Crítica | Me Chame Pelo Seu Nome

SPLIT.jpg

Baseado no livro de mesmo nome de André Aciman, "Me Chame Pelo Seu Nome" conta a história de Elio, um jovem norte-americano que passa seus verões em uma região no norte da Itália onde seu pai, professor de história da arte e arqueologia, recebe a cada ano um aluno para auxiliá-lo em suas pesquisas. Se passando em 1983, o filme mostra o relacionamento entre Elio e o assistente de seu pai, Oliver. 

"Me Chame Pelo Seu Nome" é um filme intimamente realista, mas completamente isolado do mundo real. O cenário onde os acontecimentos se somam, sem consequência, repreensão ou aparentes obstáculos a serem ultrapassados é tão real que é como se estivéssemos dentro da tela, naquele lugar não identificado na Itália, mas em momento algum parece que o filme tende a se preocupar com problemas mundanos. Elio e Oliver ouvem música, dançam, nadam no lago, vão à cidade, tomam café, por quase uma hora o que vemos é a vida diária de um verão como muitos que todos nós já vivemos, encontrar coisas para fazer quando não se há nada de real para fazer. 

SPLIT.jpg

O diretor Luca Guadagnino consegue te colocar no ritmo destas férias, seu trabalho com a câmera aqui é simples e essencialmente humano, exigindo muito da linguagem corporal de seus atores para imergir ainda mais o público na história. Planos sequência simples, mas subjetivamente significativos, planos abertos pouco realçados pela cinematografia, que não tenta transformar os cenários em algo surreal, a sonoridade por vezes tão naturalista que fica difícil se ouvir que está sendo dito, a bela trilha sonora composta pelo músico Sufjan Stevens, que entende o estado de emoção de cada momento do filme.

Toda essa imersão é essencial para o desenrolar do romance entre ambos os personagens principais, mesmo que a demora para consumar a relação possa ser desgastante. O roteiro é consideravelmente irregular quando comparado aos outros aspectos do longa, com alguns momentos soltos e diálogos que, após se pensar novamente sobre o filme, não fazem tanto sentido. O relacionamento de Elio e Oliver funciona da forma que funciona primordialmente por conta dos dois atores, intensamente entregues a seus papéis, o que permite as inconsistências do roteiro passarem quase despercebidas. 

SPLIT.jpg

Timothée Chalamet é um dos jovens atores mais talentosos dos últimos anos. A linguagem corporal que ele apresenta assusta, passando a perfeita imagem de um adolescente de 17 anos, extremamente maduro, mas com diversas dúvidas quanto a si mesmo. Armie Hammer não está tão diferente de papéis passados, mas faz sua química com Timothée transbordar, mesmo que de forma reservada. Oliver é seguro de si e sabe o que quer e, diferente de Elio, entende as consequências que seu relacionamento pode trazer, mesmo que elas pouco sejam apresentadas em tela. 

Talvez o momento que costure o filme da melhor forma seja no excepcional monólogo de Michael Stuhlbarg. Diferentemente do resto do longa, é quase surreal ouvir um pai resumindo de forma tão acolhedora e compreensível o relacionamento homossexual de seu filho. Talvez se torne surreal por conta da sociedade em que vivemos e não por intenção do filme em tornar este momento assim. Momentos depois, na cena final, Elio e Oliver tem uma nova conversa, que não apenas abre o filme para uma possível continuação que seu diretor e elenco já manifestaram vontade de realizar, mas explora de forma bem clara significados que o diretor prefere deixar não resolvidos. 

No dia em que a paixão entre eles é explorada diretamente pela primeira vez, uma mosca rodeia a cena. É verão e elas são comuns (mesmo que não no cinema). Mas neste último momento é inverno e, quando a mosca posa em Elio, ele não se incomoda em afastá-la. Diversas teorias já foram feitas sobre o uso delas no longa, mas talvez nenhuma delas possa explicar definitivamente. Se o tempo for bom e fizer de "Me Chame Pelo Seu Nome" um clássico, talvez seja um daqueles mistérios que funcione justamente por estar aberto à interpretação. É um filme que celebra o amor acima de qualquer barreira mundana, que deveria ser assistido por todos.

9

 

 

Anterior
Anterior

Crítica | The Post: A Guerra Secreta

Próximo
Próximo

Crítica | Eminem - Revival