Crítica | Jogos Vorazes
"Maze Runner", "Divergente", "Cidade dos Ossos", e... teve alguma outra? Bem, podemos dizer que "Jogos Vorazes" é o grande culpado.
Após o fim de "Harry Potter", uma das franquias mais bem sucedidas da história do cinema e da literatura, a grande pergunta era quem o substituiria, se tal tarefa fosse possível. Logo no ano seguinte, adaptado do livro de Suzanne Collins de mesmo nome, estreou com grande alarde "Jogos Vorazes", que além de estabelecer uma nova onda cinematográfica, mostrou Jennifer Lawrence para o mundo.
Logo de cara, se percebe uma grande diferença entre livro e filme. Originalmente, tudo que acontece é visto pelos olhos de Katniss, enquanto o diretor Gary Ross preferiu contar a história em terceira pessoa, sem a narração da personagem, e mostrando acontecimentos além do que ela presencia. Essa ideia casou perfeitamente com o tom que o diretor deu para o filme, enquanto ele associa os fatos acontecidos dentro da arena com as consequências desses fatos fora dela. Ross queria, além de fazer um filme de sucesso, estabelecer a crítica social tão presente naquela história.
O roteiro foi bem adaptado, pouco material importante fora cortado, e a adição de cenas em que Katniss não está envolvida foi feita cautelosamente, apesar de um deslize ou outro. Presidente Snow é um personagem muito interessante para não ser mostrado. Ross sucede principalmente em extrair o melhor de seus atores, conseguindo que cada um entre na história, e faça parte para contá-la da melhor forma.
Lawrence é uma excelente atriz, e ela consegue passar muito bem a insegurança de Katniss, que apesar de ser forte e ter crescido em um meio tão hostil, lida com uma insegurança quase incontrolável. Ela é forte e resiliente, mas também frágil e vulnerável, um retrato quase perfeito da complexidade da cabeça de um jovem vivendo naquele mundo. Josh Hutcherson talvez seja apaixonado por ela mesmo, sua dedicação ao papel é completa, e compensa pela falta de talento de Liam Hemsworth. Os veteranos, Elizabeth Banks e Lenny Kravitz estão muito bem, enquanto Woody Harrelson, Stanley Tucci e Donald Sutherland elevam o nível da adaptação a escalas inimagináveis. Cada um dos atores realmente quer fazer parte de tudo que o filme envolve.
Câmera tremida nunca é uma boa saída, e mesmo que seu uso aqui seja quase justificável ao tentar mostrar a bagunça e tumulto nesse país disfuncional (o qual nunca temos informações o suficiente), diversas cenas de ação se beneficiariam caso pudêssemos entender o que está acontecendo. Pelo menos três vezes Katniss fica atordoada, um recurso mais enervante do que eficiente. Há um bom equilíbrio na mostra das habilidades de todos os adolescentes, mas poucos deles são realmente interessantes. A escala da violência talvez não pudesse ser mais alta, mas por vezes a ação parece barata, apenas para aumentar o valor de entretenimento do filme.
Fortemente apoiado no desempenho de seu elenco, e com forte conteúdo social, político e emocional, "Jogos Vorazes" é uma ótima adaptação, e um filme que é bem mais interessante do que seu gênero adolescente sugere. Sim, começou uma leva de péssimas adaptações, mas quando alguém faz algo certo, a tendência é que outros tentem copiar.