Os 10 Melhores Filmes de 2011
A segunda década do século 21 está chegando ao fim e para comemorar (?) decidimos retornar à todos os anos desde 2010 e listar os melhores álbuns, filmes e músicas de cada um.
Listas dos anos anteriores:
A simples ideia de listar obras de arte é um exercício de futilidade. Porém, a vida não vale a pena ser vivida se não for, também, comentada, analisada e pensada. Por isso, muitos de nós somos apaixonados por listas dos mais variados tipos mesmo que raramente, se alguma vez, elas reflitam com exatidão nosso gosto pessoal.
Portanto, e dentro da proposta do site de listarmos os melhores de cada ano da década, decidi me entregar à tarefa de listar os melhores filmes de cada ano, assistindo e re-assistindo dezenas, até centenas, de obras no processo.
Abaixo, falo sobre aqueles que considero os melhores de 2011:
10 | x-Men: primeira classe
Não entendo como este filme é, frequentemente, ignorado nas listas dos melhores exemplares do gênero.
Apesar de não ser o melhor da franquia X-Men - que rivaliza fortemente com o MCU, mesmo que muitos não gostem de admitir -, é uma das raras prequels que funciona, justamente por fazer o que a maioria delas esquecem: mostrar como aqueles personagens que conhecemos desde criança se tornaram o que são.
Revitalizando a franquia após o divisório capítulo 3 e a péssima história de origem de Wolverine - que tem uma aparição genial aqui -, “Primeira Classe” é um dos poucos filmes de super-herói a transcender o gênero, funcionando também como thriller político e como um retrato reimaginado (e fantástico, é claro) de uma época crucial da história humana.
9 | martha, marcy, may, marlene
Geralmente fadado ao fracasso é o exercício de determinar o gênero, ou gêneros, de determinada obra de arte, seja qual for a área.
Este filme de Sean Durkin é, em sua essência, um profundo estudo de personagem, se utilizando de um problema inacreditavelmente comum nos Estados Unidos por parte dos cultos que, ano após ano, continuam a ludibriar jovens sem rumo à acreditarem em suas crenças absurdas.
Porém, muito graças à performance seminal de Elizabeth Olsen logo em seu primeiro trabalho, “Martha, Marcy, May, Marlene”, além de um documento sobre a crise de identidade que tais cultos provocam em seus seguidores, é um suspense tão subjetivo que, quando você perceber, vai sempre olhar por trás do ombro.
8 | a invenção de hugo cabret
Ei, Scorsese, esse é mesmo você?
Um dos maiores diretores de todos os tempos e uma das mentes mais prolíficas da história do cinema, Martin Scorsese tem uma filmografia tão dissonante com tudo que “Hugo” representa que é quase impossível acreditar que este filme é dele. É preciso, na verdade, investigar os temas trabalhados aqui por outro lado, para se tentar compreender o apego do diretor com esta história.
Scorsese é conhecido por fazer filmes transbordados de testosterona (“Cavaleiros do Asfalto”, “Taxi Driver”, “Os Bons Companheiros”, “Touro Indomável”, “Os Infiltrados”, “Lobo de Wall Street”) e, quando se aventura em outros gêneros, não deixa de ser visceral e impiedoso (“Ilha do Medo”, “Silêncio”). Como o próprio diz, seu sonho quando criança era ser um Gângster e esse sonho moldou sua visão artística. É possível dizer, então que, Scorsese, o diretor, faz filmes que agradariam o Scorsese, criança e nisso “Hugo” não é muito diferente de seus outros trabalhos.
Uma ode ao cinema disfarçada de um dos filmes familiares mais luxuosos e convidativos de toda a década, o longa figura como um dos capítulos mais inusitados e bem sucedidos em uma das carreiras mais renomadas da sétima arte.
Ah, é um dos poucos filmes a mostrar um uso exemplar do 3D, mesmo a técnica estando aí a quase 20 anos.
7 | intocáveis
Este filme de Olivier Nakache e Éric Toledano marcou época e se tornou um dos maiores sucessos de bilheteria da história do cinema francês. O sucesso foi tanto que até um desnecessário remake fora feito em solo americano anos depois, além de um filme adolescente, não tão ruim, utilizando da mesma temática.
Mas o que “Intocáveis” tem de tão especial é algo que a maioria dos dramas envolvendo doenças terminais ou, nesse caso, deficiências físicas de qualquer tipo falham tanto. Em nenhum momento sentimos pena, ou remorso ou, até mesmo, tristeza, pois é um filme que nos lembra que a vida vai muito além de qualquer barreira física e, apesar de compreender todos os elementos utilizados para nos “manipular”, não me sinto capaz de negar o profundo impacto de alegria que o longa provoca, mesmo após tantas revisitas.
Pode ser que você chore assistindo à este filme, mas é mais provável que, ao seu final, tenha um duradouro e reconfortante sorriso em seu rosto.
6 | millenium: os homens que não amavam as mulheres
Sou um fã confesso de David Fincher e, após assistir a este seu remake que é dos poucos que justifica sua própria existência, fui obrigado à procurar a trilogia de Stieg Larsson. Agora sou, também, um fã confesso do falecido autor e desta que é sua principal obra e, ainda mais, fã de David Fincher.
Sombrio, trágico e magnético, o longa consegue trazer todos os temas dos livros de Larsson, desde a sistemática violência contra a mulher, impregnada em nossa sociedade desde sempre, ao envolvente e enervante mistério que, nas mãos de um dos maiores mestres do suspense desde Alfred Hitchcock, toma proporções gigantescas. Cada milimetro do filme parece repleto com os principais temas da história: a frieza da escócia; o lado obscuro das pessoas; as motivações irracionais que faz com que nos sintamos atraídos pelo perigo e o desconhecido.
Tudo, é claro, centrado em uma performance estelar onde Lisbeth Salander ganha vida como nunca antes - ou depois - na pele de Rooney Mara, que ao tentar fazer o possível para passar despercebida atrai todos os olhares para si. Ao final, ela, assim como “Millenium”, se prova inesquecível.
5 | O Artista
Muitos acreditam que, quando o cinema passou a ter cores e som, muito se perdeu de uma magia que parecia possível apenas nas produções mudas e em preto e branco. Por isso, quando o diretor francês Michel Hazanavicius nos brindou com “O Artista”, em 2011, tantos foram a loucura por poder encontrar esta relíquia, mesmo que outros tenham considerado a ideia apenas mais uma isca para a temporada de premiações.
O que é um desserviço com a verdadeira proposta por trás desta obra do cinema francês que, além de retratar uma bela e atemporal história de amor, ainda serve de comentário sobre a própria natureza do artista e da arte, que tendem a se moldar de tempos em tempos e acabam, involuntariamente, deixando nomes que antes eram unanimidade no ostracismo.
Com uma performance seminal de Jean Dujardin, o longa foi agraciado com cinco vitórias no Oscar e se tornou um dos únicos filmes estrangeiros a levar Melhor Filme. O que, independente de como você veja, é uma vitória inigualável para o cinema mundial.
4 | harry potter e as relíquias da morte: parte 2
Foram dez anos conhecendo um dos universos mais ricos já explorados no cinema, onde pudemos caminhar nos corredores de Hogwarts e sentir como se cada parte daquela escola - e da guerra que a destruiu - fosse também responsabilidade nossa. O mundo de Harry Potter é mágico.
David Yates, a esse ponto, já conhecia os personagens e já sabia como queria trazer os capítulos finais desta história à vida e faz isso da melhor forma possível. A decisão de dividir os filmes, que influenciou tantas obras inferiores a fazerem o mesmo no futuro, foi como um presente para os fãs, mas também uma decisão acertada cinematograficamente falando. Desenvolvendo todos seus personagens na “Parte 1”, deu ao diretor espaço para transformar “Parte 2” em um espetáculo com todas as muitas resoluções que uma trama tão pacientemente montada merecia. O confronto final entre Harry e Voldemort pode ser, visualmente, o momento que todos esperavam, mas é a evolução do garoto que vivia embaixo das escadas que transforma este final em algo tão gratificante.
Cada personagem tem seu momento de brilhar, mas a sensação da luta e devoção conjunta, por um ideal maior e que acreditam ser o certo, toma conta do tom do filme que a todo momento brinca sobre a linha tênue entre o bem e o mal. Parafraseando Lupin “é o grau de comprometimento que determina o sucesso, não o número de seguidores”, é impossível não encaixar essa frase, proferida em um momento tão importante, com tudo que Harry Potter representa para o cinema.
É um dos finais mais agridoces que eu, pessoalmente, já assisti, e talvez por isso funcione tão bem. Harry finalmente pôde conquistar o que lhe fora negado tantas vezes, uma família dentro e fora do cinema.
3 | drive
Um dos filmes mais debatidos de 2011, “Drive” foi, na época, a mais nova re-edição de uma história que já fora contada tantas vezes em Hollywood que tendemos a virar os olhos logo ao nos deparar com seu simples título.
Mas não se enganem, dirigido pelo mestre da estética Nicolas Winding Refn, “Drive” é uma experiência cinematográfica incomum. Com uma ausência gritante de diálogos, um protagonista sem nome, cenas com violência brutal e uma trilha sonora desafiadora e experimental, esse é um daqueles filmes que há a necessidade de se assistir mais de uma vez para poder absorver e apreciar a riqueza dos detalhes.
Mais importante, não o assista pensando que já assistiu a algo parecido antes, pois mesmo depois de ter visto vai ser como se ainda não o tivesse decifrado por completo.
2 | A Separação
Um dos últimos filmes agraciados com o amor incondicional de Roger Ebert, “A Separação” é um filme difícil que, inexplicavelmente, se torna fácil de acompanhar graças às habilidades do diretor Ashgar Farhadi.
Filmado inteiramente com uma câmera na mão inquieta que nos coloca quase como intrusos de sua história, Farhadi desafia os costumes retrógrados e machistas do Irã ao passo que faz questionamentos pontuais sobre a fé, a justiça e os muitos lados que a verdade pode tomar, muitas vezes questionando nosso próprio entendimento e aceitação de cenas que acabamos de presenciar.
Mas o maior trunfo do longa não é nem isso, nem sua vitória incontestável do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mas sim conceber personagens tão vivos que é como se após as rápidas, mas emocionalmente desgastantes, duas horas do longa, estivéssemos apenas começando a conhecer a superfície de suas personalidades, mas não por falta de desenvolvimento, mas sim de tempo.
Pois se após anos casados os personagens de Leila Hatami e Peyman Moaadi ainda parecem desconhecer as motivações um do outro, como poderíamos nós?
10 Menções Honrosas sem Ordem Específica: Meia Noite em Paris; Os Descendentes; Melancholia; Moneyball: O Homem que Mudou o Jogo; Rango; Missão: Madrinha de Casamento; Shame; O Abrigo; Kinyarwanda.
1 | A Árvore da Vida
O cinema existencialista é um dos mais debatidos e, quando bem feito, agraciados “gêneros” do século 21. Os efeitos de mais de um século de filmes parece ter gerado questões mal compreendidas na cabeça de diversos diretores que, ao tentar fazer de seus trabalhos um documento de suas vidas, acabam nos brindando obras como “Synedoche, New York”, “Boyhood”, “Moonlight”, “Lady Bird”, entre tantas outras.
Mas há existencialismo e há Terrance Malikialismo.
Em “Árvore da Vida”, filme escolhido por Roger Ebert como um dos dez melhores de todos os tempos e o melhor do século 21 (percebam como é a segunda vez que Roger é citado nesta lista), Malik reconstrói o mundo de sua infância ao demonstrar o dia a dia de uma família nos anos 50, enquanto lentamente entrega uma visão transcendental sobre a evolução da vida e o comportamento humano.
A cada momento parece que estamos vendo um sonho, fragmentado e sob uma linha quase inexistente que balanceia a felicidade e o desconforto daqueles personagens por não saberem exatamente seus respectivos propósitos nesta coisa que entendemos como vida. Brad Pitt é um pai rígido e por vezes distante, mas que ama seus filhos incondicionalmente. Jessica Chastain é uma mãe tão benevolente e amável que criamos vínculos quase verdadeiros com ela. Mas é o trio de jovens atores que rouba completamente nossa atenção, demonstrando, quase sem diálogos, toda a inquietude presente na transição da infância para a adolescência.
“A Árvore da Vida” é um dos mais belos e exploradores (no bom sentido) filmes do nosso tempo, por mais que suas mensagens nem sempre sejam claras ou fáceis de se digerir. É um filme que celebra a vida como ela é, e isso é sempre algo indispensável quando falamos em arte.