Oscar 2017 | Melhores e Piores Momentos
Eram duas da manhã aqui no Brasil e os produtores de 'La La Land' discursavam sobre sua vitória na categoria de Melhor Filme. Kimmel parecia feliz que tinha finalizado sua apresentação sem nenhum grande erro (fora não pegar o microfone que Timberlake jogou, é claro), Ryan Gosling e Emma Stone esbanjavam seu charme com sorrisos de orelha a orelha, e eu me preparava para ir dormir. No meio de tudo, a simples frase "Nós não vencemos, a propósito" e então, os momentos mais conturbados da história da premiação tomaram conta. Ao final, 'Moonlight' era o verdadeiro vencedor, Kimmel lembrou de Steve Harvey, Gosling e Stone não perderam nada do charme e do sorriso, mas eu perdi boa parte do sono.
Ontem a noite (domingo, 26), ocorreu a 89ª cerimônia de entrega do Oscar, que com uma das maiores gafes da história, "tirou" a estatueta de Melhor Filme de 'La La Land', de Damien Chazelle, e entregou a 'Moonlight', de Barry Jenkins. Justo, gratificante, mas triste ao mesmo tempo. Abaixo, o que rolou de melhor e pior na noite de gala do cinema.
Jimmy Kimmel
Apesar de não estar tão preparado quanto Ellen, ou ter piadas tão inteligentes quanto Chris Rock, Kimmel foi um ponto positivo em diversos momentos. Conte aí todos envolvendo Matt Damon, principalmente a sequência de 'Compramos um Zoológico' e ele regendo a orquestra para tirá-lo do palco quando estava apresentando, mais o monólogo inicial com aplausos para a superestimada Meryl Streep e piadas envolvendo Trump, além do excelente segmento de Mean Tweets. Tudo bem que os doces não foram nada demais, e Gary de Chicago e sua esposa salvaram o segmento dos turistas, e também que a referência de 'Rei Leão' não foi lá tão bem feita, mas no geral, Kimmel mais somou do que subtraiu.
And the Oscar Goes To...
Agora que tudo foi esclarecido, nossos queridos Bonnie e Clyde podem ficar isentos de culpa, mas com certeza alguém foi demitido por um erro tão grotesco. Tudo bem que isso vai render mais comentários do que qualquer prêmio ou discurso durante os anos, mas esse tipo de desorganização não encaixa com uma cerimônia que ano após ano é exemplo de organização.
Esquadrão Suicida e Animais Fantásticos e Onde Habitam, sério?
Nenhum 'Harry Potter' jamais ganhou um Oscar. Nem por efeitos, nem por design de produção, figurino, maquiagem, nada. E então, um spin-off, que não é melhor que o pior filme da saga é o escolhido para seu primeiro Oscar? 'Animais Fantásticos' é certamente bem feito, mas tanto o significado como a utilização dos figurinos de 'La La Land' superam em muito a "continuação" da criação de um mundo que já fora melhor mostrado antes.
E 'Esquadrão Suicida', sério? A Marvel se esforça ano após ano para manter seu universo apenas com filmes bons, tecnicamente impecáveis e que preferências de lado, não merece ser rebaixado ao nível da DC e seus últimos três filmes, e mesmo assim é esnobada em todas as categorias técnicas, enquanto maquiagens que foram recriadas incessantemente por pessoas comuns, e um Crocodilo que mais parece CGI do que maquiagem recebem uma estatueta? Por menor que seja, filmes assim tão ruins deveriam ser proibidos de adentrar a cerimônia.
Oscars So Right
Talvez a foto mais impactante de toda a cerimônia seja a dos quatro vencedores das categorias de atuação. Emma Stone desbancou uma categoria onde já estava garantida como vencedora, e apenas Amy Adams, absurdamente esnobada por seus dois excelentes filmes (A Chegada e Animais Noturnos), teria qualquer chance. Casey Affleck, deixando de lado os casos de assédio aos quais foi denunciado, teve uma performance espetacular em Manchester à Beira Mar e dedicou sua justa vitória à um emocionado Denzel Washington, que torcemos para que não seja sua última vez concorrendo à qualquer prêmio.
Como coadjuvantes, a maravilhosa Viola Davis está a um Grammy de entrar para o seleto grupo de vencedores do EGOT (Emmy, Grammy, Oscar e Tony) e deu um discurso digno de toda a força que ela representa. Mahershala Ali venceu em uma das melhores categorias, que contava com o experiente Jeff Bridges e um talentosíssimo Michael Shannon, e apesar das exageradas piadas com o seu nome, foi só sorrisos a noite toda. Que esse ano não se torne exceção, e possamos continuar a ter fotos como essa.
(Des)Organização
Viggo Mortensen (Aragorn), estava lá, mas não era um filme do 'Senhor dos Anéis', então quase quatro horas é muito, muito tempo. Muitas propagandas, paradas, e uma leve desorganização e quantidade exagerada de esquetes e homenagens perdidas durante toda a premiação prolongaram demais uma cerimônia que tenta ano após ano recuperar a sua audiência.
Abrir com Justin Timberlake não foi uma má ideia, mas seu charme e presença de palco poderiam ser melhores usados ao longo da cerimônia, para descontrair os próprios atores, que já pareciam cansados. Além dele, a maestria de John Legend e Sting e a excelente voz da jovem Auli'i Cravalho tiraram o melhor das candidatas a melhor canção, mas talvez um pouco mais de destaque para as performances seja algo a se pensar para chamar a audiência mais jovem.
O fato é que faltou distribuição entre os muitos acontecimentos, a prometida homenagem a Jackie Chan foi muito menos do que sua popularidade sugere. Destaque, como sempre, à delicadeza da Academia com o sempre tocante memorando, e a sábia decisão de deixar a eterna Princesa Leia falar o que todos pensamos quando soubemos da notícia de sua morte.
Moonlight leva Melhor Filme
Infelizmente, a forma como aconteceu vai ser sempre mais lembrada do que o fato de que o filme correto foi premiado. 'Moonlight' é uma obra prima dentro do que se propõe. Barry Jenkins faz da triste e comovente história, baseada nas próprias histórias do autor da peça que inspirou o filme, um profundo estudo sobre o nosso lugar no mundo, que nunca deixa de ser melancolicamente lindo. Ao contrário do superestimado 'Estrelas Além do Tempo', que é apenas um retrato do racismo e pouco convence como filme baseado em uma história real que é, 'Moonlight' (assim como o também excelente 'Um Limite Entre Nós') consegue contextualizar os diversos obstáculos da vida negra na América enquanto se preocupa exclusivamente em contar sua história. Tudo bem que La La Land tem um valor de entretenimento e repetição infinitamente maior, que por sua vez também é um filme excepcional, com pouquíssimas falhas e que não seria um mal vencedor do prêmio. Mas quando colocados lado a lado, o impacto e ambição de 'Moonlight' falam mais alto.
Sua concepção (um filme de menos de 2 milhões de dólares) já foi uma vitória para o cinema em 2016. Após o fiasco do ano passado, das eleições norte americanas, e de todo o crescente preconceito no mundo, 'Moonlight' é uma vitória cultural e social.