Beyond | Corra!
Há algo de fascinante em filmes como “Corra!”.
E não é tão difícil assim de se saber o quê. A simples ideia de assistir à um filme tão impactante como este apenas para descobrir que você, praticamente, perdeu metade do que estava sendo mostrado em tela é um fato que enfurece muitos, geralmente indignados com a própria incapacidade - seja ela por falta de estudo ou interesse na sétima arte -, mas se apresenta como um deleite para outros que, mesmo percebendo como seus olhos ainda não são “treinados” o suficiente para decifrar todas estas metáforas e alegorias, se excitam com a ideia de poder descobri-las em revisitas mais atentas à tal obra.
Dito isso, talvez nenhum filme tenha passado por tantas análises como esta estreia de Jordan Peele (“mother!” de Aaronofsky e “Enemy” de Villeneuve, merecem pontos também) que, além das muitas mensagens e alegorias visuais escondidas durante a projeção, traz um comentário relevante e pungente (sim, pungente) sobre o racismo nos Estados Unidos e as muitas formas com que este é praticado.
Por isso, nesta análise, tentarei ir um tanto além dos simbolismos e de suas representações - algo que você pode facilmente encontrar em listas e mais listas no Google -, e tentarei mostrar como Peele os utiliza à benefício da narrativa e que tornam “Corra!” um dos melhores, e mais importantes, filmes do nosso tempo.
Mas, antes, o necessário:
Como homem (já? será? jovem adulto, melhor.) branco, nunca experimentei qualquer tipo de preconceito destinado à minorias, o que não me impede de sentir profundo desgosto pela posição tomada por diversos dos personagens no filme, mas também não me permite comentar sobre como os exemplos ali evidenciados se entrelaçam com a minha própria experiência.
Portanto, tomarei um ponto de vista predominantemente técnico, mas também carregado com o que pude ver e presenciar do racismo diário em meus tantos anos de vida. E gostaria de ir além e convidar qualquer pessoa que se sentir confortável a compartilhar experiências similares às ocorridas na projeção nos comentários, pois basta abrirmos os olhos e percebemos que muito pouco neste filme de terror é genuinamente fictício.
Dito isso, vamos começar…
… falando de algo que, até agora, me parece inédito em outras postagens semelhantes. Antes disso, uma pergunta: qual o filme de terror mais icônico de todos os tempos?
Embora respostas acerca do “melhor” possam e devam variar, é inevitável não pensar no “Iluminado” de Kubrick e como aquela obra influenciou tantas gerações a seguir e, por mais que certas vezes o jogo de câmeras de Peele - e algumas escolhas sonoras - emulem o clássico de 1980, é na simples cor e fonte que os créditos inciais do longa são apresentados que acredito estar a maior relação entre as duas obras. Reparem como o tom de azul é praticamente idêntico e como ambos os filmes começam com longas tomadas envolvendo automóveis e, também, árvores e desfiladeiros. Porém se naquele protagonizado por Jack Nicholson vemos o carro de Jack Torrance de cima, com Kubrick nos situando como meros observadores daquela história, neste filme protagonizado por Daniel Kaluuya é como se víssemos o que ele vê, pois a câmera, frequentemente subjetiva, nos coloca dentro de sua perspectiva daquele mundo.
Mas este início não apenas funciona como uma bela forma de se utilizar da inspiração de “O Iluminado”, mas também já nos apresenta como o próprio “Corra!” se desenvolverá, algo que pode ser observado da melhor forma se analisarmos as três primeiras cenas e como elas se interligam uma com as outras.
Na primeira, Lakeith Stanfield dá vida à um jovem negro que, perdido em um bairro burguês, é atacado por uma figura misteriosa saída de um carro branco (já aí, a importância das cores se faz presente) e a forma como Peele filma tudo em plano sequência, girando a câmera em diversos ângulos e acompanhando o jovem em questão com uma sincronia quase esquizofrênica, é como um cartão de visitas para o impressionante talento dele como diretor e também para o mundo de preconceito onde vivem os jovens de cor. Além disso, é como se fosse um rápido, mas inquietante lembrete dos efeitos do racismo, sendo que a situação lembra muito a do assassinato de Trayvon Martin, em 2012, que seria um ponto crucial nos movimentos da Black Lives Matter.
A segunda cena é a comentada dois parágrafos acima, onde ouvimos a assombrosa canção “Sikiliza kwa wahenga” que, cantada no dialeto africano swahili, literalmente avisa o protagonista que ele deve correr e que algo de ruim está para acontecer. Ao reassisti-la, percebemos que o caminho sendo traçado é o de Jeremy, levando um inconsciente Andre (o qual tinha acabado de raptar) ao abate, e o fato de ela cortar diretamente para um desavisado Chris, nos avisa - em outra língua, é claro - que o mesmo irá acontecer com ele. Nesta terceira cena, onde o vemos pela primeira vez, perceba como ele se olha no espelho (assim como Jack Torrance) por diversos momentos, e também como o trabalho de câmera de Peele faz questão de apontar duas coisas: um, a visão artística de Chris, que teria papel fundamental na história mais para frente, incluindo uma belíssima foto de um pássaro “preso” em meio à duas paredes e; dois, ressaltar a trajetória dele e de Rose anteriormente à viagem que fariam em conjunto. Enquanto Chris se barbeia e arruma suas coisas, Rose escolhe doces em uma padaria assim como escolhe suas vítimas - e vemos posteriormente ela fazendo isto em uma cena onde, inclusive, consome um cereal da forma mais psicótica possível (quem em sã consciência morde o grão e toma o leite de canudo?).
E não podemos deixar de notar, também, o uso do single “Redbone”, de Childish Gambino, que funciona como uma metáfora ambígua tanto para um relacionamento infiel como para o racismo, a própria síntese do relacionamento de Chris e Rose.
A partir daí, e com menos de cinco minutos de filme, já nos é dito tudo que precisamos saber sobre aqueles personagens e, mesmo que não saibamos disso na primeira vez que assistimos, o efeito de empatia que tais cenas provocam tem efeito fundamental no impacto da principal reviravolta, que serve como transição do segundo para o terceiro ato, mas falo mais sobre isso posteriormente. Pois, voltando, um elemento crucial de “Corra!” é a relação entre Chris e Rose que, além de parecer genuína graças à química presente entre os dois atores, serve quase como um porto seguro para nossas próprias preocupações ao longo da projeção. Por isso, ao vermos a personagem de Alisson Williams (estupenda e esnobada na temporada de premiações) defendendo seu namorado de um policial racista, não podemos fazer nada se não apreciar sua dedicação ao amado quando, na verdade, estava apenas impedindo que qualquer registro da presença dele fosse feito próximo à sua casa. E reparem no olhar de Daniel Kaluuya, principal achado do longa (e um dos maiores talentos descobertos em toda a década), durante toda a situação e como um simples sorriso nos comunica que tal acontecimento é tão comum em sua vida que ele nem se dá o esforço de se estressar mais.
Esta cena, aliás, traz outro importante simbolismo para a narrativa na forma do cervo, animal que o casal atropela e que seria mencionado pelo pai de Rose em um diálogo revelador logo a seguir. Mas, antes, chegamos à tenebrosa apresentação da casa dos Armitage que, tirada diretamente de um genuíno filme de mistério onde uma mansão/casebre é apresentada como elemento vital da história, é vista pela câmera em um plano aberto que, lentamente, se distancia para revelar que o caseiro - recém visto, e dono de um olhar macabro - está observando a chegada de Chris, recepcionado de forma afetiva por seus sogros. Logo mais, o brilhante roteiro de Peele literalmente nos avisa das intenções tanto de seus personagens como do próprio filme, pois o monólogo de Bradley Whitford (divertido e caloroso por dois terços do longa) literalmente compara sua visão sobre cervos - que “devem ser erradicados” - com seu preconceito para com a população negra, enquanto seu convite à Chris para que façam um tour pela casa serve como uma clássica forma de o longa nos apresentar seu cenário principal enquanto, obviamente, nos entrega mais pistas visuais e simbólicas.
Em uma caminhada fluida e acompanhada pela câmera quase sem cortes, vemos Dean mostrando a Chris seus muitos troféus - incluindo móveis e artefatos relacionados à cervos -, mas a principal força da cena não está na forma aparentemente desprendida em como o sogro fala sobre sua vida de luxo, que inclui justificativas para os dois criados presentes na casa serem negros - atenção para a apresentação de Georgina, a qual falarei mais abaixo -, mas sim em seu discurso anti-racismo, que entre referências à Hitler e à como Jesse Owens - velocista negro norte-americano que venceu quatro ouros nas Olimpíadas sediadas na Alemanha Nazista - havia derrotado seu pai em uma corrida qualificatória culmina, obviamente, na já infame frase que fora pre-avisada por Rose: não sou racista, eu teria votado no Obama uma terceira vez. A forma como Peele filma a cena é ao mesmo tempo sugestiva, mas acalentadora, quase como que tentando avisar o público que, apesar de ignorantes, os pais de Rose não são pessoas ruins, algo reforçado pelo design de produção que transforma a residência em um ambiente misterioso, mas ao mesmo tempo belo e aconchegante.
A cinematografia de Toby Oliver, inclusive, merece um destaque que comumente é destinado única e exclusivamente ao impecável design de produção e figurino do longa. Reparem em como o sol poente, presente nestas primeiras tomadas externas da residência dos Armitage, reforça a sensação de calor e aconchego, mas se faz praticamente ausente na posterior cena da reunião familiar, onde a paleta de cores toma tons melancólicos e fúnebres, ressaltados pela presença quase uniforme do preto nas vestimentas e carros dos convidados que, quase sempre, também trazem um pequeno adorno em vermelho (cor relacionada, entre outras coisas, à violência). Ainda nesta cena, é cômico o fato de Rose estar vestida de Freddie Krueger, enquanto Chris utiliza o mesmo azul de seu amigo Rod, cor remetente à própria experiência africo-americana, a qual falei sobre amplamente em minha análise sobre “Moonlight”, filme de 2016 e primeiro com um elenco inteiramente negro a vencer o Oscar de Melhor Filme.
Mantendo a atmosfera calorosa até o momento onde Georgina ouve o tinir da xícara de café de Maxine (Catherine Keener está absolutamente sinistra ao reinterpretar sua personagem de “Quero Ser John Malkovich” [é sério, pesquisem]), somos então relembrados que aquele é um filme de terror e não um romance-drama, ao perceber que há algo de muito estranho com aquelas pessoas que, sutilmente, introduzem o elemento da hipnose à Chris que, neste ponto, já funciona tanto como nossos olhos e ouvidos na projeção que é como se, pelo menos por algumas horas, pudéssemos habitar seu corpo (JOHN MALKOVICH!). Mais um exemplo do brilhantismo de Peele no roteiro, que introduz elementos para reutilizá-los depois, é importante ressaltar também o design de som nesta cena, que consegue destacar o barulho da xícara apenas o suficiente para que nos familiarizemos com ele, quase como se fossemos hipnotizados junto à Chris.
Logo, quando o vemos sendo abordado por Maxine e o som da colher batendo na xícara cresce gradativamente, o efeito é agoniante, em uma cena já icônica e milimetricamente construída por Peele. A edição de Gregory Plotkin tem papel fundamental aqui, ao cortar entre ambos os atores com fluidez e evidenciando tanto os efeitos crescentes da hipnose de Maxine, como a câmera cada vez mais fechada, que culmina na imagem mais disseminada do longa, onde Kaluuya comprova que seu talento é muito maior do que seus gigantescos olhos arregalados. A própria voz de Keener, inclusive, é distorcida para um tom demoníaco quando ela pede para que ele “afunde” e aquele breve momento de Chris no sunken place (não há tradução apropriada) parece uma eternidade, e novamente a fotografia é brilhante ao esbranquiçar a figura do jovem, criando um belo - mesmo que aterrorizante e claustrofóbico - contraste com a escuridão à sua volta.
E por mais que esta seja, de longe, a cena mais impactante e simbolicamente potente do longa - que, de acordo com Peele, se refere à sua própria experiência como negro na América -, não podemos subestimar a habilidade do diretor em evocar momentos mais convencionais do gênero do terror, como na cena anterior onde somos vítimas de dois jumpscares (que contam com cortes e graves como Kubrick fazia em “O Iluminado”) provocados pelos criados da casa e que funcionam justamente por observamos ambos por meio da câmera subjetiva, que novamente nos imerge na visão de Chris. É interessante apontar também como a fotografia adota tons quase acromáticos, sendo que o filme, brevemente, fica pintado apenas do preto e do branco.
Sabiamente intercalando a grande maioria destes momentos com interações entre Chris e Rose que, graças ao humor ácido da jovem, conseguem suavizar e quebrar a tensão, Peele continua a construir a relação de forma saudável e verdadeira, nos manipulando durante todo o processo - perceba como nos muitos momentos entre os dois no quarto dela há, visivelmente, uma barra avermelhada entre os dois - e jamais permitindo que o terror passe por cima da comédia, componente necessário para absorção do tema do filme e que oferece as quebras perfeitas para as cenas mais incisivas.
Particularmente, acredito que nenhuma tenha me deixado tão incomodado como a da festa, onde “Corra!” apresenta sua principal crítica ao racismo enraizado na sociedade. Ao vermos uma série de comentários “bem intencionados” acerca da cor de Chris, nossa repulsa pode apenas crescer ao perceber que convivemos diariamente com situações similares. Pois por mais que professar que o negro está na moda seja “menos pior” do que literalmente assassinar alguém por ter uma cor diferente da sua, seu impacto é, praticamente, tão destrutivo quanto. É justamente o racismo presente em pessoas que julgam estar dispostas a ajudar que mais machuca, e impede que o combate ao preconceito realmente vença. Pois se aqueles que estão ao seu lado ainda o ferem, aqueles contra você tem uma vantagem imensurável.
Mas o roteiro de Peele (o qual já elogiei várias vezes, mas ainda o farei outras tantas) é genial tanto no que representa, como na forma que costura os eventos ao final deste segundo ato. É aqui onde as máscaras começam a cair, seja em toda a sequência envolvendo Andre Hayworth, no plano capaz de dar calafrios onde Chris sobe as escadas e todos na festa param de conversar e olham para cima, na aparentemente reveladora conversa entre ele e Jim Hudson (interpretado com inspiração por Stephen Root, que emula os maneirismos de alguém cego com perfeição), ou no momento onde vemos sua foto sendo leiloada em um bingo enquanto uma sessão de cordas sinistras pintam Dean como o próprio Conde Drácula regendo sua sinfonia do medo - e reparem no pano vermelho no bolso de seu paletó. São diversas mini tramas resumidas à cenas individuais que, além de resgatar elementos passados, ligam às resoluções do terceiro ato.
Que vem por meio de uma sequência de eventos onde Chris descobre sobre o passado de Rose (que se posiciona exatamente atrás da porta do armário, em outra tomada evocativa) e percebe que seu destino será o mesmo de Georgina e Walter. Ali temos, também, mais um show de interpretações, contando com a irritação crescente de Kaluuya, a frieza de Whitford e Keener e o sadismo de Caleb Landry Jones, por mais que nenhum impressione tanto como a súbita troca de humor de Williams: de uma garota assustada com o comportamento dos pais, para uma psicopata fria e aquém de qualquer emoções - evidenciado pela aparência pálida e estéril que ela adota até o final da projeção. Se mostrando um mestre na construção e antecipação deste evento, Peele então se delicia com o absurdismo presente no final da história e, por mais surreal que seja toda a cirurgia envolvendo a troca de mentes, naquele momento percebemos que tudo o que assistimos até então nos preparou para esta revelação.
Com o uso - que até hoje considero um tanto desnecessário - de flashback, Peele, evidencia que, no fundo, o pior racismo é aquele invejoso, que tem como ambição tomar conta das próprias identidades, visões e habilidades físicas da raça negra, acreditando que eles não merecem ter estas “vantagens”. Aqui a própria profissão de Chris, como fotógrafo, faz uma rima narrativa crucial com o gatilho que liberta as mentes dos aprisionados. Com o uso de um flash, elas podem finalmente sair da escuridão, nesta que me parece uma alusão clara à prática cada vez mais comum de filmar situações de brutalidade policial, que por vezes acabam salvando vidas.
É aqui, também, que a figura de Rod, introduzido anteriormente como o grande amigo de confiança de Chris, começa a ter um papel fundamental na narrativa, mas, antes de abordar sua participação no longa, faço um parênteses para comentar sobre a Georgina de Betty Gabriel que, com apenas uma cena para si, consegue te devastar ao elencar um misto de emoções que vão desde o desespero à mais pura simpatia. É um breve momento, mas que simboliza toda a história de aprisionamento de mulheres negras por amarras sociais, não muito distantes do Brasil onde vivemos.
Agora sim, interpretado de forma hilária por Lil Rel Howery, Rod foi a forma perfeita de Peele destituir uma das narrativas mais comuns no cinema anti-racismo das últimas décadas, aquela do salvador branco (presente em obras como “Histórias Cruzadas”, “Estrelas Além do Tempo” e “Green Book”). É ele, um jovem gordinho e funcionário da guarda do aeroporto que, em meio à teorias absurdas e uma certa obsessão com crimes sexuais, sozinho liga os pontos e vai ao resgate de seu amigo. É notável como, no momento em que vira a última esperança, Rod troca o azul da camiseta pelo preto, como se agora não estivesse apenas ligado à Chris, mas à toda a causa. E preciso comentar que, após rever o longa várias vezes, sua sequência na delegacia - por mais remanescente do passado de comediante de sketches de Peele que seja - cada vez me incomoda menos, justamente por reforçar o quão difícil é convencer policiais (mesmo que estes sejam negros) de que algo de errado aconteceu à um homem negro sem que este o tenha provocado.
E o próprio Chris subverte outra convenção comum do gênero, ao tomar todas as decisões corretas para escapar da situação onde se encontra. Iniciando toda esta sequência de libertação com o simbólico ato de colher algodão, ele elimina cada membro da família com aquilo que os marcou durante a projeção. Dean com a cabeça de um cervo, Maxine ao fechar seus olhos para sempre com um punhal (assim como ela havia fechado os seus durante a hipnose), Jeremy com um combate corpo a corpo e Rose ao mostrar que, mesmo tendo sido enganado por ela, Chris se difere ao apresentar aquilo que o torna humano: compaixão.
Peele já comentou sobre o final do filme em diversas ocasiões, sobre como em uma das versões a polícia o prenderia pelo assassinato da família Armitage e, em outra, quando encontrado por Rod, a operação já teria sido feita. Porém, preferiu optar pelo final “feliz”, mais uma vez subvertendo não o gênero, mas a própria realidade, pois, quando você é negro, mesmo um filme de terror sobre o racismo é menos aterrorizante do que o mundo real.