Vingadores: Ultimato Supera Avatar | O Que Isso Significa?

Todos sabiam que o re-lançamento de “Vingadores: Ultimato” contendo cenas adicionais - que deixaram a desejar, é verdade - tinha um único objetivo: fazer com que o filme ultrapassasse “Avatar” nas bilheterias mundiais.

O filme de James Cameron, que também é diretor do terceiro filme da lista em “Titanic”, faturou U$2,789,700,000 durante sua corrida de exibição, além de seis re-lançamentos, sendo ultrapassado por muito pouco pelo longa dirigido pelos irmãos Russo, que atingiu U$2,790,275,676, em menos tempo e com apenas um relançamento. Revolucionário em seus efeitos especiais e já um marco cultural, “Avatar” manteve o posto de 2010 até este dia 22 de julho de 2019, pouco menos de dez anos após seu lançamento inicial.

É importante ressaltar, no entanto, que “Avatar” ainda é o segundo filme com as quantias ajustadas pela inflação, perdendo apenas para “E O Vento Levou”, de 1939. Nessa outra lista “Ultimato” está atrás, também, de “Titanic” e “Star Wars: Uma Nova Esperança”. O 22º filme do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) é o oitavo dos estúdios à ultrapassar a barreira do um bilhão e o segundo (após “Guerra Infinita”) a ultrapassar a barreira dos dois bilhões de dólares.

Mas afinal, o que isso realmente significa?

Significa que estamos em uma era onde o principal objetivo dos grandes estúdios é lucrar com franquias, remakes e sequências, tornando blockbusters isolados algo quase extinto. Dos 50 filmes entre os de maior bilheteria da história (não ajustado pela inflação), quase todos fazem parte de pelo menos uma dessas categorias, desde o MCU à Harry Potter, Senhor dos Anéis, Star Wars, remakes live-action da Disney, entre outros. Os únicos dois que ainda não possuem continuação, ou spin-ofs, são “Frozen” e “Zootopia”, mas a Rainha Elsa voltará as telonas logo logo em “Frozen 2”, tornando “Zootopia” único estranho no ninho.

Se isso é ruim para o cinema? Depende.

Na cerimônia do Oscar deste ano, a bilheteria dos indicados a Melhor Filme combinada foi a maior desde 2011, muito graças à “Nasce Uma Estrela”, “Bohemian Rhapsody” e “Pantera Negra”, mostrando que a Academia e outras organizações já estão começando a aceitar que filmes lançados fora da temporada de premiações sejam indicados nas principais categorias. Algo evidenciado pela criticada decisão de se criar uma nova categoria, de Melhor Filme Popular que, devido à péssima recepção da indústria e do público, foi adiada por tempo indeterminado. A soma de toda essa confusão, no entanto, é positiva, e pode ajudar a derrubar preconceitos tanto dos membros mais antigos da Academia como dos mais jovens cinéfilos que, ao verem seus filmes favoritos concorrendo em diversas categorias, podem se sentir atraídos à assistir aos concorrentes.

O Oscar ainda produz um efeito considerável nas bilheterias de filmes indicados e vencedores. “Green Book”, vencedor do prêmio de Melhor Filme, teve uma bilheteria superior a 300 milhões de dólares, um faturamento 13 vezes maior que o orçamento de 23 milhões enquanto “Ultimato” teve um faturamento cerca de “apenas'“ 8 vezes superior a seu orçamento. Alie isso ao fato de que diretores como Quentin Tarantino, Christopher Nolan e Dennis Villeneuve ainda são capazes de vender seus filmes baseado apenas em suas reputações, e fica claro que, apesar de o foco serem os blockbusters, ainda há espaço para produções menos estrondosas. O cinema independente, por sua vez, não deixa de manter seu prestígio, mesmo que sua exposição em salas de cinema fique cada vez mais escassa com a quantidade enorme de blockbusters que parecem nunca deixar os cinemas.

A verdade é que cada vez menos histórias originais sequer chegam aos grandes estúdios, que optam pela nostalgia e fieldade dos fãs ao invés de tentar séries novas. Porém, a saturação é inevitável e logo as multidões vão perceber que têm assistido aos mesmos filmes pelos últimos 10, 20 anos, e vão exigir novidade. Isso tende a fazer com que essa abundância de filmes atingindo um bilhão de dólares nas bilheterias, sim, diminua, mas quando isso irá acontecer é uma incógnita.

Agora, quanto aos filmes que trouxeram a tona toda esta discussão, há, agora que “Ultimato” finalmente bateu o recorde, um certo ressentimento por parte do público como que com pena de James Cameron, superado por um estúdio e uma série de filmes e não por outro diretor. Primeiramente, se você sente pena, ou qualquer sentimento similar, de um homem com dois dos três filmes de maior bilheteria da história, há algo de errado. É algo normal na história do cinema que, de tantos em tantos anos, um filme supere o outro, o que não tira mérito de nenhuma das duas obras quanto à sua qualidade. Esta, inclusive, mais presente no evento da Marvel que no filme de Cameron que, apesar de revolucionário (quanto a tecnologia) e possuidor de uma bela mensagem, narrativamente não oferece nada que já não tenha sido visto anteriormente tanto nos gêneros da fantasia como da ficção científica. Já “Ultimato” é, de fato, apenas o sexto filme de seu tipo, uma junção de heróis que começou com “Vingadores” em 2012, passou por “Era de Ultron”, “Guerra Civil”, “Guerra Infinita” e “Liga da Justiça”, servindo como um fechamento exemplar para um trabalho de onze anos desenvolvido pela Marvel como nunca havia sido visto anteriormente.

Além disso, existem no momento quatro, vou repetir este número, quatro sequências de “Avatar” sendo planejadas. Logo, saberemos se o sucesso estrondoso do primeiro filme foi exceção ou regra, pois a Marvel vem apenas aumentando seus números desde o lançamento de “Homem de Ferro”, em 2008. De qualquer forma, o diretor canadense se mostrou um vencedor - que é - ao dar parabéns aos realizadores de “Ultimato” por superarem seu próprio filme, mesmo tendo criticado a quantidade cada vez maior de filmes de super-herói nos anos recentes.

O fato é que, na era dos blockbusters, cada vez mais veremos filmes atingindo marcas inimagináveis décadas atrás, algo que não deve mudar tão cedo. O que não pode acontecer é enganar os fãs de cinema para que pensem que isto é a única coisa que o mesmo tem a oferecer no século 21.

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