Crítica | Green Book: O Guia
Não é de hoje que a estrada fortalece relações. Sozinho ou acompanhado a saída da zona de conforto traz ruptura. Nesse belíssimo road movie, assistimos o desabrochar de uma grande amizade.
Anos 60. Baseado em fatos reais, situado nos Estados Unidos. Após o bar em que trabalha entrar em hiato, Tony (Viggo Mortensen) necessita encontrar um novo sustento para família. Recebe a oferta do aclamado pianista negro, Dr Don Sidney. A missão do designado trabalho é ser seu motorista durante a tour e, também, protegê-lo enquanto viajam pelo sul norte americano, já que a região é conhecida pelo seu preconceito racial. O Green Book, que intitula o filme, era o guia onde constavam os estabelecimentos em que os negros eram bem vindos.
Trazendo lições de História e relações humanas, o longa apresenta momentos em que o racismo é representado de uma maneira sútil, e outras nem tanto. Revelando suas inúmeras facetas. Sidney era prestigiado e a sociedade queria se mostrar avant garde demonstrando admiração pelo talento do pianista, porém continuavam praticando hábitos de intolerância.
O diretor (Peter Farelly) traz um tom cômico e refrescante apesar de abordar questões pesadas. Farelly possui um longo currículo de filmes de comédias besteirol, em “Green Book” reverte o jogo trazendo um humor refinado e apurado. O roteiro bem escrito se destaca com o desenvolvimento/evolução de personagens. A receita do sucesso está ligada ao fato de que o roteirista é filho de Tony Lip, assim está literalmente familiarizado com a história. Em questões pontuais como fotografia, som e etc não há nada de inovador, contudo, a narrativa possui belíssimos cenários servindo de plano de fundo. A equipe de arte merece aplausos pela caracterização e cenografia de época.
Mahershala Ali está virtuoso. Sua presença na tela é sinônimo de elegância, digna de reverência. Viggo Motersen, que vive Tony Lip, está irreconhecível, o que torna a performance ainda mais verossímil. A ignorância do personagem garante boas risadas. Em curta aparição, Linda Cardellini vive a esposa de Tom: Dolores, com ótimo desempenho. Me permito a dizer que possui algumas das melhores falas, especialmente a última.
O filme é rico em belos diálogos, em desenvolvimento de personagens, e consegue balancear no aspecto de show don’t tell. É digno de ser considerado um dos melhores e mais inspiradores filmes do ano. Podendo ser listado como um clássico contemporâneo.