Os 10 Melhores Filmes de 2012

A segunda década do século 21 está chegando ao fim e para comemorar (?) decidimos retornar à todos os anos desde 2010 e listar os melhores álbuns, filmes e músicas de cada um.

Listas dos anos anteriores:

2010

2011


A simples ideia de listar obras de arte é um exercício de futilidade. Porém, a vida não vale a pena ser vivida se não for, também, comentada, analisada e pensada. Por isso, muitos de nós somos apaixonados por listas dos mais variados tipos mesmo que raramente, se alguma vez, elas reflitam com exatidão nosso gosto pessoal.

Portanto, e dentro da proposta do site de listarmos os melhores de cada ano da década, decidi me entregar à tarefa de listar os melhores filmes de cada ano, assistindo e re-assistindo dezenas, até centenas, de obras no processo.

Abaixo, falo sobre aqueles que considero os melhores de 2012:


10 | As vantagens de ser invisível

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Certo, seus atores eram um pouco velhos demais para interpretarem jovens em seu primeiro ano de escola. Certo, essa história já foi contada antes de diversas formas. Certo, é difícil ver Hermione e Percy Jackson contracenando sem pensar nos filmes que os marcaram (pelo bem, ou pelo mal). Tudo isso é verdade, mas há algo de especial no filme de Stephen Chbosky, baseado em seu próprio livro.

Com um dos títulos mais inventivos e repleto de significado em um gênero recheado de boas escolhas (“The Edge of Seventeen”, “Lady Bird”, “Boyhood”), o longa nos lembra como as pequenas coisas que vivemos podem parecer triviais no momento que acontecem, mas tem um efeito profundo em como seguiremos nossa vida e só nos daremos conta disso anos depois. Ah, se pudéssemos reviver tudo aquilo de novo.


9 | a hora mais escura

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Kathryn Bigelow tem um olho privilegiado para o sofrimento no cinema. Primeira e até hoje única mulher a ganhar o Oscar de Melhor Direção pelo agoniante “Guerra ao Terror” de 2009, Bigelow aplica toda sua construção de tensão e perigo à uma obra polarizante e conceitualmente provocativa.

“A Hora Mais Escura” é uma tomada Hollywoodiana - em formato de narrativa - sobre todos os acontecimentos que levaram ao assassinato de Osama Bin Laden, mas nunca deixa de soar como o mais visceral e cruel cinema independente em seu tom e estética. Ao centrar todos os acontecimentos em volta da bem construída personagem de Jessica Chastain - que adiciona camadas não escritas no roteiro à personagem -, ela consegue criar uma história ficcional convincente sobre os “heróis” realizadores de um dos maiores “feitos” do governo Obama.

É importante se frisar a palavra herói que, justo em 2012, se tornaria parte tão recorrente do cinema norte-americano, pois aqui vemos um pouco dos dois lados. Osama foi um herói para seus muitos seguidores, mesmo que seu heroísmo fosse desastroso para os Estados Unidos. E vice versa.


8 | O mestre

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Paul Thomas Anderson é um diretor que gosta de evidenciar a natureza falha do ser humano, não importado como ele a transvista quando essa natureza vir à tela. Em “The Master”, um projeto que passou anos envolvido até finalmente conseguir aval para filmá-lo, ele oferece uma versão ao mesmo tempo metafórica e direta sobre a criação da Cientologia, o que, na verdade, figura como pano de fundo para alguns de seus personagens mais cativantes.

Com performances inspiradas de Amy Adams e Joaquim Phoenix (que, por favor, já deveria ter ganho uma penca de Oscars) e com toda a sabedoria e experiência de Philip Seymour Hoffman, Anderson pinta um retrato problemático do fracasso pessoal, acolhimento e desavenças familiares, amores perdidos e desejos proibidos. É um filme amórfico, dúbio, provocativo, com algumas das melhores interpretações da década e com uma mensagem tão criptítica e aquém de qualquer forma em especial que sua simples interpretação se torna uma tarefa hercúlea.

Provavelmente um dos filmes dessa década que mais serão estudados no futuro, “O Mestre” praticamente não se pagou nas bilheterias e vai encontrar diversas barreiras no coração de muitos cinéfilos, mas seu impacto não deve, jamais, ser ignorado.


7 | looper

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Como um fã de anime que sou, sempre que enxergo influências da cultura japonesa em obras ocidentais fico fascinado, justamente por achar que, de um modo geral, Hollywood tem inveja da criatividade da terra do sol nascente.

“Looper”, em meio à sua trama convencional envolvendo viagem no tempo e um futuro tecnológico, acha espaço para encaixar elementos do clássico “Akira” de forma sútil, mas claramente evocativa e, se isso já não fosse o bastante para me fazer gostar do filme, o roteiro concebido pelo próprio Johnson tem múltiplas interpretações e camadas que requerem voltas e mais voltas (piada intencional).

Com um balanço exato entre ficção científica e fantasia, “Looper” honra diversos gêneros enquanto te convida a pensar além do suspense e da ação enquanto ainda quebra sua cabeça no processo.

leia a crítica


6 | Argo

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“Argo” conseguiu uma façanha pouco comum na história do Oscar: levar o prêmio principal da noite sem ao menos ser indicado para Melhor Direção, fato que provocou uma resposta negativa de vários membros da Academia e uma resposta divertidíssima de Affleck.

Contando uma surreal, mas real história que aconteceu durante a Revolução Iraniana, onde um grupo de embaixadores tiveram de se passar por cineastas para poder fugir do país, “Argo” utiliza de sua estranha premissa para construir um drama absolutamente tenso e até situacionalmente divertido, orquestrado da melhor forma por Ben Affleck, Bryan Cranston, John Goodman e um excelente elenco de apoio.

E ah, é o último filme a terminar em primeiro lugar em uma lista de final de ano de Roger Ebert. Isso definitivamente quer dizer alguma coisa.


5 | as aventuras de pi

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Dono de uma filmografia rica e eclética, Ang Lee ganhou seu segundo Oscar de Melhor Direção (um dos pouquíssimos diretores a atingirem o feito) pelo filme adaptado da obra de Yann Martel que, por sua vez, fora “adaptado” da obra do brasileiro Moacyr Scliar, “Max e Os Felinos”.

Polêmicas a parte, “Pi” tem um objetivo e caminho diferentes da maioria dos filmes que pretendem, com uma bela trama de educação e redenção, provar como a religião pode ser parte vital da vida do ser humano. Ao invés de inventar conexões ou forçar emoções inexistentes entre um ser humano e um tigre, a obra nos convida a, literalmente, acreditar no extraordinário e simplesmente esquecer o limiar entre realidade e sonho, ao nos lembrar que, as vezes, um belo meio pode não evitar um terrível final, mas tornar toda aquela jornada mais suportável e, de certa forma, proveitosa.

Com uma das cinematografias mais belas já vistas na história do cinema, “Pi” é um filme familiar incomum, que convida todos a repensarem aspectos importantes de suas vidas sem a necessidade de questionar qualquer crença. A fé é uma casa de várias portas e, as vezes, tudo o que precisamos é de uma bela história.

E essa é linda.


4 | django livre

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O sétimo filme de Quentin Tarantino tem tudo o que todos amamos - ou odiamos - na singular e única filmografia do diretor. Para aqueles que achavam que “Bastardos Inglórios” ou até “Cães de Aluguel” foram um tanto longe demais, o longa pode tranquilamente te fazer revirar o estômago ao apresentar um retrato cru, surrealista e sem nenhum pudor quanto à violência física sofrida pelo negro no século 19, sempre aludindo para a violência institucional, emocional e social que ainda assombra nosso mundo em pleno 2019.

Django é um de seus personagens principais mais calados, mas a força por trás de suas ações e a maravilhosa iconografia construída em volta de sua figura o transformam em uma espécie de herói sem capa. Christoph Waltz se transforma em um ator inigualável quando dirigido por Quentin Tarantino, ficando preso aos personagens do diretor mesmo quando não está trabalhando com ele. E, é claro, DiCaprio supostamente cortou a mão de verdade durante uma das cenas mais tensas e essa tomada é o que assistimos, e Samuel L. Jackson evidencia um pensamento auto-destrutivo que infelizmente ainda é tão comum.

O fato de Tarantino transformar tudo isso em um filme de faroeste - pastelão de certo jeito, é verdade - fascinante décadas depois do auge do gênero (e talvez do diretor) confirmam que, ame-o ou odeie-o, poucos estão no seu nível de visionarismo. Essa palavra existe?

leia a crítica


3 | Moonrise kingdom

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As vezes subdividimos as coisas que não entendemos em genialidade. Tendemos a não aceitação. Talvez seja intrínseco do ser humano e convenhamos que as idéias de Wes Anderson, moldadas em forma de um filme não são as coisas mais convencionais do mundo. Isso fica mais claro do que nunca em “Moonrise Kingdom,” mas talvez seja o filme de Anderson onde sua delicadeza e cuidado para com sua arte se mostrem mais presentes.

É inexplicável a devoção com que se compromete a transmitir a maior pureza possível. A descoberta do amor através de duas crianças inevitavelmente cria uma linha extremamente frágil, mas a que nenhum momento quebra, se tornando provocativo na medida certa e contando uma linda história de amor e descoberta.

Talvez não seja um filme para você assistir com alguém de mente fechada, afinal, o mundo de Wes Anderson é colorido, vasto e cheio de mistérios que apenas a mais aventureira das mentes pode aproveitar por completo.


2 | o lado bom da vida

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Quando Jennifer Lawrence fala à Bradley Cooper o motivo de ter sido demitida de seu último trabalho, o mesmo reage de forma tão engraçada e verdadeira que interpreta todo e qualquer homem no planeta Terra. Ela parece entender isso.

A principal virtude do filme de David O. Russel é, justamente, a naturalidade de seus personagens, por mais que, por vezes, saibamos que ambos estão imersos nas convenções tão comuns do gênero.

Ele, bipolar e desequilibrado emocionalmente. Ela, depressiva e confusa. Seu relacionamento, estranho e desconjuntado, que só se torna realmente um relacionamento ao final da produção, sem dar pistas suficientemente reais de que o título do filme realmente prevaleceria da forma como torcemos que fosse prevalecer. Bem, torcer talvez não seja a palavra certa para o que esperamos do relacionamento de Pat e Tiffany. Nós o acompanhamos, vezes entusiasmados, vezes entretidos, vezes apaixonados, vezes influenciados.

Bradley Cooper é um camaleão, Jennifer Lawrence ganhou um merecido Oscar de Melhor Atriz - e caiu nas escadas - e Robert De Niro continua magnífico mesmo estando anos e gêneros de distância de sua zona de conforto. É uma bela, divertida e fascinante história de amor que, por mais dolorosa que ela possa ser, podemos sempre ver a luz no fim do túnel. O Silver Linings. O lado bom da vida.


10 Menções Honrosas Sem Ordem Específica: Elefante Branco; O Cavaleiro das Trevas Ressurge; Vingadores; Indomável Sonhadora; Detona Ralph; 007: Skyfall; Wolf Children; Ted; Marcados Para Morrer; Holy Motors.


1 | frances ha

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Após re-assistir à todos estes filmes e após pensar muito, nenhum me encantou tanto como esta pequena obra de Noah Baumbach.

Como um universo preso em um globo de neve, acompanhar este período de transição da jovem Frances é uma experiência preenchedora, pois aquém de toda a pompa e auto-grandiosidade de outros títulos semelhantes, a vida que ela vive é a que mais se assemelha à algo que possamos chamar de real, por mais singular e única que seja sua personalidade.

De riso fácil, quase que como um mecanismo de defesa incontrolável, desengonçada pela altura - mesmo que a atriz não seja tão alta quanto Baumbach nos faz acreditar - e completamente aquém de um mundo de pessoas movidas à desejos e ambições, Frances, interpretada com uma vivacidade encantadora por Greta Gerwig, é uma personagem repleta de camadas, por mais que a própria acredite ser o ser humano mais simples do planeta.

E com menos de uma hora e meia de duração, “Frances Ha” e seu perfeito título, é tanto um atestado artístico como um grito de ajuda, liberdade e amor, mesmo que a jovem que o protagonize não saiba que precisa das três coisas. Justamente por isso, acompanhá-la é tão irresistível.

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