Entrevista | John Carpenter (Cinema Daily)

O CULPADO DE TUDO


Notas do tradutor (Marco Leal):

Entrevista conduzida pelo repórter Nobuhiro Hosoki, por e-mail e publicada em 22 de Outubro de 2021, traduzida diretamente do site Cinema Daily (que pode ser conferida na íntegra aqui). Foram mantidas apenas as perguntas e respostas entre o entrevistador e o entrevistado, com a introdução original sendo excluída desta tradução. Assim como em outras entrevistas, trechos podem ser cortados da tradução a depender do tradutor.

Na introdução, Nobuhiro conta como conseguiu a entrevista por meio de um encontro com Sandy, esposa de John Carpenter, e que ele concordou com a entrevista desde que fosse feita por e-mail, o que fica evidente com as respostas, aparentemente feitas como uma tarefa.

De interessante, para o tema, é a maneira como Carpenter fala sobre Halloween e sobre o legado do filme.


Q: Você compôs toda a série Halloween e fez um arranjo do tema de Halloween. Essa trilha é assombrosa, como ela surgiu?

John Carpenter: Necessidade.

Q: Estou ciente de que o filme tinha um orçamento baixo, mas como você fez a música em vez de usar outros músicos? Pode detalhar seu processo de criação da música? Que tipo de tentativa e erro você enfrentou para fazer a canção tema?

John Carpenter: Não houve tentativa e erro na criação da música para “HALLOWEEN”. Eu sabia que iria usar esse tema que desenvolvi ao longo dos anos. Mas era baseado no meu pai, que me ensinou sobre compasso 5/4.

Q: Depois que você fez o filme original, disse que nunca quis fazer uma sequência, porque não havia mais nada a dizer, mas a série continuou. Em 2018, uma sequência direta do original foi lançada. Como Jason Blum e David Gordon Green abordaram você sobre fazer uma sequência do original? A série Halloween capturou a relação entre a família Myers — que apareceu no primeiro filme — e a existência de Laurie — que tem uma conexão particularmente forte com eles.

O que é descrito no trabalho mais recente. Quanto da sua ideia para a história de Halloween (2018) e “Halloween Kills” (2021) você deu para manter uma sequência adequada?

John Carpenter: Antes de mais nada, eu não estava fazendo a sequência. Nunca dirigi uma sequência de “HALLOWEEN”. David e Danny McBride criaram as histórias.

Q: Eu sabia que você não fez a sequência, mas queria saber que tipo de conselho ou bênção você deu a David, Danny e eventualmente a Jason Blum para que eles aprovaram a produção do filme; qual foi sua reação em relação aos dois filmes?

John Carpenter: Participei do desenvolvimento de ambos, “HALLOWEEN” e “HALLOWEEN KILLS”, mas não houve bênção envolvida.

Q: Jamie Lee Curtis era adolescente quando você a escalou para o primeiro filme. Quais foram as qualidades significativas que se destacaram para você ao escolhê-la como protagonista?

John Carpenter: Jamie era uma atriz talentosa. Ela era bonita e carismática.

Q: Sim, ela possui todas essas qualidades, mas eu pessoalmente acho que há mais. Que tipo de abordagem ela teve no filme original que você achou diferente de outras atrizes?

John Carpenter: Jamie Lee fez uma leitura para mim. Ela era perfeita para o papel. Eu achava que ela tinha uma força interior, uma vontade de sobreviver, que usei no filme.

Q: Qual foi sua inspiração ao criar o homem das sombras, Michael Myers? Há algum filme que te inspirou a criar esse personagem icônico? Mesmo sendo atacado por pessoas, ele nunca pronunciou uma palavra — qual foi a razão de você mantê-lo assim? Fale sobre o elemento imortal — mesmo sendo baleado dezenas de vezes, ele não morre. O público sai com um medo interminável.

John Carpenter: Michael Myers era uma força do mal. Ele era menos um ser humano e mais um elemento. Foi essa falta de caracterização que o tornou assustador. Eu mantenho minha resposta.

Q: Quais são os ingredientes importantes para um grande filme de terror?

John Carpenter: Não há regras.

Q: É porque você encontra uma apreciação mais profunda pelo terror que foi reinventado por outros jovens diretores? Que outros diretores de terror te surpreenderam?

John Carpenter: O terror é o gênero mais antigo. Ele estava lá no começo do cinema. Cada nova geração reinventa o terror para si mesma. Todos nós temos medo. É por isso que o terror é um gênero tão universal.

Q: No próximo ano, será lançado “Halloween Ends”. Como você estará envolvido com isso — como produtor executivo e compositor, assim como nos filmes anteriores, conforme dito no IMDB? Você tem algo a dizer sobre o toque final?

John Carpenter: Serei produtor executivo e compositor em “HALLOWEEN ENDS.” Dou minha opinião e assisto basquete na TV.

Q: O título sugere que este será pelo menos um desfecho para o cenário entre Jamie Lee Curtis e Michael Myers. Que tipo de memórias você quer deixar para trás neste filme?

John Carpenter: Quero que o público se divirta muito ao assistir “HALLOWEEN ENDS.”

Q: Por que você colocou seu nome acima do título no filme original? Foi uma escolha consciente, de certa forma, para assumir a posse do filme?

John Carpenter: Uma escolha consciente. Estou assumindo a posse dos meus filmes.

Q: Quão eficaz ou importante, como cineasta, foi continuar fazendo seus próprios filmes? Você tem algum conselho para jovens diretores sobre como possuir seu conteúdo?

John Carpenter: O corte final é essencial para os diretores. Eu encorajo cada jovem diretor a lutar por sua visão.

Q: Por que você acha que este filme teve uma base de fãs tão grande e ressoou com o público por tanto tempo?

John Carpenter: Porque é assustador.

Q: Eu acho que há muitos filmes de terror por aí tão assustadores quanto Halloween. Mas a maioria deles desapareceu ou as pessoas se esqueceram deles. Acredito que há mais em Halloween do que apenas ser assustador, como a temática assombrosa que permeia a série. Todos os anos temos o Halloween, que nos lembra do filme original e inspirou alguns jovens cineastas a seguir seus passos.

John Carpenter: Existe um exército de jovens diretores morrendo de vontade de contar novas histórias e mostrar seu talento. Cada diretor tem seu próprio caminho na indústria cinematográfica. É uma tarefa difícil, mas um caminho que vale a pena trilhar.


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