Crítica | Speak Now - Taylor Swift
Sob a sombra do Taylor’s Version, a versão original de “Speak Now” brilha forte em 2023, como se o tempo não tivesse passado.
Sinceramente, eu não esperava, nem desejava, ter que escrever essa breve crítica. Esperava que “Speak Now” (Taylor’s Version) fosse me arrepiar, trazendo a voz mais madura de Taylor de volta às suas origens country e com recursos de produção para recriar seu country-rock com primor. Infelizmente, não foi o caso, e foi doído escrever uma crítica deixando uma nota tão baixa, perto de um disco tão bom.
Por isso, me vi obrigado a escrever sobre as tantas revisitas que fiz ao Speak Now original nos últimos dias.
Um dos discos mais esteticamente coerentes da carreira de Taylor, onde ela estuda e aplica a cartilha do country-rock e do country-pop à risca. Trazendo um excerto do que já escrevi sobre o original na crítica do Taylor’s Version:
“Speak Now foi o primeiro (e até hoje, único) álbum de estúdio no qual Taylor é compositora, sozinha, de todas as faixas. Após vencer inúmeros prêmios, incluido o Grammy de Álbum do Ano em 2009 com “Fearless”, todo o mundo estava com os ouvidos atentos ao próximo lançamento de Taylor.
E nesse contexto, ela volta para Nashville, toma o projeto em suas próprias mãos, escreve 14 faixas, e produz o álbum que, naquela época, parecia o álbum que ela sempre havia sonhado em fazer.
Ecos de Shania Twain, Sheril Crow, e Faith Hill enfeitam as lustrosas paredes de som de Speak Now, o único álbum de toda discografia de Taylor onde a sonoridade não é nem de cantora-compositora, nem de pop star, mas sim de banda.
Esse é um álbum com som de banda, energia de banda. Tem urgência, tem em cada acorde e mixagem o sangue no olho que Taylor tinha, na época, em se apresentar como compositora de respeito e front-woman de qualquer banda, pronta para encarar qualquer arena.”
Speak Now tem confiança de sonho realizado, e gana de grande final.
É como se Taylor tivesse ciência da altura que já alcançou, mas também a responsabilidade de saber que o jogo não está ganho. Tenha ela tido seus erros e acertos ao longo de quase 20 anos de carreira, uma coisa é inegável, a Taylor Swift de 2010 não era uma certeza da indústria. Mesmo com os privilégios financeiros da classe média americana, e os privilégios culturais de ser uma menina branca fazendo country, em 2010 ela era “apenas” uma nova artista de country com 1 álbum de sucesso.
Bom? Sim. Mas nada que dúzias de artistas não tenham realizado, antes de sumir na história da música. Se ela tinha vindo pra ficar, ou tido um lance de sorte, estava a ser decidido.
E aqui entra a “grande final”: Taylor sabia que precisava de um álbum que em termos de produção fosse sólido, um tema de casa bem feito - para isso, recorreu ao country explosivo trabalhando com musicistas e produtores veteranos do estilo. Porém, precisava também colocar a sua impressão digital no trabalho, do contrário, seria apenas mais um disco genérico, mesmo que bem produzido. Para isso, escreveu todas as faixas sem retirar uma vírgula que entregasse mais sobre sua persona para o público e os fãs.
Foi em “Speak Now” que Taylor expôs explicitamente feridas amorosas e profissionais, do passado e do presente, foi aqui que ela pesou a caneta mesmo sabendo dos estereótipos femininos que ela teria que enfrentar ao se expor dessa forma.
Foi aqui que ela desistiu de agradar a todos, pois sabia que essa era sua melhor chance de ganhar o coração de muitos.
Em uma tracklist recheada de hits, Taylor passeia com naturalidade por diversos temas e vibes, mas em todas suas execuções, Speak Now parece uma semana de música com Taylor Swift & Amigos no Tenessee. Os vocais jovens e por vezes, inocentes, que poderiam conferir ao disco certa aura Hannah Montana, são equilibrados por uma entrega lírica e de performance vocal que não deixam o ouvinte se enganar: essa jovem sabe muito bem do que está falando.
“Mine”, “Sparks Fly”, “Back to December”, “Speak Now” e “Dear John” talvez sejam a sequência de abertura mais forte da discografia dela, onde ela explora versatilidade vocal, instrumental e dá o tom do disco com primor. Ainda que a segunda metade não seja tão forte, ainda reserva grandes cortes como “Innocent”, “Long Live” e a fantástica “Enchanted”, cuja versão original é a única que seguirei ouvindo.
Não há nenhuma música ruim em Speak Now. Por mais que não seja um disco revolucionário, ele se executa em alto nível quase todas as ideias que se propõe a executar. E o que coroa essa narrativa é a performance de uma Taylor Swift no modo tudo ou nada, que sabia, no fundo de sua alma, que precisava dar tudo de si. Essa era uma Taylor que passava a maior parte do show com o violão ou a guitarra na mão, que ainda não entendia exatamente tudo que estava acontecendo na indústria que orbitava sua arte, e que decidiu que a melhor forma de enfrentar a missão era em grupo. Com uma banda e produção que empoderavam suas composições e ao colocá-las no centro da música, não à frente.
Uma receita que deu certo. Como muito bem diz o nome, era hora de Taylor falar, ou se calar para sempre. Quem ela era, que riscos ela estava disposta a correr, que som ela podia produzir. Ela falou, e Speak Now é uma pedra fundamental em sua discografia, e com certeza, um de seus melhores álbuns.