Crítica | Guardiões da Galáxia

Todos amamos azarões. Amamos torcer contra a probabilidade. Queremos ser surpreendidos. Almejamos(ou ansiamos) para que algo diferente aconteça, e que ali, diante de nossos olhos, uma nova força se concretize. E o melhor é que, se essa surpresa se consuma como algo realmente grandioso, podemos dizer que estávamos ali para vê-la crescer.

Sejamos sinceros, uma maioria esmagadora não conhecia Os Guardiões da Galáxia. O grupo foi introduzido em 1969, mas nem tantas pessoas valorizavam o grupo de heróis, afinal, tinham como ''competição''  Capitão América ou o Homem Aranha. Valorizavam. Palavra no passado e carregada de uma certeza. O conjunto de heróis incertos se tornou um dos maiores triunfos da Marvel.

A premissa não é algo tão inovador, mas quem disse que precisa ser? Um grupo de indivíduos, em busca de algo de comum interesse, acabam se juntando ou lutando entre si. Temos como exemplo a maioria dos filmes da Marvel, e também, porque não, Senhor dos Anéis. A diferença é que, quando se põe filmes desse tipo lado a lado, nunca houve uma mistura de gêneros tão intensa quanto o filme em questão. A ação é primorosa, e você se preocupa com cada um de seus personagens ao extremo em função do quão bem trabalhados são, mas a diferença é que os Guardiões são incansavelmente engraçados.

Durante 122 minutos, o diretor e co-escritor James Gunn mostra ter controle sobre tudo. Os aspectos visuais são absolutamente perfeitos, o ritmo e a edição do filme quase não possuem falhas, mas o mais importante é como ele extrai o máximo de seus atores para criar personagens tão inesquecíveis. Chris Pratt é a definição de carisma, e Peter Quill é o seu próprio retrato em um mundo fictício, entregue com uma devoção e comprometimento visíveis. Comprometimento que todo elenco fortemente possui e mostra. Zoe Saldana, dessa vez verde e não azul, como Gamora, e Bautista, como Drax, são extremamente interessantes, mas contidos na medida certa, o que desperta uma curiosidade a mais sobre a história de cada um.

Entre personagens e uma história genial, eis que temos em mãos Rocket e Groot. Mais especificamente, um guaxinim e uma árvore falantes. Arriscado? Talvez. A linha entre se tornar uma dupla épica em um filme que será lembrado por muito tempo, ou vir a ser o jar jar binks da Marvel era tênue. Mas as vezes, ao invés de procurar por hipotéticos erros apenas devemos apreciar o que estamos presenciando. O trabalho de voz de Bradley Cooper não poderia ser melhor, e Vin Diesel, como Groot, gravou ''Eu sou Groot'' em todas línguas onde o filme seria exibido. Apego e esforço com o personagem definem o trabalho de ambos aqui.Além de toda dedicação de quem fez o filme, os personagens possuem tantas camadas, transmitem tantos sentimentos, e a mistura da arrogância de Rocket com a ''inocência'' de Groot, ambos cuidando um do outro, é tão gostável e verdadeira que não há um pingo de dúvida que a dupla poderia ter um filme solo.

Entre Hooked on a feeling e Ain't No Mountain High Enough descobrimos que além de todas qualidades mencionadas acima, possivelmente temos em mãos a melhor soundtrack dos últimos anos (sim, em um filme de super heróis). Apesar de tal empolgação, não temos um longa perfeito. Há algumas cenas já vistas em filmes do gênero, e Ronan é um vilão extremamente esquecível. Mas, entre imperfeições, um grupo de heróis perdedores e gananciosos, e contra a probabilidade e expectativas, nos deram ídolos que nos fazem acreditar que podemos estar e viver na mesma galáxia. Estranho né? Bom, quase tudo aqui é.

9,4

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