Os 10 Melhores Filmes de 2017
A simples ideia de listar obras de arte é um exercício de futilidade. Porém, a vida não vale a pena ser vivida se não for, também, comentada, analisada e pensada. Por isso, muitos de nós somos apaixonados por listas dos mais variados tipos mesmo que raramente, se alguma vez, elas reflitam com exatidão nosso gosto pessoal.
Portanto, e dentro da proposta do site de listarmos os melhores de cada ano da década, decidi me entregar à tarefa de listar os melhores filmes de cada ano, assistindo e re-assistindo dezenas, até centenas, de obras no processo.
Neste ano, como sempre, grandes obras ficaram de fora, entre elas: um dos filmes mais aclamados dos últimos anos, mas que, infelizmente, não me convenceu em “Lady Bird”, mas cujas qualidades são, sim, muitas; o triste e desafiador “A Ghost Story”; o divertidíssimo “I, Tonya”; o convencional, mas eficaz, “The Post”; o tecnicamente irrepreensível, mas emocionalmente vazio “Dunkirk”; o belo e fantástico “A Forma D’Água”; o encantador “The Big Sick”; o doloroso e inesquecível “A Ganha Pão”; e aquele cujo qual mais me doeu deixar de fora, o revigorante “Baby Driver”. Além disso, tento sempre incluir uma produção brasileira, mas, neste ano, meu favorito “Bingo”, acabou ficando de fora (após muitas lutas mentais).
Abaixo, falo sobre aqueles que considero os melhores de 2017:
10
mãe!
Passados meses de discussão e interpretação acerca de seus mais profundos significados, a mais nova obra de Darren Aronofsky já se provou um dos filmes mais polêmicos de todos os tempos. Não existe meio termo com "mãe!", ou você ama ou odeia e qualquer uma das reações é perfeitamente entendível. No meu caso, após quase vomitar na sala de cinema, decidi que seu impacto jamais poderia ser ignorado.
Tecnicamente magnífico, “mãe!” é um filme enquanto você assiste e outro quando você o analisa, ao passo que concebe imagens que dificilmente você será capaz de esquecer. E, dado a brutalidade de tais imagens, lamento dizer que isto é um dos aspectos mais admiráveis do longa. É difícil de se recomendar, mas delicioso de se falar sobre.
9
trama fantasma
O cinema de Paul Thomas Anderson começa a ser desafiador já nas escolhas de histórias que o cineasta decide trabalhar. Considero quase impossível que, mais uma vez na vida, um filme sobre moda na década de 50 chame a minha atenção, porém, não consigo deixar de me ver fascinado por este “A Trama Fantasma”.
Adornado por todas as habilidades do diretor em conferir humanidade à figuras exóticas, quase caricaturais, nesta história de abuso, disfarçada de romance, maquiada de filme de época e transvestida de drama, vemos a possível última interpretação de Daniel Day Lewis em todo seu esplendor, enquanto batalhamos para não apenas simpatizar com seu personagem, mas para entender todas as nuances presentes em uma narrativa que, no fundo, é sobre a natureza da arte e, também, do amor. Por mais corrosivo que este seja.
8
você nunca esteve realmente aqui
Assim como o filme acima nesta lista, “Você Nunca Esteve Realmente Aqui” não é exatamente original. Contando a história de um veterano de guerra que ganha a vida como um caçador de recompensas, este filme de Lynne Ramsay consegue se mostrar ainda mais visceral justamente ao não nos mostrar a violência gráfica que seu personagem exerce. Afinal, o que realmente vemos é a mente conturbada de um homem que não conseguiu retomar a vida, e é fadado à viver como a esperança da tragédia de outras pessoas.
Joaquim Phoenix nos apresenta uma de suas melhores - e mais intimistas - performances, a graças às mãos diferenciadas de Ramsay, o longa toma contornos assombrosos que o separam de seus muitos semelhantes. Muitos chamaram este de “Taxi Driver” de nossa geração, uma pena sua popularidade não ter sido a mesma.
7
os últimos jedi
Tenho de ser honesto, após assistir ao nono e enfurecedor episódio 9 da saga criada por George Lucas, a minha vontade era de voltar a lista deste ano e subir o capítulo que o antecedeu ao primeiro lugar, apenas pelo descontentamento perante a atrocidade que cometeram com saga por conta da birra de fãs, mas, aí, não seria mais maduro - ou sábio - que qualquer um deles.
Porém, assistindo ao fatídico “A Ascensão Skywalker”, vi que a posição original a qual havia designado “Os Últimos Jedi” era justa com todos os muitos méritos do longa.
Iconograficamente o melhor episódio da saga e contendo momentos de tirar o fôlego de qualquer fã do bom cinema, posso até não concordar com todas as decisões narrativas de Rian Johnson, mas, provavelmente, apenas porque não pude vê-las sendo concretizadas.
6
me chame pelo seu nome
Poucos momentos parecem passar tão rápido na vida quanto aqueles verões. Porém, poucos momentos são tão duradouros como os mesmos. Em nossa lista dos melhores romances da década, “Me Chame Pelo Seu Nome” é quase um mundo paralelo, onde dois jovens podem experimentar todas as indas e vindas, prazeres e dores, de um amor que no mundo em que vivemos ainda é olhado com olhos tortos.
Dirigido com paciência por Luca Guadagnino, é um longa que sucede por ser paciente e imersivo, nos transportando para aquele lugar onde Elio e Oliver puderam não apenas se apaixonar, mas se conhecer de uma forma que jamais poderiam sem o outro. Charmoso, sexy e, principalmente, sincero, é, além de uma bela história de amor, uma crítica velada à forma como as enxergamos.
5
três anúncios para um crime
Quando bati os olhos em Frances McDormand, olhando pela janela do carro, falei (baixinho, não seja um imbecil no cinema): “essa mulher vai ganhar o Oscar”.
Não foi um episódio de premonição, tampouco sou um expert sobre a cerimônia, mas não parecia possível que qualquer pessoa - mesmo naquele forte ano de 2018 - fosse tirar a estatueta da mão dela, afinal, o que a atriz consegue expressar não apenas com seu olhar, mas com toda sua voz, fisicalidade e presença, é algo digno de todo o reconhecimento do mundo.
E “Três Anúncios Para Um Crime” tem ainda mais a oferecer. Com uma história relevante, que além de jogar uma luz tão necessária à casos de brutalidade humana ainda consegue pintar um retrato audacioso sobre a acidez de nossa sociedade, o filme consegue fazer rir, chorar e pensar. É uma experiência rica e completa, por mais dolorosa que possa parecer.
4
logan
Acompanhando um Wolverine que já não é mais Wolverine há muito tempo, "Logan" é um dos grandes e merecidos destaques resultantes da leva imensa de filmes de super-heróis. Seu mérito não vem só de sua violência precisa e de seu dinamismo narrativo, mas muito mais porque o filme sabe exatamente onde quer chegar.
"Logan" é adulto, visceral e sabe trabalhar com encerramentos sem medo porque é, na verdade, o estudo de um personagem que lida com as limitações de sua idade. Unindo elementos do gênero Road Movie com os clássicos Western, James Mangold sabe conduzir uma história que entretém e emociona, introduzindo uma feroz Dafne Keen e trazendo a atuação já reconhecidamente brilhante de Hugh Jackman - que interpreta um Logan velho e exausto que decide lutar uma última vez.
*Texto de Felipe Guedes.
3
projeto florida
Raramente uma experiência tão crua e, por vezes, angustiante nos deixa tão feliz ao mesmo tempo. Sean Baker conseguiu. Já versado na arte de ilustrar uma história com a intenção de criar empatia em sociedades marginalizadas, ele apresenta aqui uma obra-prima com cenas tão realistas que parece até que o filme inteiro foi improvisado.
De forma sincera, "Projeto Flórida" se utiliza de técnicas de enquadramento, cor e montagem para criar uma experiência imersiva e, quando você menos espera... pronto: volta a ser uma criança de seis anos de idade. E apesar de estarem correndo de um hotel barato para outro no calor da Flórida, é impossível não se relacionar com a vida de cada um dos personagens.
Morar na sombra dos parques da Disney não é o que faz o filme ser mágico. Ele se torna grandioso por sua habilidade precisa em mostrar toda a beleza e tragédia contida em cenas simples de uma infância. "Projeto Flórida" é delicado, intenso, urgente e lindo.
*Texto de Felipe Guedes.
2
"Corra!"
Jordan Peele despontou, do nada, como um dos melhores diretores de terror do século 21. Afinal, quem diria que o que o gênero precisava era de uma dose especial de comédia?
Nada engraçado, mas comicamente irônico durante toda sua projeção, este que já desponta como um dos filmes mais comentados dos últimos anos é capaz de provocar sensações diferentes e, praticamente, únicas na história do cinema, justamente por aliar estas duas abordagens tão distintas. O fato de, ao centro de tudo, termos uma história latente sobre racismo, que reverbera além das reviravoltas e da qualidade técnica da obra, apenas o torna ainda mais fascinante.
“Corra!” pode ser muitas coisas: um grito de socorro, um despertar para a realidade, uma imersão em um pesadelo interminável, ou até uma grande piada de mau gosto. Independentemente, é um filme magistral que melhora a cada nova revisita e que, assim que terminar, vai lhe fazer fervilhar seus pensamentos em busca de respostas.
10 Menções Honrosas (dessa vez) em ordem de preferência: Bingo; Baby Driver; A Forma D’Água; Dunkirk; I, Tonya; The Big Sick; The Post; Lady Bird; A Ghost Story; Breadwinner.
1
"Blade Runner 2049"
Não tenho a mínima intenção de “soar” imparcial aqui, mesmo que, quando colocando em uma balança, defendo minha escolha com todo o conhecimento - seja lá qual for - que possuo. Enfim, a verdade: “Blade Runner 2049” é, de longe, meu filme favorito de 2017.
Continuando um clássico o qual adoro, pertencendo à um gênero que amo, dirigido por um cineasta que admiro e estrelado por atores que aprecio profundamente, nada neste ano foi tão marcante para mim, no cinema, como este filme de Dennis Villeneuve (o qual já cansei de mencionar nestas listas). O assisti três vezes e, em cada uma, alguém que avaliasse minhas reações julgaria estar vendo uma criança devido ao brilho que sabia que tomavam conta de meus olhos.
Dito isso, considero “Blade Runner 2049”, de longe (mas não tanto), o melhor filme de 2019.
Tecnicamente irrepreensível, com uma trama ainda mais complexa que a original e com temas que não apenas expandem, mas aprofundam o malabarismo mental provocado pela obra de Ridley Scott, poucas obras foram tão desafiadoras como as três horas de um filme que, quando está parado, oferece tanto para se apreciar quando está nos envolvendo em seus muitos momentos icônicos.
Logo, ao juntar ambas as alcunhas de favorito e melhor, que não precisam estar juntas, a escolha está mais do que justificada.