Crítica | Flume - Hi This Is Flume

Sejamos justos, de todos os gêneros musicais que ganharam notoriedade no século 21, talvez o que tenha mais renome e destaque seja a Electronic Dance Music. Mesmo tendo sua matriz e raízes em meados dos anos 70, ganhou um significado totalmente novo no inicio do século.

Tendo sintetizadores com timbres fortes e afiados, bumbos com compasso quaternário e bastante destaque nos graves. A evolução gradual da música eletrônica foi rápida como a evolução tecnológica dos equipamentos de produção e registro da música eletrônica, e em poucos anos a árvore genealógica do gênero já tinha mais vertentes do que se podia acompanhar.

O Future Bass é um deles, surgido no meio dos anos 2000 no Reino Unido, é uma faceta da música eletrônica que dá ênfase em automações com filtros e ondas de serra, sim, uma definição nada especifica assim como as outras vertentes com quase a mesma definição e que surgiram quase na mesma época: como o UK Bass e Bass Music.

O australiano Flume, começou em 2011 sendo popularizado por esse subgênero, com traços de wonky-glitch e downtempo (o que devem significar alguma coisa, mas como a nomenclatura da música eletrônica não é nada intuitiva e não faz o menor sentido pra mim, eu prefiro me agarrar a dois ou três termos chave).

Flume ganhou notabilidade em 2012 com seu primeiro álbum autointitulado, além de fazer remix inusitados de artistas aclamados, também introduzia com maestria experimentalismo e ambiência num gênero não conhecido por sua complexidade estrutural, mas sim pelas suas linhas fortes de baixo e sintetizadores não muito dinâmicos.

Mesclando músicas instrumentais e parcerias com outros artistas, seu álbum de estreia teve uma recepção calorosa da crítica, mas a falta de apelo popular parecia incomodar Flume, que logo tratou de consertar o problema. Um EP de três faixas com o compatriota Nick Murphy, também conhecido com Chet Faker, saiu logo no ano seguinte. Com um propósito mais mainstream e mais semelhante com seu próximo álbum de estúdio, que só viria as prateleiras quase três anos depois.

“Skin”, lançado em 2016 foi o passo mais seguro Harley Edward Streten deu em sua carreira, um passo estratosférico em direção ao radiofriendly em comparação a seus outros projetos, Flume se encobriu numa confortável bolha de tendências millennials, estruturas genéricas e ideias já cansadas. 2016, em compensação, foi definitivamente o melhor momento para o lançamento de Skin, com a EDM comercial mais em alta do que nunca, o sucesso do projeto foi maior do que os anteriores.

“Hi This Is Flume” foi lançado sem aviso prévio algum, no formato de mixtape, e conta com músicas e também remixes, assim como a capa surrealista, a sonoridade é um tanto diferente dos seus últimos projetos, agora dando bastante margem para o experimentalismo perdido nos últimos anos de sua carreira.

A mixtape começa com uma colagem de sons de entrevistas, descontraído, como deve ser nesse formato. A música de abertura é instrumental e lúdica, muito curta mas bastante interessante mostrando elementos mais ousados e não usuais na carreira do australiano. “High Beams” emenda de perfeita na música de introdução, que emenda de forma semelhante em “Jewel”, que acaba desaguando na quinta faixa de nome impronunciável, que é justamente uma faixa de transição.

Em síntese, o álbum corre de maneira muito rápida e descomplicada, quase não característico de uma mixtape, com 17 músicas e apenas 38 minutos de música, o clima descontraído se faz transparecer em sua tracklist; músicas com um à dois minutos de duração dominam, e deixam mais fácil o entendimento do seu processo criativo, quase como se fosse uma grande música de 10 minutos cortada em várias partes.

As participações nesse álbum são a cereja no topo do bolo: a combinação rap + future bass já fpi vista nos projetos antigos, mas dessa vez com uma pitada a mais de ousadia. O jovem rapper britânico slowthai rouba a cena num instrumental belíssimo em “High Beams”; tenso e dinâmico mesmo com o verso monotonal, a bateria se encarrega de fazer a textura da faixa, juntamente com o sintetizador arpegiado e borbulhante do refrão.

“Jewel” soa como uma agradável continuação da faixa anterior, os sintetizadores com onda de serra fazem a melodia do refrão e as ondas mais suaves se encarregam de acalmar a música nos versos.

O remix de “Is It Cold In The Water?” da compositora e produtora SOPHIE é a música mais longa desse álbum com quase 5 minutos de música, nada que impressione, mas já dá pra ter noção da imersão em dinamismo que é “Hi This Is Flume”. SOPHIE também aparece na faixa “Voices”, que apresenta um familiar sample de vozes, e mais uma paleta de sons interessantíssimos de Flume, que mais uma vez impressiona lidando de forma tão fluída com timbres tão peculiares.

“Wormhole” acrescenta elementos rítmicos de forma gradual, assim como “Amber” duas faixas raras que se destacam pelo apelo rítmico e não melódico. Das faixas 11 até 15, todas elas se encaixam com perfeição de quem já foram juntas uma, Flume não perdeu tempo e acertou na fórmula de dividir uma grande faixa em 5, dividindo por ideias e progressões, não deixando o álbum repetitivo.

Dentre todas as colaborações interessantes nesse projeto, a mais atraente é “How To Build a Relationship” com o rapper JPEGMAFIA, os instrumentais de Future Bass dão a dinâmica que – as vezes – as beats do rap não dão suficientemente, e não apenas é um dos instrumentais mais bem feitos do projeto, mas também conta com um verso intrigante de Peggy.

“Spring” fecha o álbum de forma perfeita, é uma faixa estranha e cativante, com elementos de dubstep, lembrando muito a fórmula de seu primeiro álbum, porém mais madura, com samples mais interessantes e timbres mais agradáveis e menos comuns.

“Hi I’m Flume” é o projeto mais encantador de Flume. É despojado e despretensioso, a antítese perfeita de seu projeto anterior. Não chega a apresentar um perfil completamente novo, mais ainda assim um passo arriscado, bem menos conservador do que os dois álbuns de estúdio. E pela primeira vez depois de “Drop The Game”, eu anseio ouvir Flume mais uma vez.

7.5

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