Crítica | Black Mirror: Bandersnatch
Particularmente, distopias são encantadoras. Claro, muitas vezes aterrorizantes por simplesmente nos mostrarem uma realidade não tão distante. Aliás, essas são as melhores. As histórias em que você se pergunta como no mundo aquilo poderia se tornar verdade ao mesmo tempo em que identifica e relaciona pequenos detalhes com o nosso mundo hoje. “Black Mirror” é uma série genial, seja por suas idéias, por sua execução, pela independência de seus episódios ou, agora, por tornar a nossa vida um pouco mais distópica.
Um filme em que você decide pelo personagem principal, mas você não é ele. Logo de cara a ousadia aqui merece ser elogiada. Conforme as escolhas passam, a concepção de se estar ‘‘jogando’’ Bandersnatch acaba pelo ótimo trabalho do diretor David Slade, que cria com perfeição um senso de ansiedade e claustrofobia que toma conta do espectador, e o que faz, ao decorrer do filme, escolher por Stefan (Fionn Whitehead ) se tornar uma difícil obrigação e não algo empolgante.
Aliás, tudo aqui é feito para gerar incertezas. O fato da câmera nunca se distanciar de Stefan é algo que gera um desconforto proposital. Fionn Whitehead trabalha muito bem com a insegurança de seu personagem e isso gradativamente é passado para nós, afinal, escolhemos por ele, e junto a isso, passado cada escolha, a dúvida se a decisão foi correta a ser tomada ganha força. A neurose e paranoia do personagem principal são contagiantes, graças a uma ótima atuação.
Quando o nosso final, de 5 possíveis, se mostrar pra nós, a dubiez dos acontecimentos são tão provocantes que não nos contentamos com um único desfecho, voltando e fazendo as escolhas diferentes por pura curiosidade.
Apesar de todas essas qualidades, há claras limitações em Bandersnatch. Ocasionalmente a história lhe obrigar a tomar certas decisões, o que torna a ideia de liberdade de escolha um pouco escassa. Fora isso, o filme como um todo não tem muito a dizer, embora trabalhe muito bem com toda a questão do existencialismo. Há inclusive uma cena em questão que Will Poulter (excelente aqui) fala sobre a verdade obscura por trás de Pacman que é assustadoramente genial.
No fim das contas, gostando ou não do desfecho do filme, Bandersnatch é uma experiência incrível. As diferentes linearidades sugeridas conforme a narrativa se desenvolve é algo extremamente cativante. Comparado a outros episódios de série, ele perde força por ter menos a dizer, mas isso de verdade pouco importa comparado ao que Bandersnatch pode trazer a tona a longo prazo, ou seja, embora não sendo o pioneiro, esse ‘‘tipo’’ de filme irá melhorar até o dia que as linhas do tempo possíveis sejam algo numericamente muito grande, assim se tornando verdadeiramente algo a se investir tempo pelo simples fato que controle é sim, uma ilusão, e a partir dai nos alimentaremos de entretenimento onde controle possa ser uma realidade.