Clássico | Gravidade
Vou começar falando de Gravidade com uma pergunta retórica. Existe algo mais ameaçador e grandioso que o espaço? Afinal, ele é infinito, dono de um silêncio absoluto e não há ninguém que não tenha refletido sobre nossa insignificância perante a imponência dele. "Gravidade" consegue intensificar tudo isso com uma beleza e perfeição técnica pouco vistas no cinema.
Alfonso Cuarón é um ótimo diretor. Comandou filmes como ''A Princesinha'' e talvez o melhor Harry Potter dos 8 filmes da saga (''O Prisioneiro de Azkabam''). Mas incrivelmente, mesmo com todo repertório do diretor, "Gravidade" é o trabalho de sua vida, onde ele além de dirigir também assina o roteiro. A beleza estética do filme é contemplativa, e não há muito mais o que dizer, pois palavras dificilmente expressam a perfeição dos enquadramentos. Além disso, é uma aula de edição, que utiliza cortes em momentos perfeitos e pontuais, e de controle de câmera.
Além de tudo, Alfonso conseguiu dar vida, juntos com os trabalhos excepcionais de Sandra Bullock e George Clooney, a duas pessoas extremamente carismáticas, o que por mais bobo que pareça dizer isso perante o esplendor que é "Gravidade", são o ponto crucial do filme. Não há sentido em assistir uma história de sobrevivência sem ao menos estar apegado a seus personagens principais. Felizmente, mesmo com pouco tempo de desenvolvimento, é impossível não se apegar ao, como sempre, charmoso e cativante Clooney e a uma brilhante e, dentro da trama, insegura, Bullock.
Mesmo com um filme tão completo tecnicamente, o mais impressionante aqui não são seus aspectos visuais - que como já dito não são nada menos que magníficos - mas sim o suspense que é construído em torno da sobrevivência da Dra. Ryan Stone e do astronauta Matt Kowalsky, e isso nos é jogado na cara no mesmo segundo que os detritos espaciais os atingem. A partir daí o filme que tem apenas uma hora e meia parece ter três, no melhor dos sentidos. Cada segundo que passa é um acumulo de apreensão e agonia raros que podemos experienciar em frente a uma tela.
Há uma cena em questão, logo no inicio do filme, em que a Dra. Stone após se desprender da nave fica girando enquanto se perde da visão de Kowalsky. A genialidade se encontra no horror quase imperceptível instalado na cena. Conforme Bullock gira, quando ela fica de frente para nós, conseguimos ver seu rosto tomado por pavor e, no momento que vira de costas, a perdemos completamente numa vasta escuridão, assim repetidamente.
Aproveitando que estamos falando de Bullock, é necessário ressaltar a grandeza de sua atuação aqui, debativelmente a melhor de sua carreira (há argumentos fortes também para ''Um Sonho Possível''). É realmente extraordinário o que a atriz faz através de basicamente sua respiração e expressões faciais. A forma com que ela respira, dependendo da situação, dita o nosso comportamento perante o filme, acrescentando intensidade e uma inquietação quase incômoda nas cenas de perigo e um alivio singular sempre quando sua respiração está controlada.
A talvez única crítica que podemos fazer a gravidade é o fato de termos de aceitar - o que fazemos sem o menor problema - alguns acontecimentos que envolvem ''sorte''. Considerando os apenas 6 meses de treinamento de Stone, ou seu desconhecimento da língua Chinesa, ao apertar qualquer botão na respectiva estação espacial. Mas como já dito, não temos problemas em acolher tais situações e qualquer tentativa de buscar um erro concreto aqui é por pura vaidade de quem o faz.