Os 10 Melhores Filmes de 2021
2021 ficará para sempre marcado como o ano da volta do Cinema.
Muitos filmes e festivais que foram adiados em 2020 ocorreram esse ano, o que deixou tudo com um gosto meio amargo, com a sensação de que vimos mais filmes de 2020 do que de 2021.
Desde o repetitivo Velozes e Furiosos 9, primeiro sucesso da reabertura dos cinemas passando pelo surpreendente Sem Tempo para Morrer e culminando em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, os blockbusters voltaram. Na outra ponta, os filmes menos comerciais tiveram dificuldade de circular nas salas de cinema e saírem dos festivais e dos seus nichos, Titane, Annette e Drive My Car parecem ser os que melhor encontraram trajetórias e pouco a pouco vão se consolidando no hall de películas que marcaram 2021. Mas o ano foi, mais uma vez, dos streamings, 6 dos 10 filmes da nossa lista foram lançados diretamente em serviços por assinatura passando apenas por exibições limitadas no cinema e se tratam de alguns grandes orçamentos e estúdios importantes abrindo mão das salas, como foi o caso da Disney/Pixar com seu Luca, ainda muito cedo para cravar mas parece que a Netflix está mais uma vez próxima de ganhar o almejado Oscar de Melhor Filme com Ataque dos Cães.
Infelizmente, pela natureza desse ano e pela demora que alguns filmes tem para chegar no Brasil, nós não conseguimos assistir nesse ano alguns dos filmes que temos muita expectativa como Licorice Pizza, Drive My Car, Red Rocket, Benedetta e Spencer, então essa lista, como sempre, é a melhor lista que foi possível fazer com o que foi possível ver.
Também é importante notar que as três listas são extremamente diferentes, e a ordem final foi decidida depois de uma rodada de trocação franca entre os membros que talvez - com certeza - faz menos sentido que as listas individuais. Ainda assim, são diversas recomendações e todas valorosas!
Primeiro, confiram as nossas listas individuais e a oficial do site vem logo após:
Marco:
1 | Bo Burnham: Inside
2 | Cenas de um Casamento
3 | Annette
4 | La Mano de Dios
5 | Luca
6 | Maligno
7 | Ataque dos Cães
8 | A Escavação
9 | The Making of Rocky VS. Drago
10 | 7 Prisioneiros
João:
1 | Judas e o Messias Negro
2 | Em um Bairro de Nova York
3 | Shiva Baby
4 | 7 Prisioneiros
5 | Luca
6 | Summer of Soul (…ou, quando a revolução não pôde ser televisionada)
7 | Bo Burnham: Inside
8 | O Último Duelo
9 | Cry Macho
10 | Amor, Sublime Amor
VICTOR:
1 | Roda do Destino
2 | Titane
3 | Tempo
4 | Ataque dos Cães
5 | The Card Counter
6 | Noite Passada em Soho
7 | Deserto Particular
8 | Pig
9 | Duna
10 | Judas e o Messias Negro
10
Em um Bairro de Nova York
Em 2021 tivemos um grande número de musicais e numa qualidade a cima da média dos anos anteriores, a excelente adaptação de Spielberg para o clássico “Amor, Sublime Amor” e o colorido “Encanto” da Disney são dois destaques. Mas para mim é essa adaptação da primeira peça de Lin-Manuel Miranda que foi o melhor de todos. Contando a história do sonhador Usnavi, jovem dominicano morando em um bairro latino de Nova York, o diretor John M. Chu soube interpretar e traduzir a linguagem dos palcos para o cinema, contando com centenas de bailarinos para grandes cenas e abusando de efeitos especiais e de câmera que expandem a experiência do público.
Na primeira cena o protagonista que atua ocasionalmente como narrador nos fala “essa é a história de um bairro onde as ruas são feitas de música” e do início ao fim vemos personagens diversos lidando com as dificuldades do mundo real como a gentrificação, o racismo, a falta de documentação e as dificuldades que os imigrantes vivem nos Estados Unidos musicados por temas completamente energéticos de Miranda e performances de canto, dança e atuação excelentes de seus atores.
*Texto de João
9
Luca
Mais um ano com a Pixar figurando na nossa lista e não é por nenhum tipo de preferência pessoal pelo estúdio, apesar de termos laços com seus filmes do começo dos anos 2000, a verdade é que nos últimos 5 anos a Pixar reencontrou sua antiga forma vindo com filmes cada vez mais originais e sensíveis. É o caso de “Luca”, primeiro longa de Enrico Casarosa, porém o diretor vem participando da equipe criativa de todos filmes da Pixar desde “Coco”, que fala a partir de uma perspectiva pessoal do diretor sobre infância, afeto e amizade entre dois meninos-peixe Luca e Alberto. Com uma jornada de escala bem simples, os dois ficam amigos de uma menina humana e o trio passa a treinar para ganhar o triatlo da pequena cidade italiana que vivem que consistem em nadar, andar de bicicleta e comer massa. Como um bom filme, o importante está no que os personagens passam durante sua jornada.
Os três personagens precisam lidar com os primeiros relacionamentos fora do âmbito familiar e as dificuldades desse tipo de relação, além disso, Luca e Alberto precisam lidar com o fato de necessitarem esconder sua verdadeira identidade de todo mundo tendo só um ao outro para contar a todo momento. Com animação arrebatedora, mais uma vez, uma bela trilha sonora e um arco emcoionante para seus protagonistas “Luca” corresponde ao alto padrão estabelecido pela Pixar para seus filmes.
*Texto de João
8
Summer of Soul (…ou, quando a revolução não pôde ser televisionada)
Dentro de um leque grande de documentários sobre música lançados em 2021 que inclui o impressionante “Beatles: Get Back” e o excelente “Billie Eilish: the World’s a Little Blurry”, “Summer of Soul” é de longe o que mais chama atenção. Dirigido pelo notório produtor e músico norteamericano Questlove esse documentário não só conta uma história sobre o Festival Cultural do Harlem realizado no verão de 1969 no coração da comunidade negra de Nova Iorque, mas conta pela primeira vez porque mesmo todas performances dos dias de festival terem sido filmadas até 2021 jamais haviam sido publicadas. O próprio título do filme é um trocadilho com o Woodstock, festival que ocorreu no mesmo período e que conclamou o verão de 69 como o “Summer of Love”, aqui vemos o verão do Soul com apresentações dos mais notórios nomes da música negra norteamericana como Nina Simone, Stevie Wonder, B.B. King, Sly and the Family Stone e muitos e muitos outros, todas filmadas e incorporadas na narrativa construída por Questlove na sua estreia como diretor.
A estratégia utilizada para isso são entrevistas atuais com pessoas que estavam lá como plateia e como público, com o ingrediente a mais de propiciar que essas pessoas possam acionar sua memória vendo imagens que nem sabiam que existiam, esse contato cria momentos de arrepiar no filme. Além disso, “Summer of Soul” é capaz de posicionar politicamente o festival no contexto da Luta por Direitos Civis nos EUA o que cria ainda mais uma camada de momentum para ele. Se nada disso servir o espectador, a trilha sonora espetacular com algumas performances reproduzidas praticamente na íntegra deve ser suficiente para animar qualquer um, nenhum filme de 2021 é capaz de fazer o que “Summer of Soul” faz em muitas frentes diferentes.
*Texto de João
7
Roda do Destino
“Roda do Destino”, do diretor japonês Ryusuke Hamaguchi, é um filme que explora de maneira muito diversa e rica as emoções humanas. O filme é antológico, e utiliza isso a seu favor, dividindo-se em três segmentos que exploram uma abundância de sentimentos e reações inerentes à natureza humana. Desejo, arrependimento, escolhas, sensualidade e indiferença são temas frequentes, abordados em todos os segmentos, seja de maneira direta ou indireta. Assim como na realidade, o filme explora diversos encontros e ocasiões que, para o melhor ou para o pior, poderão mudar os rumos das vidas de personagens claramente distintas, mas similares em um aspecto: todos procuram, ao fim e ao cabo, encontrar a felicidade.
*Texto de Victor
6
Titane
“Titane” é o segundo longa da diretora francesa Julia Ducournau (sendo o primeiro o implacável Raw). Nele, mais uma vez, a autora explora as maladias da sociedade capitalista e seu impacto naqueles que não conseguem ou não almejam se inserir em seus meios sociais, só que, dessa vez, de maneira muito mais transgressista do que em seu debut. Descrever esse filme é algo que jamais fará jus à experiência de simplesmente assistir-lhe, então, o que importa saber, é que se trata de uma jornada de autodescobrimento com altíssimo teor psicológico, toques de terror, momentos de comédia negra, subtexto LGBTQ e uma inesperada solução encontrada no realismo mágico. É um filme que tem o condão de se tornar um clássico, porque, apesar de certa especificidade temática, fala por uma geração de forma abrasiva ímpar.
*Texto de Victor
5
7 Prisioneiros
Uma rara surpresa na combinação Netflix + filme Brasileiro, 7 Prisioneiros consegue ser ao mesmo tempo específico e abrangente, criando quase um filme de câmara mas que tem seu potencial dramático se estendendo por todo o Brasil.
O filme de Alexandre Moratto é tão característico que julgo que seja mais um dos erros em sequencia na complicada relação Brasil-Oscar, atraindo atenção internacional e contando com uma boa performance de Rodrigo Santoro que poderia ter convencido alguns votantes que lembrassem dele ao re-assistir Simplesmente Amor.
A melhor notícia, no entanto, é como o filme se tornou um sucesso absoluto mesmo com seu tema complexo, e jamais o usando apenas como vitrine para se vender. É um filme que não trai a crítica que cria, se mantendo firme em seu posicionamento até a última cena.
*Texto de Marco
4
Cenas de um Casamento
Remakes, quando bem feitos, são uma das melhores coisas do Cinema.
Não há história que já não tenha sido contada, mas também não há história que já não esteja datada. Ao atualizar a obra prima de Ingmar Bergman, Hagai Levi não apenas inverte os papéis do casamento criando um filme progressista em essência, mas consegue pintar todas as cores que compõem o que chamamos de amor, algo muito mais abrangente do que gostamos de fingir que é.
O mais legal é como Levi faz isso se dando liberdade de mudar completamente a abordagem em relação à Bergman, apostando em um realismo na encenação, e uma estilização visual que consegue ao mesmo tempo manipular certos elementos, e derrubar as barreiras entre realidade e ficção.
Chastain e Isaac estão nos respectivos auges de suas recheadas carreiras, e apesar de não ser um “filme”, é difícil não assistir tudo de uma vez como se fosse.
*Texto de Marco
3
Judas e o Messias Negro
Por conta da janela expandida do Oscar 2020, esse é um filme que foi lançado para a última temporada de premiações e só foi acessível ao público em abril de 2021, então talvez soe um pouco cansado a essa altura do ano, mas o impacto que a história de Fred Hampton dramatizada possui merece ser destacado. Com brilhante atuação de Daniel Kaluuya e Lakeith Stanfield, o filme conta a história da operação do FBI que assassinou o famoso líder do Partido dos Panteras Negras de Chicago. No processo, “Judas e o Messias Negro” aborda o funcionamento da organização militante no dia a dia, as histórias dos seus membros e conta como o ladrão de carros Bill O’Neal (Stanfield) se infiltrou e chegou perto de Hampton colaborando com a polícia.
A esfera realista construída pelo diretor Shaka King ajuda a dar o realismo e a tensão da trama, claro que desde o primeiro minuto de filme sabemos o trágico final de Hampton o que não diminui a intensidade de sua história, com a eletrizante performance de Kaluuya dando discursos e liderando os Panteras Negras de maneira brilhante. “Judas e o Messias Negro” se faz indispensável ao contar de maneira nítida e brilhante uma história fundamental na luta por direitos civis e se torna um dos grandes filmes de 2021.
*Texto de João
2
Bo Burnham: Inside
Creio fortemente que em uns bons anos vamos olhar pra trás e ver que Inside é uma das maiores obras da década.
Esticando os limites do que é Cinema nesse mundo multi-midiático, o especial/show/filme de Bo Burnham compreende espírito e forma de uma juventude que chega ao fim com um mundo conectado como nunca, mas isolado como sempre, ciente das próprias falhas e do abismo para o qual caminhamos, mas também aproveitando a jornada rindo de todos os memes possíveis sobre o apocalipse antes deste acontecer.
Esqueçam Não Olhe Pra Cima, se há um filme que retrata o que é o mundo em 2021, é Inside. Todos cansamos de ficar em casa, mas quando sair se torna um filme de terror, o que podemos fazer?
*Texto de Marco
1
Ataque dos Cães
O mais legal de Ataque dos Cães é a quantidade de machões que devem ter assistido esperando uma lembrança de Ford ou Hawks, mas o que viram foi uma versão mais sugestiva e sutil de Brokeback Mountain.
Jane Campion é uma diretora que usa de especificidades para comunicar seus temas, e é incrível porque mesmo expandindo os horizontes e abrindo a câmera, tudo o que vemos é o isolamento que todos os personagens vivem, simbolizando também um filme sobre perspectivas - o cachorro na montanha sendo, obviamente, a “materialização” desse tema.
Outra obra no mínimo curiosa da Netflix a fazer “sucesso” em 2021, Ataque dos Cães tem jeito de que vai levar pra casa diversos prêmios e, gostando ou não do filme, só por propor uma desconstrução de um tipo tão famoso do Cinema norte-americano enquanto dialoga com passado e presente já se mostra valoroso que o favorito comum do Oscar.
*Texto de Marco
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