Crítica | Lorde - Melodrama
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"Melodrama" significa, traduzindo o conceito artístico para a vida real, "algo ou alguém que traduz sentimentos de alguma forma exagerada". Dito isso, sabemos que Lorde é taxada como uma artista não convencional no cenário da música pop, assim como sabemos que ela, com sua voz mortalmente arrastada, sabe capturar e traduzir emoções como poucos hoje, talvez podendo ser comparada somente a Frank Ocean na questão vocal isolada.
"Pure Heroine" foi definitivamente um dos melhores álbuns de 2013 e é importante salientar que Lorde tinha apenas 16 anos ao lançá-lo. A facilidade para expressar o sentimentalismo presente na vida adolescente através de sua letras deixava explícito que sua cabeça pensava muito além do que a maioria dos artistas da sua idade.
Aqui, a cantora aparece com um senso de urgência para falar sobre amor, solidão, casos de uma noite e festas, tudo isso adequando essas histórias numa narrativa ampla que se chama “Melodrama”. Absolutamente tudo no álbum é feito pra sentir e, de alguma forma, se relacionar. Cada fim de verso transparece a importância e o quão pessoal cada faixa é para a cantora, ao mesmo tempo que tudo é extremamente (e estranhamente) acessível. E é nessa acessibilidade que o álbum se torna irresistível. A performance em cada música, os arranjos, as melodias, a voz e principalmente as letras. Tudo acontece de forma tão apaixonada e exagerada, que muitas vezes o próprio desespero do álbum torna-se libertador.
"Green Light", primeiro single do álbum e sua primeira faixa, pode não deixar explícito para alguns ouvintes desavisados, mas é, apesar de seu tom otimista, sobre um coração partido. Uma música para um ex-namorado com a força que só Lorde poderia impor. O início, com apenas sua voz acompanhada do piano, seguido de uma intensidade crescente, serve para disfarçar que, inevitavelmente, vão haver festas, solidão e inconstância na tentativa de esquecer um término.
"I do my makeup in somebody else's car
We order different drinks at the same bars
I know about what you did and I wanna scream the truth"
Todos nós, sem exceção, temos formas semelhantes de lidar com um fim de relacionamento, seja com a negação, como em "Green Light", ou pela aceitação, como ela continua em "Writer in the Dark" e "Hard Feelings/Loveless".
A primeira, moldada pelo piano, é crua e direta, como os falsetes absolutamente lindos em seu refrão. A segunda, divida em duas partes, expõe e desmente todas as pessoas que, ao se separarem, proferem um falso ''sem ressentimentos''. "Eles sempre vão existir". E após deixar isso claro, a canção brinca com seu ritmo à medida que se desenvolve, acompanhando a instabilidade em que a cabeça e o coração se encontram nessas horas. Do nada, sem aviso, seu tom muda estranhamente. De instável para perversamente rancorosa e acompanhada por uma rápida e impositiva percussão, Lorde canta em Loveless :
"Bet you wanna rip my heart out
Bet you wanna skip my calls now
Well guess why? I like that
'Cause I kinda miss your life fucked
Kinda wanna tape my mouth shut
Look out, lovers"
Passadas as músicas em que Lorde lida com suas decepções, ela, assim como o amor, se mostra vastamente complexa.
Pode ser sucinta e minimalista, lembrando ''Pure Heroine'', com a momentânea felicidade encontrada em um caso de uma noite, com o refrão eletrônico e excêntrico de "Homemade Dynamite"; pode ser amorosamente psicótica, com seu violão solitário, seus sintetizadores brilhantes e sua felicidade, anormal e imersiva, em ''The Louvre''; pode ser apelativa, buscando compaixão de quem quer que a esteja ouvindo e se perguntando se ela é complicada demais para amar e ser amada na linda e triste ''Liability''. E também pode, em meio a um ótimo momento de juventude, pureza e embriaguez, se perguntar o que fazemos depois que ficamos sóbrios, em "Sober" e responder tal questão em "Sober ll (Melodrama)".
E, ao final de uma jornada um tanto quanto melancólica, seu fim nos presenteia com a brilhante "Perfect Places", onde o pop é trazido à sua essência e o faz sem medo nenhum. Entre as angústias e contradições de qualquer adolescente, é normal querer substituir a euforia das festas por ter alguém, como ela diz em: ''now I can't stand to be alone, let's go to perfect places''. Porém, ela conclui que acima de tudo, o necessário é admitir para si mesmo que entre os altos e baixos da juventude, essa fase da vida é e sempre será imperfeita.
''What the hell are perfect places''.