As Melhores Interpretações da Década | Atrizes Coadjuvantes

Se montar qualquer lista de filmes já é um exercício que, por mais divertido que seja, tende a se tornar exaustivo quando levado a sério (o que, infelizmente, acabo fazendo), elencar as principais performances em um período tão longo é uma tarefa mais do que ingrata.

Pois pense só, muito provavelmente em todos os bons filmes que viu havia ao menos uma boa interpretação, mas além destes há aqueles filmes medianos que trazem performances inspiradas e até aquelas atrocidades salvas pelo trabalho de um ou outro intérprete. Além disso, se um filme já é um mar de elementos que funcionam de acordo com a subjetividade - e bagagem cinematográfica, é claro - de cada um, imagine avaliar atuações que, em atos mínimos, e muitas vezes desapercebidos, acabam nos tocando de formas que nem bem sabemos como.

Acho interessante apontar também como, nas listas de atores e atrizes coadjuvantes, a diversificação étnica é mais visível, algo que diz mais sobre os estúdios - e sobre nossa sociedade - sobre a capacidade dos interpretes pertencentes a minorias.

Para facilitar meu trabalho e torná-lo mais prazeroso, decidi apenas listar aquelas interpretações que mais me cativaram, por um motivo ou por outro e, antes de começar, aviso que dividi os atores em duas categorias, assim como na grande maioria das premiações, por motivos óbvios. Além disso, atores e atrizes presentes em uma postagem não poderão ser incluídos em outra, por motivos de variedade.

Abaixo, aquelas as quais considero as 10 melhores performances femininas em papéis coadjuvantes nestes últimos dez anos:


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10 | ana de armas, blade runner 2049 (2017)

A nova queridinha de Hollywood teve seu primeiro grande papel dando vida à um holograma. Alternando entre o olhar de devoção ao namorado e o de fascínio com as experiências artificialmente reais que o mesmo a proporciona, Ana de Armas surpreende ainda mais quando surge gigantesca e sem quaisquer traço das emoções acima.

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9 | margot robbie, era uma vez em… hollywood (2019)

*menção honrosa para seu papel em O Lobo de Wall Street

Talvez a performance mais polêmica de 2019 tenha vindo na forma da personagem mais adorável já escrita por Tarantino. Uma ode à uma pureza quase de contos de fada da atriz, tragicamente assassinada 50 anos atrás, Margot a compõe como uma mulher radiante, que inspira sorrisos ao mesmo tempo que atrai olhares. Vira e mexe, o simples fato de ela não precisar de um arco propriamente dito para prender nossa atenção por completo deveria justificar sua posição nesta lista. Sempre que está em tela, é impossível tirar os olhos de Margot.

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8 | emma stone, a favorita (2018)

Poucas atrizes foram tão bem sucedidas como Emma Stone nestes últimos dez anos, saltando de filmes adolescentes para musicais premiados até finalmente chegar aqui, no filme mais acessível do diretor mais inacessível da atualidade. Ancorada por suas parceiras de tela (Olivia Colman e Rachel Weisz), Stone brilha ao construir uma jovem ambiciosa e disposta a tudo por algo que lhe é constantemente negado: sobrevivência. Seus olhos escancarados nunca foram tão bem escalados, pois além de ter de estar dois passos a frente, a jovem tem de enxergar tudo a sua volta, algo que faz com todo o timing cômico característico da atriz.

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7 | fernanda montenegro, a vida invisível (2019)

A maior atriz da história do cinema brasileiro aparece por tão pouco tempo que sua presença só poderia ser sentida se fosse, bem, a maior atriz da história do cinema brasileiro. Compondo Eurídice como uma mulher apaixonada pela família, mas também ancorada na tristeza que marcou sua vida, Fernanda constrói desde um choro emocionado até a tremedeira ao ler uma carta recém descoberta. E sua reação ao saber que teria uma nova - e talvez última - chance encontrar o que procurou a vida inteira, prova que o que ela buscava não era apenas (spoiler) a irmã, mas a si mesma.

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6 | jennifer jason leigh, os oito odiados (2015)

Interpretando a única mulher em uma história onde homens que se odeiam tentam se matar, é curioso como Leigh consegue ser tanto o motivo da premissa como o ser mais esnobado de uma história que deveria ser sua. Com um fogo no olhar que parece queimar tudo aquilo que bota os olhos, a atriz mostra que há muito mais naquela criatura abominada do que a loucura que seu sorriso ensanguentado sugere.

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5 | alicia vikander, ex-machina (2015)

Sim, Vikander venceu o Oscar pelo filme errado, no mesmo ano em que concebeu uma das criaturas artificiais mais reais que já vi no cinema. Sua Ava traz uma intrincada rede de emoções que parecem pescar nossos olhares e enredá-los a todo o momento, surgindo tão fascinante como ameaçadora, tão adorável como perigosa. É um trabalho difícil, pois, no fundo, nem a própria sabia o que sua criação realmente era.

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4 | Michelle Williams, Manchester à Beira Mar (2016)

Acho que nunca vi nada tão despedaçante como o choro de Williams em sua cena final. Incapaz de reproduzir as palavras que seu coração lutou para proferir, lhe restava soluçar e se entregar a um abraço que deveria confortar, mas que nunca veio. O fato de ela não ter culpa nenhuma na tragédia que a assolara, torna a forma como se abre tão vulneravelmente em um momento ainda mais aterrador.

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3 | patricia arquette, boyhood (2014)

Não bastasse o comprometimento da atriz ao assinar o projeto de Linklater, sua dedicação em criar um arco próprio para sua personagem são o que mais me fascina nesta atuação. Construindo uma lenta e dolorosa jornada que envolve um balanço complicado entre maternidade e independência ao longo de doze anos, a Olivia concebida por Patricia poderia ter um filme próprio apenas com o que foi feito em Boyhood.

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2 | viola davis, um limite entre nós (2016)

Encabeçada por um monólogo emocionalmente aterrador, a Rose de Viola é o exemplo perfeito de toda a marginalização sofrida pela mulher negra nos Estados Unidos. Presa dentro das cercas levantadas pelo marido, crescido em meio às amarras da sociedade a sua volta, ela é a maior vítima de um meio já vitimado pelo preconceito, e quando finalmente dá voz às próprias frustrações, vemos a melhor cena envolvendo todos os nomes nesta lista.


Menções Honrosas: Naomie Harris em Moonlight; Lesley Manville em Trama Fantasma; Allisom Williams em Corra; Rachel McAdams em Spotlight; Janelle Monáe em Moonlight; Amy Adams em O Mestre; Sônia Braga em Bacurau.


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lupita nyong’o, 12 anos de escravidão (2013)

Nem sempre há justiça no Oscar, por isso, ver Lupita saindo com a estatueta em 2013 não apenas é uma imagem gratificante de se ter na memória, mas um minimo, ínfimo, comentário sobre o quanto nós, como raça opressora no passado, não apenas nos solidarizamos com as tantas vidas marginalizadas pelo racismo, mas como nos envergonhamos.

Sempre que me lembro de 12 Anos de Escravidão, a primeira imagem que me vem à cabeça é a de Patsey, desesperada, implorando por piedade após ter se submetido à algo que arriscava sua vida em troca de um pouco de dignidade que vinha na forma de um mísero pedaço de sabão. Utilizando seus grandes olhos para provocar tanto desespero como piedade, Lupita constrói nela uma mulher forte, capaz de entonar a voz com força para confrontar uma injustiça, mas que ao mesmo tempo se encolhe e aceita as punições a ela imposta, pois aquilo é a vida que conhece.

É uma performance inesquecível, de extremos tão verdadeiros que a própria atriz ainda deve sentir as chibatadas, sendo elas verdadeiras ou não.

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