Os 13 Melhores Filmes de Terror do Século 21 (Até Agora...)
Estamos no final do primeiro quinto do século 21, e então decidimos construir uma lista com os melhores filmes do século (até agora) de diversos gêneros. Esta é a do terror…
Foi um ano complicado para todo mundo. Pandemia, isolamento e mortes se tornaram assuntos rotineiros. O caos virou comum. E o medo está mais presente do que nunca.
O gênero do terror (seja no cinema, na literatura ou em qualquer outra forma de arte) sempre foi essencial para levantar debates sobre questões atuais, até mesmo aquelas que vivem no ponto mais profundo e íntimo dos nossos anseios, e enrolá-las em uma camada de entretenimento que torna tudo mais fácil de ser explicado e entendido. O terror é um dos gêneros mais importantes que existem por isso. É o filme que você pode tanto chamar vários de seus amigos para assistir no cinema ou apenas se enrolar em um cobertor em casa numa noite chuvosa. É um gênero incansável e popular. É um gênero necessário e inteligente. É um gênero lindo.
Falando de filmes de terror, ao invés de um “Top 10”, decidimos por um “Top 13” por motivos óbvios. Tive que pegar nossa serra-elétrica e cortar muitos terrores ótimos que poderiam estar aqui. Nem todos sobreviveram à seleção. Mas com certeza muitos dos que aqui estão irão te arrancar gritos e deixar seu coração palpitando até a cena final.
E caso queiram conferir outras de nossas listas, podem encontrar elas aqui:
Agora, vamos aos filmes. Como sempre, alerta moderado de spoilers.
13 | AS BOAS MANEIRAS
Juliana Rojas e Marco Dutra são craques do terror brasileiro.
Trilhando um caminho próprio, eles criaram primeiro "Trabalhar Cansa", um excelente drama social com pinceladas de terror. Mas é em "Boas Maneiras" que eles invertem o jogo e criam um terror com pinceladas de drama social.
Essencialmente brasileira, a fábula de licantropia atinge a temática do preconceito racial, do preconceito de gênero, da maternidade e abusa de uma São Paulo estilizada com CGI para situar uma história em que a separação geográfica de classes sociais se faz essencial.
12 | o segredo da cabana
O slasher é um dos gêneros mais manjados de todos os tempos e nós já vimos ele ser desconstruído em milhares de formas diferentes - o primeiro sendo "Student Bodies" e o mais eficaz e inteligente sendo "Pânico" de Wes Craven, com suas sequências também ótimas.
Mas nenhum deles foi capaz de construir o que "O Segredo da Cabana" conseguiu. Esse é um dos filmes que, se você não assistiu ainda, não leia nada sobre. Apenas veja e seja surpreendido. Mas o que dá pra contar é que a metalinguagem toma caminhos inesperados e a narrativa consegue continuar empolgante e dentro do gênero de terror mesmo quando todos os segredos já estão expostos. "O Segredo da Cabana" é uma desconstrução muito inteligente, refrescante e necessária.
11 | O Babadook
Poucos filmes de terror conseguem unir a profundidade e a efetividade como “O Babadook”.
Se por um lado, é tenso, enervante e vai te deixar sentado na ponta do sofá em diversos momentos, por outro, é um filme com um roteiro inteligente e uma analogia audiovisual riquíssima para o luto e a depressão.
Com atuações excelentes e um trabalho de deisgn de produção e de som primorosos, “O Babadook” coloca o time técnico a favor de sua história do início ao fim, e assim pode ser considerado um dos melhores longas de terror do século.
10 | JOGOS MORTAIS
Gravado em 18 dias com um orçamento baixo, este terror conhecido por qualquer um hoje foi quem influenciou diversos outros filmes de torture porn que vieram em seguida, além de construir a base para diversas sequências. A história já é conhecida: dois estranhos presos em um banheiro nojento descobrem que a única maneira de escapar é extremamente sangrenta.
Apesar do roteiro falho em diversos momentos, esse ainda é um dos filmes que mais funciona de toda a franquia e do gênero em si porque tem muito mais do seu foco nos personagens do que na violência em comparação ao que veio depois. E "Jogos Mortais" também foi, em parte, responsável por repopularizar horrores que se levavam a sério, principalmente depois da febre de filmes autoconscientes que dominava o mercado desde "Pânico". Não é nem de longe um filme perfeito, mas fez história e merece seu lugar na lista.
9 | rua cloverfield 10
É claro que o filho genuíno de Alien e Psicose teria lugar marcado nessa lista. Quem ouve o podcast do Outra Hora já deve saber que este é um dos filmes favoritos pessoais do membro da equipe que vos escreve, mas o poder de “Rua Cloverfield 10” e sua colocação nessa lista vai além de mero favoritismo. A sequência do filme de monstro found-footage (este primeiro precisou até de aviso nas portas do cinema sobre possíveis enjôos causados pelo movimento constante) foi capaz de superar seu antecessor sem usar, em boa parte do filme, efeitos especiais grandiosos e sequências de ação alucinantes.
Temos aqui um suspense hitchcockiano, marcado pelos nuances nas performances dos três protagonistas (Mary Elizabeth Winstead, John Goodman e John Gallagher Jr.) e pela tensão em cada peça do quebra-cabeça que vai sendo revelado. O filme se torna ainda mais relevante nos tempos atuais, com um paralelo muito claro entre o que vivemos e o que a protagonista sofre. É um terror de primeira. E se você ainda não assistiu, a única pergunta que tenho é: em que buraco você esteve escondido por esses últimos anos?
8 | corrente do mal
Tratando a morte como uma entidade que te persegue para onde quer que você vá, "Corrente do Mal" é um dos terrores que trabalha o medo a partir da ansiedade e da antecipação. Jay, a protagonista, é uma final girl diferente das que vemos em outros filmes slasher. Ela é feminina, sexualmente ativa e ingênua - e nem por isso a pintam como personagem burra que deve morrer, como fazem diversos outros filmes do gênero.
E, é claro, impossível escrever sobre "Corrente do Mal" sem mencionar a sua belíssima fotografia, com planos abertos e expansivos, que nos situam com facilidade naquele universo com aspecto de sonho - ou pesadelo. Esse longa sobre um monstro sexualmente transmissível merece seu lugar na lista tanto pela maneira com que ele representa a vida e a morte (uma segue a outra, sempre) quanto pela maneira com que faz essa representação, e isso abrange a sua trilha sonora de sintetizadores, o seu design de produção fora de um tempo específico e a direção segura de si, com escolhas muito conscientes e eficazes para nos transportar entre a paz e o pavor a cada cena.
7 | 28 days later
Infelizmente muito atual nesses tempos difíceis, "28 Days Later" é um clássico filme de zumbi que traz uma mensagem essencial para o nosso 2020.
O nosso protagonista Jim acorda de um coma e descobre que o mundo inteiro foi imerso em um apocalipse zumbi. Ele não demora a encontrar uma nova família em suas companhias e decide que ainda há motivos para lutar e viver. Com um elenco esplêndido e uma direção precisa, o longa conseguiu repopularizar os "zumbis rápidos" que vemos com mais frequência hoje em dia e revitalizar o gênero todo metendo medo de verdade num possível apocalipse.
Sobre a mensagem essencial do filme para nós, que mencionei no começo do texto, é a frase mais marcante deste terror, que encapsula a sua mensagem: “It's not all fucked.” / “Não está tudo fudido.”
6 | atividade paranormal
Revitalizando o gênero do found-footage, esse terror se alavancou de um orçamento baixíssimo de $15,000 para alcançar o mundo inteiro devido a sua popularidade. A verossimilhança conquistada com a câmera de baixa qualidade e a escolha das cenas e dos planos (importantes para a história ao mesmo tempo que críveis como gravações caseiras) alavancaram "Atividade Paranormal" ao posto de um dos maiores sucessos do terror dos últimos tempos.
É uma história contemporânea, muito mais próxima a qualquer um do que orfãos se mudando para uma mansão ou monstros que atacam a cidade. Um dos grandes exemplos da eficácia dessa história em apavorar quem assistia foi o próprio trailer, que ajudou a vender o filme usando reações incríveis do público. E quem já assistiu sabe, o pavor é real. E os sustos vêm mesmo.
A febre de "Atividade Paranormal" foi capaz de tornar salas de cinema em verdadeiras experiências e em questão de franquia, essa conseguiu algo difícil de fazer com um sucesso desse patamar: acertou bastante em mais de uma de suas sequências. Usando o silêncio, a expectativa e o realismo como armas poderosas, "Atividade Paranormal" trouxe uma experiência imersiva e apavorante que ficou marcada na experiência de qualquer fã de terror.
5 | Plano-Sequência dos Mortos
Se você ainda não assistiu essa pérola do terror de baixo orçamento, não leia o resto desse texto antes de fazer isso.
Vai lá. Assiste. Tire suas próprias conclusões. Erre. Depois você volta aqui e lê o que tenho a dizer sobre ele.
Completamente diferente de tudo o que você já viu, "Plano-Sequência dos Mortos" transforma o que a princípio parece um plano-sequência estranho e sem sentido de terror trash em uma das experiências mais divertidas que você vai ter. As camadas sobrepostas de metalinguagem ajudam a criar esse cenário de incerteza até que, por fim, rolam os créditos e você descobre que a grande missão daquele filme é mostrar os cômicos terrores de se gravar um filme com baixo orçamento e com um elenco complicado e imprevisível.
4 | a bruxa
Eu gosto de descrever "A Bruxa" como um filme de origem.
Como aqueles que vemos as franquias de super-heróis e super-vilões criarem para tirar leite da vaca dos nerds, sabe? Mas aqui, é tudo feito com o maior cuidado e perfeccionismo. É brilhante. E é terrível.
Robert Eggers já se provou como um dos maiores nomes do terror atmosférico atual, com o ótimo "O Farol" também no seu currículo, mas é aqui, neste terror de época que o pavor se anuncia nos detalhes, que o medo não vem no susto, mas na construção, naquilo que está por vir. O fervor religioso, a puberdade, a morte, a vida e cabras apavorantes - está tudo aqui pronto para te deixar desconfortável, assustado e completamente envolvido.
Foi um dos filmes mais polêmicos destes últimos anos e, também por isso, merece toda sua atenção.
3 | Garota Sombria Caminha pela Noite
Este terror romântico western sobre uma vampira iraniana vigilante já começa de forma excelente, e nem seria preciso ir muito além dessa própria sinopse para provar isso.
Mas uma cena específica nos pega desavisado e nos envolve completamente naquilo tudo. É quando o jovem Arash se aproxima da perigosa vampira por trás, na sua fantasia de drácula, enquanto 'Death - White Lies' toca no fundo. O poder dessa cena não está em qualquer plot-twist ou sequência elaborada de assassinato ou qualquer diálogo de declaração apaixonada, mas sim em nos aproximar tanto da garota e encapsular tão bem a essência do que aquela história é: o que existe entre o perigo e o amor e como lidar com a força e a fragilidade necessárias a qualquer um, seja pra amar ou pra matar.
No universo preto-e-branco de Bad City, uma vampira anda de skate livremente, procurando por pescoços de homens maus para enfiar as suas presas e é com ela que Ana Lily Amirpour constrói um dos "monstros" mais interessantes do terror desse século.
2 | deixa ela entrar
Um primeiro namoro pode dar medo, mas nada se compara a esse sangrento romance infantil. Quando Oskar, um garoto de 12 anos que sofria bullying, conhece a nova vizinha estranha, sua vida é transformada - para o bem ou para o mal.
Uma das melhores histórias de vampiro no cinema, esse longa sueco baseado no romance de John Ajvide Lindqvist aborda tanto a força que a companhia de alguém novo pode trazer quanto a origem e o ciclo da violência, que só tende a aumentar como uma bola de neve.
E sem revelar muito sobre a trama para quem ainda não assistiu, o formato circular da narrativa, revelado nos momentos finais do filme, expõe como tantos detalhes no roteiro são construídos na nossa frente sem que percebamos. A performance dos dois protagonistas mirins consegue nos aproximar desses personagens (e até trazer afeição) ao mesmo tempo em que sentimos medo do que eles são capazes de fazer.
Menções Honrosas sem ordem específica: "O Farol", "Sobrenatural", "REC", "Hereditário", "Todo Mundo Quase Morto", "O Hospedeiro", "Garota Infernal", "Os Outros", "A Orfã", "O Chamado", "Premonição", "Abismo do Medo", "A Morte Te Dá Parabéns", "O Orfanato", "Medo", "Nós", "It - A Coisa", "Um Lugar Silencioso", "Suspiria", "O Que Fazemos nas Sombras", "Invasão Zumbi", "A Visita", "O Homem nas Trevas", "Ao Cair da Noite", "Uma Noite de Crime", "Hush: A Morte Ouve" e "Pânico 4".
1 | corra
No terror, muito se discute o conceito daquilo que não se vê. De um monstro invisível ou oculto pelas sombras que, por não aparecer de fato na tela, acaba causando ainda mais medo. Não me entenda errado, "Corra" apresenta seus vilões com clareza: a elite branca e racista dos Estados Unidos. Mas o seu monstro em si (o racismo) se mostra aqui como um dos mais apavorantes da história do terror porque, assim como tantos outros monstros que vieram antes dele, ele cria um terror absolutamente palpável para o protagonista e para quem assiste, porque assim como o racismo no mundo real, é ignorado como besteira por quem não quer ver.
O racismo aqui não é aquele explícito, da brutalidade policial ou da marcha com tochas. Vemos uma família branca liberal que parece não ter problema algum com Chris. Eles são inofensivos, certo? Até votaram no Obama. Acontece que, em pouco tempo, "Corra" nos mostra o quanto essas aparências não significam absolutamente nada. O racismo está presente ali, tão perigoso quanto aquele nos discursos inflamados de um presidente da extrema-direita ou na bandeira dos Confederados de um redneck. E o racismo de brancos liberais fere e mata enquanto muitos preferem acreditar que esse monstro não existe, que é fruto da sua imaginação, um bicho-papão, mimimi. Tem até aqueles, como o branquíssimo Golden Globe, que dizem que um filme que tem o racismo como monstro e uma família branca como vilã não passa de uma comédia - o que apenas faz com que "Corra" se torne ainda mais acertado em suas críticas.
Unindo um roteiro repleto de detalhes e metáforas fascinantes que incentivam diversas assistidas a um elenco de primeira (os olhos arregalados de Daniel Kaluuya são uma das grandes imagens do terror da atualidade) e uma direção consciente (Jordan Peele sabia exatamente como elevar a tensão e nos conduzir num caminho temeroso a cada sequência), "Corra" se consagra até agora como o melhor terror do século 21 devido ao seu primor artístico, impacto social e relevância na história do gênero, na história do cinema e na história.
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