Crítica | O Peso do Passado

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A época de premiações é um período riquíssimo para os fãs de cinema. É quando os cineastas e estúdios esquecem um pouco a pipoca e focam em fazer filmes que, diferente da maioria dos blockbusters, serão re-assistidos, recomendados e, se forem realmente bons, reconsiderados clássicos no futuro. No entanto, algumas maçãs caem longe demais dessa árvore de ouro. Algumas outras, talvez nem caiam.

“O Peso do Passado” ou seu título original, “Destroyer”, é um suspense/drama criminal, que conta a história de Erin Bell, uma agente da polícia de Los Angeles atormentada por fantasmas de seu passado que se vê de volta ao caso que a “destruiu”. Traduzindo o filme para suas intenções quanto a premiações, é uma vitrine para possíveis indicações à Nicole Kidman.

E ela está realmente muito bem como Erin, adicionando camadas à única personagem bem desenvolvida em todo o longa. O trabalho de maquiagem é excepcional e por vezes te faz esquecer que aquela é mesmo Nicole Kidman. O olhar em seu rosto é desolado, sua maneira de andar afetada, até a voz e o jeito de falar são completamente diferentes de seu usual. Ela realmente mereceu a indicação ao Globo de Ouro. O problema é que o mundo e história em que ela está imersa não é nem de perto tão interessante quanto sua complicada personalidade.

O diretor Karyn Kusama, do clássico “Garota Infernal” (não) e do bem recebido “O Convite (2015)” faz um trabalho consistente com as câmeras, dando dimensão e dinamismo a história, além de ter um ótimo olho para a construção da misé en scene. Ele consegue centralizar bem seus filmes em suas fortes personagens femininas e aqui não é diferente, além de conseguir imprimir a violência daquela história e estilo de vida de forma quase enervante. O problema é que a falta de substância no roteiro e a superficialidade da maioria dos personagens faz com que você pouco se importe com o que realmente acontece. O próprio vilão, ao ser anunciado, parece ser a pessoa mais horrível a ter pisado no planeta Terra, mas quando nos deparamos com sua história, é quase um copia e cola de outros tantos filmes. Há uma clara falta de química entre Kidman e Sebastian Stan (O soldado invernal), a sub-trama envolvendo a filha de Erin é mal explorada e picotada de outros longas e fora uma excelente sequência que conta com Bradley Whitford, nunca ela contracena com alguém capaz de elevar o texto a seu lado.

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Essa falta de profundidade e o fato do mistério ser resolvido de forma caricata demais, tiram quaisquer chances de “O Peso do Passado” de concorrer com outros filmes do tipo. Erin, no passado, fora uma agente do FBI infiltrada em uma gangue que planejava um assalto, comanda por Silas.. Ao perceber que ele tinha voltado a ativa - ele fez questão de avisá-la disso sem qualquer motivo aparente - ela tem que voltar àquele grupo de pessoas onde uma entrega a próxima até que, obviamente, apenas a última tinha as respostas que ela precisava, mesmo que isso parecesse óbvio nos abundantes flashbacks que o diretor insere na trama, outro recurso que precisa ser feito de forma menos clara para que o efeito do final fosse sentido.

Diferente de outros filmes que acabam não se elevando à “nível de Oscar”, “O Peso do Passado” tem bem em mente o que quer ser e isso é ótimo, uma pena que não tenha substância suficiente para atingir seu objetivo da forma desejada.

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