Crítica | alt-J - RELAXER
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Uma banda original. Autêntica. Diferente. Inventiva. Em 2017, o mundo da música já viu e ouviu tantas, tantas coisas, que dar a uma banda qualquer um desses adjetivos é tarefa árdua. Encontrar artistas novos que estejam, realmente, produzindo coisas mais características e de fato diferentes é quase como procurar uma agulha no palheiro.
Com "An Awesome Wave", foi disso que o alt-J se aproximou. Um álbum que eu aprecio muito: diverso, interessante, com cortes mais intimistas e outros mais expansivos; com uma constante criatividade para criar canções impactantes e fortes sem perder a coloração divertida em cada uma delas. O alt-J ganhou minha atenção, e de muita gente, com seu álbum de estréia. Merecidamente.
O segundo álbum da banda vai em outra direção. Em momento algum, os ingleses perdem a personalidade do seu som, porém, em "This Is All Yours", navegam por águas mais calmas. Mais preocupado com o flow da tracklist, conceitual e introspectivo, nesse disco eles provam que podem explorar sua musicalidade de diferentes maneiras sem deixarem de entreter.
Assim sendo, a introdução que o alt-J deu ao seu novo trabalho me deixou sem saber exatamente o que esperar dele. Se o single "3WW" e o título do disco, "RELAXER", pareciam indicar um aprofundamento da temática mais atmosférica e sublime de "This Is All Yours", o single "In Cold Blood", enervante e libertador, remetia mais aos tempos de "An Awesome Wave". Também existia a plausível possibilidade de eles mudarem tudo, de novo.
Dei play no novo projeto do alt-J de mente aberta. Inclusive, aberta o suficiente para reconhecer, depois de poucas audições, que esse era o trabalho mais fraco da banda até agora.
No entanto, esses momentos positivos não conseguem contra balançar com folga os momentos negativos da tracklist de "RELAXER": uma vez que o álbum conta com apenas 8 faixas e pouco mais de 39 minutos, 15 minutos terríveis fazem muita diferença. Principalmente quando provindos de uma banda que até então, discutivelmente, não tinha produzido nada genuinamente ruim.
Temos uma releitura calma e sussurrada de "House of The Rising Sun" que não faz absolutamente nada pela canção original, tirando dela toda a sua energia e competindo com a "Dont Let Me Be Misunderstood" de Lana Del Rey como Pior Releitura dos Anos 2010; temos uma atrocidade chamada "Hit Me Like that Snare", que tenta pintar uma cena sexual surrealista e acaba soando apenas tosca, com vocais completamente destrambelhados e desagradáveis de um Joe Newman tentando ser Mick Jagger; e ainda temos a música que faz o fechamento do disco, "Pleader", que começa com um bom violão tocando quase que uma milonga, ganha cordas e torna-se mais cinemática, quando decide virar um bolo clichê sem significado nenhum com corais de fundo no melhor estilo ERA.
O terceiro disco do alt-J parece mais uma coleção de faixas soltas, b-sides e tempo livre no estúdio. Poderia muito bem ter sido nomeado como "untitled, unmastered" - é claro que isso não faria desse disco tão bom quanto o "untitled" de Kendrick, que numa coleção de b-sides entregou material muito bom. Contudo, uma identidade mais "casual" para o projeto tornaria menos embaraçosas suas inconsistências.
No fim das contas, RELAXER não é um álbum horrendo, no entanto, tem muitas inconsistências para uma banda que nos deixou "mal-acostumados" com trabalhos de muita qualidade. Temos algumas faixas muito boas, mas uma maioria regular e algumas vergonhosas. E ainda por cima, o agravante de que o disco não parece ter sido um projeto bem pensado: não é coeso na mensagem, na produção, na vibe das músicas.