Crítica | Corra!

Get Out Poster

O mais incrível sobre "Corra!", ou seu título original, "Get Out", é o significado desse título para a narrativa. Até mesmo quando ele é falado, a curiosidade não permite que a razão tome conta. Jordan Peele, you good. 

Escrito e dirigido pelo comediante Jordan Peele (que já havia ido bem na sua estreia como roteirista e ator em "Keanu", em 2016), "Get Out" conta a história de dois jovens namorados, ele negro, ela branca, e sua estranha visita à casa da família da moça. O trailer sugere bem mais uma sátira de comédia do que um terror escatológico crescente, mas não se engane, este é um filme de suspense, que funciona exatamente por nunca deixar de ser ironicamente cômico.

Algumas coisas não poderiam ser mudadas, é um filme sobre um relacionamento comum no começo, o que faz necessário o uso de clichês não originais, mas o ritmo demora pouco para encaixar, e então o filme nunca deixa de ser atraente ou interessante. Conforme a história avança, sabe-se que tem algo de errado em tudo aquilo, mas nunca é possível ligar os pontos ou até mesmo distinguir entre normalidade e paranoia. O roteiro tem grandes méritos de ser expositivo na medida e hora certa e de utilizar muito pouco de frases de efeito, tornando simples conversas em pistas essenciais para a solução do mistério, o qual, desista, você nunca vai adivinhar. É sério. 

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Peele tem controle total sobre sua obra, ele consegue dar dicas sutis ao longo de todo o filme e ainda assim guardar todos os principais desfechos para o excepcional final, onde o absurdismo e um forte senso cômico fazem as resoluções se tornarem espetaculares. O movimento das câmeras é dinâmico sem nunca apelar para a câmera tremida, os planos sequência são bem ensaiados e ele consegue se utilizar muito bem dos planos abertos para amplificar o senso de isolamento que Cris se encontra e fechados para amplificar a tensão do local onde ele se encontra. Peele, you good. 

As interpretações tem papel fundamental em ditar o tom do filme. Daniel Kaluuya é muito talentoso e seu relacionamento com a personagem de Alisson Williams tem uma naturalidade assombrosa. Seus olhares, expressões e reações com relação a tudo aquilo são quase reais, como se estivesse nos representando naquela narrativa. Já ela consegue equilibrar muito bem o aspecto irônico e cheio de atitude de sua personagem.

O elenco de apoio inteiro está muito bem, Catherine Keener é uma atriz consagrada por seus papéis em filmes pouco tradicionais, e aqui ela está mais uma vez maravilhosa como a mãe de Rose. Bradley Whitford consegue passar toda a imagem do pai careta, Caleb Jones tem pouco tempo em tela, mas é bem utilizado, e fora uma cena bem descartável, Lil Rel Howery faz um personagem fundamental que acaba por ser engraçado, nunca um dispositivo do filme apenas para passar humor. E é claro, Betty Gabriel, Marcus Henderson e Lakeith Stanfield estão maravilhosos, mas falar mais sobre eles pode antecipar parte do mistério.

"Get Out" é um filme curto e intenso, que é direto em sua crítica social e não se alonga para mostrá-la de forma bem clara. A curiosidade, o mistério, e o tom constante de sátira são coroados por um final grandioso, que acerta em todos os tons. Um filme econômico, genialmente pensado e produzido, e que ataca um dos maiores problemas da nossa sociedade hoje. Que surpresa 2017 nos proporcionou logo em seu começo. 

9.1

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