Melhores Filmes da Década: 2010s | Romances


Talvez o top 10 mais difícil que já fizemos neste site, o grande problema em definir qual o melhor filme de romance em um determinado período é que a cada 10 filmes lançados, 9 tem em sua essência uma história de amor sendo contada, independente de que tipo de amor estejamos falando. Talvez por ser o sentimento mais “simples” de se transcrever para a telona - basta ter duas pessoas se olhando apaixonadamente e pronto, amor - ou pelo “simples” fato de que a vida não existe sem amor, definir exatamente o que é um romance se torna uma tarefa quase hercúlea.

Sim, comédias românticas, teoricamente, focam todas as suas atenções em um determinado casal, mas do que se diferenciam de filmes como “Transformers”, “Baby Driver”, “Drive”, entre outros péssimos exemplos para essa temática que, ao centro de todas as explosões e cenas de ação envolvendo carros, apenas mostram duas pessoas em uma jornada para ficarem juntas?

Dito isso, a separação entre os filmes que consideramos válidos para a lista - que serão listados nas menções honrosas mais abaixo - e outros que, caso figurassem dentro desse tema, provavelmente estariam aqui, foi o que realmente tornou estas escolhas tão tortuosas. “Azul É a Cor Mais Quente”, “Moonlight” e “Moonrise Kingdom”, por exemplo, têm todos histórias de amor poderosas em seus núcleos, mas figuram mais como o cada vez mais abundante gênero coming of age (uma tradução não muito eficaz seria: a vinda da idade) do que como romances propriamente ditos, por focarem no crescimento de seus personagens e não especificamente no relacionamento de cada um.

Ainda mais difíceis de se deixar fora foram “La La Land” - que, apesar de apaixonar e cortar corações mundo à fora, figura, primeiramente, como um musical que foca na busca do casal pelos seus sonhos e não um pelo outro - e “Namorados para Sempre” - um drama de cortar o coração que em nenhum momento pretende te enganar sobre o quão lindo e inevitável o amor é. Também de fora, com dor no coração, está o terceiro capítulo da fenomenal trilogia “Before…” de Richard Linklater, sendo que cada um é tão bom que decidimos considerar Hors Concours.

Por fim, não necessariamente estes são filmes que você deva assistir junto de seu amado(a). Não necessariamente são filmes “felizes”. Não necessariamente são filmes feel good e sim, romances, no sentido mais puro da palavra. Então, como principal critério para a definição dos candidatos, ficam as perguntas: O amor dos dois é o tema PRINCIPAL da história e, pelo menos em algum momento, pareceu que as coisas dariam realmente certo?

Nos dez filmes a seguir, a resposta é sim. Pelo menos achamos…


10 - Podres de Ricos

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Existe uma linha tênue neste filme de Jon M. Chu (seu melhor trabalho, de longe, até aqui, por sinal) que permite que o relacionamento entre Rachel Chu (Constance Wu) e Nicholas Young (Henry Golding) se sobressaia em relação à tantos outros tão similares. A premissa é comum: ela conhece seus pais, eles não aprovam ela. Sim, todo sabemos como vai terminar. Não, não conseguimos não nos deixar levar.

Talvez pelos excelentes visuais, talvez pelo elenco composto apenas por atores asiáticos (de várias nacionalidades e origens diferentes), “Crazy Rich Asians” é uma celebração cultural que transforma sua ordinária história de amor em um filme extraordinariamente agradável e divertido.


9 - Se a Rua Beale Falasse

Dirigido pelo aparentemente impecável Barry Jenkins, “Se a Rua Beale Falasse”, como praticamente qualquer romance envolvendo um casal negro nos Estados Unidos tem de ser, é muito mais do que apenas uma história de amor.

Clementine e Alonzo tem de lutar tanto por sua vida um com o outro como por suas vidas como um todo, enfrentando barreiras físicas e emocionais que os impedem de ter uma vida normal. E Jenkins retrata toda a dor provocada pelos obstáculos que enfrentam e todo o amor que sentem um pelo outro de forma tão bela que é como se assistíssemos à um retrato detalhista, tão repleto de significados que a cada vez que olhamos novamente é como se descobríssemos algo a mais.

É terrível ter que constatar que, mesmo anos depois dos acontecimentos da história, é difícil dizer se ambos encontrariam a paz que merecem. Em seu caso, o amor é a força que os mantém de pé.

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8 - A Forma da Água

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Perturbando cabeças e criando pesadelos desde os anos 90, foi apenas em 2015 (com “Colina Escarlate"), que Guillermo Del Toro deu seus primeiros passos na construção de um romance dentro do mundo de fantasia e sombras que ele parece habitar. Porém, seriam dois anos depois que ele encontraria os personagens perfeitos para exemplificar seu estranho senso de paixão.

“A Forma da Água” pode ser muitas coisas, desde um suspense da guerra fria à, propriamente, uma fantasia, mas nada ressoa mais após as duas horas - intensas e verdes - deste filme do que uma inusitada e estranhamente cativante história de amor entre uma funcionária muda - interpretada de forma magistral por Sally Hawkins - e uma criatura aquática. Sem professar uma única palavra se quer para com seus amantes, ambos encontram esperança, paz e, principalmente, aceitação na presença um do outro.

Por mais esquisito que seja, não deixa de ser uma linda história com um final inconclusivamente mágico.

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7 - Doentes de Amor

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Escrito pelo casal que inspirou a história - e estrelado por um deles - “The Big Sick” é uma mistura na dose certa de uma comédia suficientemente ácida e de uma história de amor repleta de barreiras sociais e culturais. Kumail é um jovem paquistanês vivendo em Chicago, dirigindo um Uber enquanto tenta construir uma carreira no stand-up que, ao se apaixonar pela jovem estudante, Emily, cria atrito com os costumes ancestrais de sua família e religião.

Levemente provocativo, o filme de Michael Showalter sucede justamente em explorar a fundo as personalidades de seus personagens fazendo algo inusitado; tirando um deles de cena pela maior parte do filme. Apenas assim somos capazes de enxergar o tamanho do carinho que um tem pelo outro, o que nos leva a uma das cenas finais mais bonitinhas e emocionalmente desafiadoras do gênero.

Por mais cliché que possa soar, o amor em “Doentes de Amor” (que péssima tradução) pode não derrubar barreiras, mas as contorna instintivamente.

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6 - Nasce Uma Estrela

Uma história tão antiga como o próprio showbiz, “Nasce Uma Estrela” é a quarta re-edição oficial de sua premissa (dentre dezenas de outras similares), provando que a única coisa mais impactante do que uma história de ascensão, queda e redenção, é como o amor pode ser parte vital em cada uma dessas fases.

Mostrando todos os muitos talentos de Bradley Cooper (diretor, co-roteirista, estrela, cantor, etc, etc, etc) e aflorando o talento de Lady Gaga como atriz, é um daqueles filmes que vai mexer com suas emoções ao desafiar os limites de um relacionamento. Até quando ele é saudável? Até quando é prejudicial? Até quando o amor vai manter as coisas em pé? O que você está disposto a sacrificar para mantê-lo em pé?

Nem tudo na vida são rosas, e poucos filmes evidenciam tanto isso como este clássico moderno.

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5 - Questão de Tempo

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Talvez a única coisa mais forte que os sentimentos que sentimos ao sentirmos estar apaixonados seja, justamente, o tempo. Implacável, ele pode nos ajudar a construir fortalezas tanto quanto fazê-las ruir.

Em “Questão de Tempo” (ou o maravilhoso título original “About Time”), Tim, assim como todos os homens de sua família, possui a magnífica habilidade de voltar no tempo, utilizando-a para dar um jeito em sua desastrada vida amorosa. Ao adicionar a temática fantástica à ordinária estrutura da comédia romântica, Richard Curtis atinge resultados curiosos, transformando apenas seu terceiro trabalho como diretor em um dos filmes mais amados por casais que tanto tempo (piada intencional) passam tentando encontrar um filme que agrade ambos.

O longa emula o clássico “Feitiço do Tempo”, com Bill Murray, para provar algo que ambos os filmes conseguem: a vida é maravilhosa e deve ser vivida como se cada momento fosse especial. Tim, após viver tanto, descobre que para viver de verdade, é melhor não ter a opção de voltar atrás. O tempo é inevitável, o amor irreplicável.


4 - Me Chame Pelo Seu Nome

Poucos… ou melhor, nenhum filme em toda a década conseguiu trazer uma atmosfera tão apaixonante e convidativa como esta proporcionada por Luca Guadagnino e sua dupla de estrelas. É incrível como parece que, a cada segundo que passa, Elio e Oliver estejam mais apaixonados um pelo outro, mesmo que não saibam disso.

A cada passeio, a cada banho no rio, a cada novo jogo, a cada nova música. É como se a mesmice provocada por um clássico verão no norte da Itália conspirasse positivamente para fazer com que os personagens de Timothée Chalamet e Armie Hammer finalmente se entregassem à seus desejos. A química entre ambos é tão natural e tensa que, por vezes, é como se estivéssemos invadindo seu belo romance, situado em um mundo à parte ao redor de pessoas à parte, que parecem entender como a vida possui mais dúvidas do que certezas.

Agraciado com um emocionante discurso de Michael Stuhlbarg, seguido de uma cena final ambígua e repleta de significados que não bem compreendemos à primeira vista, “Me Chame Pelo Seu Nome” conta a história de uma ardente paixão e como a vida deve continuar após ela.

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3 - O Lado Bom da Vida

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A perda, na maioria das estâncias da vida, é algo traumático e com efeitos duradouros sobre aquele que permaneceu. Afinal, temos apenas uma vida e, ao doarmos metade dela para alguém, é normal que, quando esta metade é dada de volta por circunstâncias que não temos controle sobre, nos perguntemos: O que fazer agora?

É por simplesmente ignorar este momento de reflexão - seja por escolha ou por emoções que sobrepõem a razão - que Pat e Tiffany acabam tendo seus caminhos, aparentemente sem rumo, cruzados um pelo outro. Ele não aceita que sua mulher o deixou, ela não aceita que seu marido se foi e ambos lidam com suas respectivas perdas da pior maneira possível. Ele corre de manhã vestindo um saco de lixo. Ela tenta achar carinho em pessoas que só querem seu corpo.

Seria racional julgar que, ao se juntarem, não conseguiriam responder as perguntas que nem ao menos fizeram a si mesmos, afinal, como alguém sem respostas pode te ajudar a encontrar as suas quando você nem sabe que precisa delas? Mas o amor que, quietamente cresceu entre estes dois, passa longe da racionalidade que julgamos ter e, justamente por não terem respostas, que suas vidas fizeram muito mais sentido juntas.


2 - carol

Se a vida para casais de mesmo sexo é difícil hoje, em pleno 2019, imaginem em uma época onde um filme como “Carol” seria considerado uma afronta aos bons e velhos costumes da família de bem.

Dirigido pelo talentoso Todd Haynes, “Carol” mostra um amor improvável e, até então, proibido por uma jovem fotógrafa e uma mulher mais velha passando por um tortuoso divórcio, mas é muito mais do que essa história que, por si só, já daria um filme com conflitos o suficiente. Cate Blanchett e Rooney Mara são duas das melhores atrizes de suas respectivas gerações e protagonizam uma das paixões mais intensas e verdadeiras já vistas, mas é o senso de tensão e suspense provocados pela história que torna seu relacionamento algo tão especial. Ambas as personagens são colocadas em meio à um ambiente nocivo que reprime, a todo momento, a essência de suas vidas, graças à evocativa e simbólica reconstrução de época que nunca deixa de nos lembrar o quanto ainda precisamos evoluir.

Em um tempo onde o ser era proibido, onde o diferente era julgado, onde o verdadeiro deveria ser escondido, estas duas lindas mulheres encontraram uma na outra um motivo para continuar lutando por si mesmas.


Menções Honrosas: À Procura do Amor, de Nicole Holofcener (2013); Loving, de Jeff Nichols (2016); Meia Noite em Paris, de Woody Allen (2011); O Lagosta, de Yorgos Lanthimos (2016); Hoje eu Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro (2014).


1 - Ela

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O quão problemáticos nós somos por julgar que o melhor romance da década seja entre um homem e um ser artificial que nem ao menos possui um corpo? A resposta, se me permitem tentar, seria: o tanto quanto todos nós, que, mais dia menos dia, caminharemos para o mesmo destino.

“Ela” apenas não figurou entre as posições mais altas de nosso Top Filmes de Ficção Científica da Década por ser, essencialmente, uma história de amor que, por mais que seja baseada em um tema cada vez mais debatido envolvendo inteligência artificial, ainda consiste no relacionamento entre dois seres que são mais do que reais um para o outro.

A verdade é que Theodore - interpretado pelo incomparável Joaquim Phoenix - encontrou em Samantha - trazida a vida pela evocativa voz de Scarlett Johansson - algo que nenhum outro humano poderia lhe proporcionar, algo que nem mesmo ele sabe o que é. O que não deixa de tornar a relação de ambos em uma representação quase exata do relacionamento moderno, afinal, na maioria das vezes somos incapazes de julgar o porquê de amarmos tanto uma outra pessoa.

Por isso, quando Samantha o apresenta a outras mulheres, quando ambos tem sua primeira noite, quando eles decidem tirar uns dias de férias, é como se assistíssemos uma representação da nossa própria vida amorosa, pois, mesmo sem ser “real” fisicamente, o amor que um nutre pelo outro é um dos mais verdadeiros mostrados no cinema.

Capaz de fazer sua cabeça girar tanto quanto seu coração, “Ela” é uma carta de amor ao amor e uma aposta de Spike Jonze que acredita que, não importa o quanto este mude, ele nunca vai, de fato, mudar.

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