Crítica | O Corcunda de Notre Dame

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O filme da Disney consagrou Quasímodo como personagem principal da trama, mas, no livro, que tem como título original: Notre Dame de Paris, a verdadeira protagonista é a própria Notre Dame.

Quando Victor Hugo escreveu a obra, em 1831, a Catedral já havia passado pela Queda da Bastilha, pela Revolução Francesa, por Napoleão Bonaparte, pela restauração Bourbon, pelas Três Gloriosas e sobrevivera.

Porém, como era de se esperar, após todo esse processo, Notre Dame estava esquecida e deteriorada. O que Victor Hugo se propõe a fazer é reviver a estética medieval e esse período, mais precisamente 1482, e, com êxito, consegue salvar a real Catedral de Notre Dame do ostracismo. Da mesma forma, o filme O Corcunda de Notre Dame alcançou, através de elementos lúdicos e das famosas canções da Disney, consagrar Notre Dame no imaginário infantil. 

Apesar do filme atingir o mesmo objetivo que o livro, as semelhanças param por aí. O maniqueísmo, sempre presente nas criações Disney, com vilões e mocinhas bem demarcados, não se encontra na obra de Victor Hugo, que dá um aspecto muito mais humano aos seus personagens. Claude Frollo não é o juiz cruel e perseguidor de ciganos, mas sim um arquidiácono que se encontra dividido pela sua religiosidade e o que sente por Esmeralda. Phoebus de Châteaupers não é o mocinho de caráter ilibado, mas sim um capitão de guarda apaixonado pela vida boêmia e que enxerga e trata Esmeralda como uma conquista. A própria Esmeralda não é a mulher forte do filme, mas sim uma criança que tem como maior desejo reencontrar os seus pais. 

E é esta uma das histórias de fundo mais interessantes, mas que não aparecem no filme. Em determinado momento, somos apresentados à história de uma mulher, moradora das catacumbas de Paris, que teve sua filha roubada por ciganos e trocada por uma criança com deficiências múltiplas, Quasímodo. Essa mulher passa a odiar os ciganos, chamados também de egípcios, principalmente Esmeralda. Ocorre que ela é justamente a sua filha perdida. 

Quasímodo e Esmeralda também tem uma relação singular. Quando crianças, são trocados. Adultos, ele devota seu amor a ela e, por ela, quebra a lealdade que tinha por Claude Frollo. Após a morte de Esmeralda, ele abandona Notre Dame e aguarda a sua própria morte no mesmo túmulo que ela. 

Se “quasímodo” é o domingo seguinte ao domingo de páscoa, se tem o sentido de renascer, se como “quasi modo geniti infantes”, a Catedral de Notre Dame nasceu e renasceu diversas vezes pela vontade daqueles que passaram por ela. 

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