Os 10 Melhores Filmes de 2013
A simples ideia de listar obras de arte é um exercício de futilidade. Porém, a vida não vale a pena ser vivida se não for, também, comentada, analisada e pensada. Por isso, muitos de nós somos apaixonados por listas dos mais variados tipos mesmo que raramente, se alguma vez, elas reflitam com exatidão nosso gosto pessoal.
Portanto, e dentro da proposta do site de listarmos os melhores de cada ano da década, decidi me entregar à tarefa de listar os melhores filmes de cada ano, assistindo e re-assistindo dezenas, até centenas, de obras no processo.
Neste ano, ficaram de fora obras como o francês “Azul é A Cor Mais Quente”, que entre toda as polêmicas envolvendo suas cenas explícitas, faz um trabalho muito mais revelador de escancarar os desafios vividos por uma jovem menina em sua jornada para encontrar a si mesma. Também de fora está mais outro grande filme de Martin Scorsese, o qual considero o melhor diretor da década, mas cujo “Lobo de Wall Street”, por mais estiloso e tecnicamente perfeito que seja, jamais me arrebatou como seus melhores trabalhos. Outra exclusão dolorida foi a de “Clube de Compras Dallas”, longa que garantiu um Oscar mais do que merecido à Mathew McCounaughey.
Abaixo, falo sobre aqueles que considero os melhores de 2013:
10 | O SOM AO REDOR
*Este filme percorreu o circuito de festivais em 2012, mas seu lançamento oficial nos cinemas é 2013.
Quem diria que em um ano onde uma onda de protestos que marcaram o Brasil seu melhor filme seria sobre o silêncio do subúrbio?
Um silêncio tão ensurdecedor que o latido do cachorro do vizinho, o barulho dos carros, o beep de um aparelho eletrônico, a voz de alguém, todos estes tem a capacidade de te fazer sair da zona de conforto. Ou tédio, se assim preferir.
Apresentando uma crônica sobre questões essenciais e existenciais das metrópoles brasileiras, o primeiro longa de Kléber Mendonça pode parecer não ir de lugar nenhum à lugar algum, mas mostra tudo que há presente nesta fascinante jornada.
9 | frozen
Os grandes filmes da Disney nos últimos 20 anos têm uma magia tão forte que até as traduções de suas músicas tema conseguem ao menos manter o brilho das versões originais. Porém, por mais que a “Livre Estou” da versão brasileira funcione, a febre gelada provocada pelo filme foi tamanha mundo a fora que foi a versão original que perfurou as cabeças dos pais por muito, muito tempo.
E foi uma febre justificada, afinal, como os grandes filmes do estúdio, no centro de toda sua divertida, bonitinha e sublimemente animada história está um núcleo de reflexões sociais e familiares com uma bela mensagem de amor e aceitação das diferenças
Isso e o Olaf. O Olaf é sensacional.
8 | Questão de Tempo
*texto de Pietro Braga
A maior parte das reclamações que versam sobre os filmes de romance é o fato de, bom, eles parecerem todos iguais.
E veja bem, é realmente difícil fugir dos clichês que pairam sobre o gênero. Richard Curtis se apropriou perfeitamente do ditado ‘’Se vocês não pode vencê-los, junte-se a eles”. “About Time”, ou “Questão de Tempo”, não tenta criar uma nova fórmula para os filmes sobre o amor, muito menos foge de alguns inevitáveis clichês, mas de forma revigorante mostra eles de formas diferentes.
E não é algo momentâneo. É uma história que abrange a vida como um todo. Claro que não perdemos aquele processo inicial fofo onde os dois se conhecem, mas o foco a partir dai não é sobre o problema superficial que momentaneamente vai separá-los e sim sobre as subtramas da vida de cada um como pessoa e dos dois como um casal, com o bônus da originalidade que vem com a premissa. Fruto de um ótimo trabalho de escrita, o filme ainda conta com uma química incrível de Domhnall Gleeson e Rachel McAdams. Não é como se eles precisassem se esforçar muito. Suas atuações são tão fluidas quanto à própria história criando uma atmosfera extremamente cativante e emocional, tornando “Questão de Tempo” extraordinário dentro de sua normalidade.
7 | gravidade
Texto de Pietro Braga
A mente visionária de Alfonso Cuarón consegue achar brilhantismo em diversas formas.
Em “Gravidade”, uma das melhores ficções científicas de seu tempo, o diretor mexicano explora a insignificância do ser humano perante o espaço ao fazer algo extremamente comum em diversos filmes do gênero se transformar em um dos momentos mais agoniantes, claustrofóbicos e desesperadoramente imersivos do cinema.
Não possível sem a soberba qualidade técnica que torna a experiência possível, as performance de Sandra Bullock e George Clooney são a ponte entre a conexão emotiva da história. Somos transportados para seus lugares e, enquanto giram sem controle, ao lado do gigantesco planeta a seu lado, nossa cabeça gira do mesmo jeito.
6 | Spring Breakers
Poucos filmes me surpreenderam mais do que este de Harmony Korine que, em meio à festas, orgias e uma quantidade incontável de meninas seminuas, comunica mais sobre a juventude, e o comportamento humano nesta fase tão conturbada da vida, do que a grande maioria dos filmes que tentam justamente fazer isso.
Ao se utilizar de estereótipos gritantes sobre tipos mais do que conhecidos por mim e por qualquer um de vocês, Korine constrói um filme que vai a fundo em um mar de personalidades diferentes e o que move cada uma delas. Ao final, “Spring Breakers” não vai apenas fazer você rever a própria juventude, caso ainda a esteja vivendo ou não, mas vai te lembrar de histórias tão similares que é como se fosse um filme sobre pessoas que conheceu a vida inteira.
5 | OS SUSPEITOS
O primeiro filme norte-americano de Dennis Villeneuve é uma experiência cansativa, dolorida e melancólica.
Centrado em torno de um mistério que mais do que apela para os fãs do gênero - diga-se, eu -, aonde Villeneuve realmente sucede é ao pintá-lo como uma profunda análise sobre o sofrimento e até onde cada um de nós está disposto a ir para se libertar dele. Por isso suas cores são frias, por isso seus cenários são mórbidos e desprovidos de luz, por isso seus atores parecem estar com uma máscara de melancolia estampada em seus rostos.
É um filme que, definitivamente, não é para todos, justamente por trazer em si traços da nossa humanidade que preferimos nunca ter de experimentar. Pois pior do que ser suspeito de algo terrível (como o título brasileiro sugere), é ser o prisioneiro do sentimento provocado por este mesmo ato.
4 | antes da meia noite
Que jeito melhor de se terminar uma trilogia tão impecável como esta concebida por Richard Linklater. 18 anos após os eventos do primeiro filme, onde Jesse fez o que muitos apenas sonham e convidou a garota no trem, Céline, a passar um único dia com ele, em Viena, antes de ambos viajarem para lugares distintos, “Antes da Meia Noite” premia o acaso provocado por algo que julgamos pode ser amor.
Mesmo que, para estes personagens tão bem escritos e pensados, amor a primeira vista nunca fosse uma possibilidade. Sua relação é baseada em cima de algo que fora construindo, lentamente, ao longo de anos - muitos deles com ambos separados, inclusive - culminando em um casal tão amável como imperfeito.
Há algo de lindo em dois jovens que decidem, após um único dia juntos, voltarem a se reencontrar e há algo de ainda mais bonito em ambos se encontrarem nove anos depois por conta do livro que um deles escreveu sobre esta experiência. Mas “Antes da Meia Noite” é quase poético, uma carta de amor ao próprio amor que, de uma forma ou de outra, dá seu jeito de moldar as vidas que ilumina.
3 | inside llewyn davis
A história de Llewyn Davis é trágica justamente por não ter, em si, nada de realmente dramático. Um homem que ainda não desistiu de sonhos que dele já desistiram e que recusa em ver como sua vida está passando diante de seus olhos, deitado em sofás de amigos generosos o bastante para aceitá-lo uma vez a cada tantas noites.
Em um dos filmes menos “eventivos” dos Irmãos Coen, Oscar Isaac dá uma reviravolta na própria carreira se alçando ao estrelado, entregando esta que considero sua melhor performance, onde transforma o quase intragável Llewyn em um sujeito que nós quase, quase, conseguimos gostar. Afinal, é difícil não sentir empatia por alguém que representa a luta que muitos de nós nem sequer quis travar, mas é mais difícil ainda aceitá-lo quando percebemos que ele é apenas um reflexo de nós mesmos e nossas falhas que, em algum ponto da vida, pareciam nos definir.
Destinado a ser estudado, revisto e comentado por anos a seguir, “Inside Llewyn Davis” é um dos mais complexos retratos do grande sonho americano. E do fato - que ninguém parece admitir - que ele é, na verdade, o grande sonho do próprio ser humano.
2 | 12 anos de escravidão
Pensei muito antes de colocar “12 Anos de Escravidão” nesta posição, sendo este um dos filmes mais desafiadores que assisti durante toda a década.
Desafiador não por conta de seus aspectos técnicos, os quais, em suma, representam com eficácia os temas presentes na história de Solomon Northup, os quais Steve McQueen aborda com doses claras e alusivas de simbolismo, mas sim por conta de um elemento que se tornou quase uma regra em filmes retratando o racismo.
Mas por mais que não aprove a ideia de que é o personagem de Brad Pitt quem liberta Solomon, isto não apaga o fato de que as milhões de vidas negras marginalizadas só poderiam ser salvas por um branco que, em um ato claro de heroísmo - ironia -, se daria conta do mal que seus semelhantes na cor da pele faziam com aqueles que julgavam inferiores.
“12 Anos de Escravidão” pode jamais ser sútil e, em diversos momentos, irá lhe deixar desconfortável, mas é, assim como o elemento descrito acima que infelizmente é um fato verídico, brutalmente necessário.
10 Menções Honrosas Sem Ordem Específica: Trapaça; Azul é a Cor Mais Quente; Invocação do Mal; The World’s End; Além da Escuridão; O Lobo de Wall Street; Capitão Philips; Jogos Vorazes: Em Chamas; Clube de Compras Dallas; Círculo de Fogo.
1 | ela
O quão preocupante é que a mais sincera história de amor do nosso tempo seja entre um homem e um aplicativo de inteligência artificial?
Imagine o quão belo nosso mundo seria se todos, ao ouvirem uma premissa como essa, não julgassem ou iniciassem os - necessários, é verdade - muitos debates acerca das mudanças que a tecnologia provoca em nossas vidas, assim como não deveríamos julgar alguém por se apaixonar por uma pessoa de mesmo sexo, cor ou cultura diferentes.
O quão lindo é este mundo? Que seria pintado das mais lúdicas cores - neste caso em específico, azul, vermelho e amarelo - para nos lembrar o quão simples deveria ser o ato de amar, que seria acompanhado pela mais desprendida trilha sonora, que teria como personagens principais, e únicos de nossa história de amor, nós e a pessoa a qual amamos. E por mais que nem sempre o final seja como esperávamos, podemos sempre apreciar e agradecer pela bela jornada que tivemos, explorando emoções que não julgamos possível sentir e descobrindo fatos sobre nós mesmos que não sabíamos existir.
Na obra da carreira de Spike Jonze, assistimos à Joaquim Phoenix, um dos mais talentosos atores de sua geração, contracenar com a voz da maior símbolo sexual da sua, em Scarlett Johansson, e por mais desesperador que possa parecer o fato de que não estamos tão longe da tecnologia que tornou este amor possível, a verdadeira preocupação é por estarmos anos luz de distância do retrato apaixonado de mundo que “Ela” nos apresenta.