Os 10 Melhores Filmes de 2019

A segunda década do século 21 está chegando ao fim e para comemorar (?) decidimos retornar à todos os anos desde 2010 e listar os melhores álbuns, filmes e músicas de cada um.

Listas dos anos anteriores:


A simples ideia de listar obras de arte é um exercício de futilidade. Porém, a vida não vale a pena ser vivida se não for, também, comentada, analisada e pensada. Por isso, muitos de nós somos apaixonados por listas dos mais variados tipos mesmo que raramente, se alguma vez, elas reflitam com exatidão nosso gosto pessoal.

Portanto, e dentro da proposta do site de listarmos os melhores de cada ano da década, decidi me entregar à tarefa de listar os melhores filmes de cada ano, assistindo e re-assistindo dezenas, até centenas, de obras no processo.

É importante avisar que, diferentemente das últimas listas onde eu (Marco) tive ajuda na escrita de alguns dos textos, mas concebi as ordens praticamente por conta própria, a lista deste ano foi feita em conjunto com Felipe Guedes, João Francisco, Nicholas Mazzei e Renê Furtado, sendo que os três trazem, assim como eu, o descontentamento de ainda não termos assistido a fortes candidatos que ainda não foram lançados no Brasil, mas que adicionaremos quando chegarem e caso mereçam um lugar na lista. Entre eles: “O Farol”; “Uncut Gems”; “Little Women”; “Portrait Of A Lady On Fire”; “The Farewell”; “Booksmart”; “1917”; “The Souvenir”, além, é claro, das menções honrosas.

Antes de chegar ao top propriamente dito, vamos às listas individuais de cada um:


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Marco:

1 | História de um Casamento

2 | Era Uma Vez Em… Hollywood

3 | O Irlandês

4 | Parasita

5 | Bacurau

6 | Entre Facas e Segredos

7 | Vingadores: Ultimato

8 | Nós

9 | Doutor Sono

10 | A Vida Invisível

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Felipe:

1 | Bacurau

2 | Parasita

3 | A Vida Invisível

4 | Nós

5 | Entre Facas e Segredos

6 | Guava Island

7 | Democracia em Vertigem

8 | The Last Black Man in San Francisco

9 | História de um Casamento

10 | Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar

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João:

1 | Parasita

2 | Bacurau

3 | O Irlandês

4 | Toy Story 4

5 | A Vida Invisível

6 | História de um Casamento

7 | Ad Astra

8 | Era Uma Vez Em… Hollywood

9 | Dor y Gloria

10 | Nós

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Renê:

1 | Parasita

2 | A Vida Invisível

3 | John Wick 3

4 | Toy Story 4

5 | (des)Encontros

6 | História de Um Casamento

7 | Bacurau

8 | Nós

9 | Rocketman

10 | Ad Astra

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Nícholas

1 | Coringa

2 | Vidro

3 | Parasita

4 | Midsommar

5 | Democracia em Vertigem

6 | El Camino

7 | Bacurau

8 | História de um Casamento

9 | John Wick 3

10 | Vingadores: Ultimato

Agora, falamos sobre aqueles que consideramos os melhores de 2019:


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10

ultimato

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Tive que brigar - e muito - para dar ao encerramento da primeira grande fase da Marvel o amor que ela merece. Não um filme, mas sim um evento, “Vingadores: Ultimato” não apenas amarra todas as tramas criadas pelos estúdios ao longo de seus mais de vinte filmes, mas entrega alguns dos momentos mais delirantes para seus devotos fãs no processo.

Quer dizer, momentos que se você, alguma vez na vida, já foi criança, não pode se dar o luxo de dizer que não se arrepiou.

*Texto de Marco


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9

toy story 4

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Como fazer uma sequência para Toy Story 3? Sem nenhuma dúvida o filme é um dos maiores destaques da pesada filmografia da Pixar, por isso, era um pouco estranha a ideia de que se mexeria mais uma vez na história de Woody e Buzz, ainda mais quase 10 anos de ter sido encerrada. Toy Story 4 é uma excelente adição na história e de certa forma é um mérito que consiga usar personagens antigos para contar novas histórias. No filme de 2019, os brinquedos de Andy agora pertencem a Bonnie, claro que ao longo de toda sua história os amigos passaram por perdas e mudanças, Woody não é mais o brinquedo favorito e cabe a ele achar seu novo lugar no mundo. A aventura se desenrola a partir do momento em que os brinquedos saem para viajar com a nova dona e sua família.

Além de ser ousado por lidar com uma das histórias mais queridas do cinema, Toy Story 4 trabalha temas profundos e sensíveis, indo além do que já havia sido feito nesse sentido pela franquia. Sporky é feito de lixo e precisa ser convencido de que ele pode ter outro lugar no mundo, Woody tem que entender que já não é a vez dele e a vilã Gabby Gabby precisa literalmente encontrar sua voz para que possa dar alegria a uma criança. Talvez tivesse feito mais sentido abordar essa temática com personagens e uma história nova e o fato de estar limitada a uma franquia com outros três filmes é a única coisa que amarra o roteiro excelente do filme, que é capaz de emocionar e refletir e trazer ainda um trabalho fantástico de animação indicando uma nova direção para a técnica digital com louros.

*Texto de João


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8

entre facas e segredos

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Sou suspeito para falar, mas "Entre Facas e Segredos" era um filme que não tinha como dar errado.

Um elenco estelar em uma narrativa de gênero autoconsciente no melhor estilo Agatha Christie - isso é tudo o que eu quero em um filme. Mas provando mais uma vez ser um criador inventivo, talentoso e que não quer saber de jogar seguro até mesmo em gêneros estabelecidos ("Os Últimos Jedi" que o diga), Rian Johnson nos presenteou este ano com uma história de mistério, suspense, investigação e comédia que foi capaz de prender a atenção de diversos públicos enquanto transmitia uma forte mensagem política sobre o preconceito contra imigrantes e a farsa da meritocracia.

Além disso, o longa nos apresenta uma clássica história de mistério e resolução somente para, antes mesmo do meio do filme, jogar o tabuleiro longe e bagunçar novamente as suas peças, nos reposicionando em uma nova trama com novos objetivos sem perder o ritmo em momento algum. Inteligente, divertidíssimo e não acanhado em demonstrar seu posicionamento político, "Entre Facas e Segredos" é, sem dúvida, um dos melhores filmes do ano.

*Texto de Felipe


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7

nós

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Icônico e avassalador, "Nós" não deixa pontas soltas.

Com escolhas inteligentes de enquadramento, uma conexão forte entre o roteiro e a montagem e uma das melhores atuações do ano (obrigado, Lupita Nyong'o), o longa tem em sua cena arrepiante da batalha/dança final um dos melhores momentos do ano no cinema.

O segundo terror de Jordan Peele segue forte como o seu antecessor e funciona não só como um filme que agrada a diversos públicos, mas também como uma crítica contundente e perspicaz sobre uma questão que, por coincidência ou não, também perpassa a narrativa de alguns outros filmes dessa lista: para que possamos viver despreocupados, quem sofre logo abaixo de nós?

*Texto de Felipe


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6

a VIDA INVISÍVEL

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Quando os créditos de "A Vida Invisível" começaram a surgir na tela e o clarão da porta aberta do cinema iluminou aquele ambiente (de repente tão claustrofóbico) eu devo ter me levantado da cadeira muito rápido. Isso porque, quando saí da sala, minha visão estava meio borrada e eu não saberia dizer se o motivo eram os olhos aguados ou a dificuldade em me readaptar ao mundo em que ja vivia.

Não me entenda mal: " A Vida Invisível" é tão realista quanto um filme pode ser. A verdade dá as caras tanto em suas cenas corriqueiras quanto nas mais agoniantes de se assistir. Mas a questão é que o jeito com que os recortes da narrativa se encaixam consegue retratar a passagem de tempo de maneira tão natural que você se perde (ou melhor, se encontra) dentro da história instantaneamente. Não importa se o salto temporal é de 2 semanas ou 5 anos, de alguma maneira você sabe. Apontando sem receios a realidade de um Brasil misógino e desigual (tanto em questões de gênero como em questões econômicas e sociais), Karim Aïnouz expõe momentos que foram e ainda são extremamente comuns na vida de mulheres, mas que raramente são retratados.

A conexão entre as duas irmãs - que permanecia viva através de cada um dos breves momentos em que elas se permitiam dar um sorriso, se impor ou demonstrar afeto - ecoa grandiosamente. E este subtexto narrativo sobre a força de uma ligação que nunca foi perdida é a parte mais tangível e comovente do longa, mesmo que nunca tenha sido expressa rigorosamente em um diálogo expositivo, mesmo que nunca tenha sido pregada como moral da história, mesmo sendo assim: sempre presente sem ser vista. Invisível.

*Texto de Felipe


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5

o irlandês

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Talvez em nenhuma parte do mundo esta obra prima de Martin Scorsese tenha feito tanto alarde como no Brasil, mesmo que pelos motivos errados.

Monumental e incomparável em termos de escala, suas três horas e trinta minutos passam como um estalar de dedos para aqueles que sabem para onde olhar, mas se tornam um verdadeiro desafio de resistência - e de bexiga - para aqueles que não suportam o fato de que o único efeito visual distinguível na tela desaparece após algumas cenas.

Com performances tão magistrais na frente das câmeras como aquelas por trás, “O Irlandês” é, como todo grande filme de seu diretor, uma aula de cinema em todos os seus aspectos.

*Texto de Marco


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4

era uma vez em hollywood

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Talvez meu favorito em toda a filmografia de Quentin Tarantino - o que é dizer MUITO -, me surpreendo como tantos julgaram como um demérito que o longa polarizou as audiências.

Horas, era um filme revisionista sobre um dos casos mais trágicos da história de Hollywood feito por um diretor que jamais se contentou em ser apenas gostado. O que mais vocês poderiam querer se não algo polêmico?

Tarantino quer, não… necessita ser falado, amado e odiado. Mas mais, e mais importante, do que isso: ele exige que suas obras sejam culturalmente imponentes o suficiente para que seu amor pelo cinema seja sentido por todos que as assistam. Assim, e da única forma que sabe como, ele pretende influenciar o mundo e torná-lo em um lugar melhor, onde o ódio não vence, onde a falta de compreensão não reina, onde todos podemos viver em uma terra que, quando mencionada, pode vir acompanhada das mesmas palavras que ele calorosamente colocou antes de seu lugar favorito do planeta.

*Texto de Marco


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3

história de um casamento

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Minha escolha para melhor filme do ano, “História de Um Casamento” foi uma dolorosa viagem à um tempo que mal me lembro e que, pelo menos ainda, não realmente vivi. Pois se algo posso agradecer à ambos os meus pais é por não deixarem suas desavenças na época de sua separação me afetarem a ponto de me traumatizarem, por mais que tenham, indubitavelmente, me influenciado como ser humano.

Este filme de Noah Baumbach, o qual julgo seu melhor, é um gatilho poderoso para toda e qualquer pessoa que já tenha vivenciado qualquer coisa parecida com a situação que vivem a Nicole de Scarllet Johansson e o Charlie de Adam Driver, mas, curiosamente, ao elogiar o filme, muitos esquecem que quem mais sofre na maioria destas situações é a criança que é forçada a escolher algo praticamente impossível.

Lindo e realista em proporções similares, é um filme que ainda acha espaço para comentar sobre o processo artístico e como, inevitavelmente, o voo de um pode significar que o outro esteja fadado à proteger o ninho que logo estará vazio, assim como seu próprio senso de propósito.

*Texto de Marco


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2

bacurau

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Bacurau é um resgate ao cinema brasileiro. Não que a produção audiovisual no país estivesse perdida ou acabando, mas resgata porque levou pro mundo uma identidade da história do cinema brasileiro e é sem dúvida um filme que só poderia ser feito no país de Glauber Rocha e Carlos Diegues porque remete aos clássicos do Cinema Novo ao mesmo tempo que busca influências em mercados de outros países. Bacurau foi em 2019 o melhor cartão de visitas que o Brasil teve e ele incentiva inúmeros debates que possam ser desenvolvidos, especialmente a maneira como lidamos com o passado do país e o que isso representa para o futuro.

A história da pequena comunidade no interior do sertão que é invadida por estrangeiros foi tratada até como ficção científica (Kleber realmente brinca com o gênero) mas é uma história que parece cada vez menos distópica e mais próxima de nós, sem nunca explicar exatamente como funciona o universo em que o filme se passa, a narrativa nos apresenta um Brasil pautado pela violência, com execuções realizadas na rua e televisionadas, os políticos tentam envenenar a população para que elas não atrapalhem seus projetos modernizadores e os habitantes de Bacurau são deixados apenas com a sua própria história para se defender dos invasores. Por esses e outros motivos diversos (como o excelente elenco), Bacurau fica marcado eternamente não só no cinema brasileiro, mas representando esse para o resto do mundo.

*Texto de João


10 Menções Honrosas sem ordem de preferência: Doutor Sono; Ad Astra; Bixa Travesty; Rocketman, Dor e Glória; (des)Encontros; The Last Blackman in San Francisco; Creed II; Coringa; Vidro; Democracia em Vertigem.


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1

Parasita

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Em um semiporão sul-coreano, a família Kim tenta sobreviver. Pilhas de caixas de pizza. Uma estranha rocha decorativa. Pêssegos. Naquele primeiro ato, é impossível prever a jornada caótica na qual estávamos prestes a embarcar. "Parasita" começa te levando pela mão na bicicleta de rodinhas até você perceber que, de repente, já está pedalando sozinho.

Você nunca imagina para onde este filme irá te levar. E uma vez lá, você nunca mais conseguirá voltar.

Cru, irônico, engraçado, tenso, doloroso: estes são só alguns dos adjetivos que podemos usar para descrever essa obra de Bong Joon Ho, que não se contenta em ser monotóna e monocórdia nem por um segundo. Todo o talento do diretor e roteirista se mostra na maneira com que o mistério (que nem sabíamos que existia) vai sendo desvendado e o clímax (chocante e catártico) vai sendo construído. Bong Joon Ho é cirúrgico em sua mensagem e não gasta sequer um momento do filme com algo que não o acrescenta.

"Parasita" ecoa porque o filme é uma orquestra, onde cada um de seus músicos instrumentistas dá o seu máximo, sem nunca destoar. A arquitetura das cenas (tanto no roteiro quanto na escolha de ambientações, posicionamento dos atores, enquadramento e movimentos de câmera) deixa claro a técnica e trabalho existentes na construção do longa. Exercendo total controle sobre o ritmo da obra, a montagem passa despercebida - cumprindo justamente o seu maior objetivo. O talento de Song Kang-ho, Jang Hye-jin, Choi Woo-shik e Park So-dam traz a química de uma família extremamente real, com destaque para a cena em que eles compartilham uma refeição intrusa na mansão dos Park. E os eixos temáticos da narrativa - apesar de admitirem sim um foco econômico-social - conseguem se conectar enquanto abrangem diversos assuntos contemporâneos e urgentes como luta de classes e desigualdade social, preconceito, relações familiares e trabalhistas, violência e a farsa da meritocracia.

Mas creio que, por enquanto, já é o suficiente. Não preciso me estender mais sobre os motivos deste ser o melhor filme de 2019 e um dos melhores de sua década. Fico tranquilo. Sei que, nos anos que estão por vir, "Parasita" ainda será muito revisitado, discutido e estudado, assim como o resto da obra de seu brilhante autor. #BongHive.

E que venha 2020.

*Texto de Felipe

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