Crítica | Harry e Sally: Feitos Um para o Outro

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De antemão cabe a mim não deixar passar a oportunidade de demonstrar descontentamento com a translação dos nomes originais de filmes para o nosso país. Saímos da sutileza e das diversas coisas transmitidas por “When Harry Met Sally” para essa atrocidade que vocês veem acima. É impensável cogitar que alguém gastou tempo ponderando sobre novos nomes ao invés de traduzir da forma mais básica possível. Seguindo essa linha de raciocínio, vou me referir ao filme por seu nome original.

Há 2 meses me deparei com um post da famosa revista “GQ”, conhecida por vender para homens um estilo de vida um tanto quanto limitado (“veja esses 6 exercícios para seu abdômen ficar igual ao de Arnold Schwarzenegger” ou “siga as dicas para aprender a falar com uma mulher”). O nome do post, traduzido de maneira literal, era intitulado de “O seu parceiro não precisa ser seu melhor amigo também”. No topo da postagem havia uma foto de Harry e Sally agachados. A mesma pessoa que escreveu esse texto também redigiu “A pergunta que você nunca deve fazer ao seu parceiro”. Dito isso, eu nunca tinha visto a obra e não entendi sua relação com o texto. Hoje entendo e e discordo totalmente do uso.

“When Harry Met Sally”não diz para levarmos ao pé da letra que nossos parceiros devem ser nossos melhores amigos, mas sugere a funcionalidade intrínseca da ideia.

)uito bem dirigido por Rob Reiner e maravilhosamente escrito por Nora Ephron, o entendimento de que a narrativa é criada para Harry e Sally ficarem juntos é óbvio. A própria Nora Ephron é famosa por carregar o dogma de que “tudo é cópia” consigo - tendo a concordar mais do que discordar com essa máxima, mas isso é papo pra outra hora. Agora, considerando a predominância do clichê do grande ato amoroso nos últimos 5 minutos, é realmente um benção quando a narrativa de um filme romântico se vende verdadeiramente pelo que é em seus outros atos. Aqui, a história não engole seus personagens tentando vender um ideal exagerado e fantasioso, ou uma enorme casa sem chão. Boas histórias românticas começam sempre pela relevância de seus personagens. Quando as pessoas funcionam, a história funciona.

Nesse sentido, “When Harry Met Sally” se torna referência em como fazer um ótimo filme partindo do pressuposto de aceitação dos padrões e das fórmulas do gênero. Não é todo dia que temos um “Retrato de Jovem em Chamas” (2019), uma trilogia “Before” (1995-2013) ou “Se Meu Apartamento Falasse” (1960), que buscam combater as regras costumeiras estabelecidas para criar seu próprio universo, mas também não é todo dia que podemos contemplar o filme analisado aqui. É literalmente sobre saber como melhor usar o seu tempo até os 5 minutos finais, e nesse sentido, o roteiro maravilhoso de Ephron e a direção de Reiner se complementam de maneira criativa e quase impecável.

Além dos diálogos memoráveis, que fluem perfeitamente entre a linha do real e do utópico com a ajuda das excelentes atuações de Meg Ryan e Billy Crystal, o roteiro faz - e por isso o motivo do ódio em relação à Harry e Sally: Feitos Um para o Outro” - Harry conhecer Sally 3 vezes. Harry não é feito para Sally e Sally não é feita para Harry quando tinham lá pelos seus 20 anos. A personalidade contraditória de ambos, assim que entram num carro em direção a Nova Iorque numa viagem de 18 horas é gritante, no pior dos sentidos. Ele se considerando mais astuto do que de fato é e ela com um senso de inocência que se opõe diretamente a prepotência dele. E não pensem que é um dos velhos casos de os opostos se atraem, ”, pois definitivamente não é. Só após improváveis 2 encontros ocasionados pelo destino (sim, temos que comprar isso e o fazemos sem problemas) que ambos passam a se aproximar.

É somente após 12 anos que Harry, de fato, conhece Sally. Os dois, naquele ponto, não estão nem tão velhos para se acomodarem com qualquer parceiro que a vida tenha a oferecer, mas nem tão novos para não anteciparem uma crise solitária dos 40 - como faz Meg Ryan que, ao descobrir que seu ex está prestes a casar, se desespera e pula 8 anos de sua vida. Os dois, que já foram magoados e tiveram algumas de suas crenças quebradas, mas que ainda assim carregam muito de sua essência mostrada no auge de sua juventude. É na proximidade de ambos, em momentos compostos por uma atmosfera envolta pela amizade em primeiro plano - e só neles - que surgem momentos tão cômicos e engraçados, como Sally fingindo um orgasmo em local público após Harry afirmar com a certeza da maioria esmagadora dos homens héteros que sabia diferenciar um verdadeiro de um falso. A realidade é que não há como apontar, como ela prova.

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Conforme o filme transcorre, os casais que aparecem entre um segmento e outro para contar suas histórias de amor, antes descontextualizados e desinteressantes, passam a ser encantadores até culminar no último relato, de Harry e Sally. São infinitos os romances que os protagonistas, ao final da história, vão acabar juntos. Por outro lado, são raros aqueles que ao seu final nos deixam tão entretidos e cativados a ponto de ignorar suas convencionalidades .

“When Harry Met Sally” é um desses casos.

8.6


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