Crítica | A Bruxa

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“A Bruxa” é um caso raro de filme que, com apenas 93 minutos, te deixa completamente exausto.

Isso se, claro, você entender que a proposta do longa nunca foi te assustar com uma possível bruxa saltando do meio da floresta com a língua pra fora, mas sim criar um ambiente o mais próximo possível de uma realidade não tão distante assim e sugerir coisas que todos gostaríamos que ficassem apenas no filme, pois ali já se mostram vis demais para sequer supormos que realmente existam.

Foi assim que Robert Eggers criou um dos filmes mais polêmicos dos anos 2010, tanto por seu conteúdo como pela sua forma, e pensar que esta era apenas a estreia do realizador (que ainda faria o brilhante “O Farol” em 2019) chega a ser, por si só, algo assustador.

Se passando em meados do século 17, o filme escrito e dirigido por Eggers segue a vida de uma família banida de uma colônia puritana por conta de uma disputa religiosa. Eles passam a viver em uma fazenda, isolada e próxima a uma vasta floresta onde, vocês sabem, coisas estranhas começam a acontecer.

Apostando em uma ambientação fúnebre, com uma paleta de cores que passa a sensação de algo podre na madeira velha, no chão enlameado e nos próprios atores, “A Bruxa” é um filme de atmosfera, com seu medo sendo construído por sugestões e simbolismo, caminhando uma linha tênue entre o sacro e o profano, e indicando a cada nova cena que algo de muito errado - e mau - está para acontecer. Desde as cabras na fazenda, à natureza levada dos gêmeos, ao próprio visual da jovem Anya Taylor-Joy, com cabelos beirando o branco e olhos arregalados que a tornam perfeita para filmes de terror.

Eggers ainda aplica diversas técnicas que te imergem ainda mais, posicionando a câmera de forma que não conseguimos ver a extensão completa de planos sequência, alternando o uso de luzes naturais e artificiais - o fotógrafo Jarin Blaschke deveria ter sido indicado ao Oscar - e contando com uma trilha sonora dissonante e que chega a arranhar o ouvido com composições clássicas. Além disso, desde figurino ao design de produção, é como se fossemos transportados para aquele lugar e estivéssemos sem ação perante tudo e sem saber exatamente quais as verdadeiras intenções do diretor, o que torna a experiência ainda mais sufocante.

Mas se “A Bruxa” incomodou a muitos por seus temas religiosos - e deveria, pois, de certa forma, tudo o que a jovem Thomasin quer é liberdade para buscar os prazeres da vida que todos gostamos de achar que temos direito, e o que a restringe é o modo patriarcal e arcaico com que a religiosa família vive -, foi a falta de jumpscares que incomodou os espectadores desavisados, entrando em um filme de arte quando esperavam a primeira de muitas sequências. Mas se caso a maçante (no melhor sentido) uma hora e meia do filme te cansem cedo, preste atenção nos detalhes, nas sugestões, nos olhares, nos movimentos de cada criatura em tela.

Caso se deixe levar, vai ter sim uma das experiências mais intensas e perturbadoras com um filme de terror e ela vai continuar por você um tempo após o final que chega a ser, de maneira sombria, gratificante.

8.9

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