Crítica | Capitão Fantástico

É uma tarefa fácil e difícil falar sobre um filme quando ele se torna tão pessoal para você.

De um lado, foi criado algum tipo de intimidade com ele, tornando-se fácil, pois você acha que o entende melhor, conhece seus detalhes, e admira seus defeitos. Difícil porque ele realmente significa algo. Por que influencia diretamente sua vida, qualquer que seja a maneira. Porque você queria que esse filme fosse só seu mas ao mesmo tempo, tenta, de alguma maneira, explicar a dimensão de sua importância. É o velho papo do apego a alguma obra antes de ela entrar no mainstream.

Bom, Capitão Fantástico não é um filme só meu, e nem deveria ser. É uma história para todo ser humano.

Todos os questionamentos sobre as coisas mais significantes da vida humana, como a importância do desenvolvimento mental, verbal, físico, social/emocional, e se elas precisam entrar em conflito uma com a outra, além da indagação sobre o que significa estar preparado para o mundo a sua volta e o preconceito sobre qualquer método divergente de como devemos viver a vida são duas das diversas pautas postas a mesa por um filme que respeita seu público a ponto de não empurrar nada de forma deliberada. Tudo aqui tem dois lados para uma história e é desenvolvido com o maior cuidado possível.

O diretor e escritor do filme, Matt Ross, acertou em basicamente tudo aqui. Criou personagens sensacionais e tridimensionais, tirando o melhor de cada ator e também optou por proporcionar o benefício da dúvida para todo e qualquer personagem que toma alguma decisão impulsivas. A primeira vista é admirável, impressionante e revigorante como as coisas são levadas por Viggo Mortensen e seus filhos, mas ao decorrer de cada situação vivenciada fora de sua zona de conforto, é inevitável pensar que talvez tudo o que as crianças são submetidas seja errado, pelo menos fora do paraíso quimérico criado por eles. Aliás, o trabalho de escrita é tão excepcional que essa dubiedade tem completa ligação com a personalidade de cada um dos filhos. Cada situação gera um tipo de pensamento diferente, criando uma linha extremamente frágil que paira sobre Ben (Vigo): Será que ele é mesmo a melhor coisa para seus filhos?

Todo pai possui aquele instinto de proteção em relação ao seus filhos. É inexorável. Eles já viveram, já se arriscaram, sofreram, choraram e por isso querem evitar que o mesmo aconteça com a gente. Querem que estejamos preparados pra levar pancadas mas fariam qualquer tipo de sacrifício para evitar que levássemos. Mais que uma crítica à nossa sociedade, mais que um filme sobre amor, esse é um filme sobre criação. Sobre deixar a vida ser como ela deve ser. 

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Esteticamente estonteante a cinematografia é algo de outro mundo. Ela por si só, no silêncio de suas paisagens, passa a tranquilidade necessária para que aquele ambiente grandioso se torne um aconchegante ambiente familiar. Alguns enquadramentos durante treinamentos e viagens são provavelmente os mais bonitos do ano, unindo-se a música do filme que não é nada menos do que ótima.

A realidade é que precisamos de Capitão Fantástico. Precisamos de filmes originais, de filmes humanos. Precisamos de atuações como as de Viggo Mortensen, que merece a indicação ao Oscar, e de seus atores mirins. Precisamos de filmes tão únicos quanto os nome dos filhos de Ben (Bo, Kielyr, Vespyr, Rellian, Zaja, Nai), para que não haja outro igual no mundo. Talvez o único erro do filme, por assim dizer, foi não ter acabado junto com o fim em uma das melhores cenas do cinema dos últimos anos.

''Now and then when I see her face, she takes me away to that special place, And if I'd stare too long, I'd probably break down and cry''

 

9,7

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