As Melhores Interpretações da Década | Atores Coadjuvantes

Se montar qualquer lista de filmes já é um exercício que, por mais divertido que seja, tende a se tornar exaustivo quando levado a sério (o que, infelizmente, acabo fazendo), elencar as principais performances em um período tão longo é uma tarefa mais do que ingrata.

Pois pense só, muito provavelmente em todos os bons filmes que viu havia ao menos uma boa interpretação, mas além destes há aqueles filmes medianos que trazem performances inspiradas e até aquelas atrocidades salvas pelo trabalho de um ou outro intérprete. Além disso, se um filme já é um mar de elementos que funcionam de acordo com a subjetividade - e bagagem cinematográfica, é claro - de cada um, imagine avaliar atuações que, em atos mínimos, e muitas vezes desapercebidos, acabam nos tocando de formas que nem bem sabemos como.

Acho interessante apontar também como, nas listas de atores e atrizes coadjuvantes, a diversificação étnica é mais visível, algo que diz mais sobre os estúdios - e sobre nossa sociedade - sobre a capacidade dos interpretes pertencentes a minorias.

Para facilitar meu trabalho e torná-lo mais prazeroso, decidi apenas listar aquelas interpretações que mais me cativaram, por um motivo ou por outro e, antes de começar, aviso que dividi os atores em duas categorias, assim como na grande maioria das premiações, por motivos óbvios. Além disso, atores e atrizes presentes em uma postagem não poderão ser incluídos em outra, por motivos de variedade.

Abaixo, aquelas que considero as melhores performances de atores em papéis coadjuvantes em toda a década:


calif.jpg

10 | Caio Blat, Califórnia (2015)

Meigo e acalentador, Blat é o tio que todos sonham em Califórnia, ao passo que esconde toda a dor e sofrimento que sua simples existência lhe causou. Uma performance aparentemente fácil devido aos maneirismos de seu personagem, mas que tem de se segurar para não roubar por completo o arco dramático do lindo filme de Marina Pearson.

philip.jpg

9 |

Philip Seymour Hoffman, O Mestre (2012)

Em uma última grande performance antes de partir deste mundo, Hoffman entrega um grau de mistério e dúvida inquietantes em seu Lancaster Dodd que, sob todo o aparente controle e domínio de palavras, surge como um homem confuso quanto a própria incompletude e, por isso, tenta achar nos outros algo que sabe que jamais irá encontrar: a si mesmo.

steve carell.jpg

8 | Al pacino, o irlandês (2019)

Encarnando um tipo similar àquele seu em Era Uma Vez em… Hollywood, Pacino faz de seu Jimmy Hoffa um homem bom o suficiente para que sintamos por ele, mas orgulhoso demais para que lamentemos pelo que lhe acontece. Energético, impulsivo, compulsivamente dominante, é um show de um ator que há mais de 40 anos já era um dos melhores em Hollywod.

creed stallone.jpg

7 |

Sylvester Stallone, Creed (2015)

Como uma criança que cresceu assistindo as atuações desengonçadas de Stallone em qualquer seja o filme, assistir o que ele faz com seu personagem mais amado no filme de Ryan Coogler é uma experiência quase transcendental. A forma como lê um jornal sozinho, mas para alguém que não mais está ali, ou seu olhar de orgulho para o filho do amigo que falecera em seus braços ou, simplesmente, sua dificuldade em subir as escadas que antes representavam o auge de sua glória física. É um trabalho ao mesmo tempo expansivo e minimalista, o melhor de sua carreira.

captain fantastic 2.jpg

6 | Aaron Taylor Johnson, Animais Noturnos (2016)

Se um dia precisasse entrar em um concurso de provocar medo com uma imagem (se tal coisa existisse), seria esta que utilizaria. Mais do que qualquer criatura, este animal que Taylor Johnson habita tem um dos olhares mais macabros e desprovidos de - qualquer - empatia que já vi.

ethan.jpg

5 |

Ethan Hawke, Boyhood (2014)

Se não soubesse que meu pai jamais teve qualquer envolvimento profissional com cinema, julgaria que Ethan Hawke se baseou nele para interpretar o pai de Mason em Boyhood. Talvez por isso assistir suas tentativas de aproximação com o filho - que nem sempre funcionam, mas, quando sim, provocam momentos marcantes - seja algo que não me é nem doloroso nem feliz, mas pessoal em uma escala quase invasiva.

jk.jpg

4 | J.K. Simmons, Whiplash (2015)

Implacável, maníaco, detestável e, ainda assim, não conseguimos tirar os olhos dele e de cada movimento milimetricamente programado que produz. Em sua essência, um homem tão apaixonado pela arte que pretere a própria vida humana à ela, Terrence Fletcher é, também, irresistível - e inesquecível - mente carismático.

samuel l jackson.jpg

3 | samuel l. jackson em django livre (2012)

Me dou o luxo de criar um empate técnico aqui, pois após compilar a lista percebi que havia deixado esta criatura tão fascinante de fora. Stephen é a representação de mais alto nível do que o racismo é capaz de fazer, provando que não há necessidade de uma cirurgia de troca de mentes para “esbranquiçar” uma alma, a forma como o mesmo acredita que pertence ao mesmo nível de seus patrões é um retrato angustiante e claustrofóbico do racismo.

joe pesci.jpg

3 | Joe Pesci, o irlandês (2019)

Um senhor calmo por fora, um monstro sem escrúpulos por dentro, o Russel de Pesci é o que O Irlandês poderia chamar de vilão, algo que não é comum nos filmes de Scorsese justamente por retratarem, na maioria das vezes, como somos nossos próprios monstros. Mas este não, pois por mais que o Frank Sheeran de De Niro sofra deste mesmo mal, ele não é nada se comparado à influência destruidora de Russel em sua vida. Ignorem a foto engraçada, achei apropriado.

brad pitt.jpg

2 | Brad Pitt, Era Uma Vez Em… Hollywood

Poucas vezes em sua ilustre carreira Tarantino escreveu algum personagem tão Tarantinesco como Cliff Booth. Um produto de segunda mão de uma indústria que os reproduz em massa a cada ano. E Brad Pitt, em um dos melhores momentos de sua já lendária carreira, o transforma em um imã de atenções, que provoca desde um leve calafrio advindo de sua aparente frieza, à gargalhadas de nervoso enquanto não sabemos qual seu atual estado de lucidez. Cliff é uma criatura surreal, quase fantástica, assim como o ator que o interpreta.


Menções Honrosas: Tom Hardy em O Regresso; Leonardo DiCaprio em Django Livre; Michael Shannon em Animais Noturnos; Christoph Waltz em Django Livre; Christian Bale em O Lutador; Mark Ruffalo em Foxcatcher; Oscar Isaac em Ex-Machina.


1

Mahershala Ali, Moonlight

Foi uma decisão difícil, mas todo o arco emocional e social de Moonlight não seria possível sem a presença do Juan de Ali que é sentida tanto quando o mesmo está em tela, como quando não mais o vemos.

Interpretar o tipo marrento e insensível não é uma tarefa genuinamente difícil - além de ser algo que vemos ano após ano -, o complicado é construir a personalidade da pessoa por trás da carapaça, algo que apenas grandes atores conseguem e, aqui, o que vemos é um grande ator concebendo um trabalho que sucede justamente em ser coadjuvante para o arco central da história.

Capaz de evocar delicadeza e, principalmente, afeto e empatia, o Juan de Ali é um homem falho, mas louvável. É parte dele a culpa pela dor que pessoas próximas a ele sentem, mas ao vermos confrontar seus próprios demônios quando colocado frente a esta realidade, e desabar em lágrimas ao ver como sua maneira de ganhar a vida afeta o menino que tomou quase como seu filho, é impossível não entendermos que ele é apenas mais uma vítima em um ciclo vicioso.

Que, infelizmente, não pôde ser quebrado nem quando um de seus componentes percebe o mal que o mesmo causava.


Anterior
Anterior

Os 10 Melhores Filmes de 2019

Próximo
Próximo

Crítica | Frozen II