Top 5 | Filmes de Babu Santana
2020 está um caos.
Aos que escolheram a virada da década para dar novos rumos as suas vidas e estabelecer novas metas, restou esperar mais um breve período de tempo – se todos fizermos a nossa parte - para dar continuidade aos seus planos. Felizmente isso nos deu tempo para trazer pautas extremamente importantes à tona.
Como? Sim, Big Brother Brasil. O povo brasileiro escolheu como principal maneira de passar o seu tempo em meio a uma situação tão atípica como a que atravessamos assistir a um Reality Show que gradativamente perdia sua expressividade.
O BBB, como meio de entretenimento, é sim questionado por muitas pessoas, mas inevitavelmente se constrói através de um reflexo fidedigno da nossa sociedade. E eis que temos a oportunidade de nos relacionar com Alexandre Santana, ou Babu. Ator condecorado pela maior premiação de cinema brasileira. Duas vezes. E negro.
A representação quase mecânica do BBB para com a nossa sociedade não falhou. Babu, um ator sensacional, foi boicotado pelo racismo intrínseco em nossa sociedade e nunca possuiu muito poder de decisão ao escolher papéis durante toda sua carreira. Dentro da casa mais vigiada do Brasil, onde conhecemos e nos apaixonamos por sua personalidade, ele também foi vítima de exclusão.
Mas este post não foi feito com o intuito de discutir problemas de identitarismo ou debater a fundo as mazelas do racismo no mundo em que vivemos. Este é um texto para celebrar e divulgar a qualidade de Alexandre Santana como ator, porque sempre que lhe é dada a oportunidade, ele brilha.
E o nosso desejo é que, daqui a alguns anos, possamos escrever outra lista (ainda maior) com os novos trabalhos do paizão Babu.
Obs.: incluiremos "Cidade de Deus" aqui apenas como menção honrosa, visto que Babu tem participação limitada.
Confira também as listas anteriores:
#5 | UMA ONDA NO AR
“Uma Onda No Ar” conta a história real de quatro jovens que se uniram para fundar uma rádio comunitária da favela e para a favela. A “Rádio Favela” se tornou extremamente popular, sendo ouvida não só pela comunidade Aglomerado da Serra como também por toda a cidade de Belo Horizonte, e foi insistentemente perseguida pelas autoridades. Através dela, o povo podia se ouvir e compartilhar seus problemas, angústias e desejos.
Babu foi escolhido dentre mais de 3 mil pessoas para interpretar um dos quatro protagonistas. Seu personagem é Roque, um dos jovens entusiastas da rádio, que por falta de expectativas quanto ao seu futuro, acaba se aproximando da vida do crime.
#4 | café com canela
Nosso quarto lugar fica para essa obra singular, que traz à tona o tema do luto em uma história com muita vida.
Com uma montagem que ajuda a contar a história de forma instigante e não-linear, "Café Com Canela" nos ganha pelos detalhes, com sutilezas que nos emocionam como a avó de Violeta, a protagonista, acariciando de leve o cachorro Felipe.
A direção de arte traz elementos muito característicos, nos colocando em um mundo profundamente real. São lugares que sentimos já ter visitado, pessoas que sentimos já ter conhecido. E o longa preza sempre pelo uso criativo da linguagem, como no momento em que Margarida abre a caixa de fotos e o volume dos sons e vozes da festa de seu filho vão se ampliando ou quando as três portas abertas são postas lado a lado no mesmo plano.
Aqui, Babu interpreta Ivan, um médico gay casado com um homem mais velho (que todos acabam confundindo com seu pai). Certamente um dos melhores papéis de sua carreira até agora, Babu demonstra seu imenso talento em um personagem que foge bastante do estereótipo a qual ele costuma ser escalado. Ivan é doce e delicado, e a versatilidade de Babu Santana acaba se manifestando com clareza, principalmente em uma das cenas iniciais onde ele captura nossa atenção com um monólogo muito bonito e teatral.
#3 | Mundo cão
“Mundo Cão”, mais um filme onde Babu trabalha em parceria com o diretor Marcos Jorge (“Estômago”), conta a história de um funcionário do centro de controle de animais, amável e benevolente e de seu “embate”com um ex-policial corrupto, violento e fanático por seus cães (Lázaro Ramos).
A polarização entre as personalidade dos personagens principais é o que rega o interesse pelo filme. Seu roteiro é funcional, mas são as atuações que tiram o fôlego. A dinamicidade do jogo de ação/reação entre Babu Santana e Lázaro Ramos perpetuam uma atmosfera sufocante enquanto ambos dão vida e camadas a figuras, a princípio, tão dicotômicas.
Marcos Jorge tem gosto por incitar a corrosão e subversão do “Ser”, e faz isso com maestria. Todos são corrompíveis, até aparentemente o mais bem intencionado humano existente. Acontece que nenhuma desconstrução, por mais bem escrita que seja, fomenta inquietação em seu público sem uma ótima atuação disposta a complementar, como intermédio, o percurso que o escritor escolheu para determinado personagem.
Mais uma vez de forma primordial, expressivo e explorando todos as quinas de seu papel, Babu foge completamente do esteriótipo das figuras que predominantemente é imposto a interpretar, mostrando seu notável alcance como ator.
#2 | Estômago
Enquanto Babu esteve confinado na casa do Big Brother nos foi mostrado um ser humano vulnerável e carinhoso, o que pode tornar a experiência de ver um dos 100 melhores filmes da história do cinema brasileiro - de acordo com a associação de críticos brasileiros - ainda mais empolgante.
Alexandre Santana está transformando aqui. O filme conta a história de Raimundo Nonato (interpretado por João Miguel), migrante nordestino que chega à cidade grande para tentar a vida e descobre talento como cozinheiro. Sabemos que o personagem principal está preso mas não sabemos o porquê, e partir disso a trama se desenvolve entre passagens pretéritas e presentes (o trabalho de montagem do filme é excepcional) da vida de “Alecrim”, como é chamado pelo mandante interno do presídio Bujiu (Babu). Essa figura, tão impositiva e excêntrica, interpretada com maestria por Alexandre Santana, lhe gerou a estatueta do Grande Otelo (prêmio mais importante do cinema brasileiro) na categoria de melhor ator coadjuvante.
Com duas décadas de premiação, Babu é um dos poucos atores - 6 na verdade, incluindo nomes conhecidos como Selton Mello, Wagner Moura e Matheus Nachtergaele (“O Auto da Compadecida”) - a ser agraciado com a estatueta mais de uma vez.
#1 | tim maia
Foi nessa biografia épica sobre a vida de uma das figuras mais emblemáticas do mundo artístico brasileiro que Alexandre Santana se tornou uma figura mais conhecida pelo público geral. E merecia muito mais. Sendo o terceiro e mais velho ator no papel de Tim Maia do filme, Babu teve a responsabilidade de interpretar o astro em sua fase mais emblemática, confusa, agressiva e icônica. E mesmo que torçamos muito para que Babu ainda tenha diversos outros papéis ainda mais marcantes em sua carreira, parece que ele nasceu para viver este Tim Maia.
A adaptação (do livro Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia, de Nelson Motta) carrega todas as características de um ótimo longa biográfico, abrangendo vários temas como racismo, religião, ego, arte, família e muitos outros para compor a origem e a vida inteira da figura. E a narração feita pela voz do personagem Fábio (Cauã Reymond) funciona muito bem para amarrar a narrativa e organizar a vida dessa lenda.
E para interpretar uma lenda tão grandiosa, somente outra lenda seria capaz. Babu Santana, muito obrigado.