Os 10 Melhores Álbuns de 2015
Seguindo nossos especiais de final de década, chegamos a 2015, um dos anos mais ricos para a música com alguns dos melhores lançamentos em gêneros específicos, principalmente o Rap e o Jazz.
Estes são os melhores álbuns de 2015:
10 | kamasi washington - the epic
Para muitos o melhor álbum de Jazz da década, esta obra transcendental de Kamasi Washington o colocou no escalão mais alto de um gênero que tende a honrar seus maiores nomes anos após seus auges, ou até mesmo suas vidas, passarem. Épico em cada momento e faixa, apesar das quase três horas de duração, a jornada por todo o álbum se torna uma tarefa prazerosa graças às composições modernas de Kamasi, que não deixam de homenagear a música que o influenciou, mas exemplificam o motivo de tantos artistas do mainstream o procurarem para participar de seus projetos.
Em “The Epic”, o saxofonista não apenas revitaliza e injeta energia renovada no Jazz, como relembra a todos os momentos de glória que tornam este estilo de música algo tão acima.
Melhores faixas: Change of the Guard, Akim, Re-Run, Cherokee, Clair de Lune
9 | vince staples - summertime ‘06
Estrear com um álbum duplo é ousadia suficiente para qualquer artista, ainda mais para um jovem como Vince que tem pouco, ou nada, que seus contemporâneos têm a oferecer. Sua voz não é melosa, ele não canta, ele não se entrega as tendências e, justamente por isso, este projeto é tão bem sucedido.
“Summertime ‘06” é, ao mesmo tempo, uma viagem de volta à adolescência do jovem, aos arredores onde cresceu e à era de ouro do Hip-Hop, onde era tudo sobre rimas e batidas, em um jogo tão próximo daquele da vida, que é como se perder em um significasse simplesmente o fim do outro. E é nesta linha tênue que um dos artistas mais talentosos de sua geração surgiu, confiante e ousado o suficiente para rimar sem pudores, mas atento o suficiente para saber quando alguém se aproxima.
Melhores faixas: Norf Norf, Lift Me Up, Ramona Park Legend
8 | courtney barnett - sometimes i sit and think, and sometimes i just sit
Da boa safra de músicos australianos que, eu não sei se podemos chamar de safra, quando o país nunca parou de nos presentear com músicos de qualidade; Courtney Barnett a primeira vista talvez não soe a opção mais interessante, não tendo a pompa de projetos como Tame Impala, a delicadeza de Angus & Julia Stone ou a voz da Sia. Mas em seu debut, mostra que estamos todos errados, Courtney trata o rock como ele deve ser tratado nos dias de hoje, com descompromisso, diversão, e um pouco de atrevimento. Pouquíssimos instrumentos constituem o projeto de estréia da cantora-compositora, uma virtude que hoje em dia, só o rock n roll consegue dominar. Um kit de bateria, duas guitarras, um baixo eletrico; can do the trick.
Melhores faixas: Elevator Operator, Pedestrian At Best, Nobody Really Cares If You Don’t Go To The Party.
7 | tame impala - currents
MARCO não é limites entre a intimidade de Mark Kozelek e do ouvinte em “Benji". Mark nesse projeto conta 11 histórias diferentes, sobre a vida e morte de 11 pessoas diferentes, nas 11 músicas que constituem o álbum. E além da narrativa completamente imersiva e incrível nas letras das musicas, os arranjos são de enorme bom gosto e mínimos no melhor sentido da palavra, sem nenhum elemento desnecessário que possa tirar a atenção completa das palavras e melodias de Kozelek.
Melhores faixas: Carissa, I Can’t Live Without My Mother’s Love, Ben’s My Best Friend.
6 | bjork - vulnicura
Björk não tem nenhum álbum ruim em toda sua discografia, e reconhecer seu trabalho hoje é praticamente óbvio e redundante. Contudo, isso não tira o mérito de seus grandes trabalhos, nem o merecimento deles de reconhecimento. “Vulnicura” é o melhor disco de Björk desde “Vespertine”, por mais triste que isso seja: se “Vespertine”, de 2001, tratava de paixão e de seu relacionamento com Matthew Byrne, que estava começando na época, “Vulnicura” trata do término do casamento com o artista, 14 anos depois. Um disco que retrata de forma apoteótica o ser humano desesperado, fragilizado, frustrado, triste por amor. Não por paixão - por amor. As angústias de construir uma família e ver ela se estilhaçando, as frustrações de não encontrar saídas para o problema, mesmo querendo que ele fosse resolvido.
Tudo isso se traduz em 9 faixas que possuem a islandesa no topo de suas capacidades como produtora, cantora e compositora. A voz de Björk, apesar de reconhecível como sempre, se apresenta mais madura, encorpada e afiada aqui do que jamais antes. Suas letras, apesar de ainda originais e inventivas, aqui caminham por terras mais palpáveis e relacionáveis para o ouvinte: Björk nunca tinha feito nada tão confessional e pessoal como em “Vulnicura”, o que possibilita cogitá-lo, também, como uma influência para Beyoncé durante a produção de “Lemonade”.
Sonoricamente, o álbum faz com primor o trabalho de unir cordas e efeitos a elementos eletrônicos, criando uma atmosfera bastante única e atemporal: as características mais condizentes a representação de um coração partido.
Melhores faixas: Stonemilker, Black Lake, Lionsong, Family.
5 | florence + the machine - how big, how blue, how beautiful
Em 2015, Florence Welch e companhia lançavam seu melhor e mais maduro álbum até então. “How Big, How Blue, How Beautiful” encontra força e poderio em crueza e organicidade, ao invés do frequente recurso wall of sound usado pelo grupo em seus dois primeiros discos. Florence está tão segura e precisa vocalmente quanto antes, mas aqui tem seus vocais mais limpos e menos cheios de reverb que antes. Ainda encontra o equilíbrio perfeito nos momentos de maior quietude, expondo um lado que ainda não conhecíamos. Liricamente, é também superior a “Ceremonials” e “Lungs”, possuindo maior profundidade nas temáticas abordadas. Um álbum grandioso, ostentoso, que faz jus à missão de transpor os conflitos mais internos, para fora, para o mundo, da forma mais explosiva possível. Afinal, de acordo com a própria obra, parece ser a única forma de alcançar algum alívio.
Melhores faixas: What Kind of Man, Queen of Peace, How Big, How Blue, How Beautiful, Caught
4 | father john misty - i love you honeybear
Como quase nunca temos a certeza se Joshua Tillman está sendo sarcástico ou não em suas escolhas enquanto personagem do projeto Father John Misty, o título “I Love You Honeybear” veio com uma pitada de sal para os entusiastas do cantor-compositor. E mesmo sendo, de fato, demasiadamente irônico em algumas músicas como Chateau Lobby, Holy Shit e na faixa título; em alguns momentos Tillman fala de sua intimidade com sua parceira de longa data, Emma Elizabeth Tillman de uma forma pura, sincera, e vezes até perturbada. Alguns versos intensos na faixa I Went To The Store One Day conta de forma quase cinematográfica os detalhes da relação de Tillman com Emma.
O casal é o centro das atenções do disco, assim como sugere o nome e a capa. A revolta The Night Josh Tillman Came to Our Apt. fala de forma inusual sobre a musa inspiradora de Josh, fala sobre primeira impressões horrendas, e pensamentos até de certa forma desrespeitosos, oriundas da primeira vez que Joshua foi ao apartamento de Emma. I Love You Honeybear conta com uma temática diferenciada, Josh abraça a ideia de um album conceitual em torno de sua esposa, e joga para longe a pretensiosidade vista no seu primeiro album, o resultado disso é algumas das melhores composições de Tillman até hoje.
Melhores faixas: Holy Shit, I Love You Honeybear, The Night Josh Tillman Came to Our Apt.
3 | julia holter - have you in my wilderness
Carismático e agressivo; diferentemente dos antecessores “Have You In My Wilderness” molda as canções de forma mais clara. Canções que não passam de silhuetas nos seus discos anteriores, e também antecessores, voltando para a fórmula synth-oriented em projetos futuros. O formato de canção já se apresenta na primeira faixa, que vai se dissolvendo nas camas de pad e cordas conforme o passar do disco. Altamente inspirado por Carole King, com timbres de cravo, em homenagem a Brian Wilson. Julia, timidamente toma o topo do pop barroco no ano de 2015.
Melhores Faixas: Sea Calls Me Home, Betsy On The Roof, Night Song, How Long?
2 | sufjan stevens - carrie & lowell
Carrie & Lowell, o simpático casal de senhores na foto, são respectivamente: mãe e padrasto do nosso querido Sufjan. Stevens narra com riqueza de detalhes a sua triste infância, mas não só o quanto foi difícil lidar com o abandono de sua mãe, diagnosticada com esquizofrenia, e ainda por cima lidar com o luto, de alguém tão importante; mas que Sufjan mal conhecia. Stevens toca em assuntos mais complexos, sobre memória subjetiva, e todos os problemas que o abandono, e a falta de uma figura materna o trouxeram.
Em Fourth of July, o ápice emocional do disco, Stevens mantem um diálogo fictício com sua mãe morta, em seu leito de morte. Na narração de Sufjan, Carrie tira a satisfação emocional ideal que nunca aconteceu, e a realização que a vida é frágil e a morte é a única certeza, o confortou em momentos mais sombrios.
“Well, you do enough talk
My little hawk, why do you cry?
Tell me, what did you learn from the Tillamook burn?
Or the Fourth of July?
We’re all gonna die.”
Melhores faixas: Should Have Known Better, Fourth of July, Eugene, All of Me Wants All of You.
Menções Honrosas: Drake, If You’re Reading This It’s Too Late; Jamie xx, In Colour; Carly Rae Japsen, Emotion; Miguel, Widlheart; Earl Sweatshirt, I Don’t Like Shit, I Don’t Go Outside.
1 | kendrick lamar - to pimp a butterfly
Eu, pessoalmente, não acredito em clássicos instantâneos, acredito que somente o tempo e o nível de apreciação daquele projeto de arte nos dará a prova real do que é exagero e o que é, de fato, clássico. E não é absurdo nenhum, num mundo dinâmico e moderno, o ousado, rebuscado e arriscado se transformar em pedante e fátuo depois de um certo período de tempo; alguns projetos simplesmente envelhecem como vinho, e outros como vinagre.
Mas assim é a arte, e os amantes de qualquer tipo de arte sabem o impacto que o tempo faz em seus projetos favoritos, e também sabem que existem poucas certezas ou previsões quando se trata de legado. Mas, meus amigos… Esse disco envelheceu como Whisky, mais do que isso, envelheceu décadas em poucos anos, To Pimp A Buttefly se lançado hoje, seria tão relevante - se não mais - do que quando foi lançado, originalmente, em março de 2015.
A relevância musical de To Pimp A Buttefly é de fácil acesso, gritante aos olhos; elementos de Jazz e Funk, dos anos 80 e 90, com elementos do rap moderno, nada novo, não é? Muitos projetos tentaram a mesma mistura sem o mesmo sucesso, o diferencial do terceiro disco de K Dot, é simplesmente a qualidade dos arranjos e das gravações, que consistem majoritariamente em instrumentos de banda, gravados ao vivo, com pouquíssimos samples ou loops, tão tradicionais no hip hop moderno.
Kendrick aborda assuntos em pauta até hoje, as dificuldades de um homem negro nos EUA, as desastrosas abordagens policiais, a glorificação de gangues e violência; mas também assuntos de cunho pessoal, como depressão, ansiedade e transtornos dissociativos. Se isso não é um retrato exato da America, hoje, quase em 2020; eu não sei o que é. Como eu disse antes, não acredito em clássicos instantâneos, mas se To Pimp A Buttefly não for considerados um dos álbuns de maior importância dessa década ao passar dos anos, eu não sei mais no que acredito.
Melhores faixas: Todas.