Beyond | Vingadores: Ultimato é o Fim de Uma Era

Confesso que não cheguei a chorar assistindo à “Vingadores: Ultimato”.

Apesar de não ser uma coisa exatamente comum - ao longo de toda a minha vida talvez oito, nove filmes tenham me feito chorar de verdade -, tem se tornado mais frequente com o passar dos anos, talvez por agora entender - ou achar que entendo - e me relacionar às emoções que os personagens em questão estejam sentindo no momento.

Mas eu não chorei em “Ultimato”, mesmo tendo passado perto.

Motivos eu teria, afinal, a dedicação seminal da Marvel, dos irmãos Russo e de todo aquele elenco em proporcionar momentos exaustivamente emocionantes é digna de aplausos e lágrimas. Mas, apesar de não ter chorado, a verdade é que poucas vezes em que entrei em uma sala de cinema me senti tão agradecido por estar assistindo algo.

Super heróis nunca foram os meus favoritos quando pequeno, os personagens de anime sempre me conquistaram mais por, na maioria das vezes, terem histórias de superação mais interessantes - fato que defendo até hoje como sendo verdade - e também por estarem em alta na TV aberta e fechada no Brasil durante minha infância. Meu herói favorito sempre foi o Batman, mas os desenhos que acompanhava eram os mesmos da maioria de vocês que estão lendo: “Super-Choque” e “Liga da Justiça”, da DC e “X-Men” e variações do “Homem-Aranha”, da Marvel. Naquela época, inclusive, não existia nos círculos regulares de conversa que eu estava inserido nenhum tipo de embate entre as empresas.

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A primeira vez que ouvi falar dos “Vingadores” foi quando a equipe finalmente chegou às telonas, em 2012, após quatro anos de filmes de origem - que fui assistir anos depois porque simplesmente não me importava com nenhum daqueles heróis - e desde então aderi ao ritual de ir ao cinema assim que possível para assistir os novos capítulos dessa equipe que antes era, no mínimo, a quarta na cabeça da maioria das pessoas. Se você fizesse uma pesquisa nos anos 2000 para se descobrir qual o grupo de heróis mais reconhecidos mundo a fora, certamente os “Vingadores” ficariam atrás da Liga, dos X-Men e do Quarteto Fantástico. Hoje, tal pesquisa não seria necessária.

Então, após divagar um pouco sobre a minha experiência pessoal com o Universo Cinematográfico da Marvel (o qual chamarei pela abreviação, MCU, daqui em diante), que deveria derrubar qualquer teoria sobre um apreço de longa data por esses heróis, - se bem que a DC está tão abaixo da Marvel nos cinemas que a famigerada tendência de chamar críticos de Marvetes ou DCnautas praticamente se extinguiu - procurarei analisar os motivos técnicos que me fazem acreditar que este seja, possivelmente, um dos dois ou três melhores filmes da história do gênero e o maior evento cinematográfico do nosso tempo.


EDIT 1:

Após toda a polêmica envolvendo Martin Scorsese, gostaria de enfatizar a palavra evento no parágrafo acima e, mesmo concordando com o diretor em número e grau, não deixo de apreciar fortemente esta obra da Marvel.


Brevemente voltando ao início do texto, eu não chorei durante as três horas de “Ultimato”, mas senti emoções como poucas vezes antes ao assistir a um filme e a questão é: de onde vem essas emoções? O que faz um filme ter o poder de absorver pessoas mundo a fora, com histórias e experiências das mais variadas, e fazê-las esquecer por algumas poucas horas tudo a sua volta?

No caso do MCU, paciência, planejamento e muita, mas muita criatividade.

Quem acompanha quadrinhos sabe que cada herói tem muitas origens, muitos fins e infinitos meios sendo que as cronologias recomeçam de tempo em tempo e estórias isoladas de cada um são lançadas frequentemente. E condensar todas essas incontáveis trajetórias e uni-las de modo que pareçam todas terem sido feitas para este momento é um trabalho inexplicavelmente árduo e não seria possível sem a paciência da Marvel em esperar 11 anos para finalmente nos mostrar o que eles queriam desde o começo. “Ultimato” é um espetáculo tão rico de histórias pessoais, emoções complexas e motivações justificáveis que qualquer pessoa que não se sinta agradecida por ver os heróis de sua infância bem ali, na sua frente, não possui um coração pulsante.

Para analisar o filme da melhor forma, vamos por partes:

O primeiro ato

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Os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely estão na Marvel desde o primeiro filme do Capitão América (2011) e foram responsáveis pelo bom “Soldado Invernal” (2014), o ótimo “Guerra Civil” (2016) e o excepcional “Guerra Infinita” (2018). Eles conhecem estes personagens e, seja lá qual for seu método, conseguem fazer o que muitos colaboradores falham: dar ao seu trabalho um tom coeso sem ideias que se anulem ou contrariem.

A ideia de eliminar Thanos nos primeiros 20 minutos é genial por diversos motivos. Além de simplesmente desmontar as expectativas de todos que esperavam que o vilão fosse ser confrontado apenas no final da produção, essa decisão adiciona novas camadas de preocupação e receio quanto às previsões, dadas como certas, de que todos os que morreram em “Guerra Infinita” retornariam. Ali eles prendem sua atenção ao se utilizar do melhor elemento possível em um filme: curiosidade.

O Thanos já morreu? O que vai acontecer agora? Não era isso que….

(provavelmente a maioria de nós)

E o impacto dessa decisão tem um efeito borboleta que se alastra durante todo o longa. Após a morte de Thanos, cinco anos se passam e é possível ver como o estalar de dedos afetou a vida dos heróis, afinal, se eles apenas continuassem de onde o último filme parou e dessem um jeito de reviver todos os mortos, as perdas não teriam qualquer efeito narrativo. Mas ao ressentir e enfrentar os piores sentimentos de culpa e impotência, vemos como cada um daqueles personagens evoluiu desde a primeira vez que apareceram juntos em tela.

Tony Stark deixou seu ego solitário de lado e decidiu que sua família viria sempre em primeiro lugar; Natasha Romanoff foi de uma espiã fria e sem conexões emocionais à última centelha que ainda mantinha a chama do grupo acesa; Bruce Banner encontrou a paz interior ao aceitar seu exterior alterado; Clint Barton se entregou à uma vida de justiceiro após perder toda a família em uma cena inicial capaz de provocar calafrios só de ser lembrada; Thor se entregou à culpa por não ter impedido Thanos e abandonou seus valores e seu físico invejável; Steve Rogers, percebendo que não podia fazer nada pelos que se foram, decidiu amparar os que ficaram.

Assim como na segunda parte do último filme de Harry Potter, eu esperava que pouco tempo fosse dado ao desenvolvimento de personagens justamente por eles estarem sendo desenvolvidos por 21 filmes, mas perceba como apenas o modo como cada um lidou com suas perdas já é o suficiente para encher um roteiro de relações complexas e de te exaurir emocionalmente.

E os irmãos Russo manuseiam o tom fúnebre deste primeiro ato muito bem, equilibrando a cinematografia mais escura e pálida de Trent Opaloch (“Soldado Invernal”, “Guerra Civil”, “Guerra Infinita”) à uma ausência de movimentos e cortes rápidos de câmera, deixando com que os poucos momentos de leveza sejam trazidos pelo já clássico humor neste universo, que raramente deixa de funcionar, mesmo quando vem após cenas mais pesadas - com destaque especial à raiva de Thor direcionada ao maléfico Noobmaster69. Já a trilha sonora de Alan Silvestri - um dos nomes mais renomados da área - cresce de forma gradativa com a ação, enfatizando os sentimentos de perda e luto deste primeiro ato com composições clássicas aquém de qualquer sinal de virada eminente.

O primeiro raio de luz do filme aparece junto à Paul Rudd e seu irresistível Homem-Formiga, que, em uma cena hilária em uma mesa de café, faz comédia de si mesmo quanto à frequente e injusta ridicularização do público quanto ao personagem. Mas além de sua personalidade cômica, é ele quem traz o conceito de viagem no tempo que, novamente, inspira essenciais piadas auto-infringidas do roteiro, com Don Cheadle (War Machine) mencionando os muitos filmes que se utilizam desse elemento, como que avisando a todos nós que não devemos esperar por uma resolução exatamente lógica para a narrativa.

E é aí que entram as únicas imperfeições - que eu não chamaria de erros ou falhas - relacionadas ao filme: a Marvel espera que simplesmente aceitemos suas teorias de viagens no tempo. É explicado que, ao voltar ao passado, o futuro daquele passado não é alterado, mas sim uma nova linha temporal é criada, essa sendo uma das muitas teorias envolvendo a viagem no tempo no meio científico. Então, quando Tony Stark finalmente decide tentar, mais uma vez, reparar os danos causados em “Guerra Infinita”, somos levados ao:

Segundo Ato

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É aqui que as coisas começam a acontecer, com o filme passando por cima das dificuldades da viagem no tempo proposta por Scott Lang após uma hilária cena onde o tempo viaja nele. O grupo dos remanescentes agora tem de retornar à diferentes momentos do passado para retomar todas as Joias do Infinito e trazê-las para o presente. Somos levados, então, à uma viagem por diversos filmes anteriores que, além de providenciar à narrativa uma energia propulsora ausente no primeiro ato e necessária para que a história continuasse interessante, brinca com nossas memórias nos fazendo rever momentos nostálgicos, e traz todos eles à uma escala tão humana que relacionamos suas experiências com as nossas imediatamente.

Quantos de nós não sonham em dar um último abraço, ter uma última conversa, passar um último instante que seja com alguém querido que perdemos? É aí que este filme começa a se tornar algo a mais, pois quando Thor (voltando à Asgard, em 2013 em “Mundo Sombrio”) tem um tocante re-encontro com sua mãe, Steve revê sua amada brevemente e Stark tem a oportunidade de conversar com seu pai uma última vez (ambos em 1970), é difícil não sentir por esses personagens que já conhecemos a tanto tempo. E cada uma das sequências tem a dose certa de humor (Capitão x Capitão foi tecnicamente impecável e hilário) e positividade para que sintamos da melhor forma estas memórias.

Como uma jogada de mestre da produção, as duas duplas menos carregados de interesse do público têm os momentos mais cruciais para o avançar da história. Viúva e Gavião protagonizam a primeira grande perda, aparentemente irreversível, do filme ao disputarem quem se sacrificaria em troca da Joia da Alma. A sequência pode até ser um pouco brega e cliché, mas a ousadia dos roteiristas em não sacrificar o Gavião Arqueiro, amplamente subestimado pelo público, e dar um fim absurdamente digno à primeira grande heroína do MCU compensa e conclui o arco de ambos da melhor forma. Clint, entregue à raiva e angústia após perder a família tem sua chance de redenção, Natasha, por sua vez, se sacrifica pela única família que teve em toda a sua vida. Uma conclusão triste, mas linda e que, ainda por cima, coroa a amizade verdadeira de ambos, sendo que a Joia só poderia ser retomada caso o sobrevivente perdesse algo que ame de verdade.

Rhodey e Nebula têm um papel mais estrutural. Ao voltarem aos eventos do primeiro “Guardiões da Galáxia” (2014) e pegarem a Joia do Poder antes de Quill, Nebula é impedida de voltar por conta da conexão com ela mesmo naquele tempo o que serve como uma bem armada ponte para trazer Thanos de volta à narrativa. Percebam como a decisão de eliminar o vilão de “Guerra Infinita” logo no começo continua a ecoar aqui. Este Thanos, teoricamente de um passado ainda mais longínquo, ao descobrir que seu plano não funcionaria decide retornar ao presente (graças à Nebula do passado que tomou o lugar da Nebula do bem) e eliminar o universo por completo, o reiniciando a sua maneira.

Isso não apenas serve como a justificativa perfeita para uma segunda guerra no ato final como também o torna um vilão ainda mais perigoso e temível. Ato este, que começa logo após todos retornarem ao presente, onde Stark consegue criar uma nova manopla do infinito (convenientemente, é verdade) e o mais poderoso e estável dos remanescentes, o Hulk, estala seus dedos para desfazer as ações de Thanos. Porém, Nebula instantaneamente reativa a máquina do tempo e traz Thanos para o presente. E então, somos agraciados com uma das sequências mais satisfatórias e gratificantes da história não apenas do gênero de super-heróis, mas do cinema.

TERCEIRO ATO

Quando chegamos aqui, já estamos tão anexos e compenetrados nesta história que é como se vivenciássemos aquele campo de batalha. A magia deste filme é tão forte que simplesmente esquecemos que estamos assistindo à atores em frente à uma gigantesca tela verde e, caso você se deixe levar, pode realmente ter uma sensação diferente, como se estivesse assistindo algo que tem implicações reais no nosso mundo. E tem, mas chegaremos à elas mais adiante.

É preciso vangloriar toda a equipe por trás deste filme, pois o que eles conseguem fazer é surreal. Já havíamos visto cenas de batalha gigantescas da Marvel anteriormente, guerras estelares em “Star Wars” e um realismo fantástico nas extensas batalhas de “Senhor dos Anéis”, mas nada se compara ao que vemos aqui.

Primeiramente, uma luta perfeitamente coreografada e com efeitos visuais irrepreensíveis de Thor, Capitão e Homem de Ferro contra Thanos, mostrando todo o esplendor do poder do vilão que consegue derrotá-los mesmo sem o auxílio da manopla. Tudo bem, Thor não estava em seus melhores dias e vejam como toda a sensacional desconstrução do personagem, construída durante todo o longa, afeta suas habilidades aqui apenas para que o mesmo seja salvo pelo seu próprio martelo, mesmo que ele tenha sido atirado por outra pessoa. Ver o Capitão América utilizando o Mjolnir é uma das coisas mais gratificantes que eu já presenciei na vida. Aquele personagem, antiquado e certinho, evoluiu gradativamente até se mostrar o mais justo dos heróis.

Não que a Marvel não tenha nos antecipado esse momento, tanto em “Era de Ultron”, quando ele consegue mexer o martelo alguns centímetros (e apenas Thor percebe), ou em “Guerra Infinita”, quando ele brevemente segura Thanos quando ninguém parecia conseguir. E, é claro, a cena não é auto indulgente ou séria em excesso, com Thor berrando um genial e revelador “Eu sabia!” e, depois disso, dividindo um de seus dois martelos (que ele pegou de seu eu do passado quando voltou a Asgard (ele devolveria depois antes dele próprio dar conta)) com o Capitão, mas deixando claro que o maior era dele.

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O combate é tão bem feito que até esquecemos, por um breve momento, que todos os que haviam desaparecido em “Guerra Infinita” tinham voltado a vida e ficamos extremamente preocupados pelo fato de os três não serem o suficiente para combater Thanos e seu exército gigantesco. Mas então, num passe de mágica, somos apresentados ao ápice de todo o universo que a Marvel pacientemente construiu durante estes onze anos. Aos gritos de guerra arrepiantes dos guerreiros de Wakanda, portais criados pelo Doutor Estranho se abrem revelando todos os heróis que um dia apareceram em um filme do MCU, em uma cena que deve ser emoldurada e pendurada nos quartos de fãs por décadas a seguir. A trilha sonora clássica do grupo toca mais uma vez, preenchendo todo aquele ambiente com uma esperança muito ausente durante todo o filme e quando parece que não poderíamos chegar mais alto, os irmãos Russo dão a cada um dos heróis um momento para brilhar mais uma vez.

Os exércitos se chocam e o festival de poderes e habilidades enche nossos olhos e nos lembra da rica imaginação que tínhamos quando criança. Paralela à batalha, a manopla do infinito é levada de mão em mão para impedir Thanos de alcançá-la, e em mais uma grande sacada do roteiro, podemos ver toda a ira da Feiticeira Escarlate contra o vilão que, temendo a derrota, determina que sua nave bombardeie todo o campo de batalha. E quando parecia que a gangorra estava virando de lado, a Capitã Marvel de Brie Larson chega demonstrando seu tamanho poder e toma a manopla para si e, ao ser questionada pelo jovem Homem-Aranha se conseguiria passar por Thanos e todo o exército dele, protagoniza ao lado de todas as heroínas do MCU uma das cenas mais polêmicas de todo o filme.

Sim, é conveniente e uma casualidade praticamente impossível que todas as heroínas estivessem juntas, ao mesmo tempo, no campo de batalha, mas estamos assistindo à um filme com magos, Deuses, titãs, super-humanos, monstros e alienígenas, que quebraram todas as regras de viagem no tempo e viagem interestelar conhecidas. Questionar essa conveniência em específico do roteiro é, ou machismo da parte de muitos “fãs”, revoltados com as ações inclusivas da Marvel em seus últimos filmes, ou um argumento muito mais válido, de que a cena é apenas forçada para vender o filme para o público feminino.

Ao meu ver, toda a sequência de combate é como um presente para os fãs, os brindando com momentos icônicos e de tirar o fôlego que nem sempre seriam as resoluções mais lógicas. E essa cena, em específico, que me fez arrepiar e a mulher ao meu lado se entregar às lágrimas, soa mais como uma mensagem para as milhões de crianças que verão este filme que não precisam crescer com a ideia de que super-heróis são coisas de menino. A Marvel pode ter demorado para dar protagonismo à suas heroínas, mas uma cena como essa foi feita justamente para mostrar o quanto este universo evoluiu. E, apesar de a Viúva Negra estar ausente e isso ter levantado sobrancelhas por conta de ela ser a primeira heroína do grupo, é importante lembrar que a simples chance de lutar pela própria vida só foi possível por causa dela.

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Mas este filme, e toda essa saga que ficou conhecida como A Saga do Infinito, só poderia terminar nas mãos do herói que a começou. Quando Thanos consegue colocar suas mãos na manopla, Stark consegue roubá-las ao utilizar uma outra, que havia criado em segredo. E então, toda aquela destruição e caos terminam em um estalar de dedos, antecipados pela frase que finalizou o primeiro filme de todo este universo:

“Eu sou o Homem-de-Ferro”

Por mais triste que seja ver Tony Stark, sempre com uma resposta na ponta da língua, partir sem conseguir se despedir propriamente, as palavras de Pepper são a adaga que faltam para que qualquer coração de ferro se abra à este momento. O herói que tornou tudo isso possível finalmente pode descansar. Em seu enterro, vemos cada um de seus companheiros, em uma cena em plano sequência que serve como - mais - uma viagem ao tempo por todos os filmes, incluindo até mesmo o jovem de “Homem de Ferro 3” e que demonstra toda a imersão daquele maravilhoso elenco nessa história. Sentimos o que eles sentem, não tem jeito.

Então, quase que como em um epílogo, vemos Thor se juntar aos Guardiões, que partirão em busca da Gamora - a que veio junto de Thanos ao presente e decidiu se rebelar contra ele durante a guerra (protagonizando um momento maravilhoso com Quill) -, mas não antes de coroar Valquíria como rainha da Nova Asgard (agora situada na Terra), mais um tapa na cara do hierarquismo machista. Clint se aposenta e volta à sua família, mas o que acontece com o Hulk ainda fica em aberto, além de que é preciso apontar o fato de que Natasha, tão essencial para a realização de todo o plano, deveria ter um momento a mais no final do filme, mesmo que sua morte tenha sido sentida por seus companheiros - Banner, inclusive, admite que tentou trazê-la de volta ao utilizar a manopla. Ela ainda vai ganhar seu filme solo, então é possível esperar por novas resoluções quanto à sua futura participação no MCU.

Peter Parker volta à escola, T’Challa à Wakanda, Doutor Estranho à seu templo e Carol Denvers à seus deveres espaciais e percebemos que estamos em boas mãos, mesmo que a própria Marvel saiba que nada poderá se equiparar a este filme tão cedo. Se é que um dia isso será possível.

Mas esse filme é o último dos dois principais personagens de todo esse universo. Enquanto Stark teve o fim mais digno possível para seu longo arco de auto realização, Steve, ao retornar ao passado para entregar todas as joias decide viver a vida que lhe fora tirada. Vê-lo lá, velhinho, causou confusões nas cabeças dos fãs mais atentos, pois seguindo as regras criadas pelo filme para a viagem no tempo, no momento em que decidiu ficar no passado uma nova linha temporal fora criada. Os irmãos Russo explicaram isso em uma entrevista, dizendo que ele, na verdade, havia feito um novo salto temporal para estar presente naquele momento e por mais que isso possa parecer como uma trapaça no roteiro, finalizar um filme tão grandioso com a bela imagem de um homem retornando aos braços da mulher que ama é mais uma prova de que por trás de todas as máscaras, uniformes e poderes, estes heróis são como nós e buscam a mesma coisa.

É isso que faz deste e de todos os outros filmes deste universo ainda em expansão algo tão especial. Ao assistir estes heróis assistimos à nós mesmos, assistimos aos sonhos que tínhamos quando crianças e que fomos esquecendo pouco a pouco e, como falei antes, este é um filme que terá um impacto inimaginável na nossa cultura e no modo com que encaramos o mundo. “Vingadores: Ultimato”, mais do que um espetáculo e o maior filme de nosso tempo, é um recado, de que, às vezes, voltar ao passado é um meio de melhorar o nosso futuro. De que, às vezes, acreditar no impossível é o primeiro passo para fazê-lo possível.

De que, às vezes, é melhor vermos o mundo com olhos de criança.

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