Crítica | X: A Marca da Morte
(quase) um banho de sangue
Horror sensação de 2022 empaca no meio do caminho
Geralmente não gosto de escrever sobre um diretor sem ter visto outros de seus filmes (a não ser que seja o primeiro, claro), mas vou abrir uma exceção com X, de Ti West.
Pelo simples motivo de estar com vontade de escrever sobre o que parece ter sido uma oportunidade desperdiçada, em um Horror feito por alguém que assiste a filmes (o que já é um diferencial), mas que parece ter feito um erro de cálculo considerável na hora conceber um projeto que, ao menos parece, deveria ser mais passional.
Porque se cria uma dissonância entre esse mote referencial que rege todo o filme e a energia que ele tenta emular. O terror dos anos 70 é o objetivo, com um cenário que remete diretamente ao Massacre da Serra Elétrica (1974), mas que lembrou mais ainda o Banho de Sangue (1971), com toques de A Visita (2015) (tanto os velhinhos como seus discursos sobre o poder da imagem) e Boogie Nights (1997).
E até acho que West consegue algo impressionante, mesmo com imagens “bonitas” (um pouco escuras demais pro meu gosto, mas certamente bem decupadas e iluminadas dentro da ideia geral do diretor) o filme preserva essa energia caseira dos filmes de Hooper e Bava, e a maneira como se move me lembra positivamente a lateralidade de um Kiyoshi Kurosawa dos anos 90, tudo com um anacronismo que o deixa até meio sem tempo próprio. A câmera explora os ambientes com uma curiosidade macabra, como que tentando encontrar algo no comum que se torne sobrenatural quando filmado (a sequência do Crocodilo é literalmente isso), o que por si só já é mais forte que a maioria dos terrores elevados que a A24 produz.
Algumas das interpretações entram bem nessa ideia - principalmente as femininas e a do Cudi -, por terem esse senso meio adolescente deprê que precisa fazer algo da vida ou ela vai passar - e diria que faz isso melhor que o filme de Paul Thomas Anderson. Mas o tom meio que se perde quando West não percebe o diamante que tem nas mãos: como Suspense, X me deixou cagado, mas como Slasher o filme é um verdadeiro tédio.
Os assassinatos são burocráticos, o núcleo dos velhinhos entra naquele território pseudo bizarro Midsommaristico + Alex Garland sem nunca dizer realmente nada, e o filme nunca se quebra dessa aura mais paciente e aterradora. O que poderia funcionar caso mantivesse o suspense por mais tempo, caso deixasse a mise-en-scène e a atmosfera carregarem, mas a questão é que ele se entrega ao Slasher sem nunca se entregar de verdade - daí, criando uma outra dissonância com as personalidades mais agudas das protagonistas. O próprio gore é extremamente passageiro, quase evitado, como se quisesse se encaixar em uma categoria mais acessível para preservar a bilheteria.
Chegou um momento que esperei um festim de sangue, ou ao menos algo sobrenatural (que é sugerido) que revirasse o filme, mas o ato final parece não só ser anti-climático (o que, repetindo, não seria um problema caso o filme assumisse isso em suas ações), como todo o comentário sobre envelhecimento empalidece quando é a Mia Goth que interpreta a velhinha tarada. Envelhecer é ok desde que o sexo ainda seja possível, eu acho.
X tem momentos e escolhas muito interessantes, mas se limita pela própria estética - o que torna Ti West muito mais um moralista pretensioso ala cara do óculos que morre primeiro, do que um dos mestres que tenta emular aqui. Se essa era a intenção, então ele mais do que sucedeu.