Os 10 Melhores Álbuns de 2016
2016 teve alguns dos melhores álbuns da década. Alguns deles, mais importantes por seu trabalho como todo do que por músicas isoladas. Algumas dessas obras se tornarão lendárias na história da música, outras estão fadadas e ter suas músicas tocadas muito, por muitas décadas a frente. Todas elas merecem com muito mérito sua presença entre os destaques do ano, e da década.
10 | car set headrest - Teens of denial
O sucesso underground de “Twin Fantasy” deu grandes frutos para a banda americana e o seu líder, Will Toledo; que mostra grade amadurecimento nesse disco. Will passou de um bom letrista com boas ideias para um ótimo letrista com grandes canções. Teens of Denial flui como um álbum conceitual, perfeitamente do inicio ao fim, retratando de forma fiel, os problemas, confusões e ansiedades de ser um jovem adulto nesse veloz mundo ocidental. Além da temática, as guitarras são mais presentes, na bateria, Andrew Katz traz linhas impecáveis e extremamente virtuosas que casam com a estética frenética e ansiosa do álbum.
Melhores Faixas: Vincent, Cosmic Hero, Killer Whales
9 | danny brown - Atrocity Exhibition
Talvez o rapper mais subestimado da década, Danny Brown fez sua carreira criando músicas difíceis demais para a maioria das audiências, sempre um passo além do experimental da moda e um passo a menos dos hits mais populares. Sua voz esganiçada que já virou característica, e a qual ele utiliza em berros durante várias rimas, lembra um André 3000 que nunca subiu ao topo das paradas.
Em “Atrocity Exibiton”, seu melhor trabalho até então, ele cria um projeto caótico e obscuro que funciona como um contraponto perfeito para suas performances energéticas, dando vida aos temas que trabalha tanto por suas rimas afiadas como pelo estilo que emprega para que elas sejam absorvidas ainda com maior efeito. E é uma pena constatar que, mesmo com singles excepcionais ele não conseguiu furar a barreira do mainstream, provavelmente não conseguirá novamente.
Melhores faixas: Really Doe, Downard Spiral, Pneumonia
8 | chance the rapper - coloring book
Muitos olhos já pairavam sobre Chance antes do lançamento de seu primeiro álbum (Sim, Coloring Book é um álbum, não importa nem o que o próprio artista afirma). Ele já havia lançado uma das melhores Mixtapes da história do Rap com “Acid Rap”, onde o esboço da principal virtude que vemos em Coloring Book começava a acontecer. Gospel, Jazz, Juke e Blues. É incrível a diversidade de gêneros musicais que conseguíamos identificar lá e que apenas foram aprimoradas no 3º projeto do artista.
Além disso, na sua participação em Ultralight Beam - uma das melhores músicas de 2016 - em “The Life of Pablo” de Kanye West, 3 meses antes do lançamento do álbum, Chance apresentou o melhor verso de sua carreira e, por mais que Kanye ame Kanye, este não teve problema nenhum em realizar uma troca abstrata de bastão. Foi em uma das melhores músicas do currículo do melhor artista da nossa geração que quem brilhou foi Chance, the Rapper.
Eis que nos é entregue Coloring Book, e o álbum é o perfeito exemplo de um artista no pico de sua criatividade. Em suas letras, Chance nos trás uma mistura entre a pessoalidade e o peso de suas conversas com Deus e uma alegria contagiante por se encontrar através desses diálogos metafísicos. Elementos que evocam o melhor da musicalidade presente em igrejas ganham destaque na mixagem do álbum e depois de envolvidos na atmosfera que pode fazer até o ser mais ateu do mundo aproveitar por um instante a euforia de Chance, agradecemos pela benção que é este livro colorido.
Melhores faixas: No Problem, All Night, Same Drugs, Blessings, Angels
7 | solange - a seat at the table
Se tem alguma palavra que caracteriza “A Seat At the Table” mais do que qualquer outra é maturidade.
Solange, em seu 3 LP, como o título do álbum já sugere, convida o ouvinte a se sentar para ouvir sobre temas em que ela, pessoalmente, tem propriedade para desenvolver. Empoderamento feminino numa sociedade machista, luto e dor, busca por independência e muito sobre a cultura negra norte-americana. Temas complexos contrastam com uma produção delicada e funky, com toques de experimentalismo, que nunca se sobrepõe à sua voz excepcional, cultivando inspiração e reflexão simultaneamente quando ela nos diz para sermos a mudança que queremos ver no mundo.
Esse é o ponto. Solange, nos cedendo esse lugar a sua mesa, mostra seu lado mais maduro em todos os aspectos: Como compositora, seus melhores trabalhos estão aqui; referentes a escolhas sobre a produção, tudo é minuciosamente bem escolhido. Sua voz dispensa comentários mas principalmente vemos o lado mais evoluído e harmonioso de Solange . Independente de quem seja, é necessário uma certa paz interior para ter tanto domínio e segurança sobre tais assuntos e desenvolvê-los da maneira mais precisa possível - o que é o caso aqui. A principal sensação é essa. Solange tem total controle sobre tudo, mesmo que cante durante o álbum que não sabe para onde ir ou onde ficar. Parece maluquice, mas é exatamente essa certeza sobre incertezas ou assuntos não tão “fáceis” que compõe um visual tão imersivo quanto guindastes no céu.
Melhores faixas: Cranes In the Sky, Rise, Don’t Touch My Hair, Where do we go, Junie, Scales
6 | angel olsen - my woman
O que define o valor da nostalgia dentro de um projeto musical. A sensação inexplicável de ser transportado para alguns momentos ou certos lugares mesmo que tal experiência não seja propriamente nossa é algo que poucos artistas conseguem proporcionar de maneira tão intensa. Lorde tem muito desse poder em suas letras e domina o Indie-pop nesse sentido, assim como Frank Ocean talvez alcance isso como nenhum outro artista. Bom, Angel Olsen claramente se estabelece, com My Woman, como uma das escritoras mais sensitivas da nossa geração.
Angel, aqui, na segunda metade do álbum, captura talvez mais camadas sensoriais dentro da tristeza e busca dores mais agudas na aflição do que poderíamos refletir. Ao mesmo tempo, durante breves momentos de empolgação, é possível sentir a agitação do coração bater mais rápido: “Stop your crying, it's alright Shut up, kiss me, hold me tight”
O mais interessante de “My Woman” é a facilidade que Olsen tem para diversificar a maneira com que conta suas histórias. Ela perpassa por diversos gêneros e sua voz parece sobrar em níveis para expor todo sentimentalismo que suas letras e sua produção demonstram. Chega, por vezes, a criar uma sensação de podermos segurar as palavras da cantora. É visceral, impiedoso, triste, e o ponto de exclamação que traz a música de Angel Olsen para o mundo todo.
Melhores faixas: Never Be Mine, Shut Up and Kiss Me, Not Gonna Kill You, Heart Shaped Face, Those Were The Days, Woman
5 | a tribe called quest - we got it from here, thank you for your service
18 anos de hiato de um dos grupos de Rap mais inovadores de todos os tempos. Não há nenhum problema - na verdade se torna necessário - salientar que sem “A Tribe Called Quest” o Rap não seria o que é hoje, ainda mais com, no cenário atual, cada vez mais o Hip-Hop experimental dando indícios de que irá assumir o mainstream dentro do gênero, pertencente ao Trap.
Há muito mais sobre o grupo do que beats e rimas mas entendemos que essa seja a vida deles. A consistência presente em toda discografia da banda mostra que a aplicação de elementos tendentes ao Jazz assim como a apresentação de novos instrumentos presentes na mixagem das faixas até então pouco utilizados no gênero deveriam soar complexos mas parecem tão natural quanto respirar aqui. A vida de Q-Tip, Phife Dawg, Ali Muhammad e Jarobi White é fazer música e por isso, por vezes, é difícil explicar como composições tão autênticas, versos tão viscerais e rimas tão naturais soam tão simples e orgânicas ao ouvido.
Mas claro que 18 anos depois as coisas não seriam iguais, e nem deveriam. O grupo não aposta no fator nostálgico em suas músicas mas sim, novamente em sua maior qualidade: a originalidade em fazer música. As transições entre as faixas são facilmente digeridas, o flow de todos os cantores está mais hipnótico do que nunca e o lirismo se faz relevante em todos os momentos, cimentando críticas cruas sobre questões sociais e políticas além de trazer a vulnerabilidade necessária para prestar um tributo a Phife Dawg em “Lost Somebody”, que faleceu pouco antes do lançamento do álbum. Alías, “We got it from Here... Thank You 4 Your service” foi o título decido por Phife. Ninguém sabe de fato a inspiração por trás da frase nem o que ela representa dentro do contexto do próprio álbum, apesar de ser ligeiramente sugestivo, mas era isso que ele queria. De qualquer maneira, que Phife e a grupo descansem em paz. Muito obrigado por seus serviços.
Melhores faixas: The Space Program, We the People, Solid Wall of Sound, Dis Genartion, Kids…, Melatonin, Black Spasmodic, The Killing Season, Lost Somebody, Conrad Tokyo, Ego, The donald
4 | david bowie - blackstar
Quando Bowie lançou seu primeiro disco de estúdio em mais de 10 anos em 2013, “The Next Day”, o questionamento sobre próximos trabalhos do artista não demoraram a surgir. Mais reservado e misterioso do que nunca, David Bowie, no auge dos seus 70 anos, parecia ainda ter muito a dizer criativa e musicalmente. Em 2016, surpreendeu a todos com um álbum que veio a figurar entre os melhores de toda sua discografia. Infelizmente, foi o último dela.
Blackstar se debruça sobre as reflexões de Bowie sobre sua própria mortalidade, sobre a vida, sobre legado e passagem. Por uma triste ironia, que quase parece armada por se tratar do artista total que ele era, dois dias depois do lançamento do álbum, o próprio artista faleceu. Só então veio a público que ele estava lutando contra o câncer há algum tempo. Este é um trabalho curto, mas extremamente denso: em letra, performance, produção e instrumentação. Mesmo quando há silêncios ou espaços aqui, eles parecem ensurdecedores. Quase tão ensurdecedores quanto o vácuo que parece pairar sobre a música sem o camaleão do rock.
Melhores faixas: Blackstar, Lazarus, I Can’t Give Everything Away.
3 | bon iver - 22, a million
No maior hiato de sua carreira, Justin Vernon, aparentemente, tratou de expandir seus horizontes musicais e filtrar suas influencias. 22, a million não é nada como qualquer outro projeto em sua carreira, nada de baladas acústicas acompanhadas de percussão suave, e nada de hinos épicos para os estádios, nada disso. 22 é cru, experimental e inusual; tem em sua maioria, musicas que residem longe do mainstream e do radiofriendly, repletas de samples, bops, clicks e saturação.
O trabalho de Justin como produtor executivo, que todos nós já conhecemos: grandes arranjos, com variedade de instrumentos, e gigantescos refrões, dessa vez é um pouco diferente. 22, gira em volta das automações dos instrumentos, assim como 8 (circle) indica em seu título, a faixa conta com um loop de teclado e sopros que conduz a musica até o fim, o que traz dinâmica a canção é justamente a mudança de característica dos instrumentos durante a canção. Tão maravilhosamente preenchido com erros intencionais, é a obra prima de Vernon.
Melhores Faixas: 33 GOD, Moon Water, Over Soon, Starrford
2 | frank ocean - blonde
Foram 4 longos anos de espera. 4 anos onde fãs buscavam qualquer fonte de procedência duvidosa para se apegar a um novo e iminente lançamento de um jovem cantor e compositor que havia dissecado o amor através de paletas laranjas e sob o clima quente do verão.
Independente do que Frank Ocean fez em Nostalgia Ultra e Channel Orange, “Blond” ou “Blonde”, é uma experiência completamente diferente do que o artista havia nos entregado e do ano de 2016. O tom ambíguo sobre os visuais do álbum começam desde a tentativa falha de interpretar a sua capa, mas isso não nos impede de tentar. Em consonância com suas composições, Blond é o reflexo de alguém extremamente solitário e desiludido mas que tenta tratar isso com certa resiliência. Não é sofrer sem alguma perspectiva, o que fica claro através da voz de Frank, buscando sempre algum tipo de redenção em relação ao seus próprios pensamentos, eclodindo muitas vezes em algum momento de descontrole, como vemos em “Ivy”, quando grita que estava apenas sonhando, em “Seigfried” quando acha que não é corajoso o suficiente ou em “Self Control” quando pede apenas mais uma noite, mesmo sabendo que aquele alguém deve partir.
O seu título, mais claro, trata sobre sua bissexualidade. A cada música, a manifestação empática com o cantor explode em quem o escuta. São histórias que podemos nos relacionar mas que não ousamos nos intrometer. Quatro anos de auto-aceitação, decepções, grandes amores e saudosismo foram o tempo necessário para compartilhar essas experiências com o mundo. Sua musicalidade se tornou mais excêntrica do que nunca, onde cada canção possui seu traço ímpar em relação a qualquer outra sensação mundana e a falta de Beats regendo o tempo cria a atmosfera mais confessional que poderia ser criada. Suas letras estão mais metafóricas do que nunca e a pessoalidade que Frank carrega com cada acorde aqui machucam. Pessoalidade é ponto focal. Frank Ocean criou o projeto mais pessoal de 2016 talvez da história em Blonde.
Melhores Faixas: Ivy, Pink + White, Solo, Self Control, Nights, White Ferrari, Seigfried
Menções Honrosas: Rihanna, Anti; Nick Cave, Skeleton Tree; Radiohead, A Moon Shaped Pool; Anderson Paak, Malibu; Mitski, Puberty 2.
1 | beyoncé - lemonade
A resposta não poderia ser outra.
“I Am… Sasha Fierce” foi um aviso. “4” uma grito de liberdade. “Beyoncé” um atestado. Mas o melhor álbum da artista mais relevante do século 21 é aquele que desafiou tudo que achávamos que sabíamos sobre ela.
“Lemonade” não apenas converge gêneros de forma que poucos artistas se atrevem a fazer, mas desafia paradigmas que a música Pop geralmente deixa de lado, ao centralizar não apenas as dores, mas as vitórias de uma mulher negra que conquistou tudo que podia conquistar.
Quando ela canta em “Formation” que vai levar o marido (um tal de Jay-Z) para as compras se ele a tratar bem, isso não é uma inversão de papéis, mas um atestado de seu poder. Quando ela solta a voz sobre marchas triunfais sobre as águas turvas de “Freedom”, é como um canto anacrônico de liberdade física e mental. Quando ela pergunta com uma gramática incorreta “Who the fuck do you think I is”, ela não apenas desafia nosso próprio conhecimento acerca de sua personalidade, mas se coloca ao lado de um dos estereótipos mais absurdos acerca da mulher negra apenas para destruí-lo por completo, justamente ao abracá-lo.
Em “Lemonade”, Beyoncé mostra ao mundo ignorante e racista todo o orgulho que tem de suas raízes e origens, se coroando como a artista mais intocável e inigualável do mundo no processo.
No final das contas, é melhor ouvir o que ela diz.
Melhores faixas: Pray You Catch Me, Hold up, Don’t Hurt Yourself, Sorry, Daddy’s Lessons, Freedom, Formation