Os 10 Melhores Filmes de 2000
Estamos no final do primeiro quinto do século 21, e então decidimos retornar a todos os anos e trazer listas dos melhores filmes de cada um, em busca de, ao final de 2020, termos uma lista com os melhores do século até agora.
Vou começar este primeiro top da minha revisita aos anos 2000 assim como comecei os de 2010:
A simples ideia de listar obras de arte é um exercício de futilidade. Porém, a vida não vale a pena ser vivida se não for, também, comentada, analisada e pensada.
Voltando ao longínquo ano de 2000, percebo que não foi o melhor dos anos para filmes, sendo que ao revisitar obras que já havia conferido, ou simplesmente assistindo a novas, listar 20 aqui (10 melhores e 10 menções) não foi exatamente fácil. Inclusive, desconfio que o ano tenha dificuldade de elencar todas estas dez escolhas entre os meus 100 favoritos da década.
Como sempre é curioso perceber o quão diferente o mundo era em 2000 e como isso é refletido no que assistimos: resquícios de Rock and Roll, drogas, drogas e drogas, dramédias remanescentes dos anos 90.
E antes, vale mencionar que alguns filmes foram lançados no Brasil em 2001, mas conto como válido os anos onde viram a luz do dia pela primeira vez.
Abaixo, falo sobre aqueles que considero os melhores de 2000, um ano tão distante, que parece que se passaram cem anos desde então.
10 | garotos incríveis
Se engana quem acha que as primeiras performances dignas de menção de Tobey Maguire foram como Homem-Aranha, e se engana ainda mais quem acha que Tom Holland foi o único a conhecer o Homem-de-Ferro.
Neste esquecido filme de Curtis Hanson - que, três anos atrás havia dirigido o excepcional L.A. Confidential -, Michael Douglas é professor de escrita de um jovem Tobey Maguire e tem de encobrir um crime cometido pelo aluno ao passo que sua própria vida precisa de solução.
Em uma dramédia sobre situações únicas nas vidas de jovens universitários, mas talvez comuns até demais para os professores que ficam anos e anos em suas instituições, “Garotos Incríveis” sucede pela riqueza de seus personagens, todos com motivações, emoções e características mais interessantes do que o próprio protagonista, o qual, ao final, percebemos que aprendeu mais de todos estes a sua volta do que poderia tê-los ensinado.
9 | traffic
Talvez o mais curioso de “Traffic” seja perceber como, 20 anos atrás, a guerra que o cinema mais se preocupava em travar era contra as drogas (algo evidenciado pelo próximo na lista). Quem diria que, hoje, a mesma pareça algo muito menos importante… e até interessante.
E é claro que a palheta de cores quentes para retratar o México se tornou um estereótipo mais do que saturado, mas ao contrastar esta com um azul quase sem vida ao mostrar os Estados Unidos, Steven Soderbergh constrói um filme com diversas sub-tramas que, por si só, não são nada interessantes, mas juntas formam um retrato completo, e que mostra todos os lados, do impacto das drogas na sociedade.
Contando a história de de Caroline Wakefield, uma adolescente viciada em drogas, filha do juiz encarregado como presidente na guerra contra as drogas nos EUA, cujo trabalho está diretamente relacionado em pegar quadrilhas mexicanas, as quais o policial corrupto Javier Rodriguez tem que driblar, e que estão atrás da mulher de um traficante preso, que também é investigada por uma dupla de policiais e… bem, pode parecer uma bagunça, mas funciona graças às habilidades de seu diretor.
8 | réquiem para um sonho
Darren Aronofsky faria algumas obras-primas mais tarde na carreira, mas este singular filme sobre o impacto das drogas nas vidas de três adolescentes é uma viagem tão alucinógena como as que eles acabam se viciando.
Editado com uma quantidade enervante de cortes e com sequencias tão intragáveis que você não vai esquecer tão cedo, talvez a transformação mais difícil, mas ao mesmo tempo mais inevitável está na performance de Ellen Burstyn. Possivelmente uma das maiores injustiças da história do Oscar é ela ter perdido para o a vencedora da vez, Julia Roberts.
O nível de decomposição mental e física que atinge seus personagens é tamanho que é como se pudéssemos sentir na pele o desconforto que eles sentem quando longe de suas substâncias. É um filme esquisito, direto e abrasivo, mas, como falei antes, inesquecível.
E se o filme acima fala que a guerra contra as drogas é um fracasso, este vai lhe fazer pensar duas vezes antes de, bem…
7 | psicopata americano
Mary Harron não conseguir despontar na carreira mesmo fazendo um dos filmes mais icônicos dos anos 2000 é algo que está além de mim.
Nos apresentando um personagem inigualavelmente egocêntrico, misógino e convencido da própria virilidade, a diretora adapta o livro de Bret Easton em um filme… feminista! Que, ao mostrar como este tipo de homem continua mais do que comum nos dias de hoje, faz uma crítica completa à masculinidade tóxica, a forma como este subjuga as mulheres e, de quebra, ainda ataca o corporativismo e o capitalismo com uma das sequências mais hilárias que você vai assistir, envolvendo alguns cartões.
E Christian Bale, em um de seus primeiros grandes momentos, brilha ao se deixar consumir por completo pela vaidade de seu corrompido personagem que, ao final, se prova digna de pena.
6 | corpo fechado
M.Night Shyamalan.
Apenas isso é o suficiente para se saber que você está prestes a assistir algo que não vai conseguir ficar indiferente. De bombas inexplicáveis à obras inesquecíveis, o diretor construiu uma das carreiras mais singulares e debatidas na sétima arte, seja para o bem ou para o mal.
Mas em 2000 sua carreira ainda estava começando, e ao continuar seu icônico “O Sexto Sentido” com a versão mais interessante já produzida do Super-Homem, Shyamalan deixava cinéfilos intrigados pelo que faria a seguir. Quer dizer, acredito que deixava, pois eu era jovem demais para saber, mas julgando pela qualidade e peculiaridade do filme que originou sua “trilogia”, deve ter sido o caso.
Com uma das melhores performances da carreira de Bruce Willis, e recontando diversas convenções do gênero, “Corpo Fechado” é uma história de origem tão inspiradora como realista e que, ao final, chega a deixar uma faísca de dúvida em sua cabeça quanto à sua própria plausibilidade.
5b | Amores brutos
Acabei assistindo esse pensando que era de 2001, sendo que este foi seu lançamento brasileiro, então ao invés de tirar o décimo colocado, decidi adicioná-lo como extra:
O primeiro filme de Alejandro Gonzáles Iñáritu é também um dos filmes mais difíceis que já assisti na minha vida. Se você, como eu, é amante de animais, terminar este filme se tornará uma tarefa árdua, pois além das fortes imagens, a crítica aqui passada é uma daquelas que te deixa sentindo pior sobre a humanidade do que antes.
Ainda assim, é um longa inesquecível, brutal como o nome brasileiro diz, e que revela verdade sobre nossa natureza selvagem que ecoaria em diversos filmes anos depois.
5 | amor à flor da pele
Considerado por muitos como um dos melhores filmes do século 21, confesso que por mais realizada que seja a obra de Wong Kar-wai, não a amei a este ponto.
Nos mostrando (e isso faz toda a diferença) a história de um homem e uma mulher que encontram na infidelidade de seus esposos um motivo para desabrocharem, poucas vezes acho que uma tradução entendeu tão mal a ideia de um filme, pois apesar de vermos ambos descobrirem e aflorarem seus sentimentos (o título original é algo como: Os Anos Floridos), jamais assistimos a uma história de amor tradicional.
De qualquer forma, este não deixa de ser um filme apaixonante que vai deixar muitos frustrados por conta de seu final, mas que durante sua bela jornada conquistou aqueles cinéfilos obcecados com significados escondidos e uma linguagem rebuscada que utiliza tudo que o cinema tem a sua disposição para contar uma história.
Bem, não posso dizer que não sou um deles.
4 | george washington
Um dos filmes mais esquecidos que assisti em tempos, esta obra prima de David Gordon Green pode parecer pequena em sua superfície, mas se prova colossal e devastadora quando a analisamos a fundo.
Seguindo um grupo de jovens durante o verão em uma cidade industrial norte-americana, caindo aos pedaços, vemos fragmentos de suas vidas e como o meio onde vivem afeta consideravelmente a forma como vivem. Um deles quer ser o presidente, outro está perdidamente apaixonado aos 12 anos, outra só quer saber de arranjar outro namorado, outra acredita não ser uma boa menina por ter pensamentos ruins.
Todos estes são crianças que vão nos deixar mais preocupados do que encantados, pois o longa é, de uma forma delicada e comovente, sobre as muitas tragédias uma vida pode trazer ou, de forma mais pessimista, sobre o quão trágica esta própria é.
Iniciando com um plano que deveria ter se tornado icônico, e finalizando com outro que também, aconselho fortemente que dê uma chance a esta obra, pois assim como o episódio que nela acontece e que marca a vida de seus personagens, este filme é daqueles que você pode até se sentir pior ao terminar de assisti-lo, mas que vai definitivamente mudar a forma como enxerga o mundo e sua própria vida a partir dali.
3 | o tigre e o dragão
Tecnicamente, nenhum filme de 2000 me impressionou mais do que este de Ang Lee.
Um cineasta visionário do ponto de vista das técnicas que aborda em suas produções, aqui ele filma algumas das melhores sequências de combate da história da sétima arte, onde somos levados a crer que aqueles personagens realmente lutam daquele jeito, flutuam pelos telhados e, na cena mais memorável do longa, se equilibram no topo de árvores sem o auxílio de CGI.
E é um filme que ainda entrega personagens marcantes e bem desenvolvidos, com arcos e jornadas que queremos acompanhar e apesar de não relutarmos em torcer para que o “bem” vença, não conseguimos deixar de entender as motivações que levam o “mal” a agir do jeito que age, transformando seu embate em algo fascinante e difícil de assistir ao mesmo tempo.
Visualmente magistral e narrativamente simples, porém satisfatório, “O Tigre e o Dragão” é uma porta de entrada grandiosa para o cinema asiático.
1 | quase famosos
Eu realmente pensei em escrever o texto ao contrário ou algo do tipo, mas isso não seria nada inovador 20 anos após seu lançamento, então…
A prova de que as pessoas que traduzem os títulos de filmes não os assistem é evidenciada em “Memento”, um filme que explica várias vezes que seu personagem não tem a doença que dá nome à tradução brasileira e portanto…
“Memento” é o primeiro filme de estúdio de Christopher Nolan e talvez seja seu melhor. Um mistério que vai te deixar na ponta da cadeira e tentando montar o quebra-cabeça ao mesmo tempo que seu personagem…
Este filme não ter ganho Oscar de Melhor Roteiro Adaptado é uma das maiores injustiças da história da Academia. Não apenas o mistério é construído de forma espetacular, mas mesmo indo de trás para frente…
Eu realmente pensei em escrever o texto ao contrário ou algo do tipo, mas isso não seria nada inovador 20 anos após seu lançamento, então…
10 Menções Honrosas sem ordem específica: Conte Comigo; Alta Fidelidade; Dançando no Escuro; Pollock: X-Men; Billy Elliot; Erin Brockovich: Uma Mulher de Talento; A Nova Onda do Imperador; A Fuga das Galinhas; Gladiador.
1 | memento
Aqui explico a posição “1” nos dois primeiros colocados, pois não, não é uma erro de digitação (ou uma falha de memória).
Simplesmente não consegui me decidir entre estas duas obras primas. Uma, é um dos mistérios mais criativos e fascinantes que já assisti, com um final (ou seria começo?) perturbador e inesperado de formas que elevam tudo que você viu anteriormente (ou posteriormente?). Outra, uma linda história sobre pessoas felizes com sua parcela de fama e inteligentes o suficiente para saber que aquilo é o máximo que vão conseguir e, por isso, tem de desfrutar cada segundo.
Tecnicamente, o filme de Nolan é superior ao de Cameron Crowe: sua linguagem é mais rica, suas performances mais sólidas, seu poder mais infalível.
Por outro lado, se “Memento” embaralha, corrompe e desvaloriza a veracidade das memórias, “Quase Famosos” é quase sobre vivê-las sem pensar que um dia poderão lhe doer. Um filme delicioso de se assistir e que ainda trata de questões mais do que relevantes sobre a arte, os artistas que a fazem, e os fãs que a consomem e apreciam.
Ambos estes filmes estão entre meus favoritos dos anos 2000 e estão consideravelmente acima de qualquer outro nesta lista e, apesar (e por conta) de serem tão diferentes, não consegui decidir qual gosto mais, mas vamos fazer assim:
Se estiver em um dia conturbado: assista “Memento”.
Se estiver em um dia feliz: assista “Quase Famosos”.
Ou seria o contrário?