Crítica | Young Thug - Jeffery

É possível dizer que Jeffery Lamar Williams foi em 2016 para o trap, o equivalente do que foi The Weeknd em 2011 para o alternative R&B. Foram três mixtapes, uma atrás da outra, mostrando sua fome de se fixar entre os grandes do sub-gênero, e culminando em sua auto intitulada, "Jeffery", que prestando homenagem a diversas de suas  influências, procura construir o artista que todos conhecem por Young Thug, é possível dizer que ele conseguiu. 

Não é um trabalho econômico, sua ambição musical é clara, mesmo que raramente ele fuja do centro que é a música trap. Sem utilizar nenhum sample, a produção, principalmente cuidada pelo grupo Billboard Hitmakers e por Wheezy, utiliza poucas influências fora do sub-gênero, mas a combinação de reggae, música caribenha e pop parece deixar o som mais eclético do que ele realmente é. "Wyclef Jean", nomeada em cima do rapper haitiano, parece feita no próprio Haiti, usando um estilo musical único do país, mas em momento algum vemos algo realmente desafiador. Outkast em "ATLiens" e "Aquemini" foram mais longe, mais fundo, sem precisar sair de Atlanta, a capital mundial da trap music, cidade natal de Thug também, é claro.

Talvez o maior trunfo aqui esteja na habilidade de seu artista em achar ganchos e refrões em qualquer lugar, transformando versos na parte alta de algumas canções, introduções em outras, produção em outras. Thug é inteligente, ele sabe como transformar uma música em um hit sem esfregar isso na sua cara. A ideia de nomear cada faixa após uma de suas grandes influências é interessante, mas a ideia de vermos a relação dele com cada um morre por terra logo no começo. Ele tem o "Future Swag", em uma música que poderia estar perdida em qualquer álbum de Future. Em "RiRi" ele mostra seu amor pela moda, não por Rihanna, e acaba deixando algumas das bars mais preguiçosas do registro. Mayweather é a mais próxima do que o nome sugere, pois fala sobre a mesma coisa que todas as outras; dinheiro, sexo, mulheres, e traz outros mentores consigo em Gucci Mane e Travis Scott. "Kanye West" deve ser o nome mais desperdiçado, que quase se salva por Wyclef Jean e sua história sobre uma garota que faz voodoo. Quase. 

Em momento algum ele larga a thug life, mas nos momentos em que ele aprofunda, ou desafia este estilo de vida é que a mixtape chega mais alto. "Swizz Beats" é uma música sobre o amor bandido, infecciosa e valorosa, apesar de não lembrar muito os trabalhos do produtor que a nomeia. Seu conflito interno em "Harambee" é visível, sua voz luta por toda a música, mas utilizar o nome do gorila sem discutir os problemas sociais em volta é tanto um desperdício quanto é insensível, diminuindo o valor de uma boa faixa. "Webbie" tem um refrão contagioso, e as letras mais socialmente embasadas e melhor flow de toda a mixtape. A faixa bônus, "Pick Up The Phone" deve ser o momento mais interessante, aonde ele, Quavo e Travis Scott revertem a thug life, sendo que aqui é a garota que não presta. 

"Jeffery" é a última carta de entrada de Young Thug, um artista que começa a se estabelecer dentro do gênero e a atrair uma grande quantidade de fãs. Ele, como pessoa, representa tudo que a cultura trap acredita, e mesmo que seu talento seja claro, seu trabalho não é para todos. 

6.7

 

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