Crítica | Zootopia

Vamos supor que você marca um encontro e tem poucas informações sobre tal pessoal. Ao chegar lá, gradativamente o indivíduo vai te mostrando que é muito mais maduro, complexo e expressivo do que você esperava, e num piscar de olhos você está apaixonado. Esse foi exatamente o meu encontro com Zootopia.

Judy Hopps é uma coelhinha honesta, inteligente e ingênua até certo ponto, que sonha em trabalhar como policial, e embora fosse basicamente impossível, pois nenhum outro coelho havia alcançado tal cargo, ela atinge seu objetivo (Você pode ser quem você quiser em Zootopia). Ao pegar seu primeiro caso investigativo ela junta forças com Nick Wilde, a raposa que ganha a vida trapaceando e mentindo.

É necessário, antes de falar sobre o filme, antecipar que temos aqui dois dos personagens mais incríveis da história dos filmes de animação. Muitas vezes me deixo levar pelo momento na hora de escrever, mas na tentativa de ser o mais imparcial possível, havia tempo que dois personagens não despertavam tanto interesse assim. O contraste gritante porém tênue entre os dois envolve e conquista com facilidade quem quer que seja, com uma química tão simples, bela e eficiente.

Como já dito antes, Zootopia surpreendeu por ser muito mais complexo do que se esperava. O filme espanta (e encanta) por todas suas camadas e tudo que tem a dizer. Estigmas sociais, preconceito, barreiras impostas pela sociedade, entre outras coisas.

É na delicadeza em inserir assuntos extremamente delicados e frágeis - dificilmente trazidos de forma direta por adultos para crianças, pois afinal, até certo ponto, a ingenuidade delas impede qualquer formatação de preconceito nítido - explicitamente em seus sub-textos, que Zootopia triunfa como uma obra extremamente relevante nos dias de hoje para absolutamente todas as idades e para uma sociedade fragmentada e discriminativa, ainda que se negue em admitir.

Deixando a mensagem social que Zootopia se propõe a entregar de lado por um instante, a história é genuinamente engraçada e seu valor de entretenimento é excepcional. Há momentos onde gargalhadas são inevitáveis, mas dosadas e oferecidas nos instantes certos, pois além de tudo, o filme possui um ótimo mistério e sim, preza muito por contar e desenvolver sua narrativa. Ao final de tudo, o valor de retorno do filme se faz tanto pela mensagem que quer passar quanto pelo seu ótimo trabalho de escrita.

De fato animações tem um poder extremamente subestimado. O poder de influência sobre qualquer ser humano é algo inexorável do gênero. Animações tem essa força pulsante de mexer com os sentidos mais indefesos de um adulto e direcionar certos valores para crianças, apenas de, as vezes, optar por não fazê-lo. Quando isso acontece, basta acreditarmos no poder dessas boas histórias assim como sua personagem principal e nos entregarmos, pois sim, temos muito a aprender com elas.

Tentar mudar o mundo uma cenoura de cada vez.

 

9,5

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