Crítica | Spirit: O Indomável

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Um dos personagens mais queridos da Dreamworks volta ao cinema com um espetáculo visual e uma divertida história.

Baseada na série infantil de sucesso da Netflix, nova animação chega aos cinemas para levar a família toda. A maior força de “Spirit: O Indomável” está na incrível animação, trabalhando com uma composição de cores especial para recriar as paisagens naturais interioranas o filme impressiona em diversos momentos pelo que é mostrado, um filme que vale a pena conferir no cinema. Seu estilo western e suas personagens são encantadoras enquanto elementos cinematofráficos e sem nenhuma dúvida há momentos divertidos e emocionantes que infelizmente parece um pouco incompletos em termos narrativos, acredito que seja resultado do background televisivo dos personagens que os roteiristas tenham assumido que o público terá familiaridade já com os elementos da trama, acho uma pena, por mais que a série seja um sucesso o cinema tem uma habilidade melhor em eternizar histórias e talvez essas personagens tão divertidas acabem recebendo menos atenção do que merecem por esse descuido. No fim, uma bela história sobre família é contada e isso é o mais importante.

Entre o final dos anos 1990 e começo dos anos 2000 a DreamWorks lançou uma sequência impressionante de filmes que levava as pessoas a apontarem a produtora como principal concorrente da Pixar, “O Príncipe do Egito” (1998), “A Fuga das Galinhas” (2000) e “Shrek” (2001) tiveram muito destaque não só pelos roteiros bem escritos mas por experimentações em diferentes estilos visuais que eram instrumentalizados para comentários sociais sobre cinema e sociedade feitos nesses filmes. Em 2002 o estúdio lançou um dos filmes que mais assisti na vida “Spirit: O Corcel Indomável”, a história do cavalo se mistura com um conto sobre a guerra de conquista no norte dos EUA em que o povo Lakota resistia a invasão dos colonos ingleses paralelamente uma história de amor e amizade é contada em uma incrível reconstrução animada dos cenários naturais dos EUA. Por não ter atraído a mesma popularidade de outros personagens da DreamWorks em um primeiro momento o personagem foi deixado de lado, ao longo dos anos a qualidade dos filmes do estúdio entrou em uma descendente preocupante marcada por um excesso de sequências e franquias que reciclaram personagens até o público se cansar. Em 2017, em parceria com a Netflix, a produtora de animação lançou a série “Spirit: Cavalgando Livre” que usa o personagem do garanhão indomável em um outro contexto, com a história da menina Lucky e suas amigas em uma pequena cidade, o filme de 2021 é uma adaptação dessa série.

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De certa maneira é uma reedição do piloto da série da Netflix, após a morte de sua mãe, Milagro, uma amazona que encanta a todos com acrobacias a cavalo, a aventureira garota Fortuna “Lucky” Prescott passa a morar com sua tia na cidade, quando a história da protagonista começa ela já aprontou várias peripécias para sua tia e avô e por isso volta para passar um verão no interior, o que no começo parecia uma enfadonha sentença logo se torna um universo de possibilidades de diversão. Lucky conhece Spirit e rapidamente se interessa em aprender a montar o cavalo, ela também faz novas amigas na cidade de Miradero, Pru e Abigail duas meninas que mostram experiência com seus cavalos e vão, junto com Lucky, impedir a malvada gang do vilão Hendricks de roubar Spirit e sua manada. Lucky ao chegar em Miradero se reencontra com seu pai Jim a quem não via desde que era bebê e os dois vão precisar ressignifcar a relação deles para conviverem. A história é simples mas esbarra em problemas significativos de escrita. O primeiro ponto é que parecem faltar cenas no filme, quando Lucky chega na nova cidade se espera que ela passe por um momento de “peixe fora da água” para que possamos conhecer melhor os personagens envolvidos na trama, mas esse momento nunca chega. Rapidamente as relações já estão dadas e isso dificulta a compeensão de quem é quem fazendo toda história perder peso uma vez que se torna mais difícil de nos importarmos com personagens que não conhecemos. O roteiro no geral deixa a desejar, apresentando elementos que jamais são utilizados na narrativa e dependendo constantemente de soluções milagrosas sem apresentação prévia para outras coisas, isso é, apresenta causas e consequências mas a segunda coisa não é relacionada a primeira.

A atmosfera de “Spirit” é de fato muito positiva, para além da construção visual estética se destaca também a maneira como a cidade Miradero é apresentada espacialmente ambientando o público e Lucky rapidamente a esse ambiente e as pessoas que a habitam como um personagem próprio. A temática da coragem e da bravura e a narrativa centrada em personagens femininas também chamam atenção a favor do filme, assim como os belos temas musicais utilizados. A história da filha que acaba seguindo o legado da mãe é sempre muito rica enquanto narrativa e foi muito utilizada no cinema, mas nesse filme especificamente as duas personagens são bem escritas e criam fácil simpatia com o público, tornando o filme encantador. O personagem título Spirit é também especial, muito lúdico e com algo de poético. No geral, mesmo com a resolução bonita, “Spirit: O Indomável” sempre passa a sensação de ser um filme incompleto, uma pena, pois diminui o ernome potencial da sua história e dos seus personagens, ainda assim há o que tirar e se divertir com Lucky e suas amigas.

5,5

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