Os 10 Melhores Álbuns de 2010
A segunda década do século 21 está chegando ao fim e para comemorar (?) decidimos retornar à todos os anos desde 2010 e listar os melhores álbuns, filmes e músicas de cada um.
O ano 2010. Muito menos polêmicos do que a virada do século, dez anos antes, o primeiro da nova década não foi exatamente um divisor de águas na indústria da música, mas sim uma síntese do que estaria por vir, prevendo tendências e um impacto que seria melhor sentido e explorado em anos subsequentes.
Em uma era pré-streaming, onde muito se falava sobre crise de vendas e uma baixa no consumo de música, as bandas ainda comandavam o cenário musical no termo qualidade, mesmo que sua popularidade continuasse a cair vertiginosamente. Lady Gaga era a maior estrela do pop, Justin Bieber estava surgindo, a era do trap ainda não estava a vista, Bruno Mars começou a conquistar corações e ir a um show do Black Eyes Peas parecia uma experiência transcendental e universalmente aceita por todos adolescentes. Ah, 2010.
Sem mais delongas, estes são os dez melhores álbuns deste ano tão longínquo, em uma lista que pareceria impossível em 2019:
10 | Robyn - Body Talk
O sétimo álbum de uma das artistas europeias mais influentes na música mundial é uma celebração da liberdade conquistada após um término traumático. Em diversos momentos ela enfatiza que manda na sua própria vida e que qualquer pessoa perde muito ao perder ela, mas o motivo de o álbum funcionar é a energia com que ela encara o, para muitos, assustador mundo da solteirice após tanto tempo acompanhado. A mistura de pop e eletrônica e as influências europeias tornam o projeto uma declaração quase robótica que, por qualquer motivo, me lembra a personagem principal de “Her”. Não foi seu maior sucesso, mas serviu de inspiração para grandes artistas que surgiriam ao longo da década com pouco, ou nenhum interesse em se render ao pop romântico mainstream, vide Lorde, St. Vincent, Lana Del Rey, entre outras.
Melhores faixas: Dancing On My Own, We Dance To The Beat, Don’t Fucking Tell Me What To Do
9 | Beach House - Teen Dream
O duo de dream pop é um verdadeiro favorito da crítica entre atos underground, mas nenhum álbum captura tanto a sensação de estar tendo o melhor momento da sua vida em uma praia sintética como seu terceiro álbum de estúdio. Quase como um manual de como se fazer um álbum dream pop, “Teen Dream” é uma mistura perfeita dos vocais andrógenos de Victoria Legrand e da maestria de Alex Scally no teclado e guitarra. A sinergia dos dois é visível, sendo que não há diferenças no tom do álbum, que não se torna entediante justamente por se poder apreciar cada momento.
Melhores faixas: Zebra, Norway, Used To Be, Walk In The Park
8 | Kings Of Leon - Come Around Sundown
Lá atrás, em 2010, a banda de Nashville da família Followil era, sem sombra de dúvidas uma das bandas mais significativas do rock. O sucesso estrondoso do seu quarto álbum de estúdio “Only By The Night” lançado dois anos antes, ainda ecoava vigorosamente, não só nas estações de rádio, mas também nas arenas lotadas e festivais gigantescos que a banda encabeçava. Come Around Sundown é a resposta ainda mais moderada para a boa recepção da mudança mais abrangente e popular que a banda havia adotado, trabalhando com mais carinho as ideias de vertente mais populares, ainda dentro da zona de conforto proporcionada pelo sucesso de seu antecessor.
Melhores Faixas: Pyro, Mary, Back Down South, No Money
7 | MGMT - Congratulations
O duo norte-americano nunca se cansa de inovar e explorar de maneiras bastante ousadas em seus projetos. Congratulations é apenas o segundo álbum de estúdio da banda, e depois do sucesso comercial de Oracular Spetacular em 2007; um pouco mais longe dos sintetizadores e das batidas de EDM, os meninos do Brooklyn experimentaram nadar em águas mais obscuras, com influencias do rock progressivo dos anos 60. A experimentação e psicodelia, hoje características da banda, nasceram e cresceram nesse álbum, que dá passos altamente arriscados; como a estranha e fragmentada “Siberian Breaks” de 12 minutos de duração, e o single principal do álbum Flash Delirium.
Melhores Faixas: It’s Working, Flash Delirium, Brian Eno, Congratulations
6 | Black Keys - Brothers
O sétimo álbum de estúdio da dupla The Black Keys fez o que seu antecessor, “Attack & Release”, tentou fazer, sem sucesso. Trazer o blues-rock que está na essência da banda e de seus primeiros álbuns, para uma dinâmica mais popular e acessível. Em “Brothers”, a coesão é perfeita, as composições são excelentes e a fórmula está na medida certa. Um dos melhores discos da dupla, é um dos destaques de 2010 e envelheceu como vinho durante a última década.
Melhores faixas: Tighten Up, Howlin’ for You, Sinister Kid, These Days.
5 | The National - High Violet
The National vem há muitos anos sendo a segunda opção dos fanáticos por rock alternativo e post-punk, sempre quando lançam um álbum ótimo, são ofuscados por outro lançamento relevante. Foi assim com Alligator em 2005 e o incrível Boxer em 2007. High Violet veio com a missão de não ficar, novamente, na sombra das outras grandes bandas do mesmo gênero na época, e sucedeu de forma impressionante. High Violet cuida das transições de faixas delicadas com elementos agressivos com o zelar de uma mãe e seu recém nascido, e flui com perfeição durante quase 50 minutos de música, que é a trilha sonora do trabalho definitivo da banda de Ohio.
Melhores Faixas: Sorrow, Afraid Of Everyone, Bloodbuzz Ohio, England
4 | LCD Soundsystem - This Is Happening
A discografia pré-hiato do LCD Soundsystem colocava à prova o potencial da banda a cada álbum. A cada lançamento, ao menos um aspecto da banda e da qualidade de sua obra, melhorava - se não muitos aspectos. “This Is Happening” é minimalista e grandioso, orgânico e tecnológico, épico, mas sensível. Alguns dos hits mais poderosos da banda estão aqui e, não à toa, foi após esse excelente álbum que decidiriam parar por um tempo. Após “American Dream”, já sabemos que a banda é muito capaz, mas “This Is Happening” permanece como certeza na lista dos melhores do milênio até agora.
Melhores faixas: Dance Yrslf Clean, Drunk Girls, You Wanted a Hit.
3 | Arcade Fire - The Suburbs
Assim como o LCD Soundsystem, em 2010 o Arcade Fire tinha a mesma pressão de dois álbuns excelentes na bagagem (inclusive, melhores que os do LCD) para lançar o terceiro. “The Suburbs” foi, de certa forma, na contra-mão da discografia dos canadenses: alguns dos grandes refrões deram lugar a versos maiores e a faixas mais intimistas. A instrumentação ostentosa ficou como coadjuvante num disco que deu mais destaque aos violões, pianos e vocais, um disco que foi o mais conceitual da banda até então. O terceiro álbum da banda é o maior upgrade lírico na obra deles e além de excelente música, produção coesa e ótima harmonização, oferece uma narrativa densa íntima sobre o que é crescer nas ruas do subúrbio de Montreal.
Melhores faixas: The Suburbs, Ready to Start, Suburban War e Sprawl II.
2 | Janelle Monáe - The Arch Android
Janelle Monáe é uma das artistas mais subestimadas do milênio até agora. Isso fica claro desde seu disco de estreia, um álbum que parece qualquer coisa, mas não uma estreia. em “The ArchAndroid”, Monáe põe em prática os anos de experiência em produção, composição e performance vocal numa tacada só, num disco que parece o portfólio de uma artista total contemporânea. Desde a história de Cini Mayweather, que já vinha sendo contada no EP que antecede o disco, ao groove das faixas mais dançantes, o disco é uma viagem musical. São raros álbuns como este nos dias atuais, e devem rarear ainda mais, sem o devido crédito. “The ArchAndroid” é o segundo melhor álbum de 2010 e um dos melhores álbuns dos anos 2000-2010 até agora.
Melhores faixas: Locked Inside, Cold War, Tightrope, Oh Maker e 57821.
Menções Honrosas: Deerhunter, Halcyon Digest; Flying Lotus, Cosmograma; Caribou, Swim; Big Boi, Sir Lucious…; Sleigh Bells, Treats.
1 | Kanye West - My Beautiful Dark Twisted Fantasy
Com todo o respeito a tantos trabalhos excelentes e extremamente dedicados lançados em 2010, não há condições de se fazer uma lista relembrando deste ano sem colocar a Magnum Opus de Kanye West em primeiro lugar. “My Beautiful Dark Twisted Fantasy” se tornou, praticamente no momento que foi lançado, o primeiro grande clássico da década.
Precedido pelas “G.O.O.D. Music Fridays”, onde Kanye lançava um single novo a cada sexta (vários, inclusive, ficando de fora da listagem final), o álbum veio como uma forma de fazer as pazes com o público após as recepção polarizada de “808 & Heartbreak” e o escândalo no VMA de 2009, que fizeram o artista atingir o fundo do poço na percepção popular.
Luxuoso, extravagante, barroco, controverso e quase um evento com algumas das principais estrelas do mundo da música, Kanye sintetizou nesta obra toda sua celebrada carreira, combinando elementos pré e pós o lançamento do álbum. Com uma produção mais arrojada que a outra, dissecando o tema da fama e investigando a mente do homem no século 21 como nenhum artista conseguiu fazer, “MBDTF” é um triunfo do começo ao fim. Um chamado para uma marcha coletiva ao topo do Monte Olimpo, com uma das figuras mais peculiares da cultura popular liderando o caminho com músicas em um nível que quase justificam sua obsessão em ser considerado o maior artista de todos os tempos.
Melhores Faixas: Runaway, Monster, Power, Devil In a New Dress, Gorgeous, All Of The Lights (e todas as outras)