcecado pelo sucesso, é apenas porque em sua vida particular ele criou muros que impedem aqueles que por ele sentem se aproximarem.

É uma mensagem dolorida para aceitarmos, pois fala mais sobre nós do que sobre este fascinante personagem que, ao final, parece acreditar tanto na própria capacidade que convence - ou engana - a todos nós.

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4 | mad max

What a ride.

Parece que foi ontem que George Miller decidiu retornar à sua amada franquia sobre loucos em busca de gasolina e água, e namorados propositalmente enganaram namoradas que achavam que seria um filme de fantasia/sci-fi. Bem, eu fiz isso.

Atingindo o estado da arte dos efeitos visuais ao empregar efeitos práticos milagrosos, Miller constrói uma ópera do caos onde o principal instrumento é uma guitarra lança chamas e o numero de mortes e carros se atropelando só não é maior do que a adrenalina que suas extensas cenas de perseguição provocam nos espectadores.

Mas o real motivo de este ser um dos grandes filmes da década é em como consegue comunicar tanto sobre nossa sociedade contemporânea mesmo falando tão pouco. Enquanto o governo totalitário de Imortan Joe parece ter inspirado diversos países ao redor do mundo (Brasil, incluso), Furiosa é a verdadeira representação da força feminina que serve como principal pilar de resistencia.

Curiosamente, “Mad Max” foi um filme a frente de seu tempo, mas fez isso com tanta exatidão e com um espaço de tempo tao curto que é quase como se viesse do futuro.

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3 | corra

Quando a premiação do Globo de Ouro classificou "Corra" como uma comédia, surgiu uma discussão sobre qual seria seu verdadeiro gênero. A verdade é que, para quem está do lado pontudo da faca do racismo, é impossível ver este filme como uma piada.

Lidando com peculiaridades muito específicas da vivência negra no mundo todo mas principalmente nos Estados Unidos, Jordan Peele consegui construir um roteiro que vai pacientemente revelando as camadas mais podres do sentimento de superioridade branco, que é construído por ignorância, medo e inveja. Daniel Kaluuya traz, com o seu olhar, uma das cenas mais fortes e carregadas da década: a maneira como eles (brancos) nos mantém aprisionados não é só fisicamente (como em uma cadeira com alças no porão) quanto psicologicamente (no "lugar afundado"). E essa sensação constante na história de paralisia e impotência que só é revertida ao final do filme situa "Corra" facilmente entre os melhores filmes de terror (sim, terror) da década e da história.

Ah, Jordan Peele? Ele não acha que "Corra" seja nem terror, nem comédia. No twitter, disse que sua história apavorante é um documentário.

Dentre todos os filmes lançados nestes dez anos, absolutamente nenhum refletiu tanto nossa sociedade como este filme de David Fincher que, lançado lá em 2010, preveria os dez anos que viriam a seguir.

Um tempo atrás uma pessoa me comentou que não achava o longa acessível, e por o mesmo trazer um tema universal isso era uma falha - que deve ser endereçada à Aaron Sorkin que, frequentemente, superestima a inteligência de suas audiências, é verdade. Mas não vejo dessa forma, pois se a grande maioria das biografias ganham a luz do dia com o objetivo de vangloriar criaturas que jamais foram perfeitas, os indivíduos que vemos aqui são um produto que, por mais polidos e donos de falas e diálogos inteligentes demais para apelarem para as massas, soam reais, em toda sua complexidade que vai desde a forma como enxergam um negócio potencialmente lucrativo, à como acabam se tornando vitimas da própria criação.

Dirigido por um dos melhores diretores dos últimos 25 anos com toda sua habitual precisão e perfeccionismo quase neurótico, escrito por um dos roteiristas mais competentes em atividade de forma que enxergamos todos os lados daquela história - inclusive o nosso -, e com um jovem elenco uniformemente cativante e magnético, “A Rede Social” pode ter tomado suas liberdades com a história de Zuckerberg e do Facebook, mas jamais deixou de representar a realidade coletiva e, ao mesmo tempo, singular, de tantos de nós.

Por tudo isso, é um dos melhores filmes de sua década, pois nada a representa melhor do que um vencedor - mas derrotado - Mark Zuckerberg apertando F5, a espera da única pessoa a qual sua criação não conseguira conquistar.

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"À luz do luar, garotos negros parecem azuis."

É gradual e às vezes até sutil, mas a sociedade sempre consegue pintar qualquer um à sua maneira. Branco, preto, azul... Ao olhar para um homem negro, o que você enxerga? Ao olhar para um homem gay, o que você enxerga? Ao olhar para qualquer um, você enxerga? "Moonlight" é um filme sobre enxergar. E por ser um filme sobre enxergar, se torna tão potente em seus momentos silenciosos e contemplativos. Muito é dito em seus diálogos, mais ainda é dito em suas pausas.

Crescendo em um ambiente opressor e infestado de masculinidade tóxica, Chiron tenta descobrir quem ele é e quem os outros querem que ele seja enquanto batalha com a dificuldade em conciliar essas duas missões. Ao mesmo tempo em que aborda temas abrangentes para uma grande comunidade como a masculinidade tóxica, a dependência química e a homofobia, "Moonlight" é uma obra muito pessoal. Veja a história de Chiron. Sente-se. Escute. Respire. Aprenda. Sinta.

Dividido em três partes, o longa aposta em atuações impecáveis para preencherem as lacunas deixadas entre Little, Chiron e Black. O olhar de Chiron, na verdade, é outro tema recorrente. Com sutileza, se torna a ponte principal entre os três capítulos da história e o seu protagonista. Com um personagem quieto, que absorve muito mais do que expele, não seria diferente: o jeito com que Chiron vê o mundo não é contado diretamente por ele através de um monólogo ou de um discurso expositivo autopiedoso. Sua perspectiva é transmitida diretamente através do brilhante trabalho empregado em todos os aspectos técnicos do filme e, assim, nos tornamos parte da experiência mais mágica que o cinema pode realizar: enxergar o mundo através de outros olhos.

"Moonlight", dependendo da cena e do espectador, pode ser uma catártica obra de representatividade ou um exercício de empatia. E seja como for, a obra-prima de Barry Jenkins já vence por ser primorosa em seu milagre - retratar com tanto talento uma realidade que nossa única alternativa é sentir-se na pele do protagonista e viver a sua vida por algumas horas. O cinema é fantástico.


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