Os 10 Melhores Filmes de 2018
A simples ideia de listar obras de arte é um exercício de futilidade. Porém, a vida não vale a pena ser vivida se não for, também, comentada, analisada e pensada. Por isso, muitos de nós somos apaixonados por listas dos mais variados tipos mesmo que raramente, se alguma vez, elas reflitam com exatidão nosso gosto pessoal.
Portanto, e dentro da proposta do site de listarmos os melhores de cada ano da década, decidi me entregar à tarefa de listar os melhores filmes de cada ano, assistindo e re-assistindo dezenas, até centenas, de obras no processo.
Neste ano, como sempre, grandes obras ficaram de fora, entre elas: o divertido “As Viúvas”; o belo “Se a Rua Beale Falasse”; o nostálgico “Eighth Grade”. Porém, aquele que me encantou mais que muitos dos que entraram na lista, foi o instigante e educativo “O Ódio que Você Semeia”, que deve tomar o posto de filme mais passado em escolas logo.
Abaixo, falo sobre aqueles que considero os melhores de 2018, um ano onde o Brasil perdeu mais uma Copa do Mundo e viu o conservadorismo e os bons costumes retornarem ao poder… ao menos o cinema ainda serve tanto como distração, como um atestado de nossa própria resiliência.
10
hereditário
Muitos filmes de terror nestes últimos anos se sobressaíram ao cortar as amarras do gênero, mas esta obra do estreante Ari Aster faz questão de mostrar como ainda há espaço para o terror convencional desde que este seja feito com toda o cuidado de um jovem mestre em ascensão.
Não falta estilo e tensão à “Hereditário”, por mais que a falta de sustos e o final perturbador tenham, muito provavelmente, se provado demais para a grande maioria dos espectadores.
9
nasce uma estrela
O maior hit do ano, a quarta versão de “Nasce Uma Estrela” prova que sua história é atemporal, nos apresenta à uma nova espécie de auge para Lady Gaga e estabelece Bradley Cooper como um dos atores - e diretores - mais talentosos de sua geração.
Mas talvez sua maior vitória seja em mostrar como uma história tão antiga pode trazer paralelos relevantes para nossa sociedade contemporânea, pois por mais que a emoção envolvida na relação de Ally e Jackson seja de encher - e cortar - o coração, são os aspectos negativos de seu relacionamento que geram debates e tornam o filme tão relevante.
8
em chamas
É difícil se envolver com esta obra do cinema coreano logo de primeira.
Com uma narrativa densa e quase arrastada, que toma todo tempo do mundo para desenvolver seus personagens e que revela a verdadeira natureza de sua história apenas no final, “Burning” é um desafio para os espectadores acostumados com tudo jogado em seus braços, pois mesmo ao fim é como se você tivesse em mãos apenas metade do quebra cabeças, enquanto a outra fora queimada e suas cinzas jogadas ao vento.
Capaz de causar calafrios após ter sua identidade revelada, este é um daqueles suspenses gelados que, de certa forma, ainda é capaz de lhe lembrar de chamas que julgara ter apagado para sempre enquanto te desafia a aceitar que, de certa forma, você precisa delas para se sentir vivo.
7
aniquilação
Alex Garland é, evidentemente, um apaixonado por ficção científica.
“Ex-Machina”, seu primeiro projeto, já havia se provado um dos exemplares mais cerebrais do gênero e por mais que muitas das mesmas tendências estejam em “Aniquilação”, este se prova um filme com temas ainda mais difíceis de se quantificar. Pois se naquela obra ele tratava do que significava ser humano, nesta é como entendemos o próprio conceito não de humanidade, mas da vida em si.
Com (mais uma) excelente performance de Natalie Portman e com um excelente e diversificado elenco, “Aniquilação” é um filme tenso, dúbio e tecnicamente exemplar, que vai ficar com você por muito tempo.
6
pantera negra
(com menção para guerra infinita)
Um filme de super herói na lista já seria o suficiente, mas não podemos deixar de relembrar dois dos melhores exemplares da história do gênero.
Como filme, o longa dirigido por Ryan Coogler é indiscutivelmente superior. Sendo construído em torno de um núcleo narrativo shakespeariano, onde a esplêndida cidade de Wakanda serve de cenário para uma história envolvendo raízes, família e valores morais e sociais. Com um elenco impecável e culturalmente um marco por apresentar o primeiro grande super herói afro-descendente, é um filme que quase foge por completo da batida fórmula da Marvel e funciona por conta própria.
Já como experiência, poucas coisas foram mais revigorantes - e pesarosas - em 2018 do que as duas horas e meia de “Guerra Infinita”, dirigida pelos irmãos Russo. Fazendo um malabarismo perfeito com seus muito personagens, tecnicamente irrepreensível e dono de momentos inesquecíveis, é um filme que transformou a cultura popular, colocando Thanos no mesmo patamar de vilões como Coringa e Magneto.
Decidir entre os dois é difícil, mas ficamos com aquele que se sustenta por conta própria.
5
a favorita
O filme mais divertido - divertido? - de Yorgos Lanthimos é também um dos projetos mais peculiares de 2018 - isso já não é novidade quando se fala no Grego - justamente por subverter a forma batida como muitos diretores retratam este período histórico.
Dando total protagonismo a sua trinca de atrizes - todas espetaculares -, Yorgos consegue construir uma trama complexa e que ainda resgata temas perdidos na história, como o machismo institucionalizado do período e como o poder máximo anda lado a lado com limitações que tornam uma vida de luxúrias em uma espécie de prisão emocional.
Caso ainda não tenha conferido a filmografia mais exótica do século 21, esta é possivelmente a melhor carta de entrada em um prato que envolve desde cervos e lagostas à… bem…
4
infiltrado na klan
Assistir à este filme de Spike Lee é uma experiência peculiar.
Ao passo que o roteiro e direção deste mestre do cinema sejam envolventes e pontuem tudo com toques de acidez e esperteza, é possível sentir como as marcas do racismo se fazem presente não apenas na história ali contada, mas em um mundo que, mesmo tendo visto o mal que fazem, não foi capaz de erradica-las.
Por isso, por mais que a força inerente nas performances e sua gratificante conclusão nos lembrem que as coisas ainda podem melhorar, é impossível terminar este longa e não sentir um profundo enjoo na alma. Quer dizer, até é possível, mas só significa que você está do lado errado da história.
3
roma
Projeto passional e pessoal de Alfonso Cuarón, “Roma” foi uma raridade, mas um exemplo de como esta era do cinema híbrido pode ser benéfica à sétima arte, por mais que, indiretamente, acabe a limitando.
Afinal, é bem possível que um filme como este se tornasse uma bomba de bilheteria caso lançado de maneira convencional, o que torna sua permanência fixa na Netflix algo bem vindo. Porém, é quase uma blasfêmia assistir à um projeto como esse em uma tela que não a de um cinema, pois com uma apuração técnica imprescindível, é como se cada pequeno detalhe da misé-en-cene fizesse uma diferença catastrófica à força da narrativa.
Construindo uma inteligente e pertinente crítica social, “Roma” é, muito possivelmente, o trabalho visualmente mais impressionante de um diretor conhecido por inovar neste quesito. O fato de ele ter feito isso voltando à lugares de sua infância e mostrado como, muitas vezes, o ordinário pode superar o extraordinário, torna tudo muito mais especial.
2
assunto de família
Em um ano tão rico para o cinema mundial, é quase irônico o fato de que esta surpresa dirigida pelo japonês Hirokazu Kore-eda figure como a mais bela joia em uma safra de diamantes tão brilhantes.
Irônico porque em “Assunto de Família” vemos esta família em questão sobrevivendo de pequenos furtos em lojas e supermercados, onde para eles o pouco é muito e, mesmo vivendo em condições adversas, muitas vezes um sorriso, um carinho ou uma simples refeição são motivos da mais pura das felicidades.
É um filme sobre um mundo inteiramente diferente, mas ainda assim perigosamente similar ao que vemos em muitos lugares do Brasil e. ao conhecermos e simpatizarmos por aquelas pessoas, nosso coração é convidado a se encher da mesma alegria que elas e, involuntariamente, fazer uma auto-análise da forma como temos vivido até então.
Mesmo sem ter muito o que ensinar é impossível assistir à este filme e não sentir que aprendemos algo. Pois não importa se a joia é real ou uma simples bijuteria, o que define seu valor é o quanto a estimamos.
10 Menções Honrosas: As Boas Maneiras; Eighth Grade; First Reformed; O Ódio Que Você Semeia; Se A Rua Beale Falasse; Paddington 2; Viúvas; Guerra Fria; ; Blindspotting; Leave No Trace.
1
homem aranha: no aranhaverso
Nenhum filme foi tão revigorante em 2018 como aquele que extrapolou dois gêneros que, nos últimos anos, se acostumaram com o convencional e o seguro. “Homem Aranha: No Aranhaverso” é, simplesmente, fenomenal.
Figurando não apenas como o melhor filme do amigão da vizinhança desde o “Homem Aranha 2”, mas também como uma das melhores e mais originais animações da década - quiçá do século -, esta obra da Sony surpreendeu a todos com seu insano roteiro que, além de reapresentar de forma quase inédita a história de origem do herói, abriu possibilidades que a própria Marvel precisou de 23 filmes para conseguir “sugerir”. Ainda assim, é difícil decidir se este é o principal apelo do longa, que com seu visual lisérgico e extremamente evocativo dos quadrinhos apresenta uma bem vinda mudança em um cenário que parece ter sido completamente dominado pela Disney.
Mas acredito que o motivo deste sucesso absoluto resida em outro aspecto, pois se como animação o longa é praticamente impecável, como filme de super herói é um exemplo a parte do gênero mais saturado da atualidade. A grande maioria destes filmes, incluindo os bons, parece esquecer o que faz de alguém um herói de verdade, uma lição que Miles Morales aprende e que, como espectadores, nos lembramos ser tão importante.
Ao assistir este filme, podemos deixar de lado todas as teorias e referências a universos compartilhados, e nos preocupar única e exclusivamente em sermos crianças de novo. Uma sensação rara, e que jamais pode ser subestimada.