Os 10 Melhores Álbuns de 2013
2013 foi um ano diferenciado.
Sendo, possivelmente, o último ano onde os três maiores rappers dos anos 2000 lançaram álbuns solo; o primeiro ano da Beyoncé como conhecemos hoje; o último grande ano de Justin Timberlake; o ano do nascimento de Billie Eilish antes de Billie Eilish; o ano em que Miley Cyrus enlouqueceu e muito, muito mais.
Estes são os melhores álbuns de 2013:
10 | the nationals - trouble will find me
A consistência é admirável, a sequencia de grandes discos da banda de Ohio no século 21 ficaria ainda maior com o acréssimo de Trouble Will Find Me, uma abordagem mais moderna e popular dessa vez, Matt e Aaron Dessner tem aqui, lapsos de genialidade enquanto compositores e arranjadores. A temática claustrofóbica, toma conta do instrumental cautelosamente construído por Aaron, enquanto as letras sobre fobia social, abandono e os males da vida adulta. Trouble Will Find Me é mais jovem, agudo, pulsante e descuidado em comparação com os seus antecessores, funciona em uma voltagem diferente, mas mesmo assim, tão bonito e importante quanto os demais.
“I have only two emotions
Careful fear and dead devotion
I can't get the balance right’’
Melhores Faixas: Don’t Swallow The Cap, I Need My Girl, Pink Rabbits
9 | lorde - pure heroine
Noite. Você está no carro, provavelmente, num Uber ou num táxi, indo para alguma festa.
No banco do passageiro, alguém que sabe mais ou menos onde fica o endereço, ao seu lado, uma amiga que bebeu um pouco além da conta - natural para alguém de 16 anos, que ainda não tem resistência nem conhece bem seus limites. Apesar disso, ela ainda está bem. Vocês estão todos bem, conversando e rindo muito. Você abre a janela e sente o vento pungente passando pelo seu rosto: nada no mundo parece importar, nada no mundo parece possível, tirando as próximas duas semanas.
Essa ilustração não quer dizer que “Pure Heroine” é um álbum imaturo, ou bobo. Pelo contrário: em seu lançamento de estreia, Lorde consegue capturar com precisão o que sente o coração, o que arrepia a pele e o que bagunça a mente de todos nós no fim da adolescência, quando não somos mais nem um pouco crianças, mas ainda estamos distantes de sermos adultos. A cantora faz isso sem utilizar de clichês do pop adolescente e aborda temas variados sob um prisma criativo, tanto poética quando musicalmente. Boas composições, muita verdade artística e uma produção minimalista que, hoje podemos afirmar, teve uma boa cota de influência na música pop.
Melhores faixas: Tennis Court, Royals, Ribs, Team, Still Sane.
8 | sigur rós - kveikur
Sons estridentes e atonais, influencia de noise, metal e tudo isso acompanhando a clássica mistura de post-punk e música ambiente da banda islandesa. O Sigur Rós foi contra tudo o que acredita nesse projeto, que foi lançado pouco depois de um ano depois do seu antecessor “Valtari”, muito criticado por intensificar a influencia de música ambiente. Kveikur é a resposta desaforada, o irmão rebelde de Valtari; a sonoridade da faixa de abertura não lembra nem de longe a sonoridade da banda que cativou o mundo com músicas como “Hoppípolla” e “Olsen Olsen”, no lugar do vibrafone e dos instrumentos de sopro, entram instrumentos de corda distorcidos, colagens de som agressivas e percussões nunca antes usadas na discografia da banda. Em alguns momentos a sonoridade antiga da banda aparece pra nos dizer que nem só de ousadia é feito o disco: “Stormur” e “Rafstraumur” lembram os grandes momentos da banda no inicio de sua carreira, com uma pitada de sal; mais intensos e mais diretos.
Melhores faixas: Brennisteinn, Kveikur, Hrafntinna, Var
7 | disclosure - settle
Em 2012 e 2013, o mundo atravessava o ápice criativo e de qualidade da música eletrônica (ou EDM, para os íntimos). A música house e dance estava em alta, em especial, subgêneros como progressive house e electro house, e a quantidade de DJ’s e produtores de um hit só dessa época é maior do que se pode contar nas mãos - e nos pés. A cultura EDM sempre abraçou melhor, comercialmente, singles. Quem diria que a dupla Disclosure, em meio a esse contexto, teria optado por produzir um álbum “como manda o figurino”. Hoje, nos basta agradecer a escolha feita por eles.
“Settle” é o ponto de equilíbrio perfeito entre o pop e o house, funcionando tanto num churrasco entre amigos, quanto numa festa, quanto num show. Temos pontos mais agitados, pontos mais tranquilos, faixas românticas e faixas enlouquecedoras. Contando com participações especiais que enriquecem muito o álbum; produção criativa, com jeito de electronica retrô, mas que não deixa de soar refrescante o ser inventiva em pontos-chave; vocais excepcionais e boas composições, os irmãos Howard e Guy Lawrence acertam quase tudo aqui.
Melhores faixas: Latch, F for You, You & Me, White Noise, Help Me Lose My Mind.
6 | queens of the stonge age - like clockwork
Numa versão estranhamente mais rebuscada, os californianos do deserto se reinventaram depois de persistirem por tempo demais em uma fórmula certeira, certeira para a década de 2000, a década que estamos dando adeus foi cruel e exigente com as mentes criadoras de grande sucesso na década passada, principalmente com os artistas do bom e velho rock n’ roll. …Like Clockwork trabalha numa frequência mais educada do que seus antecessores, quase como um pedido de desculpas, mas tão agressivo e direto quanto nas entrelinhas. Josh Homme parece ter absorvido boas referências, bem sutis do indie rock moderno; baladas de piano são um fato novo, e brilha como se fosse 2002 e apresenta suas melhores letras e refrões em muitos anos.
Melhores faixas: I Sat By The Ocean, The Vampyre of Time And Memory, Kalopsia
5 | arcade fire - reflektor
Em 2013 o Arcade Fire já era uma das bandas mais bem conceituadas em atividade. Porém, é difícil acreditar que alguém previu “Reflektor”. Neste, que é o disco mais inventivo da banda até hoje, há de tudo um pouco, menos zona de conforto para os canadenses. O indie rock encontra o disco, o rock progressivo, a electronica e o experimentalismo - nos momentos em que a mistura se dá melhor, ficam evidentes os dedos de James Murphy e David Bowie na produção. As letras das faixas também são destaque, abordando com originalidade tópicos como os relacionamentos na era digital, o amor e o pós-vida, preconceito e transfobia, entre outros.
Tudo isso é entregue num álbum duplo que funciona, literalmente, como uma viagem. Pode-se ler o primeiro disco como a ida, o segundo, como a volta, mas essa é uma interpretação bastante subjetiva e abstrata. O que é fácil de concordar é que em “Reflektor”, a banda exibe algumas de suas composições mais ostentosas e ambiciosas desde “Funeral”, porém, se lá havia uma instrumentação densa e doída, aqui, essa instrumentação é noturna, enérgica e provocante.
Melhores faixas: Reflektor, We Exist, Normal Person, It’s Never Over (Hey Orpheus), Afterlife.
4 | beyoncé - beyoncé
Se Beyoncé já era, momentos antes de lançar seu auto-intitulado quinto álbum de estúdio, uma das, se não a maior artista de sua geração, aqui ela abria espaço para uma conversa ainda mais profunda. “Beyoncé”, o álbum, reinventava a artista que havia tomado conta das paradas nos anos 2000 ao mostrar que ela, uma mulher realizada e casada, ainda tinha ambições e vontades com relação a carreira e a si própria, explorando sua sexualidade e status como estrela como poucas haviam feito antes dela. É neste álbum que o significado deste nome, tão conhecido ao redor do planeta, ganhou contornos ainda mais poderosos. Foi em “Beyoncé”, que Beyoncé finalmente pode ser ela mesma.
Melhores faixas: Drunk In Love, Flawless, Pretty Hurts, Partition, XO
3 | kanye west - yeezus
West, ainda de ressaca de seu maior projeto artístico, decidiu não poupar esforços para quebrar mais barreiras, e trazer elementos inusuais para o mainstream. Altamente influenciado pelo movimento de hip-hop experimental e abstrato que começava a ganhar força no ano anterior.
Kanye construiu talvez seu projeto mais controverso e bizarro, Ye não se dá ao trabalho de misturar elementos mais impalpáveis com tendências populares, trabalha com elementos de noise e industrial music, samples algumas vezes incompreensíveis e barulhentos; Yeezus abria as portas pra mais um lote de projetos corajosos, agressivos, bárbaros e energéticos que hoje em dia, já são mais tangíveis. West abraça sua insanidade como nunca antes, e entrega o que pode ser o projeto mais absurdo, contraditório e kafkiano que essa década já teve o prazer de ver.
Melhores faixas: New Slaves, Blood On The Leaves, Black Skinhead, Bound 2
2 | vampire weekend - modern vampires of the city
E morreu tão de repente quanto quando surgiu, o indie rock, de tantos triunfos e glórias nos anos 2000. Vindo com a missão de salvar o rock, que morria lentamente após o enfraquecimento do grunge, a fórmula já não rendia mais, e junto com o fim da década, também vivenciávamos os últimos espasmos do último gênero que deu sobrevida ao rock.
Vendo além da fórmula, a banda, na época universitária de meninos brancos, juntava grooves de musicas festivas, guitarras vibrantes e letras genuínas e bem humoradas. Deram vida em 2008, aperfeiçoaram em 2010, e construíram sua obra prima três anos depois. O amadurecimento trabalha em escala macroscópica; composições menos apressadas, letras mais significativas e principalmente: mais experimentação, o que significa mais sons eletrônicos, melodias mais curiosas e naturalmente, canções mais completas.
De forma completamente inesperada, os novatos do Vampire Weekend, que são novatos por estrearem na música e no gênero tão tarde na década; conseguem juntar os melhores elementos do indie rock, melhor que seus contemporâneos dando uma falsa sensação de nostalgia. E junto com o lançamento de Modern Vampires of the City, os últimos suspiros do indie rock na década.
Melhores faixas: Diane Young, Step, Hannah Hunt, Ya Hey, Hudson, Unbelievers.
Menções Honrosas: Justin Timberlake, The 20/20 Experience; James Blake, Overgrown; Haim, Days Are Gone; Chance The Rapper, Acid Rap; Earl Sweatshirt, Doris.
1 | daft punk - random access memories
Quando “Random Access Memories” foi lançado, o Daft Punk já era uma dupla consagrada há muito tempo. No entanto, o já alto status dos franceses e de sua música não impediu que RAM fosse ovacionado mundo afora.
Aqui, todas as qualidades dos músicos são expostas em seu mais alto nível. Instrumentistas, compositores e produtores musicais brilhantes, Guy-Manuel de Homem Cristo e Thomas Bangalter decidiram fazer de seu terceiro álbum não uma fábrica de hits, ou mais uma dezena de músicas vanguardistas e experimentais. Trouxeram grandes músicos dos anos 70 e 80, assim como novos nomes, para compor um álbum que parece um mosaico, ou o que Picasso faria se lhe dessem a missão de condensar diversos quadros de paisagens de Monet. Disco, funk, eletronica, pop, prog rock. Tudo isso se une num álbum que tem momentos sublimes e épicos, assim como recortes intimistas e extremamente tocantes, sensíveis.
“RAM” permaneceu por semanas a fio no topo das paradas da iTunes ao redor do mundo e no Billboard 200. É um disco para ser apreciado em diversos momentos diferentes, e um que tem a capacidade de agradar a diversos públicos diferentes. A única constante que rege todas as faixas é o sentimento, o groove e uma inventiva união de elementos e estruturas musicais orgânicas com a personalidade digital do Daft Punk.
É um disco tão bom que parece bobo justificar porque é o melhor de 2013, é tão bom, que temos um texto especial sobre ele. Se você não o conhece ainda, está na hora de tirar o atraso.
Melhores faixas: Giorgio by Moroder, Instant Crush, Lose Yourself to Dance, Get Lucky, Touch, Fragments of Time e Contact.