Crítica | Projeto Gemini
UMA TENTATIVA NÃO TÃO FALHA DE ALCANÇAR JOHN WICK
Sim, é muito difícil destronar o grandioso John Wick dos filmes de ação mais bem feitos de todos os tempos. Mas Projeto Gemini tenta, e acaba apenas divertindo.
Antes de mais nada Projeto Gemini te dá de presente uma experiência totalmente nova. O 3D + é uma nova invenção que nos promete trazer uma projeção em 60 quadros por segundo, mostrando mais profundidade e imersão. É muito engraçado que, em alguns momentos, você se pergunta se está assistindo á um filme mesmo. Aquelas lendárias travadinhas de 24 Frames por segundo características aqui não existem e parece em alguns momentos que estamos vendo realmente a ação acontecendo. Os movimentos são fluidos, realistas e não, não dá dor de cabeça.
Projeto Gemini é um filme dirigido por Ang Lee, estrelando Will Smith, Will Smith mais novo, Mary Elizabeth Winstead, Clive Owen e Benedict Wong. Já de cara somos apresentados a uma tentativa de assassinato em um trem bala em movimento, onde por trás do Rifle temos Henry Brogen, o nosso protagonista, um Will Smith bem velho e com muita vontade de se aposentar por isso. Não é possível criticar de maneira negativa, a atuação de Will está impecável. Nos últimos anos ele está cada vez mais crescendo nesse âmbito.
Após completar o trabalho ele se encontra com uma personagem com intenções duvidosas, Danny, que afirma ser apenas uma bióloga marinha. Infelizmente os dois acabam tendo que se virar nos 30, enquanto assassinos altamente treinados vão em busca pelas suas cabeças. Henry acaba descobrindo que o homem que ele matou fazia parte de uma organização poderosa…
E seu assassino é nada mais, nada menos do que ele mesmo em sua versão mais jovem, com 23 anos.
Tinha muito medo do efeito especial Doppler do Will Smith, parecer de certa forma escrachado demais, mas não! É bom mesmo! Saudades de Um Maluco No Pedaço...
Gemini acerta bastante na apresentação de seus personagens, que é bastante quieta, sucinta. Está lá a personalidade, ela não grita na sua cara eu sou assim e gosto disso. Características importantes da história também são introduzidas dessa forma, como as tatuagens envelhecidas, significando que são amigos a muito tempo da mesma organização.
O filme usa planos muito bem pensados, como em primeira pessoa, ou mesmo pontos de vista do retrovisor, das poças de água e de espelhos. Todos eles são lindos de se admirar, todos muito abertos, recheados de detalhes. Existe uma tentativa constante de buscar um ponto de visão diferente das sequências de ação, o que torna elas o mais claustrofóbicas possíveis. A sequência de Cartagena é uma das melhores que eu já vi, tanto em quesito de ação (que a propósito são muito bem coreografadas), como de tensão. O 3D + ajuda muito com movimentos fluidos e muitas vezes tão realistas que assusta. Me peguei pulando da cadeira em um momento.
Mas uma coisa que me incomoda profundamente é o fato dos personagens aceitarem fácil demais que existe a possibilidade de clonagem. O jeito que eles reagem ao Will Smith mais novo é quase como se fosse extremamente provável esse feito. Infelizmente Júnior, a versão jovem de Henry, não é muito bem desenvolvido, sendo que o filme recorre a uma característica bem estereotipada de adolescente enganado pelo pai, chorão mesmo com boas intenções.
Os personagens da trama não são indestrutíveis, eles se machucam, eles reclamam da dor e até fazem curativos em algumas cenas. Isso inclusive transforma a realidade do filme de maneira muito mais verossímil. Ang Lee se preocupou inclusive de mostrar os soldados treinando, eles não tiram seu profissionalismo do nada, eles carregam, eles erram os tiros. Não são máquinas profissionais, são humanos.
O problema do filme é que em seu final, o visionário Ang Lee apela para um grande clichê, com frases espertinhas e monólogos vilanescos. Parece uma tentativa descarada de esconder que não foi pensado uma resolução da história à tempo, inclusive enfiando mais um personagem desnecessariamente. Algumas mortes perdem total sentido e são esquecidas de maneira muito rápida. Chega a ser tosco que o personagem reage por 10 segundos à morte e durante o desenrolar do filme ele nunca existiu, não teve nenhuma mudança de comportamento dos demais. Ninguém sofreu nenhum impacto a longo prazo, ou seja, descartável. Esse recurso de tapar buracos na história é bastante usado em longos discursos que causam um tédio imenso, e ao final do filme temos uma resolução digna do termo pastelão, tudo dá certo, uhuul! Vamos para casa!
O mais impressionante em Projeto Gemini não é a revolucionária tecnologia que foi embutida, mas que o filme não é ruim. É divertido, te entrega o que ele propõe e dá direito algumas surpresinhas a mais. Pela primeira vez vemos um filme de ação que não te sufoca com explosões do começo ao fim. Ele é sucinto quando deve ser, divertido quando deve ser, e te faz pular da cadeira no momento certo.