Os 10 Melhores Filmes de 2010
A segunda década do século 21 está chegando ao fim e para comemorar (?) decidimos retornar à todos os anos desde 2010 e listar os melhores álbuns, filmes e músicas de cada um.
A simples ideia de listar obras de arte é um exercício de futilidade. Porém, a vida não vale a pena ser vivida se não for, também, comentada, analisada e pensada. Por isso, muitos de nós somos apaixonados por listas dos mais variados tipos mesmo que raramente, se alguma vez, elas reflitam com exatidão nosso gosto pessoal.
Portanto, e dentro da proposta do site de listarmos os melhores de cada ano da década, decidi me entregar à tarefa de listar os melhores filmes de cada ano, assistindo e re-assistindo dezenas, até centenas, de obras no processo.
Abaixo, falo sobre aqueles que considero os melhores de 2010, um ano tão distante, que parece que foi à mais de um século atrás.
10 | Bravura Indômita
Confesso que “Bravura Indômita”, quando comparado à outras obras dos irmãos Coen, não me pega no sentido de irreverência e originalidade. Chamá-la de uma revitalização do gênero faroeste é um desserviço à própria carreira dos cineastas, que inclui também o magnífico “Onde Os Fracos Não Têm Vez”.
Porém, por mais econômico que seja do ponto de vista intelectual e por mais que não compartilhe do mesmo estilo daquele jovem clássico, o longa sucede em trazer com honra o livro escrito por Charles Portis, em 1968, ao passo que nos apresenta duas horas divertidas e com a quantidade suficiente de valores morais para que se tornem, também, valorosas.
Encabeçado por um elenco estelar que conta com Jeff Bridges fazendo o que faz de melhor, um dedicado Matt Damon e um hilário Josh Brolin, quem rouba a cena é a pequena Hailee Steinfeld, que, já ali, mostrava todo o imenso talento que expandiria para todas as áreas possíveis nos anos a seguir.
9 | tropa de elite 2
Assistir à “Tropa de Elite” é um exercício de balança moral que todos deveriam tentar, pelo menos uma vez, ainda mais neste Brasil que vivemos.
No antecessor, também dirigido por José Padilha, vemos um policial do Bope com comportamento totalitário, quase nazista, que se utiliza da violência sem escrúpulos para encontrar as pessoas que procura. Porém, graças à performance de Wagner Moura, somos impedidos de não tentar enxergar o lado do Capitão Nascimento, facilmente uma das figuras mais icônicas do cinema nacional.
Neste segundo filme, agora distante da matança e enfrentando a repudia do próprio filho por conta dela, Padilha constrói um filme ainda mais maduro e consistente, que evidencia que a guerra travada nas ruas começa nas campanhas pomposas dos muitos políticos que se beneficiam de um meio que cria, a cada dia, mais capitães Nascimentos e mais baianos.
Um homem que seria vangloriado por Bolsonaro, ao mesmo tempo que lutaria contra ele.
8 | o inverno da alma
Debra Granik talvez nunca alcance o reconhecimento merecido, e não é difícil saber o porquê.
Ao assistirmos este filme desolador, imediatamente podemos constatar que seu cinema não é feito para ninguém em especial, pois as criaturas que habitam suas cenas estão longe de serem entusiastas da sétima arte. Ou de sequer saber que esta existe.
Pesaroso, pessimista e melancólico, “O Inverno da Alma” faz jus ao título e, curiosamente, revelou Jennifer Lawrence para uma carreira inerente ao estrelato, um universo completamente diferente daquele mostrado aqui.
7 | Scott Pilgrim Contra o Mundo
Dirigido pelo sempre inventivo e singular Edgar Wright, “Scott Pilgrim Contra o Mundo” é um daqueles filmes que gostamos de julgar antes de assistir.
Como algo estrelado por Michael Cera, baseado em uma história em quadrinhos e com uma premissa tão diferente, para dizer o mínimo, poderia funcionar tão bem?
Figurando como uma das melhores adaptações de videogame, mesmo não sendo originalmente um videogame, este é um filme que fora subestimado quando lançado, dando prejuízo à Universal. Mas não é novidade que o público nerd não sabe valorizar as melhores tentativas de representá-los no cinema. Não quando “Pixels” faz mais dinheiro que um filme como esse.
6 | Namorados para sempre
Não deixe o título brasileiro te enganar, este filme de Derek Cianfrance retrata com um realismo impressionante todas as nuances de um relacionamento, exceto a - ínfima - possibilidade de ele ser, realmente, para sempre.
Sinceramente, coloque Ryan Gosling e Michelle Williams e assistiria à um filme gravado com um celular de 2011 (o meu no momento), mas por mais que a atriz esteja acostumada com papéis assim, Gosling fez questão de alterar sua aparência de galã para encarnar um personagem conformado com a vida. Mas é a forma como ambos conseguem contracenar tanto o início, como o fim daquele relacionamento, que vai lhe fazer relembrar dos bons momentos e, possivelmente, sofrer pelos maus.
Que talvez ainda nem tenham chegado.
5 | ilha do medo
Por mais que seja impossível impedir que o nome de Scorsese surja em listas e hipérboles referindo aos melhores diretores de todos os tempos, é preciso também notar que, raramente, quando testou estilos suficientemente diferentes de suas maiores obras, conseguiu efeitos similares a estas.
Porém, o senhor anti-Marvel iniciou a década com um filme que desfaz essa premissa por completo.“Ilha do Medo” traz toda a maestria do cineasta em um suspense/terror policial/psicológico capaz de revirar sua cabeça ao mesmo tempo em que desafia seus nervos. Sugestivo do primeiro ao último plano, é um filme que, ainda, trabalha temas socialmente deixados de lado, como, por exemplo, o quanto a loucura afeta a identidade que construímos na mesma proporção do que a morte.
Tenso, épico e, acima de tudo, brutal, é um dos poucos trabalhos de gênero de Scorsese que consegue se alçar ao lado de seus longas mais celebrados e, também, um exercício do diretor em emular obras de Kubrick e Hitchcock, dois dos poucos cineastas colocados a sua altura naquelas listas que mencionei acima.
Talvez, um recado dele para todos nós.
4 | Cisne Negro
*texto de Valentina Barata
Filmes de Darren Aronofksy são desafiadores para os espectadores, especificamente por abordar temas substanciais da condição humana. O método de direção é precisamente sensorial; Em que as emoções dos personagens se tornam as nossas. “Cisne Negro” é sobre a exaustiva e trágica jornada da bailarina Nina Sayers (Natalie Portman) nos ensaios para sua performance como Rainha dos Cisnes.
Proporcionando seu Óscar de Melhor Atriz, a atuação de Natalie Portman é visceral. De princípio, a bailarina é extremamente reprimida em relação a suas ações e sentimentos. Isto reflete em sua dança. Em ordem para encontrar seu Cisne Negro, ela precisa se libertar do pudor. A pressão para atingir a perfeição, a deixa mentalmente perturbada. O desenvolvimento da dualidade da personagem, potencializam comportamentos nocivos. Demonstrando que de todos que depositam expectativas em Nina, nenhuma pesa como a pressão e insegurança que ela desperta em si.
Cisne Negro é, literalmente, um thriller psicológico. A respeito dos tons e sobre tons na personalidade do ser humano. Expressando a dificuldade sobre a busca do equilíbrio e coexistência deles.
3 | A Origem
Christopher Nolan gosta de brincar com sua mente. Ele é um sádico por isso. Desde “Memento”, passando por “O Grande Truque” e, futuramente, com “Interestellar”, sua principal característica é, claramente, sua afinidade com múltiplas linhas temporais, construindo filmes que, se você não pensar (e muito), não vai conseguir aproveitá-los da melhor forma. Ele é, também, obcecado por grandeza e, ao unir essas duas tendências, ele atinge um de seus mais originais (piada não intencional) e complexos trabalhos.
Não há filme mais nolanesco que “A Origem”.
Sua temática é construída em cima de uma das perguntas mais comuns e, de certa forma, triviais da humanidade: e se pudéssemos controlar nossos sonhos? Talvez pudéssemos voar livremente pelos céus, conquistar terras longínquas, mergulhas nas águas mais profundas mas, para Nolan, a possibilidade mais incrível é a de nos relacionar apenas com o ideal que temos de cada pessoa. Essa premissa parece, literalmente um sonho, mas não é exatamente isso que “A Origem” mostra. O ser humano é, acima de tudo, uma criatura destrutiva e ambiciosa.
Ao explorar esse conceito ao máximo e adicionar a ele as doses certas de drama e suspense, Nolan investiga aspectos da mente de todos nós que julgávamos serem apenas nossos, ao mostrar que o melhor sonho ainda nunca apagará a realidade que, muitas vezes, queremos escapar. E, ao final, um dos maiores mistérios do cinema recente faz nossa cabeça revisitar esse mundo tão revelador diversas e diversas vezes.
2 | Toy Story 3
“Toy Story” é um dos filmes de animação mais importantes e influentes de todos os tempos. “Toy Story 2” é uma das melhores sequências da história do cinema. Não havia chances de “Toy Story 3”, da então já consagrada Pixar, fazer valer as enormes, surreais expectativas.
Se os dois primeiros filmes eram maravilhosos e divertidos documentos sobre uma parte da infância que praticamente esquecemos e um exercício de criatividade possível apenas para aqueles que ainda mantém ao menos um pouco daquela pureza dentro de si, este traz memórias que, apesar de ficarmos agradecidos de tê-las de volta, doem na parte mais funda de nossos corações.
Quando foi a última vez que você brincou com seus brinquedos? Um belo dia aos seus 11, 12 anos, você, já a um tempo sem brincar com eles, decidiu segurá-los e imaginá-los com vida mais uma vez. Decidiu imaginar um mundo que existia apenas em sua imaginação, que poderia ser explorado apenas por quem o idealizasse, onde o tempo parecia não surtir efeito e você poderia ficar ali para sempre. Esse dia passou e, sem saber, esse mundo ficou perdido. Em “Toy Story 3”, Andy, ao decidir que estava na hora de crescer, como todos nos dizem para fazer, nos dá uma ideia do que este dia, tão importante para nosso desenvolvimento como seres humanos, deve ter sido.
Uma maravilha da sétima arte em todas as escalas, “Toy Story 3” é capaz de fazer o mais insensível dos corações ao menos sorrir, ao lembrar algo que fora praticamente obrigados a esquecer.
10 Menções Honrosas sem ordem específica: Como Treinar Seu Dragão; Enrolados; 127 Horas; Minhas Mães e Meu Pai; Scott Pillgrim Contra o Mundo; Kick Ass; Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1; O Escritor Fantasma; O Profeta.
1 | A Rede Social
É curioso o fato de sempre pensarmos no que acontecia, ou irá acontecer, em tempos que não vivemos.
"No futuro, teremos carros voadores”, “na minha época, tudo era melhor”. O fato é que, raramente, falamos sobre o agora nos preocupando apenas com ele. Não sobre o que vai influenciar para amanhã, não sobre o que ocorreu ontem, mas única e exclusivamente sobre o agora.
“A Rede Social” é o agora. É o hoje. É o Facebook, o Instagram, o Youtube, o WhatsApp. É você, sou eu, é sua ex-namorada, seu avô e, em alguns casos, até mesmo seu cachorro. Não é uma previsão, é muito novo para ser o passado, é o que estamos vivendo no momento que escrevemos um texto, ouvimos uma música, almoçamos.
Baseado no livro com um nome bem mais cumprido de Ben Mezrich, o oitavo filme de David Fincher não contém o que tornou o diretor um dos mais conhecidos de sua geração. Não há aqui um serial killer, não há um mistério a ser resolvido, não há a melhor atuação da carreira de Brad Pitt, ou Jake Gyllenhall, ou Kevin Spacey, ou Rosamund Pike. Não, o filme que conta a história da fundação do Facebook (ou partes dela), é um exercício cinematográfico que reflete o estado da nossa sociedade em praticamente todas as suas camadas, aproveitando da melhor forma um dos melhores roteiros do século 2 - talvez a Magnum Opus de Aaron Sorkin - e transformando duas horas de puro diálogo em uma narrativa envolvente e magnética.
No entanto, diferentemente do assunto que aborda, “A Rede Social” definitivamente não é um filme para todos, mas mais importante, é um filme sobre todos. Sobre como, pelo menos uma vez na vida, deixamos nossa ambição falar mais alto que nosso senso moral, ou de como somos influenciáveis e influenciados por um belo rosto e palavras que sempre quisemos ouvir, ou sobre como podemos resumir toda nossa vida social em um website que nos permite enxergar o mundo em filtros pela tela de um computador, quando ele está bem aqui, na nossa frente. O Zuckerberg mostrado aqui talvez não seja exatamente o mesmo que idealizou (ou roubou) toda essa ideia, mas ele somos nós, naquela sexta a feira a noite, quando decidimos trocar a festa por mais algumas horas enclausurados na nossa segunda vida.
Em sua última cena, ele atualiza compulsivamente a página para ver se sua ex finalmente aceitou sua solicitação de amizade. Aquele ato, quieto, solitário, reflete nossa relação com a tecnologia melhor que qualquer momento no cinema. Isso não apenas em 2010.