Mês do Orgulho | Prêmios do Cinema LGBTQIA+

Historicamente marcado por causa da revolução de Stonewall, no dia 28 de junho de 1969, uma rebelião de resistência da comunidade LGBTQIA+ presente no bar de Manhattan, o mês de Junho é celebrado como o mês do orgulho. No Brasil, ainda vivemos em um cenário hostil para pessoas LGBTQIA+. O país segue no topo do ranking de países que mais matam pessoas desta comunidade e tem como presidente alguém que segura, arrogantemente, a bandeira da LGBTfobia. Por esses e outros motivos, durante o mês do orgulho, toda segunda e sexta o Outra Hora abordará sobre filmes, séries e música inseridos na cultura LGBTQIA+.

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Em um mundo comandado pelo patriarcado cisgênero, branco e heterossexual, torna-se importante identificar as obras que quebram esses padrões.

Quando falamos de cinema LGBTQIA+, diferente do que muitos pensam, não é um processo de exclusão ou de preconceito, e sim de visibilidade. Rascunhar sobre música, TV, teatro, cultura e cinema LGBTQIA+ é uma ação fundamental diante do contexto em que somos marginalizados e constantemente agredidos e assassinados. Construímos arte com nossas vivências, nossas histórias, corpos, amores e narrativas. Quando “Moonlight” (2016) vence o prêmio de Melhor Filme no Oscar, essa vitória não é de mais um filme. É a vitória de uma narrativa preta e LGBTQIA+, com direção de um diretor preto e gay, com corpos gays e um romance gay sendo tratado. Se isso não é notificado, caímos em mais um espaço de exclusão, como se nosso orgulho e nossa luta pudesse se igualar em algum momento com os privilégios de ser heterossexual e cisgênero.

Mesmo assim, identificando as produções LGBTQIA+, é necessário criar outros projetos de ampliação da nossa visibilidade. O cinema é formado e comandado há mais de um século por homens que se encaixam nesses papéis de opressão. São eles que constantemente estão ligados em noticiários de abuso, racismo e LGBTfobia. Então, há de se imaginar a dificuldade de incluir dentro das grandes premiações do cinema nossas narrativas. É por isso que “Brokeback Mountain” (2005), mesmo que com várias indicações, não vence o Oscar de Melhor Filme, assim como filmes históricos, tal qual, “Paris is Burning” (1990) não são premiados nesses espaços, e por isso que, em 2020, temos um dos filmes mais aclamados do cinema europeu sendo novamente ignorado nas grandes premiações da mídia: “Retrato de uma Jovem em Chamas” (2019).

É por isso que quando tratamos de premiações e festivais LGBTQIA+ não estamos nos colocando presos dentro de nossas próprias criações. Isso ocorre, sim, porque nós precisamos arrumar um jeito de levantar nossa arte enquanto não temos as mesmas oportunidades de produção e investimento, o mesmo olhar de respeito sobre nossas narrativas e o mesmo respeito por histórias igualmente ou mais bem contadas do que romances heteronormativos constantemente indicados a estas premiações.

Assim sendo, hoje trataremos sobre as premiações do cinema LGBTQIA+. São elas espaços que têm como interesse mostrar um cinema de desobediência, de produções independentes, de grandes produções, de espaços políticos que discutem nossas histórias na grande tela. Se quiser saber mais sobre as produções de filmes com protagonismo LGBTQIA+, é importante ter foco nessas premiações. Por mais que estas tenham acesso ao enorme catálogo de produções incríveis que essa comunidade produz, nesses espaços há uma valorização diferente de qualquer outra premiação que não tenha esse foco. O Oscar não é um exemplo de mostrar as melhores produções de nossas narrativas, e, muitas vezes, o foco é maior em se levantar as narrativas que os cabem, em pequenas correções do que um dia foram criticados (tal qual o #OscarsSoWhite). Ou ainda narrativas que comparadas as outras são mais fáceis de ter significado esvaziado de um corpo LGBTQIA+ (como “Bohemian Rhapsody” indicado à categoria principal e ganhador de vários prêmios em seu ano).


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GLAAD Media Awards

Entre os prêmios mais importantes dentre os LGBTQIA+ está o GLAAD, sigla que representa “Gay & Lesbian Alliance Against Defamation”. Em tradução livre, “Aliança Gay e Lésbica Contra Difamação”. Ela um prêmio que não só apresenta grandes nomes do cinema com narrativas de diversidade sexual e de gênero, como consagra jornais, revistas, teatro, música entre outras categorias. O prêmio foca na representatividade do grupo LGBTQIA+ dentro do universo da mídia de língua inglesa e espanhola e de grandes nomes do ativismo e aliados.

Na edição de 2020, o filme brasileiro “Sócrates” foi indicado para uma das categorias junto com outros grandes filmes lançados em 2019, como “Dor e Glória” e “Retrato de uma Jovem em Chamas”. No ano passado, o vencedor de melhor filme de pequena projeção foi “Boy Erased: Uma Verdade Anulada”, filme que foi acusado pelo escritor do livro homônimo de ter sido censurado pelo governo brasileiro. O vencedor de grande projeção e maiores investimentos foi “Com Amor, Simon”.


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Dorian Awards

O Dorian Awards é uma premiação feita pelo grupo de críticos “GALECA”, que representa uma sociedade de críticos de entretenimento LGBTQIA+ que foca em narrativas da comunidade em premiações anuais desde 2009 nos Estados Unidos. O nome da premiação é uma homenagem à obra do autor Oscar Wilde intitulada “O Retrato de Dorian Gray”, livro de protagonismo gay lançado em 1890.

Esta premiação, por mais que foque nas produções com protagonismo LGBTQIA+, entende a necessidade de se partilhar e comemorar produções que não têm essa narrativa, mas que sejam aprovadas por também os críticos da comunidade, também sem visibilidade dentro das grandes organizações de críticos do cinema estadunidense. Por isso, por exemplo, o grande vencedor de 2019 foi “Parasita”, um filme sem foco e sem participação explícita de personagens LGBTQIA+, mas que a sociedade de críticos acreditou ser válido o prêmio por outras mensagens carregadas junto ao filme. Outros grandes vencedores dos outros anos foram “A Favorita” (2018), “Me Chame Pelo Seu Nome” (2017) e “Weekend” (2010).


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Teddy Awards

Premiação importante dentro do terceiro maior festival de cinema do mundo, o Teddy Awards acontece anualmente junto ao Festival Internacional de Berlim, a Berlinale. Ele não somente premia produções com protagonismo de corpos LGBTQIA+ como movimenta a cidade de Berlim junto a revista Siegessäule, proporcionando espaços físicos de confraternização e reunião de grandes nomes da cinematografia junto com seus fãs. Ao lado do centro da Berlinale, a “Berlinale Palast”, se encontra o bar queer exposto com grandes nomes do cinema LGBTQIA+ e chamando os telespectadores para festejar após as sessões de cinema.

Com 11 categorias, são premiados curtas, documentários, prêmio do júri, de ativismo, entre outros. Filmes brasileiros já ganharam os prêmios centrais de documentário, como “Bixa Travesty” (2018), e melhor filme, como “Tinta Bruta” (2018). Outras belas produções já foram premiados no Teddy, como “Uma Mulher Fantástica” (2017), “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” (2014) e “Hedwig: Rock, Amor e Traição” (2001).


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Lesbisch Schwule Filmtage Hamburg | International Queer Film Festival

Conhecido como o festival queer mais importante e mais antigo da Alemanha, o Festival Internacional acontece em Hamburgo. Em 25 anos de história, o evento gay-lésbico já exibiu 15 mil filmes em suas edições anuais, além de reunir milhares de pessoas na cidade alemã.

Em seu site oficial, é possível ver os programas anuais do festival. Ano passado, o festival teve abertura com “E Então Nós Dançamos” (2019) e o encerramento com “The Garden Left Behind” (2019). Outros filmes que já tiveram sua reprodução no festival são “Rafiki” (2018), o brasileiro “Tatuagem” (2013) e “Mario” (2018).


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