Os 10 Melhores Álbuns de 2017
Seguindo nossos especiais de final de década, chegamos a 2017, um ano recheado de lançamentos marcantes que tem se mostrado cada vez mais relevantes com o passar do tempo.
Estas são as escolhas do outrahora.com para os melhores álbuns de 2017:
10 | Paramore - After Laughter
Desde o álbum auto-intitulado de 2013, é notável o amadurecimento do Paramore, tanto como banda, no sentido virtuoso e musical, quanto como grupo de compositores empenhados em entregar ideias bem construídas. Em “After Laughter”, a banda abraça o indie pop pela primeira vez, e parece fazê-lo com muito gosto.
AL é divertido, passional, colorido e une muito bem a capacidade dos seus instrumentistas a uma produção glamurosa, que deixa mais leves os temas muitas vezes intensos das faixas. Hailey Williams chega a seu ápice como compositora aqui (até então) e como sempre, dá um show de vocais.
Melhores faixas: Hard Times, Fake Happy, 26
9 | Mount Eerie - A Crow Looked at Me
"A Crow Looked at Me" é uma obra-prima devastadora e emocionalmente poderosa. Mount Eerie, o projeto solo de Phil Elverum, oferece aos ouvintes uma visão íntima e intensa de sua vida após a perda trágica de sua esposa devido a um câncer. Com letras profundamente pessoais e um estilo minimalista, o álbum desnuda a dor e a angústia da morte e do luto de forma crua e honesta.
As músicas são apresentadas de maneira discreta, com poucos instrumentos e uma produção minimalista, permitindo que a voz de Elverum se destaque e transmita toda a sua dor e vulnerabilidade. Não é uma audição fácil, mas é uma audição valorosa.
Melhores faixas: Real Death, Ravens, Forest Fire
8 | BROCKHAMPTON - SATURATION I, II, III
Ninguém estava preparado para o chute na porta que o grupo BROCKHAMPTON deu no ano de 2017. Sob o conceito de saturação pela atenção, a trilogia SATURATION apresentou ao mundo um grupo formidável de talentos, capaz de criar hip-hop, pop, r&b e fazer esses estilos conversarem de forma autêntica e inovadora.
Tomando fãs mundo afora de forma acelerada, é difícil dizer quando algo assim pode acontecer de novo na indústria. O fato é que somos gratos por esse evento ter acontecido. Cada disco tem uma coleção de faixas cuidadosamente produzidas, e cheias de energia, e a trilogia inteira é recheada de destaques.
Melhores faixas: FACE, GOLD, HEAT, GUMMY, BOOGIE, BLEACH
7 | Fleet Foxes - Crack-Up
O terceiro álbum do Fleet Foxes chama-se “Crack-Up” e realmente reflete uma rachadura, entre o passado, e o futuro da banda. Se despedindo do folk cru com influências celtas e abraçando uma nova faceta de folk progressivo, com mais instrumentação eletrônica e tonalidades sonoras mais frias. “Crack-Up” não é romântico, é desolado, um disco que se esforça a todo instante para encontrar o significado das coisas. Robyn Pecknold se aprofunda em temas que até então haviam sido brevemente mencionados, e os sentimentos intensos dão lugar a reflexões contemplativas. Tudo isso dentro da caixa musical incrível que o Fleet Foxes trabalha sempre, renovando sua capacidade, como banda, de serem inventivos, dentro de sua própria identidade.
Melhores faixas: If You Need To, Keep Time on Me, Third of May, Fool’s Errand.
6 | Lorde - Melodrama
Um marco geracional. 2017 teve dois álbuns de influência monstruosa sobre o pop contemporâneo, um deles é “Melodrama”, e o outro é o próximo álbum dessa lista. O segundo álbum de Lorde conseguiu se construir em cima de todas as virtudes de “Pure Heroine”, e apesar de não reinventar a roda da produção musical da época, conseguiu traduzir seu próprio zeitgeist de forma tão assertiva, que pareceu a coroação de uma era que ainda não havia sido coroada.
Lorde sobe no pódio da geração Z em “Melodrama”. O que significa, recusar o pódio. Recusar formalidades, tradicionalidades e tudo que lhe parece obrigatório, forçado, vazio e sem sentido. Ao encontrar a si mesma, dialogou com milhões de pessoas que também estavam buscando seu próprio encontro. Cada composição adiciona camadas à narrativa do disco, que recebeu a primeira grande produção pop de Jack Antonoff. Um álbum que ficará para sempre marcado como um dos melhores de sua geração.
Melhores faixas: Hard Feelings / Loveless; Liability; Sober; The Louvre; Writer In the Dark.
5 | SZA - Ctrl
O segundo bastião do pop de 2017 está aqui, e se chama “Ctrl”. É impressionante o impacto de curto, médio e longo prazo da estreia de SZA. Com uma mistura bem-sucedida de R&B contemporâneo, hip-hop e soul, a artista se apresenta ao mundo como uma performer autêntica, uma compositora distinta e uma vocalista habilidosa.
“Ctrl” é uma experiência extremamente pessoal, onde os detalhes não são maquiados, mas expostos. Letras sinceras e confessionais inserem o ouvinte dentro do mundo da cantora, o convidando a fazer parte do seu universo. É o tipo de música que não deixa margem para meio termo, ou você ama, ou você odeia. Particularmente, não entendo quem não goste. Assim como o “Melodrama” de Lorde não reinventa o synth-pop, “Ctrl” não reinventa o R&B nem limpa o pop das influências de trap contemporâneas. Ainda assim, consegue colocar dentro desse formato tant verdade, que a receita funciona. Funciona tanto que o sucesso ultrapassa a crítica e os fãs de música, mas chega na camada comercial, fazendo de SZA, assim, uma inevitável estrela em ascensão.
Melhores faixas: Supermodel; Normal Girl; The Weekend; Love Galore; Broken Clocks.
4 | Kendrick Lamar - DAMN.
"DAMN." representa o ponto mais pessoal, e mais distante, da carreira de Kendrick Lamar. Aqui, ele não se entrega às lágrimas nem implora por liberdade e esperança, mas sim extrai um turbilhão de pensamentos, desde os bons até os ruins. Apesar de não atingir a mesma magnitude de seus últimos dois álbuns, é seu trabalho mais próximo do pop, mantendo-se desafiador para qualquer um que queira refletir sobre seu real significado.
Em "DAMN.", Kendrick prova que não depende da mesma equipe de gênios que tornou "To Pimp a Butterfly" uma obra-prima para criar o melhor álbum do ano. Ele é o suficiente. Aqui, ele mostra que já deixou para trás muitas lendas e está se aproximando do intocável topo da história do rap. De B.I.G. e Pac a Jay, agora chegou Kung Fu Kenny.
Melhores faixas: DNA; HUMBLE; LOVE; LOYALTY; DUCKWORTH.
3 | Tyler, the Creator - Flower Boy
"Flower Boy" é reflexivo, imersivo e extremamente colorido, uma mudança para melhor, onde, em uma mensagem para todos e provavelmente para si mesmo também, ele diz :“tell these black kids they can be who they are”, trecho da emblemática "Where This Flower Blooms".
A instrumentalização é um dos pontos fortes do projeto, que flui de uma maneira tão natural e bem executada que chega a ser visual, imagética. Vasta, complexa, original e nos permite perceber a grande influência que o jazz tem sobre o rapper. O constante encontro entre esse jazz suave e os vivos e nostálgicos sintetizadores é uma das diversas virtudes do álbum, que consegue transportar o ouvinte, sem muito esforço, para o campo onde o amarelo predomina, campo no qual o rapper se encontra na capa de seu disco.
Um ponto de virada na carreira de Tyler, um ponto de encontro de suas maiores virtudes como rapper, produtor, e principalmente, criador. “Flower Boy” funciona como um todo, chama a atenção e cativa quem o escuta pela bela execução de verdade artística que acontece aqui. Um momento como esse marca uma carreira, marca uma pessoa, marca uma era. E Tyler, e nós, sabemos, como “Flower Boy” marcou tudo isso e muito mais.
Melhores faixas: See You Again; Garden Shed; Glitter; Where This Flower Blooms; Boredom.
2 | Jay-Z - 4:44
Em seu 13º álbum de estúdio solo, Jay-Z consegue não apenas entregar seu primeiro grande trabalho em 10 anos, mas redefinir o significado de um late period classic.
Apesar de suas habilidades estarem enferrujadas, sua sublime inteligência e conhecimento do gênero tornam a idade um fator atrativo para suas letras. Este Jay-Z é ao mesmo tempo o hustler, o marido, o pai, o business, man, relevando todas as suas atitudes passadas, o atual estado de seu presente e o que dele vai ficar para o futuro.
"4:44" é o balanço entre carreira e vida pessoal, entre o sucesso físico e o legado moral que o maior rapper de todos os tempos vai deixar para a música e para a sociedade.
Melhores faixas: The Story of O.J. , Family Feud, 4:44, Mercy Me, Moonlight
Menções Honrosas: masseduction, St. Vincent; no shape, Perfume Genius; process, sampha, take me apart, kelela; drunk, thundercat, the OOZ, King Krule; Rainbow, Kesha; Capacity, Big Thief.
1 | Father John Misty - Pure Comedy
Você se considera uma pessoa copo meio cheio, ou copo meio vazio?
Independente da resposta, o terceiro álbum de Josh Tillman como Father John Misty tem algo para você.
“Pure Comedy” é uma reflexão sobre quase tudo. O mundo, a sociedade, nossas hipocrisias, nossas incongruências, mas o faz de forma catarticamente cômica, irônica, divertida. É uma tragicomédia musical sobre o século XXI que poderia, muito bem, ser adaptada a um musical da Broadway. Particularmente, eu tenho aversão completa a narrativas “red-pillescas” sobre a sociedade, a la “Mr. Robot”, e é isso que “Pure Comedy” tem de tão cativante. Reflexões precisas e inegáveis que são interessantes não pela opinião que emitem, mas pela verdadeira ironia genuína que expõe.
Tudo isso é traduzido em faixas de indie pop, folk progressivo, baroque rock. A grande ópera musical de Father John Misty é luxuosa, lustrosa, constrói paredes de som em alguns momentos, e nos isola com o artista, sua voz e seu violão em outros. É uma peça versátil e dinâmica, que tem seus momentos mais fracos, como “Two Wildly Different Perspectives”, a única faixa que se perde um pouco das outras e acaba tecendo um comentário um pouco condescendente, mas, acima de tudo, é uma peça musical diferenciada. Poucos artistas realizam discos dessa dimensão hoje em dia, mas espero, sinceramente, que esse trabalho de Father John Misty colabore para que esse tipo de obra não desapareça.
Melhores faixas: Pure Comedy; Leaving LA; In Twenty Years or So; Ballad of the Dying Man; The Memo; Total Entertainment Forever; A Bigger Paper Bag; Birdie.