Crítica | Ela

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Quantas vezes você já se notou inserido em um grupo de amigos ou familiares em que todos estão ali, mas não estão. Até que ponto, nos dias de hoje, as relações que criamos passam a ser meramente virtuais e deixam de ser verdadeiras? Quais as barreiras do amor, e o que ele significa em sua essência?

O impacto de ''Her'' é instantâneo. A originalidade e não convencionalidade do filme, somadas à insana e futurística, porém não tão distante, história de amor, é inevitavelmente chamativa.

Spike Jonze é conhecido por filmes não muito convencionais mas sempre ótimos, como ''Onde Vivem os Monstros'', ''Synecdoche, New York'' e ''Quero Ser John Malkovich''. Em ''Ela'' não foi diferente. Temos a história de Theodore, um escritor de cartões românticos recém divorciado da mulher que achava ser o amor de sua vida e que decidiu viver isolado da sociedade. Solitário, ele decide instalar um sistema de computador que aprende sobre o usuário baseado em respostas e em comportamento. Ou seja, um sistema que busca te entender. Temos um homem apaixonado e feliz outra vez, só que pela voz de uma máquina .

A excelência do filme tem muito a ver com a qualidade de seu roteiro. Tudo é muito real e palpável. A certa altura do filme é irremediável não pensar sobre como todo aquele ''mundo'' é mais verdadeiro do que o filme implica. Além desse fato, é algo realmente lindo o quão investido quem o assiste tende a ficar com o maravilhoso universo particular de Jonze e com seus personagens. O trabalho de Joaquin Phoenix, com a parceria da voz de Johansson, nos dão tudo que era preciso para qualquer um acreditar que havia amor verdadeiro, e dos mais puros, naquele relacionamento teoricamente impossível. A mudança emocional mais vulnerável possível que ocorre em um ser humano por alguém que teoricamente nem existe é difícil de pensar sobre, mas sob a beleza de "Her" abraçamos a solidão e o amor incansável de Theodore.

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A cinematografia é linda, e a forma com que mostram Los Angeles, com sua suavidade e intimidade, é impressionante. O contraste entre as cores (com as quais Jonze brinca de usar, muitas vezes enchendo enquadramentos com apenas cores primárias) e a vivacidade da cidade com o desamparo emocional de Theodore é uma constante luta para nós, que não sabemos se queremos ampará-lo ou nos abrigarmos em seus sentimentos. 

Outro destaque é a trilha sonora do filme. A todo instante agregando peso emocional e jamais desviando o foco das emoções de Theodore, mas sim intensificando-as, a ''soundtrack'' composta pela incrível banda canadense Arcade Fire é memorável.

Uma das coisas que mais devem ser valorizadas é quando um filme o transporta para um mundo e atesta o quão real ele pode ser pra você. ''Her'' nos fez acreditar e se preocupar com cada um dos personagens, e fez muitos de nós nos apaixonarmos por uma voz. Com uma atuação sensacional de Phoenix, o filme é relevante, engraçado, tocante, e enquanto se camufla de um ótimo romance, vai enchendo o espectador de questionamentos extremamente importantes a medida que vai preenchendo seus corações. Por favor, mais filmes como ''Ela''.

9,3

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