Crítica | Fendas

Filme assistido durante a cobertura do Brasilia International Film Festival (BIFF) de 2020, disponibilizado online pela organização devido a pandemia do Covid-19.


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“Fendas” é a história de uma mulher presa entre os universos do som e da luz, tentando encontrar seu espaço, seu caminho e, principalmente, o que o mundo quer comunicar a ela. E essa mensagem é que pensamentos antigos e ultrapassados podem sempre voltar.

Apresentando uma professora de física quântica, centrada em uma pesquisa que à primeira vista parece insana, a história contada aqui tem muito mais a ver com a cidade em que ela vive, a história do Brasil e o tempo. "Fendas" se propõe a colocar em cheque o que é duradouro e o que está de passagem, com pontadas de crítica à mentalidade imperialista europeia e norte-americana, além também da nosso desprendimento com uma resistência a dominação.

Mas isso é apenas sugerido, de forma leve e escassa.

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O grosso do filme são planos longos separados por poucos cortes, que dominam o início mas estão presentes em boa parte do longa, e posicionam a protagonista no centro do quadro. Também é assim que a própria personagem enquadra o seu aluno, quando filma ele em sala de aula lendo um trecho de um livro para uma de suas experiências. Existe um foco claro para a história aqui. As aparentes digressões são a papinha, a breve menção ao fato de estar "cansada de perdas" e o medo de água, mas todas são pistas para um dos pontos da narrativa que explica a obsessão de Catarina e a mensagem principal.

A direção de arte faz um trabalho excelente, principalmente na casa da protagonista. Lembranças do passado e lembretes para o futuro se misturam em forma de fotos, desenhos, recortes de jornal e anotações em post-it pendurados nas paredes, representando o estado confuso e lotado da mente de Catarina. E enquanto o quarto nos dá uma visão de como a mente dela funciona, o ritmo contemplativo do filme dita a forma de assistí-lo. A fotografia consegue brilhar muito, trazendo enquadramentos elucidativos e eficientes em captar a ação (ou a falta dela) na cena e também, ao mostrar paisagens e janelas por exemplo, permitir divagações - que são necessárias para o entendimento da obra.

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Mas apesar de tudo Catarina é somente tão interessante quanto a sua pesquisa sobre os "fotossons" (que traçam uma relação sinestésica e física de variação luminosa de acordo com o som). O mesmo ocorre com os monólogos - que após a aparição do personagem Antônio se tornam diálogos -, cuja linguagem chama mais atenção para si mesma do que a mensagem apresenta valor de interesse. Ela não se mostra tão estimulada por sua pesquisa e isso pode acabar refletindo no espectador.

Faltou uma carga narrativa que nos mergulhasse mais no som e na luz dessa obra que não parece nem crua e nem abstrata demais para gerar mais curiosidade.


5,5

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