Crítica | Roma

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Talvez, na concepção do cinema como forma de arte, quando filmes passaram a ser consumidos como tal, todos aqueles grandes diretores idealizavam algo como “Roma” sendo o ápice que a experiência da sétima arte poderia atingir.

Em sua cena mais agoniante, Yalitza Aparicio, interpretando a empregada doméstica Cleo, tem de adentrar ao mar para salvar duas das crianças a quem está encarregada de tomar conta. Poucos momentos antes descobrimos que ela não sabia nadar e isso fica claro na forma como a atriz mergulha cada vez mais a fundo na imensidão do oceano. Não vemos as crianças, não vemos a praia, vemos apenas ela, enquanto a câmera desfila lenta e horizontalmente em um plano feito inteiramente sem cortes.

É difícil apontar o que mais deve ser apreciado nessa cena e, também, em todo o resto do filme. Seria a proeza técnica de Cuarón, que conseguiu fazer um filme em preto e branco, em 2018, recheado de longos e complicado planos sequência - onde dezenas, talvez centenas de atores tivessem de ser intensivamente coreografados, assim como em um de seus melhores trabalhos, “Filhos da Esperança”. - ter um dos trabalhos de câmera mais pacientes e uma das cinematografias mais belas vista em anos. Ou seria a maravilhosa construção de personagem proporcionada pelo roteiro, que faz com que aquela cena final, tão enervante, fosse ainda mais sentida, pois aprendemos a nos importar com aquela personagem tão singela.

Essa pergunta tende a ficar sem resposta.

É extremamente delicado falar qualquer coisa sobre “Roma”, um filme que dá novo sentido à tão usada expressão “um retrato da vida de tal pessoa/lugar”. Eu sinto como se, após assistir-lo, minha própria infância tenha se passado um ínfimo pouco no México, afinal, a niilista e angustiante história de uma empregada sem maiores ambições na vida é uma das maiores reflexões artísticas deste Brasil que vivemos. Mas melhor que em “Que Horas Ela Volta”, aqui há motivações para empatia sobrando e excelência técnica em cada canto da tela. É uma pena que esse filme não vá passar na maioria dos cinemas.

E definitivamente não é um filme para todo mundo, são duas horas de acontecimentos quase triviais, sem uma história a ser seguida, sem um objetivo a ser alcançado. É a simples história de uma moça que não bem sabemos de onde vem, mas muito bem sabemos para onde vai e, apesar de pequenas mudanças ao seu redor, sua essência continua a mesma.

Se isso é uma coisa boa, depende inteiramente do seu ponto de vista.

9.5

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